Perpétuas Mudanças escrita por Hunter Debora Jones


Capítulo 32
Sr. Piegas


Notas iniciais do capítulo

Olá vingadores, agentes, marveleiros, asgardianos e cia!
Quantas saudades de vocês! Me digam, como vocês estão?Espero que bem. Hahaha, e sim, eu tinha prometido no Twitter postar essa semana, então vamo que vamo...
Mas antes de qualquer coisa, quero já de antemão agradecer a linda recomendação que a Nc Earnshaw fez a Perpétuas Mudanças no Nyah. Eu fiquei tão, tão, tão, "TÃO", ainda não encontro palavras, perdão... Mas você pode ter uma ideia de fiquei muito feliz, obrigada de verdade! Sua recomendação, como a de outros que já fizeram, me deixaram imensamente feliz, e me deram um ânimo quando eu mais precisava. Agradeço o depósito de carinho que vocês têm por mim, e por acompanharem a fic! Então sendo assim, esse capítulo vai dedicado a Nc Earnshaw, a todos os outros leitores que já recomendaram, comentaram, ou que se manifestaram somente nos números de visualizações, haha. Um feliz ano novo para todos vocês.
Boa leitura!



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Uma verdade indiscutível é que ninguém gosta de ser enganado com mentiras, ninguém quer ser a vítima de uma omissão. Eu penso assim, apesar de gostar de ser uma boa mentirosa quando necessário. Não é hipocrisia, às vezes torna-se necessário. Mas ser poupada da verdade pela própria família é inaceitável. Após descobrir a farsa da morte do meu pai não quis mais o seu contato, agora ver que James está com a S.H.I.E.L.D. e consequentemente junto com o nosso pai, não quis conversar com ele sobre isso também, e sem pedir quaisquer explicações fizemos a viagem para uma base de origem desconhecida dos remanescentes fieis da S.H.I.E.L.D, para relatórios da missão, e segurança do Jameson e demais resgatados.

Desde que terminei o meu relatório estou sentada em um banco, de um dos longos corredores da base, pelo qual ora ou outra passam alguns agentes. Sorrio simpática para alguns rostos conhecidos e me reservo a cumprimentar outros apenas com um aceno de cabeça. Sinto alívio e incômodo em saber que a S.H.I.E.L.D. de fato não acabou. Será que são todos fieis, e que não há mais inimigos entre nós? Divago sobre isso, sobre minha família, sobre os poderes que me ajudaram nessa missão — e que eu omiti no meu relatório (mentir/omitir deve ser algo de família), e por fim meus pensamentos se voltam para Steve.

— Você está bem? — uma voz bastante conhecida chega aos meus ouvidos. Levanto meu olhar, enfrentando os olhos claros e gentis de meu irmão James, iguais os de nosso pai. Iguais aos meus. Outro traço de família.

— Sim. — curta e com ar de indiferença, respondo em um resmungo. Afasto o meu olhar do seu e foco na vista a minha frente. Somos família, mas tenho que admitir que temos estado em falha com o real significado da palavra. James não vai embora diante da minha apatia, pelo contrário, permanece ainda a minha frente como se esperasse que eu dissesse mais alguma coisa, mas não falarei mais, ele pode desistir disso. Silêncio. Quase se pode ouvir um tictac com o decorrer do tempo. James se mexe com desconforto, estava convencida de que ele iria embora, no entanto para minha surpresa ele se senta ao meu lado no banco, olhando a frente como eu. Tictac. Permaneço a ignorá-lo, ele permanece em silêncio, mas com um mudo e insistente convite para que eu fale. Ele quer que eu diga tudo o que penso. Ele me conhece, sabe que estou brava. Ele sabe que quero me afastar. E droga, ele sabe muito bem me convencer a fazer algo que não quero fazer. Resisto o máximo à tentação de falar, mas o silêncio é sufocante e castigá-lo dessa forma parece demais. Apesar da minha estranha relação com James, meu coração se amolece pelo laço de irmandade e então, me ouço perguntar:

— Há quanto tempo?

James vira sua cabeça em minha direção, parecendo ponderar. O encaro de volta, vendo seu semblante solene, espero sua resposta.

