Dossiê Bellatrix escrita por Ly Anne Black


Capítulo 11
Mágoas e Visita Noturna


Notas iniciais do capítulo

Feliz Natal leitores lindos!



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Hello, hello, remember me? (Olá, olá, se lembra de mim?)

I’m everything you can’t control (Eu sou tudo que você não pode controlar)

(Evanescence)

Três meses depois - Agosto, 1975.

Será só por um minuto, eles tinham dito. Ela nem vai perceber que saímos. Bellatrix estaria amaldiçoando sua irmã e cunhado mentirosos, apenas se ela pudesse ouvir os seus pensamentos. Gritos agudos e estridentes sacudiam o lar dos Tonks, e era difícil acreditar que aquele bebezinho de três meses de existência pudesse alcanças notas tão altas. A pequena Nymphadora tinha percebido a ausência de seus pais, e era isso que ela estava anunciando ao mundo em plenos pulmões – embora daqui a pouco só os morcegos seriam capazes de ouví-la.

– Pelas abotoaduras de Slytherin, você é tão irritante. – Bella murmurou, através do choro incessante de sua sobrinha. Estava há cerca de cinco minutos parada no berço, esperando que a bebê se cansasse, a observando num congelamento ineficaz. A julgar pelo tom de vermelho perigoso que a estava atingindo, supôs que precisava fazer alguma coisa. Não conseguia pensar no que Nymphadora podia querer; estava alimentada e Ted tinha trocado sua fralda antes de sair.

Com que frequência essas coisas evacuam? No entanto, o barulho não estava permitindo Bella raciocinar. A bebê fez barulhos estranhos de engasgos que não podiam ser seguros.

– Infernos. Não me diga que eu vou ter que tirar você daí de dentro.

Ela tinha evitado isso com sucesso pelos últimos três meses, ficando distante da família feliz e arranjando qualquer desculpa para não ficar sozinha com Nymphadora. Mas então, com o fim da sua licença, Andrômeda estava retomando aos poucos o seu trabalho e Ted precisara atender um chamado urgente de um cliente – aparentemente um de seus guarda-roupas encantados dera problema e engolira uma criança, ou qualquer coisa parecida. Ele não tinha ficado seguro em deixar Bellatrix com sua filha recém nascida – e esse podia ser o primeiro ponto em que ambos concordavam na vida – mas Andy o tranquilizara garantindo que chegaria em casa mais cedo.

Não cedo o suficiente. Pensou, amarga, estendendo as mãos para Nymphadora que engasgava, soluçava e gritava em seu berço. Ela tinha um sem número de motivos para não querer pegar a criança no colo – passando pelo fato de ser uma pequena sangue ruim, isso combinado a sua já confirmada capacidade de gofar sobre ombros sem aviso (Bella não imaginava que bebês pudessem ser tão nojentos), mas também ela tinha aquela certeza – absoluta e sem precedentes – de que a quebraria. Havia um cuidado com a forma em que Andy e Ted a carregavam, que Bella não se sentia capaz de imitar.

– Ok, apite ou algo do gênero, se estiver perto de quebrar. – disse por sob a respiração, enfim tendo-a nos braços. A coisa mais mole e quente e viva que já tinha segurado. Devia ser a primeira vez que a olhava de perto. – Espera... porque seu cabelo está cor de laranja?

Nymphadora escolheu esse exato momento para tomar um fôlego e dobrar a intensidade dos seus gritos. Bellatrix apertou os olhos com força, sentindo as cordas de sua consciência vibrarem perto da destruição.

– Certo, diabinho – sibilou, mordaz com os dentes apertados – vamos arranjar o que fazer antes que você exploda um pulmão e Andrômeda coloque a culpa em mim.

– DB –

Every heart (Cada coração)

In my hands (Em minhas mãos)

Like a pale reflection (Como um reflexo pálido)

Nada preparou Ted e Andrômeda para a casa silenciosa e o berço vazio. Eles coincidentemente tinham chegado em casa ao mesmo tempo e estavam passando por minutos de tensão.

– Ela não está em lugar nenhum! Eu não posso achá-las, Andrômeda! – Ted entrou em casa com a voz já alterada, acusadora, a varinha em punho.

– Você olhou na estufa? – Andy descia as escadas após checar o primeiro andar pela segunda vez.

– Elas não estão na estufa! Por que estariam na estufa?

– Mas você olh...

– EU OLHEI! – ele passou ara o nível do grito. – O QUE SUA IRMÃ FEZ COM A NOSSA FILHA?

Andrômeda fechou os olhos. Isso não podia estar acontecendo...

– Eu tenho certeza que há uma explicação...

– HÁ UMA EXPLICAÇÃO! Eu disse desde o começo, que eu não queria ela aqui, e agora... agora ela sumiu com a nossa filha!

Andy estivera tentando manter algum controle, mas a acusação na voz de Ted a estava afetando, seus olhos se encheram de lágrimas enquanto os dele estavam repletos de cólera.

– Não é desse jeito! – rebateu, buscando a lógica, olhando ao redor atrás de alguma indicação do que pudesse ter acontecido, recusando-se a concordar com ele na conclusão mais óbvia.

– Você não sabe o que está falando! Ela levou nossa filha! Eu não sei o que eu estava pensando... ela é uma comensal da morte, pelo amor de deus!

Andy virou o rosto como se tivesse recebido um tapa.

– Ted, não!

– Eu vou checar na floresta, ela não pode estar longe, sem uma varinha. Chame os aurores!

– Quê... Ted, eu...

– CHAME OS AURORES! – ele ordenou, por entre os dentes, num grito feroz que sacudiu a esposa de surpresa e ressentimento. – Você a colocou aqui dentro, Andrômeda, se algo acontecer à Nymphadora...

Sem terminar sua ameaça, ele deixou a casa batendo a porta com força, e Andy estremeceu em seu lugar sobre o tapete, lágrimas escorrendo de seu rosto, pânico se espalhando pelo seu sangue como um veneno quente. Do lado de fora o sol se punha lançando cores sobre o rio Ottery, que corria tranquilo e indiferente a toda a movimentação.

Agora que o verão estava em seu ponto alto, havia grama verde e elástica pelas colinas, e podia-se ver bem longe na direção do povoado, razão pela qual Ted acreditava que Bellatrix escolheria a floresta para fugir com sua filha. Ela tinha passado tempo suficiente em torno daquela estufa para conhecer caminhos e traçar uma rota de fuga, mas ele era filho daqueles campos e podia superá-la mesmo no escuro. Estava quase alcançando a borda das árvores quando um som distinto da água do rio lhe alcançou.

Ele se virou e apertou os olhos para uma silhueta que se aproximava em grande velocidade contra o sol cor de laranja. Até perceber que se tratava de Bellatrix sobre o cavalo, ela já estava perto o bastante da casa para ouví-lo gritar seu nome. Bella desceu do cavalo com extrema dificuldade, não só por causa da sua barriga de oito meses, mas porque carregava uma Nymphadora adormecida em seu braço, enrolada em sua própria capa.

– O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTA FAZENDO!

Bella foi pega de surpresa com a ira que emanava de Ted. Não fora como quando Andrômeda estava em trabalho de parto e ele estava apavorado – agora parecia que ele queria arrancar e esmagar alguma parte dela com suas mãos nuas. Ela sequer reagiu quando ele arrancou a bebê de seus braços – mas Nymphadora começou imediatamente a chorar. O cavalo atrás deles se assustou e recuou, correndo para dentro da floresta, e nesse meio tempo Andrômeda veio depressa até a porta, atraída pelo choro de sua filha.

– Ah, Bella, graças a Merlin! – suspirou aliviada, pegando Nymphadora de Ted e a embalando. – Onde voc...

– O que você estava fazendo com a minha filha? – Ted avançou feroz em Bellatrix, que agora o olhava com os olhos estreitos de um felino acuado – Quem te deu o direito de leva-la com você?

– Ted, ela não...

– QUEM TE DEU O DIREITO DE PENSAR QUE PODIA TIRAR ELA DE NÓS? – ele segurou Bellatrix e sacudiu-a pelos ombros.

– VOCÊS A DEIXARAM COMIGO, ISSO ME DEU O DIREITO! – Gritou em resposta, se desvencilhando das mãos dele e recuando. – Vocês são os loucos, imbecis, que a deixaram comigo!

– Você tem razão! Nunca mais encoste em Nymphadora! Eu proíbo você!

Ted! – Andrômeda protestou, escandalizada, o que o fez se virar para a esposa, ainda colérico.

– Só Merlin sabe o que poderia ter acontecido! Eu não sei onde estávamos com a cabeça, confiar uma criança à Bellatrix! - ele virou para a cunhada de novo – não vai acontecer novamente, pode estar certa disso.

– Eu estou. – disse a morena, friamente para eles – Porque eu estou indo embora. – e se virou, em tal estado de espirito que achou que teria uma emissão mágica involuntária que deixaria Nymphadora órfã. Ela andou às cegas para a floresta, pensando em mil coisas, pensando em voltar, recuperar sua varinha e se livrar deles, esmagar Ted Tonks, ver a Marca Negra brilhar no céu, recuperar o respeito próprio que estava perdendo enquanto ficava debaixo daquele teto. Mas então havia sua barriga, enorme, pesada, viva, lembrando-lhe que enquanto estivesse grávida estava também incapacitada de retomar sua dignidade.

– DB -

Do what you what you want (Faça o que você, o que você quiser)

Your world’s closing in on you now (Seu mundo está se fechando sobre você agora)

It isn’t over (Ainda não acabou)

– Bellatrix! – Andrômeda chamou, mas a perdeu para dentro da floresta, e não podia seguí-la com Nymphadora em seus braços – Ted, o que há de errado com você!?

Ele tinha o rosto travado e duro e tremia de raiva. Andy nunca o vira assim antes – ele era o homem mais doce e calmo que ela conhecia. Vê-lo encolerizado daquela maneira fazia com que as peças do mundo parecessem repentinamente fora do lugar.

– Eu não quero essa garota em nenhum lugar próximo de minha filha novamente. – ele repetiu sombrio.

– Mas ela está bem, Dora está bem.

– Poderia não estar. Eu não confio nela. Eu nunca vou confiar nela, não importa o que você diga, Andrômeda.

Andy suspirou profundamente, voltando os olhos, preocupada, para a floresta – Você não entende, não é? Se ninguém acreditar que ela pode mudar, ela não vai mudar.

Ele negou, veemente, se aproximando para pegar Nymphadora, agora calma, dos braços da mãe. – Não vou arriscar a vida da minha filha num palpite. Vá atrás dela, se quiser, mas não envolva Dora no seu plano de salvação da alma estragada da sua irmã.

Andy sabia que devia dar um tempo para Bellatrix esfriar seu temperamento, mas a preocupação com seu estado falou mais rápido, então entrou na floresta com a varinha acesa e seguiu pelo caminho que lembrava levar às estufas. A encontrou lá como esperava, sentada num dos bancos altos, as costas retas e duras e o olhar fixo em sua roseira branca, a única que resistira ao calor do verão. Ela tinha a tesoura de podar encaixada nos dedos de uma das mãos, então Andy parou na porta e anunciou sua presença, chamando-a pelo apelido.

– Você devia ouvir mais seu marido – disse a mais nova com a voz venenosa – e ficar longe da comensal da morte também.

Bella.

– Não, sério. – ela virou o rosto com uma expressão cortante – o que te deu na cabeça? Deixar uma sonserina suspeita com sua filha? Eu poderia tê-la levado à Voldemort no minuto em que vocês saíram.

– Não é o que ele quis... – Andy suspirou, fechando os olhos mais uma vez, longamente – Você não ganharia nada com isso.

– Eu ganharia, na verdade. – ela deu um sorrisinho atravessado – a filha de uma traidora do sangue e um sangue ruim, isso é muita coisa, Andy. Ele já aceitou seguidores de volta por menos.

– É mesmo? E quantos deles estavam grávidos de oito meses de um traidor do sangue?

O sorriso de escárnio desapareceu do rosto dela. Andrômeda tinha aquela habilidade afiada de atingir o ponto exato da dor.

– Eu não posso ficar sob o mesmo teto que o seu marido nem mais um segundo. – anunciou a garota, acrescentando – eu sei que temos um acordo, mas não sei quanto mais dos meus instintos assassinos eu posso segurar com ele agindo como um idiota.

Achando que Bellatrix estava compensada o bastante para uma aproximação, a mais velha puxou um banco e sentou-se ao lado da mão da irmã que não estava segurando a tesoura de podar.