— Quero te contar uma coisa antes de responder a sua pergunta. — sua voz natural de tom brando, me impede de retrucar em negativa. Meneio a cabeça em sinal de acordo. James olha a frente novamente, imitando sua atitude aguardo em silêncio, até que ele toma a palavra novamente: — Assim como você, desde pequeno sempre achei nossa família maluca. Um lar, duas mães, um pai ausente, uma irmã da mesma idade mais forte do que eu... E apesar disso, éramos muito ligados, fosse por sermos cúmplices. Ou você que aprontava com alguém ou por ser a que me defendia de qualquer um que implicasse comigo, como uma irmã mais velha. E vice e versa.

Repentinamente uma série de imagens da minha infância com ele na Califórnia passa por minha mente. Não posso discordar de James, sendo a família maluca que já éramos, morando juntos, tendo duas mães e praticamente nenhum pai, juntos em nossa amizade infantil encontrávamos a felicidade que por vezes nos faltava pela ausência do nosso pai. Mesmo com duas mães, era difícil aceitar que meu pai tinha feito "mãe" alguém que não fosse de fato, minha mãe, e aceitar qualquer afeto dessa outra era bem difícil. Pensando agora nem sei como James e eu éramos tão ligados. Também não sei aonde ele quer chegar com essa conversa. Ouço-o prosseguir: — E então você decidiu ir morar com o nosso pai e ninguém pôde impedir isso. — marca sem acusação em sua voz, mas recebo suas palavras com a sensação de culpa. O olhar de James volta-se para mim, dessa vez não o encaro. — Não culpo você por ter ido. Eu sei o quanto você admirava nosso pai, e mesmo com o carinho de nossas mães você sentia mais a necessidade de uma figura paterna. Mais precisamente do seu heroi, o homem do qual você queria seguir os passos.

— Eu fui uma idiota. — confesso, rindo ironicamente. Ter saído de um lar de duas mães que me amavam e um irmão que era meu melhor amigo, para ir rumo ao desconhecido com um pai que nunca tinha estado presente foi o primeiro grande erro da minha vida. Só não posso me arrepender porque assim nunca teria passado o tempo que passei com vovô. Mas que fui uma idiota, isso é óbvio.

— Você era só uma garota correndo atrás das suas expectativas. Eu teria feito o mesmo, mas deixar minha mãe e ir atrás do papai que... — ele hesita, parecendo chegar a um impasse em meio ao seu discurso. Revirando os olhos, reitero:

— Oh, admita, fui uma idiota. Você foi o garoto esperto. — silêncio.

— É, você foi mesmo. — admite por fim, após respirar fundo. Pela primeira vez ao seu lado desde que nos encontramos abro um sorriso olhando para ele que me sorri de volta por um instante.

— Era isso que você queria me contar? — questiono, esquecendo a mágoa por ora e saindo da defensiva. — Relembrar de como fui idiota no passado?

James desvia o olhar com um sorriso tranquilo e enigmático. Balançando a cabeça levemente, diz:

— Não, você não entendeu. — fitando-me com amabilidade, descreve: — O que eu queria te mostrar com isso é que você fez as suas escolhas. Você seguiu o seu caminho longe da sua família, bem, pelo menos parte dela. Eu sei que você estava seguindo os seus sonhos e com o passar do tempo queria poupar a nós de qualquer preocupação, que queria ser independente, e que passou por maus bocados para chegar aonde chegou, eu não posso te julgar por nada disso. Nem o nosso pai, como ele também fez o mesmo.

Fico paralisada sem esboçar qualquer reação. Olho a minha frente, ponderando cada palavra sua. O sentimento de falha atinge-me em cheio. James pode não me julgar por ter ido atrás dos passos do nosso pai, mas o seu jeito terno ao falar do passado ilustra a minha falta de atenção e falha com ele. Com minha mãe, até mesmo com sua mãe que tinha bastante carinho por mim. E eu segui os passos do homem que nunca esteve realmente presente. Esse homem ao longo dos anos fez o mesmo que fiz e não consigo pensar em perdoá-lo. Agora, sabendo que não fui muito diferente dele... Onde foi que eu me perdi assim?