– Tem sido difícil para ele também. Ele se preocupa com a segurança de Dora... são tempos difíceis. Sei que você não tem lido o jornal, mas coisas ruins estão acontecendo para os meio sangue por todo o país. Toda vez que um de nós sai de casa, pode ser a última vez.

Bella rolou os olhos – Não me peça para entender o lado do sangue ruim. Isso vai muito além da minha habilidade empática.

– Eu não estou certa de que você tem uma – e quando recebeu um olhar atravessado da irmã, mudou levemente o tom, tentando soar encorajadora – mas você precisa ficar. Com a gravidez avançada assim, não é seguro ir para qualquer outro lugar. Sua gravidez ainda é de risco – completou, ignorando o “Eu me sinto ótima” de Bellatrix – eu vou conversar com Ted. Ele será menos intragável, eu prometo.

– Ser menos intragável é contra a natureza dele, você sabe. – ela disse de mau humor. Mas o fato é que depois de cavalgar com Nymphadora ao longo do rio por quase uma hora, seu corpo todo doía, suas costas estavam lhe matando, ela não conseguia parar de pensar em sua cama - eu não vou me responsabilizar em absoluto se um dia ele estiver descendo as escadas em minha frente e de repente escorregar e rolar vinte e oito degraus.

– Você contou os deg...? Esqueça – balançou a cabeça. – Falta pouco agora. Vamos voltar para casa? Sei que a Dora deve estar chorando de fome a essa altura.

– Eu vou ficar aqui mais um pouco. – disse, incapaz de se dissociar de sua teimosia. – a sua filha só sabe chorar.

Andrômeda riu e desceu do banco, sentindo o incomodo dos seios cheios de leite doloridos, que era na verdade a razão porque estava louca para voltar para casa.

– À propósito, obrigada por leva-la pra dar uma volta. Eu e Ted não estamos tendo tempo ou forças para fazer isso ultimamente.

– Foi a única coisa que a fez calar a boca. – olhou para o outro lado, indiferente. Sua roseira pareceu a encarar de volta, com um ar de reprovação que só uma roseira poderia demonstrar.

– DB –

Do what you, what you want (Faça o que você, o que você quiser)

Till you find what you’re looking for (Até você encontrar o que está procurando)

Got to remember who you really are (Tem que se lembrar de quem realmente é)

Bellatrix nunca tinha pensado realmente sobre paternidade. Até ver o olhar feroz de Ted ao arrancar Nymphadora de seus braços, ela não refletira sobre a peculiar ligação entre os homens e suas crias, o sentimento de proteção, de guarda selvagem que podia acometer um pai quando sua prole era ameaçada.

Se perguntava em que momento isso se desenvolvia – seria quando ele via o bebê pela primeira vez, e entendia que dali em diante era o responsável por mantê-lo seguro, vivo? Ou dependia de um afeto anterior e uma expectativa pela chegada daquela criança?

Bella não tinha pistas. A questão a perturbava mais intensamente nas últimas semanas – tempo exato desde que recebera a visita de seu pai em Ottery St. Catchpole.

Tinha sido a coisa mais inesperada a acontecer – eles não se viam há seis anos, desde que Bella entrara na escola – mas então era uma tarde de quinta feira e ele estava parado na porta da estufa, como uma aparição fantástica retirada de um livro de Edgar Allan Poe.

– Bellatrix.

Ela ficou olhando para o seu pai parado ali por dois ou três minutos, muda, esperando que ele desaparecesse. Tinha lido em algum lugar que nos estágios finais da gravidez não era incomum a mulher ter delírios visuais causados pelo excesso de hormônios. No entanto, ele não sumiu, ele se moveu para entrar sem ser convidado e lançar sobre ela um olhar avaliativo, severo e escuro como a camada mais funda da noite.

– Pai. – arfou, rapidamente recuperando sua postura de indiferença, o que lhe custou o dobro da energia que gastaria numa situação normal – Como sabia que estava aqui? Como... – rapidamente fatos como o de seu pai estar no terreno da casa de Andrômeda atingiam sua mente, aturdida por causa da gravidez e do calor e da surpresa.

– Eu vejo que é verdade – ele tinha lançado um olhar afiado para a sua barriga, que estava grande demais para ser ocultada pelas roupas folgadas que Bella vestia. – Você está grávida.

Poderia haver muitas coisas na voz de um pai ao falar aquilo a uma filha, mas na de Cygnus Black, que claramente não era o rei da conversa fiada, havia apenas fria constatação de fatos.

– Aparentemente. Como o senhor soube?

Ele fez um gesto vago com a mão, cujo dedo indicador abrigava um anel com o brasão da família Black, avaliado em vinte mil galeões.

– Do que eu não sei, Bellatrix? – sem se sentar, continuando a olhá-la de cima, sua expressão ficou mais severa e seus olhos mais fendados – é um menino?

Poderia ser uma pergunta corriqueira para outra díade, mas não para eles. Bella entrelaçou os dedos das suas duas mãos frias e ergueu o rosto desafiadoramente.

– Eu não sei. Eu espero que seja uma menina.

Era a primeira vez que ela falava sobre aquilo – e acabara de decidir que era uma verdade. Ele viu aborrecimento e ultraje passarem pelo rosto de Cygnus com suas nuvens de tempestade e ele espantá-las para recuperar o gelo habitual do próprio tom.

– Você cometeu uma terrível estupidez. – ele começou, em uma voz dura como a pedra do seu anel – E você está próxima de arruinar sua vida. Como eu sabia que aconteceria. – acrescentou, petulante, num suspiro quase trágico – Essa criança trará vergonha e humilhação para essa família. Você conseguirá superar em desgraça os feitos da sua irmã e do seu primo – é claro que ele não precisava dar os nomes para Bella saber que estava falando de Andrômeda e Sirius – você será a última peça da ruína do nome dos Black no momento que essa criança vier ao mundo.

– Nossa, pai. – ela ocultou um estremecimento e trouxe um sorriso leve à boca – doces palavras. Você me emociona.

– O seu deboche não amaciará a sua queda, Bellatrix – ele continuou, a voz grave de um carrasco sobre ela – Nem a do resto desta família. Você imagina porque eu estou aqui?

– Parece que não é para me desejar uma boa hora. – ergueu uma sobrancelha e inclinou o rosto, como se estivesse curiosamente intrigada com a aparição dele. – Por favor me esclareça sua motivação, papai.

– Eu vim contra a vontade e sem a aprovação da sua mãe. Eu, a contrário dela, acho que ainda há uma esperança de reparação da sua situação.

– Hum. Eu não quero pisar nas margaridas da sua esperança, mas os últimos três abortos que tentei só fizeram essa coisa mais forte. – isso saiu fácil e quase orgulhosamente de seus lábios, mas Bella sequer notou.

Ele negou minimamente com a cabeça – É preciso que seja homem.

Ela inclinou ainda mais a cabeça – Desculpe?

Se você der a luz a um homem, um homem para carregar e propagar o sobrenome Black, haverá reparação. Eu me comprometo a corrigir a situação, eu assumo a criança como meu filho e herdeiro e não haverá consequências para você.

Cygnus parecia convencido de estar oferecendo a Bellatrix um pedaço do paraíso, mas ela pulou do banco onde estava sentada, sem acreditar no que estava ouvindo.

– Eu entendi direito, o senhor está dizendo que assumirá a criança como sua?

– Sim – ele assentiu petulante – sem consequências para você.

Ela riu – um risinho seco pelo nariz, sem emoção, carregado em incredulidade. Apoiou uma mão fria na mesa para olhar para ele – que era bem mais alto que ela.

– Você consegue ver a si mesmo? O quanto soa ridículo? O quanto soa um completo perdedor?

Ele desceu um olhar enfurecido sobre a filha, o mesmo que lhe dava quando ela o desafiava quando era só uma criança e não queria ter lições estúpidas de como ser uma esposa. – Bellatrix...

Não me venha com “Bellatrix” – exclamou, perdendo a indiferença, mas crescendo em seu ultraje – eu sei o que você está fazendo. Não é o meu erro que você quer consertar, é o seu! A sua grande vergonha, pai! Você falhou como Black – ela acusou, toda acidez e maldade sincera – quando não conseguiu seu herdeiro. Eu sinto muito que não teve o garoto que tanto esperava. E que eu nasci no lugar dele, e depois disso mamãe não quis mais lidar com a sua maldição e se recusou a ter filhos novamente. Essa criança – ela tocou na própria barriga – não será sua. Menina ou menino.

– Você está louca. – ele meneou a cabeça, desgostoso e irritado em partes iguais – louca como a sua mãe. Sua garotinha burra. Isso é o que você sempre foi, Bellatrix.

– Vá embora daqui! – ela mandou, agarrando sua tesoura de poda, na falta de uma varinha – você não foi convidado! Você está invadindo a propriedade dos Tonks sem autorização, eu tenho certeza que isso não vai ficar bem para a sua imagem quando o Conselho descobrir.

– “Propriedade dos Tonks”! – ele soprou, incrédulo. Mas ainda assim recuou e se empoou em sua postura arrogante novamente – você pode fazer escândalo e me convencer a ir embora daqui, mas você não pode me impedir. Você ainda é minha filha e menor de idade. – completou ameaçadoramente.

– Eu assinei papéis de autonomia provisória...

– Facilmente revogáveis – rolou os olhos, dando um risinho superior, mas ficando sério logo depois para encará-la com os olhos duros de pedra – Se for um garoto, eu venho busca-lo. Esteja ciente.

Ele foi embora tão facilmente quanto chegou, deixando Bellatrix em um estado de nervos tal que ela acabou destruindo várias de suas Calopsias Irraea, que tinham apenas acabado de brotar da terra. Ela não conseguia parar de pensar em como era fora de propósito Cygnus Black surgir em sua vida após literalmente deixa-la, ela e às irmãs – aos cuidados dos tios, porque ter filhas meninas não tinha significado para ele. Ele nunca fora capaz de lidar com elas três, ou com o fato de que seu irmão conseguira dois garotos, e ele nenhum.

Bella não contou a ninguém sobre a visita dele. Mas quando ela pensava em Cygnus surgindo para pegar seu filho dali a um mês, ela podia jurar que a sensação que queimava dentro dela era tão intensa quanto a que acometera Ted naquele dia em que arrancara sua bebê das mãos dela própria.

– DB –

Hello, hello it’s only me (Olá, olá, somente eu)

Infecting everything you love (Infectando tudo que você ama)

Somewhere beyond the pain (Em algum lugar além da dor)

There must be a way to believe (Deve haver um jeito de acreditar)

– Roseira maldita estúpida – praguejou Bella. Não era como se a planta – praticamente moribunda a esta altura – fosse ouvir sua insatisfação mais do que tinha ouvido suas incisiva ladainha nos últimos dias.

Bellatrix sabia que não podia culpar a planta – fazia um calor infernal, a vida era uma droga, sua barriga pesava e o bebê mexia sem parar quando ela estava na estufa – quem podia se concentrar desse jeito? – e se pudesse escolher, faria como a planta, secaria e se escolheria a caminho de sumir de volta ao fundo da terra.

Mas não sem sua varinha, claro. Sem sua varinha só podia ser uma garota patética, enormemente grávida, ajoelhada na terra fingindo que podia fazer aquilo. Impaciente e tomada pela onda da percepção de sua própria impotência, esfregou nervosamente o rosto nas mãos.

– Se eu fosse você, colocaria um pouco de adubo. Adubo sempre ajuda.

– Oh – Bellatrix olhou desgostosa para o invasor de sua estufa. – Ótimo. Honestamente, Tonks...

– Não precisa começar a me atacar – ele ergueu as duas mãos grandes com as palmas para frente – vim em missão de paz.

– Por que você veio, para começo de conversa? Estava bom quando ignorávamos mutuamente nossas existências.

– É, certo. Sobre isso... – Ted Tonks passou a palma da mão sobre seu cabelo loiro arrepiado, parecendo se preparar para fazer algo difícil. Luz profusa e dourada do sol de verão batia em seu par de espantosos olhos hazel e em seu cabelo, provocando um halo claro, mas não eram coisas que Bella ficava observando no cunhado. Ela estava numa frequente atividade de odiá-lo que não dava espaço para que enxergasse bons motivos pelos quais sua irmã o escolhera para marido. – Eu andei conversando com Andrômeda. Sobre aquele dia... você sabe.

Bellatrix se levantou do chão e bateu a terra das mãos, torcendo o canto da boca. Se aquela conversa constrangedoramente lufa-lufa ia começar a acontecer, ela não queria estar de joelhos na terra para encará-la. Ela pigarreou – Tonks...

– Não, espera. – ele fez um gesto correspondente ao pedido – Eu agi como um idiota.