— Um ano após a morte do vovô. — James diz, passado um longo tempo em silêncio. Prosseguindo: — Tivemos um probleminha na Califórnia e ele apareceu a nós para ajudar e descobrimos que estava vivo. Foi um choque, mas ele nos explicou tudo e no fim nos resolvemos. — Isso foi há uma década! Nós?! Rapidamente compreendo que isso se refere a minha mãe, a sua e talvez até mesmo o seu padrasto. Nós! E que problema é esse que eles tiveram? O encaro sentindo meus nervos à flor da pele ao descobrir mais mentiras, tentada a dar um belo soco em seu nariz. Posso ter sido idiota e errado, mas isso não faz nenhum deles os certinhos da história. — Não me olhe assim, eu mesmo tentei contatar você e por fim todos concordaram em te contar a verdade, mas isso aconteceu na mesma época em que você teve aquela missão em Fallujah e que seu namorado... Adam morreu. — sinto lágrimas se formarem em meus olhos prestes a desabarem. Não é por Adam, mas por toda a base da minha vida que pensava ser real, foi uma grande mentira. Como não percebi isso antes? Reprimo a vontade idiota de chorar, ergo minha cabeça, e não me importo em demonstrar a minha frustração com tudo isso resmungando alguns palavrões intraduzíveis que deixam James um tanto desconfortável. Contudo, ele volta a falar: — Você estava afastada... Inacessível, eu achei que precisava apenas de um tempo para acalmar o seu espírito e retornar ao normal e podermos contar a verdade a você. Então aguardamos você se recuperar. — ele faz uma pausa, deixando-me ouvir apenas o silêncio excruciante da minha frustração. Sua voz retorna: — Aguardamos. — suas palavras retumbam em meus ouvidos, fazendo-me abrir os olhos, ao mesmo tempo em que novamente, ele repete: — E aguardamos. — e assim se foram dez anos, completo em silêncio com amargor. — Você nunca mais foi à mesma desde Fallujah, Jess. — ele chama-me pelo apelido que me traz a memória ruim de Adam, entretanto, recordo James me chamando assim muitos anos antes de conhecer Adam, quando éramos crianças, amigos. Lembro-me desse tempo com assustadora saudade, tenho que concordar com ele, depois de Adam nunca mais fui a mesma. — Entendo como os fantasmas do passado podem mudar uma pessoa e nenhum de nós queria impor outro fantasma no seu presente. Então deixamos que você seguisse o seu caminho, afastada, como sempre quis.

Rio em escárnio, enquanto alguns agentes passam pelo corredor, mas não param para nos interromper.

— Então a culpa de tudo isso é minha? Puxa, mas que conveniente, não? Não quer me culpar pelo aquecimento global também? Pela morte do Michael Jackson? Talvez pela existência do funk? Vamos lá, pode dizer!

— Todos nós somos culpados. — James replica sem se abalar com minhas perguntas irônicas. — Eu assumo a minha culpa e te peço perdão pelo que fiz. Eu sinto muito, todos nós sentimos por tudo.

— É muito fácil dizer que sente muito depois de uma década de mentiras.

— É muito fácil se isolar e se vestir de razão quando o coração se esfria e não se tem ninguém para se preocupar. — contrapõe. Olho para ele, enfrentando o seu olhar com dureza, mas vendo sua sinceridade escancarada. Todos nós somos culpados. James tem sensibilidade e razão, algo que não posso combater, suas intenções não são de me punir ou me culpar por algo, e por isso a cada palavra que ele diz, sinto-me incapaz de rebater. James pega a minha mão a apertando delicadamente, olho para minha mão coberta pela sua e por fim para ele que diz: — Nós temos uma segunda chance que poucos têm na vida, Jess. Eu não vou perder a minha, aconselho a você que...

— Eu perdoo você, James. — o interrompo bruscamente, ganhando um olhar surpreso de sua parte. Respirando fundo, continuo: — Eu perdoo sua mãe, e a minha porque sei que vocês sempre agiram com o coração comigo. E eu sinto muito por ter abandonado vocês.

— Jess... — James tenta dizer algo, mas decidida, prossigo bastante enfática:

— Mas ele — enfatizo a palavra friamente, o olhar de James aquiesce entristecido por um momento. —, ele eu não sei se posso perdoar. Pela memória do vovô eu devo isso. Pode entender? Nós o procuramos incessantemente para então ele forjar a sua morte, e aparecer um ano depois da morte do vovô a toda família e ser recebido de braços abertos.

— Eu entendo você. — não, ele não entende. Se entendesse não estaria debaixo das asas dele na S.H.I.E.L.D. neste momento. — Ele errou por ter aparecido tarde demais, mas acredite ou não, ele também agiu com o coração quando resolveu por fim não revelar-se a você, foi difícil para ele. Você tem a escolha de perdoá-lo.