– Há! Que improvável.

– Não é como se eu não tivesse todas as razões do mundo para não confiar em você – continuou, passando com dignidade sobre a ironia dela, como prometera à esposa que faria – sendo você quem é e tudo mais (Bella deu um sorrisinho afetado nessa parte). Mas eu preciso admitir, que desde que você chegou aqui – ele fechou os olhos por um momento, como se não acreditasse que ia falar aquilo. – desde que você chegou, não fez nada que nos colocasse em dúvida sobre você. Você tem se comportado – a palavra saiu com certo esforço – e foi, hum, legal da sua parte cuidar da Dora para nós aquele dia. Andrômeda parece pensar que você a levou para passear para distraí-la, pois ela não parava de chorar. Eu decidi... acreditar. Nela. – completou, procurando o olhar de Bellatrix, mas esta continuava impassível – Eu explodi naquele dia. Sem motivo. Bem, com motivos, porque lá fora as crianças meio sangue toda hora são... esquece – se cortou, metendo as mãos no bolso do horrível macacão que usava para os trabalhos de marcenaria – eu e a Andy... nós chegamos a conclusão de que você pode ter o benefício da dúvida.

Bella piscou.

– O benefício da dúvida? – ela repetiu lentamente, sem refrear a continuação do risinho petulante – nossa, Tonks, eu tenho o benefício da sua dúvida? Parece que hoje é meu dia de sorte.

Ele mudou o peso do corpo de um pé para o outro; Bella tinha de admitir, ele estava dando tudo de si no que se referia a auto-controle. Já tinha explodido com ela por bem menos nos últimos meses.

– Ok, tanto faz. – se deu por vencido. – eu estou indo comprar um material, e posso te trazer um pouco de adubo se você quiser.

– É, obrigada, mas não, obrigada. – rolou os olhos, instantaneamente virando de costas e retomando a roseira, deixando claro que aquela conversa sofrível havia terminado.

– Tudo bem, se Andy perguntar, fui à Godric’s Hollow.

Bella congelou em seu exato lugar e virou. – Godric’s Hollow, você disse?

– Sim. É onde vendem os melhores entalhadores para a cerejeira, e eu acabei de receber uma encomenda grande de... – mas ele se interrompeu diante da cara de desinteresse dela – por quê a pergunta?

– Bem, na verdade eu preciso de adubo. Mas eu preciso escolher o tipo certo. Não é como se qualquer um fosse funcionar, é uma planta muito delicada.

Ted se retesou ao perceber no que aquilo implicava.

Não, Bellatrix, você sabe que não existe essa possibilidade de você sair de Ottery, de jeito nenhum. Andrômeda me fez prometer.

– O que aconteceu com o “benefício da dúvida”? – ela queixou-se, aborrecida.

– Isso é muito benefício para pouca dúvida.

– Vamos lá, Tonks – Bella bufou – eu estou enfiada nesse mato há cinco meses, sem ver civilização. Além do mais eu não tenho a droga da minha varinha, lembra? E tenho uma barriga de oito quilos... não é como se eu pudesse fugir correndo de um bruxo armado.

Ele parecia estar pensando muito cuidadosamente na possibilidade, ela quase podia ouvir as engrenagens se revolvendo dentro do se cérebro trouxa. Pela segunda vez ele fechou os olhos e soltou ar como se não acreditasse que estava mesmo fazendo aquilo.

– Tudo bem, Bellatrix, você vai comigo. Só Merlin sabe como eu sinto que vou me arrepender disso.

Talvez você vá, talvez não vá. – ela deu de ombros, mas não sorriu, sem querer dar ao cunhado o gostinho de saber que pela primeira vez em meses estava empolgada com alguma coisa.

– BD -

Bella tinha mentido - ela não fazia a mais vaga ideia do tipo de adubo que precisava. Nunca tinha dado atenção para Herbologia - que julgava uma disciplina de pouca utilidade prática para o seu futuro - e começava a se arrepender disso, especialmente quando descobriu que a sessão de adubos mágicos tinha não um, mas quatro longos corredores. E cheirava horrivelmente mal.

Além do mais, estava - como o resto da cidade, entupido de gente. De repente todo mundo tinha resolvido que precisava de um jardim bem cuidado, o que estava acontecendo com aquela gente? Pela terceira vez, alguém esbarrou em sua barriga.

– Ops, desculpe. - um rapaz não muito mais velho que ela lhe sorriu culpadamente - Loja cheia hoje. Posso te ajudar em alguma coisa?

– Não, obrigado, podemos nos virar sozinhos. - disse um Ted carrancudo aparecendo ao seu lado, antes que ela pudesse sequer abrir a boca. Ele estiveram lhe cercando como um cão de guarda desde que chegaram à Godric’s Hollow, era absolutamente irritante.

– Na verdade eu tenho uma roseira - ela disse para o rapaz, ignorando o cunhado. - E eu acho que ela tem algum problema com a terra que estou usando.

– Que tipo de roseira?

– Uma… de rosas brancas? - ela escolheu os ombros. O vendedor riu.

– Parece uma ótima roseira. Me siga, recebemos um novo carregamento de dejetos de pixie que promete revitalizar as plantas mais sensíveis…

Ela seguiu o rapaz, Ted em seu encalço, rumo aos fundos da loja. Quando estavam um pouco afastados, ele puxou seu cotovelo.

– É impressão minha ou você está flertando com o vendedor?

– É claro que eu não estou - disse, ultrajada. - O que pelas barbas de Sly te faz pensar que eu estaria?

– Você não lhe lançou sequer um olhar de desprezo numa conversa de dois minutos. Isso deve ser um recorde.

Ela sorriu, quando finalmente chegavam ao fim do corredor, onde vários sacos amarelos de dejeto de fada estavam empilhados num mostrador.

– Pode vir como uma surpresa para você, mas eu não trato todo mundo com desprezo, Tonks. Só dou essa honra a quem realmente merece. - ela lhe deu uma piscadela, recebendo dele um olhar estreito irritado dele.

Mas Bella estava, até mesmo para o seu próprio espanto, feliz. Havia muita magia em Godric’s Hollow, o ar era quente e fresco, ela não se sentia enjoada ou doente. Além disso, a cidade vibrava numa atmosfera festiva, e não só por causa do verão; quando Ted já tinha dois quilos de adubo (porque até parece que ela ia carregar cocô de fada pela rua) e eles deixaram a loja de plantas e ervas, descobriram o motivo pelo qual a cidadezinha estava tão enfeitada.

Pegue sua máscara e venha comemorar conosco a Nogentésima quinta Masquerade!, ela leu num poster enorme pregado na parede de uma loja, na praça principal. Era um enorme anuncio, com letras rebuscadas e um casal exuberantemente vestido e mascarado dançava uma valsa e sorria para o público.

– Uau, eles ainda fazem essa festa? - Ted se surpreendeu, olhando para o mesmo lugar que ela. - eu lembro de vir uma vez com Andy no nosso aniversário de namoro. Você já veio alguma vez?

– Algumas. - ela disse, estranhamente fixada no cartaz. O casal rodava e rodava. Suas máscaras eram de ouro e prata.

– Tudo bem com você?

Bella piscou, saindo de uma espécie de transe. - Claro. - ela disse de forma cortante para ele. O cunhado a observou com suspeita.

– Certo, vamos sair do sol. Todo esse calor não é bom para o bebê.

Ela se deixou arrastar para a loja de material de construção mágica. Enquanto Ted deixou evidente que ali era seu paraíso na terra, ela se descobriu rapidamente entediada. Quer dizer, uma sessão inteira só para maçanetas? Qual era o problema daquelas pessoas?

Apesar do aviso para ficar ao alcance de seus olhos, ela o deixou numa sessão de instrumentos de marcenaria e começou a vagar pela loja. O cheiro de madeira e ferro era forte e a estava deixando com dor de cabeça, e ela procurou se afastar disso. Logo achou uma parte completamente dedicada a peças de vidro. Era incrível o que bruxos podiam fazer com o vidro, pensou, observando alguns preciosos vitrais expostos numa longa parede. Talvez quando fosse morar na Mansão Lestrange, pudesse obrigar Rodolphos a fazer um andar com muitas janelas de vitrais cristalinos e azuis…

– Você não tem que escolher tudo em vermelho e dourado!

– Eu gosto de vermelho e dourado! Qual o problema com vermelho e dourado? Você não parecia incomodada com a minha predileção de cores quando aceitou namorar comigo!

– Você está insinuando que me escolheu pela cor…?

Bella reconheceu o casal que deixava a loja imediatamente, mais pelos cabelos da garota do que qualquer coisa. Só conseguia se lembrar de uma pessoa que tivesse aquela voz irritante e aquela cor de cabelo e que poderia estar comprando em uma loja bruxa. Ela olhou para o outro lado da loja, se certificando que Ted ainda estava distraído com seus brinquedos de marcenaria, e decidiu em seguir o casal para fora, discretamente.

– Tudo que eu quero dizer é que, nossa casa não precisa ser a cópia exata do salão comunal da Grifinória - a garota ofensivamente ruiva continuou falando, enquanto os dois andavam de mãos dadas pela rua. Seu namorado carregava algumas sacolas magicamente encolhidas na outra mão. - faremos assim, a próxima coisa que comprarmos deve ter outro tom. Verde!

– Por que verde? - ele protestou com uma careta - Por que não logo verde e prata com uma cobra nojenta em cima? Oh, sim, vamos comprar nosso enxoval de cozinha com o padrão da sonserina e então podemos pendurar algumas correntes e instrumentos de tortura na parede, só pra dar um charme a mais!

– Oh, James, sinceramente. Às vezes você é tão imaturo, já não estamos mais na escola, o que importam se as cores…?

Eles entraram por um par de portas e Bella os perdeu de vista. Ela olhou indecisa para a entrada do Twisted Trunk, um bar construído dentro de uma árvore. Se Ted tivesse percebido sua ausência… ela podia ver lá dentro Lilian Evans e James Potter numa mesa, com outras pessoas. E se tinha uma coisa certa no mundo era que, onde James Potter ia…

Sem completar o pensamento, Bella empurrou as portas e entrou discretamente. O bar, como o resto da cidade, estava decorado com bandeirolas coloridas e máscaras venezianas penduradas na parede. Ele era circular, amplo e aconchegante; todas as mesas e bancos tinham sido feitos a partir das raízes do enorme salgueiro oco, e as paredes eram rústicas e nodosas como se o bar tivesse sido cavado no tronco sem muito cuidado.

Ela se sentou numa mesa, onde podia ver o casal de grifinórios através de alguns nós do interior do tronco, que a protegiam relativamente bem. Gostaria de ter sua varinha para transfigurar seu rosto, mas sem ter essa opção, apenas esperou que eles não a percebessem ali.

– O que quer beber, querida? - ela virou rápido, e a garçonete recuou arrependida - desculpe, não quis te assustar. O que posso te servir?

– Hum. - Bella não tinha dinheiro bruxo. A que ponto de decadência tinha chegado? - Eu só entrei aqui para me livrar do calor um pouco.

– Oh, está realmente quente lá fora, não está? E ainda mais para você… - mulher olhou bondosamente para a sua barriga - é para quando?

– Desculpe? - disse, irritada. Estava mais preocupada em identificar os outros ocupantes da mesa de Potter, mas sem sucesso.

– O bebê, querida. Para quando?

Ela deu de ombros. - Logo, eu espero.

Isso fez a mulher rir, e Bella se perguntou quando exatamente deixara de impor respeito para ser engraçada para estranhos.

– Eu aposto que espera. Que tal um milkshake, por conta da casa?

Isso a fez se virar, surpresa. Ela percebeu o que aconteceu ali e deu um sorriso; talvez aquela coisa de gravidez tivesse os seus benefícios.

– Você teria calda de avelã?

A mulher lhe deu uma piscadela - Tenho certeza que podemos arranjar algo como isso.

Uma vez que a garçonete a deixou, ela pode se concentrar nos Grifinórios em questão. Podia ver que o insípido Pettigrew e aquele monitor comedor de livros Lupin estava com eles, e até a garota Loren sangue-ruim, mas nem sinal de seu primo. Talvez eles não estejam mais juntos, pensou, talvez Sirius tenha caído em si e recuperado o bom senso.

– O que você tem ai? - a Loren puxou curiosa uma das sacolas que o Potter trouxera. Um anel liso cintilou em seu dedo. - Oh, isso é lindo. Essa combinará com seu vestido, Lily. - ela segurava duas máscaras ricamente decoradas em ouro e veludo.

– Você tem as suas? Eu vi uma em Featherchantement que ficará perfeito com os seus olhos, tem o tom exato de azul.