— Foi difícil para mim e o vovô aceitarmos que ele estava morto — relato sarcástica, dando de ombros. —, mas nós tivemos que conviver com isso. E essa foi uma escolha dele, James, não tenho qualquer escolha agora. Não tente defendê-lo, nada do que diga me fará mudar de ideia sobre isso. — esclarecida minha decisão, meu meio irmão não persiste em uma tentativa de me convencer a perdoar o nosso pai. Ele sabe que não vai conseguir fazer isso.

E falando no demô... Ah, droga, não consigo xingá-lo, meu avô me chicotearia com um de seus cintos se estivesse vivo... Pois é, se ele estivesse vivo. Tenho certeza que meu semblante se endurece ao ver o nosso pai, caminhar em nossa direção, ao lado de Sam e Steve engatados em uma conversa com mais uma agente que logo se despede deles, rumando outro corredor. Neste momento, sinto meu irmão apertar a minha mão em um gesto carinhoso, levantando-se, enquanto diz ao me fitar:

— Não vou mais tentar convencê-la a perdoar o nosso pai. Mas pela memória do nosso avô que você decide não perdoar, você deveria se fazer duas perguntas: o que Gerald Wally, pai, avô e apaixonado pela família faria se tivesse essa segunda chance? Como ele ficaria se soubesse que você teve essa chance e a deixou passar?

James me olha serenamente e fica em silêncio. Suas sugestões martelam em minha mente e me pego pensando no quão ele é persuasivo por me fazer ponderar no que não quero: perdoar meu pai. Pois sem pensar duas vezes é o que vovô faria. Vovô se sentia triste quando eu faltava a alguma reunião em família — sempre ocupada com o trabalho ou algo desnecessário, saber que desisti definitivamente da família que ele sempre tratou como um tesouro o preencheria de decepção. Porque sei que é isso que acontecerá se eu não perdoar meu pai. E essa conclusão me atormenta.

Ergo meu olhar deparando-me com a presença dos três que anteriormente vinham. Cada um deles tem o olhar preso em mim, porém Sam e Steve desviam os seus olhares para meu pai, voltando a mim novamente como um pêndulo, James me observa de soslaio. Noto Steve olhar também a James de um jeito estranho. Mas o que diabos de situação é essa que me meti? Involuntariamente, meu pai e eu suspiramos ao mesmo tempo, gerando os olhares de estranheza em todos.

Exasperada, levanto-me abruptamente, ao mesmo tempo em que a voz do meu pai vem em intermédio:

— James, acompanhe o Capitão e o Wilson ao Ônibus de retorno para Washington. — James anui em concordância. O fito estupefata, pigarreio dramaticamente. Sendo alvo de todos os olhares, arqueio minhas sobrancelhas ironicamente para meu pai. Soando brando, esclarece: — Eu tenho alguns detalhes sobre o relatório da agente Wally, a conversar em particular. Ela irá logo em seguida.

Ninguém é nem um pouco curioso ou solidário para se dispor a ficar ao meu lado. Meu pai cumprimenta Sam e Steve oferecendo suas despedidas. Seguindo meu irmão, Sam se afasta dando-me um breve olhar ilegível. Steve me fita do mesmo modo que fitava meu irmão, mas acaba seguindo James. Rio internamente. Estou imaginando ou Steve Rogers está com ciúmes de mim? Bom Deus, eu gosto de como isso soa.

— Seu avô teria aprovado ele. — meu pai comenta risonho. Volto vagarosamente minha atenção para ele. Fingindo não tê-lo ouvido, rechaço:

— O que você quer saber sobre o meu relatório?

O semblante dele oscila por um momento em tristeza. Em vez de desviar o olhar, não vacilo e continuo com meus olhos sobre ele.

— Você sabe que isso foi uma desculpa para poder falar com você em particular. — apresenta em tom franco. — Eu queria conversar com você novamente sobre a última conversa que tivemos.

Permaneço a fitá-lo, lembrando do que James me disse. Saber o que vovô iria querer que eu fizesse nessa situação me incomoda como o inferno. Mas simplesmente não consigo cogitar isso.

— Não temos o que conversar, John. — friso o seu nome sem titubear. Ele não merece ser chamado de outra forma por mim, porque ele nada mais foi do que um conhecido em toda minha vida. Não me importo em como isso parece esmagar o meu coração, não me importo como o olhar afetado dele me encara de volta, e não me importo de ter dado o xeque-mate no jogo que ele mesmo teve todos os méritos para o fim. Só me importo de esclarecer: — Há muitos anos você não só tomou a decisão de se afastar da sua família, como a fez acreditar que você estava morto. Não me importa quaisquer desculpas que você tem a oferecer ou se você sente muito. O tempo passou, John. — não demonstro, mas sinto ao soltar as palavras uma letargia de sensações ruins. Mas com orgulho e teimosia, tomo o fôlego e continuo: — E para mim, agora, você não é nada além do espectro de alguém que quero manter afastado.

O encaro com franqueza, demonstrando que não me arrependo de nada do que disse. Minha consciência grita mil coisas contrárias neste momento, pela primeira vez parece entrar em acordo com o meu coração atormentado. Eu tomei a decisão certa, era a única que ele — John, me deixou como herança da sua falsa morte. Não poderia fazer diferente, as coisas não mudam só porque ele disse que sente muito. Não mudam.

Perante seu silêncio tomo a deixa para ir embora o dando as costas para nunca mais olhar para trás.

— Você está errada. — ele fala de repente, paro com o som da sua voz repercutindo pelos meus ouvidos como se ouvisse uma sentença. Resisto à vontade de olhar para ele e instigá-lo a falar, contudo, não é necessário já que sua voz ressoa outra vez: — Você está frustrada porque você não quer se afastar, mas a perspectiva de me perdoar mais uma vez e arriscar-se a sair magoada de novo te assusta.

Eu decidi não olhar para trás, mas ele caminha até parar bem a minha frente e já não posso deixar de olhar para ele que coloca a mão sobre meu ombro e diz ternamente:

— Você é como o seu avô. De coração valente e ainda assim sensível. Eu posso ver isso em você agora. Eu me orgulho de você, minha filha. — olho para sua mão que pousa em meu ombro, retorno meu olhar para ele. Raciocino por um segundo suas palavras, me sinto apenas mais confusa. Então ele se afasta, mas antes de fazer isso, diz: — Não precisa me perdoar, nem eu mesmo sei se posso perdoar a mim por tudo o que fiz, o que não fiz... Ainda assim eu sinto muito. Mas quando precisar de mim, basta apenas me chamar. — ele me oferece uma caixinha preta quadriculada do tamanho da minha mão, minha vontade é de não aceitar nada vindo dele, mas a curiosidade é maior e acabo aceitando a caixinha. — Eu estarei lá por você. — quando ergo meu olhar a ele, vejo um sorriso se formar em seus lábios, destacando as linhas de expressões em seu rosto devido à idade. Uma promessa muito ousada, cogito no momento em que ele me surpreende fazendo uma continência e sai pelo corredor sem dizer qualquer outra palavra.

Passado alguns instantes, baixo meu olhar para a caixinha, a abro, deparando-me então com um colar de prata, tendo o pingente de uma águia americana com suas asas abertas.

***

— Eu não sei quem é que deve tomar cuidado, se é ela ou ele. — sentado no sofá do Ônibus (um dos aviões exclusivos e raros da S.H.I.E.L.D.) comigo e Sam ao seu lado, Steve explana com ar jovial mais sobre Olivia Mills, a tal midgardiana que tem feito a filantropia do ano, abrigando em seu apartamento, Loki, o Deus da Trapaça. — Sabiam que ela o chama de Gafanhoto?

Sam tosse, engasgando por um momento com o whisky que encontrou na adega do que poss chamar de sala do Ônibus.

— Realmente, essa Olivia Mills é muito espirituosa. — Sam concorda, e então sorve todo o líquido em seu copo. Encosto minhas costas acomodando-me no sofá adotando o silêncio por vez, não interagi muito com Sam e Steve desde que adentrei no Ônibus. Ter reencontrado o meu pai e ter sido forçada a tomar uma posição, deixou-me com um humor taciturno e melancólico. Acredito que tomei a decisão certa, não poderia ter feito outra escolha. No entanto, não sei por que sinto o pesar de opressão sobre mim. Baixo meu olhar vendo a águia do colar em volta do meu pescoço. Ah, talvez seja por isso. Mas por que eu coloquei isso? Pode ter sido por curiosidade da minha vaidade inicialmente, mas eu poderia ter o tirado depois. E o que eu fiz? O deixei. Aghr, eu sou um poço de confusão.