Olivia negou. - Não, Sirius ficou responsável pelas nossas esse ano.

O estômago de Bella deu uma reviravolta. Nada de bom senso então.

– Eu ainda preciso arranjar a minha. - disse Lupin, pensativo. - mas é tão difícil escolher, e elas são tão ridiculamente caras.

– Eu vi uma com focinho e umas orelhas numa boutique no caminho pra cá - disse o Potter, com seu sorriso amplo e idiota. - e quando você puxa as orelhas, ela uiva.

– Não é engraçado. - disse Lupin, contrariado, mas o resto da mesa explodiu em risadas.

– BD -

Quando Tonks a encontrou, quinze minutos depois, na calçada tomando o resto de seu milkshake, ele tinha um brilho enfurecido nos olhos.

– Onde diabos você se meteu? Eu te disse para ficar por perto!

– Eu fiquei com calor - ela se defendeu, sugando o canudo de forma insolente. - eu fui apenas buscar um sorvete. Isso é algum crime?

Ele ainda a analisou longa e irritadamente antes de se sentir convencido.

– Você precisa de mais alguma coisa? Estamos indo para casa.

Bella deu um longo olhar para Featherchantement, a boutique de máscaras atrás do cunhado, e mordeu a parte de dentro de suas bochechas. Não, disse a si mesma. Não seja ridícula. Então ela negou com a cabeça.

– Eu tenho tudo de que preciso.

– Ótimo. Vamos voltar antes que Andy chegue e te ache fora de casa e corte a minha cabeça para fazer um ornamento de parede.

– DB -

We can break through (Nós podemos nos libertar)

You don't have to lay your life down (Você não tem que colocar sua vida para baixo)

It isn't over (Ainda não acabou)


Bella escovou seu cabelo e vestiu a camisola, como sempre, ignorando o espelho. Obedientemente bebeu a poção fortificante, e deitou em sua cama no sótão do chalé, ou melhor, seu quarto, para todos os efeitos. Estava cansada, mas enérgica. Tinha trabalhado bastante na estufa aquela tarde, tentando distrair a mente. Não era o de sempre que a incomodava, sua gravidez, o fato de estar na casa da irmã traidora, encalhada ali enquanto os outros estavam em ação ao lado do lorde das trevas. Nada disso, só o brilho de um anel.

Mão esquerda ou direita?

Não podia se lembrar. Gostaria muitíssimo de não querer, porque, que importava…? Ela não se importava.

Não pode ser esquerda. Disse firmemente a si mesma. Não tinha o que - um mês que as aulas em Hogwarts terminaram? Nem Sirius seria tão estúpido… a não ser pelo fato de que sim, ele seria. Seu estúpido impulsivo primo. Ela rolou na cama, atormentada. Mão direita ou esquerda…?

Um estalo em sua janela chamou sua atenção, e ela sentou alerta, imaginando quem estaria lhe enviando uma coruja tão tarde na noite. Ninguém a escrevia mais há meses, nem Rodolphos, nem o Lorde das Trevas com algum chamado para missão. Narcissa visitava regularmente às vezes, então, ela não tinha porque enviar uma carta.

Só que não havia qualquer coruja na janela. Havia um rosto. Um que fez parar seu coração no mesmo instante.

– Posso entrar ou você vai me deixar congelar aqui até a morte? - a voz zombeteira falou do outro lado, abafada pelo vidro.

Ela ficou encarando. Estava quente, era verão… mas então…

Sem esperar resposta, Sirius Black abriu sua janela com um feitiço e passou as pernas, e então o resto do seu corpo para dentro do pequeno sótão. Alto, jaqueta de couro e cheiro de vento e floresta como lhe era inerente. Seu cabelo maior, sua barba malfeita. Olhos brilhando para ela travessamente como duas estrelas.

– Foi um inferno te achar, Bella. Eu nunca ia imaginar, logo na casa de Andy? O último lugar que eu procuraria.

– O que você está fazendo aqui? - ela ouviu a própria voz perguntar. Estava de pé do outro lado do quarto, mas não lembrava de ter levantado. Seu corpo todo tremia, aparentemente, estava mesmo frio.

– Ah, por favor - ele rolou os olhos como se aquela fosse uma pergunta desnecessária. - Quando eu soube… eu precisava vir. Checar você. - ele fez um gesto geral em direção a sua barriga enorme.

– Como…? - ela arfou.

– James viu você em Godric’s Hollow. Então ele me disse que você estava… bem. O que aconteceu? Você me disse que ia…

Ela olhou para o chão. O que havia consigo? Estava constrangida? Aquilo era tão errado. Seu coração batia tão rápido.

– Eu não consegui. - sua voz disse muito baixo. Quando olhou para cima novamente, ele estava perto, seu corpo fazendo sombra sobre ela. Mas como ele tinha se movido tão silenciosamente? Ou então era o seu coração batendo em seus ouvidos como um tambor.

– Tudo bem. - disse a voz suave de Sirius. Ele nunca falava daquele jeito com ela. Com Andrômeda talvez, e certamente com assua namorada sangue ruim, mas nunca com ela. - Vai ficar tudo bem.

– Não. - ela murmurou. Os olhos dele. Brilhando como estrelas. - Não, não, não. Você não… Não vai… -

– Shiiiii. - ele chiou, colocando um dedo em seus lábios. Nada, nunca, se comparava ao toque dele e a resposta que ele conseguia do seu corpo. Nem antes, nem agora. - É claro que vai. Eu sei que posso ser um idiota às vezes. Mas não sou nenhum monstro. Eu estou aqui. Vai ficar, sim.

Bella estendeu a mão, procurando o toque áspero da jaqueta de couro, e a solidez dele por debaixo da peça de roupa. Ela podia sentir sua mão e seu corpo todo formigando por aquele contato, por quanto tempo, agora?

E ela o tocou.

Mas então, não havia nada.

Só sua mão estendida do escuro.

– Não! - Bella gritou, se sentando na cama. Ela olhou freneticamente em torno de si, mas só via o sótão, ela mesma, o ar quente e viciado e nenhum cheiro de floresta e vento, só o de sempre, madeira e poeira. A janela nunca tinha sido aberta. Seu corpo todo tremia, e havia um aperto estrangulando seu peito, vergonha e dor misturados como faces de uma moeda só.

Ela agarrou a primeira coisa ao seu alcance - um vaso qualquer de porcelana que a irmã trouxera “para alegrar o quarto” - e o jogou com toda a força contra a janela, ouvindo-o quebrar em uma centena de pedaços.

But every hour (Mas toda hora)

Slipping by (que passa)

Screams that I have failed you (Grita que eu falhei com você)


Bella desceu até o andar de baixo um tempo depois, ainda tremendo - de raiva, continuava dizendo a si mesma. Queria matar, quebrar, destruir qualquer coisa, e iria ficar louca se continuasse naquele sótão por mais um momento. Ela tinha apenas a vaga consciência de que estava emitindo magia involuntária - por onde passava, os móveis e poucos quadros na parede tremiam perigosamente.

Estava pronta para colocar aquela casa abaixo até achar a sua varinha, mas ao invés disso deu de cara com Andrômeda e a filha em seus braços, no momento em que pisou os pés na sala. A irmã a olhou com surpresa e depois com preocupação ao perceber seu estado.

– Bella? - chamou cautelosamente.

– Minha varinha! - a bruxa exigiu - minha varinha agora!

– Ok. - ela disse devagar - eu te dou sua varinha. Assim que você me contar o que aconteceu.

– NADA! - Bella gritou, sem poder se conter. - NADA! Apenas me dê minha varinha! Se você se recusar eu vou destruir tudo até encontrar, e então eu vou por o resto abaixo quando eu a tiver. - como se concordando com suas palavras, o aparador, o espelho e o lustre tremeram perigosamente. Andy se moveu com Dora para longe do alcance do lustre.

– Bella, eu vou te dar sua varinha. Mas não enquanto você não se acalmar. Apenas me conte o que aconteceu.

– VOCÊ NÃO PODE ME CONTER AQUI COMO UMA CRIMINOSA! - ela brigou, lívida, sua voz sobressaltando Nymphadora, que começou a choramingar - Não sou quem… eu não… - ela estava tão furiosa que não podia falar. Se virou e jogou todas as coisas em cima do aparador no chão, com um grito de raiva. Vários porta retratos e bibelôs se estraçalharam de encontro ao chão. Ela gostava de quebrar coisas, mas hoje não estava ajudando.

– Bellatrix! O que quer que a tenha chateado, não é motivo para destruir minha casa!

– ENTÃO ME DEIXE IR!

– Onde? Onde você quer ir?

Bella se virou para ela, não esperava a pergunta naquele tom. Como se Andrômeda realmente quisesse saber onde ela queria ir, e não estivesse lançando a pergunta retoricamente afim de esfregar em sua cara que ela não tinha para onde ir.

Só que ela realmente não tinha.

– Me dê um minuto para colocar Dora no berço - Andy pediu - e podemos ir para onde quiser. Só um minuto.

Bella ficou congelada em seu lugar, sentindo as ondas de impotência, raiva e nervoso palpitando dentro dela. Aquele sonho, aquele estúpido sonho. Tivera muitos durante a gravidez, mas nenhum fora tão real. Por um momento ele estava mesmo ali, corpo, calor e presença, inquestionáveis.

Aquilo era tão humilhante. O que havia de errado com ela?

Andrômeda voltou, e estava mesmo falando sério, pois trazia sua capa de viagem. Ela percebeu que a irmã não ia mais quebrar as coisas, e havia um olhar perdido em Bella que enterneceu seu coração. Gostaria de abraçá-la, mas sabia que isso podia irritá-la mais, então preferiu um olhar compassivo.

– Você quer me dizer o que há de errado?

Bella olhou através da irmã, para a janela, e o gramado e mais atrás e quase invisível, o rio. Percebia agora que sua reação tinha sido exagerada, e essa consciência não ajudava em seu humor. Suspirou irritada.

– Eu tive um pesadelo. Um completamente estúpido.

– Você quer me contar sobre ele?

– Merlin, não. Nem se o inferno congelar.

– Certo. - Andy ocultou um sorriso, mordendo o seu lábio. - Vamos pra cozinha, vou te fazer um chá de mandrágora.

– Pra que? Eu não fui petrificada. - Bella protestou, mas a seguiu, vendo a irmã apenas menear a cabeça e não responder. Ela aceitou o chá quando esse estava pronto, e apesar do gosto amargo, se sentiu mais calma depois do primeiro gole.

– Bella. - chamou Andy quando já tinham ficado algum tempo em silêncio bebendo o chá, e Bella parara de tremer, bem como os móveis ao redor dela. - Eu estou muito orgulhosa de você.

A caçula ergueu uma sobrancelha, cética.

– Se essa é a sua idéia de psicologia reversa, é péssima.

– Ted me contou que vocês foram até Godric’s Hollow, e você se comportou bem.

– Seu marido tem sérios problemas com fofoca, Andrômeda, eu prestaria mais atenção nisso se fosse você.

– Não temos segredos entre nós - disse, e Bella fez uma careta de tédio murmurando “duvido muito”. - Mas a questão é, você tem cumprido sua parte. E em alguns dias é o seu aniversário. Não vejo porque você não possa escolher um presente.

Bella não podia imaginar qualquer coisa que quisesse mais do que a cabeça de Sirius Black numa bandeja, ornada com os miolos de Olivia Loren, mas não via como a irmã poderia concordar com isso. Mas então ela teve uma outra ideia.

– Eu quero ir a um lugar.

– Naturalmente um de nós ou os dois iríamos com você.

Ela bufou ultrajada - Eu não sou uma criança!

Bella. Não dificulte. Quando você quer ir? Teríamos de arranjar alguém para ficar com Nymphadora.

– Bem, o quão rápido você pode fazer surgir uma baby sitter para a mesticinha? - Andy a olhou sem entender. Bella explicou, com um sorriso satisfeito no rosto - o lugar onde eu quero ir, precisa ser esta noite.

Do what you what you want (Faça o que você, o que você quiser)
If you have a dream for better (Se você tem um sonho para melhor)
Do what you what you want (Faça o que você, o que você quiser)
Till you don't want it anymore (Até você não querer mais)
Remember who you really are (Lembre-se quem você realmente é)

(Continua…)


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Notas finais do capítulo

Música do capítulo: What You Want - Evanescence

E ai, quem sabe para onde a Bella quer ir? Quem acertar ganha dedicatória no próximo capítulo. Que, por sinal, será o penúltimo de Dossiê Bellatrix!

Quero comentários de presente de Natal, agora sejam uns lindos e me escreveram o que acharam ;)



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