— Jessie? — viro meu rosto para Sam que chama minha atenção. — Está tudo bem com você? — parece uma pergunta comum, mas o tom implícito na sua voz questiona com verdadeiro cuidado. E Sam, Steve que têm seus olhares zelosos sobre mim, e eu, sabemos que ter ficado de frente com o meu pai não animou muito o meu humor. Porém, respondo:

— Sim, claro. — é lógico que Sam nem Steve acreditam na minha resposta e estreitam seus olhares em um misto de pesar e desconfiança para mim. Eu simplesmente não tenho cabeça para lidar com isso agora e não vou. No momento só quero fazer o papel de cosplayer de Bela Adormecida de novo e dormir por um longo tempo. Levanto-me do sofá decidida carregando minha mochila com alguns pertences pessoais que trouxe para a missão, afastando-me deles, anuncio: — Vou procurar um daqueles quartos que James disse para me estabelecer e tirar uma soneca até Washington. Depois vejo vocês, rapazes.

Caminho pelo Ônibus a procura dos benditos quartos. Repetindo um mantra para manter minha mente limpa, sinto-me perdendo a paciência e tenho a ciência que alguém está seguindo meus passos. Com um pouco de esforço e persistência finalmente encontro a área que se encontra o dormitório que me lembra da minha época no exército. Exceto pelo conforto aqui ser mil vezes melhor, e essa base não ser em terra. A porta se abre automaticamente quando me ponho a sua frente. Parada na soleira coloco minha mochila no chão, próxima a uma das camas.

Lanço meu olhar por sobre o ombro, olhando diretamente a um corredor que faz cruzamento com outro, falo:

— Não me diga que você é do tipo que repudia os atos de alguém e depois pratica o mesmo, Capitão? — por um segundo nada acontece, mas logo Steve surge, saindo de um dos corredores com o semblante um pouco culpado vindo até mim. Sorrindo, lembro da primeira vez que trocamos algumas palavras e zombo: — Se divertindo nas sombras, hein? Que inapropriado.

— Eu posso explicar.

Rio abertamente, o fitando em divertimento arqueando minhas sobrancelhas. Ele parece tão envergonhado por ter sido pego nessa situação.

— Claro. Você pode começar falando porque você estava me seguindo. — ah, a doce vingança de usar as palavras de Steve contra ele mesmo e o ver corando gradativamente não tem preço.

— Eu só queria me certificar que você estava bem. — eu poderia comentar outra coisa que o deixaria mais envergonhado, mas a sinceridade e preocupação escancaradas a minha frente amolecem meu coração. Em tom cuidadoso, Steve adiciona: — Você pode ter dito ao Sam que está bem, mas nós sabemos que ter reencontrado o seu pai não a deixou muito feliz. — o sorriso que tinha em meu rosto é substituído por uma carranca zangada.

— E o que importa, Steve? — ralho possessa, ganhando seu olhar assustado pela minha explosão. — O céu não caiu, a terra não estremeceu e certamente o apocalipse não aconteceu por causa disso. Eu vou sobreviver. Não se incomode com a merda dos meus problemas.

— Olha a língua. — Steve balbucia em censura, em contrapartida o fuzilo com o olhar, rangendo os dentes. Dou as costas a ele adentrando o dormitório, tomando alguns segundos para respirar fundo, conto em silêncio até dez.

E de repente, sinto Steve se aproximar de mim e me puxar contra o seu peito, envolvendo-me em um abraço meio desajeitado pela surpresa, que não demoro muito para assimilar e circular meus braços em sua cintura como se esperasse esse movimento seu. É tão rápido e automático que me envergonho. Me sinto segura em seus braços, como se em meus dilemas internos o céu não tivesse desabado sobre minha cabeça. Apesar de o meu orgulho me pedir para afastar-me de Steve, eu faço o inverso aproveitando cada segundo desse abraço, repousando minha cabeça em seu peito. Porque além de ser uma pervertida incorrigível, agora sou muito carente do afeto de Steve. Oh, céus.

— Por quê? — murmuro contra o seu peito decorrido algum tempo. Afável, ele alisa minhas costas com uma de suas mãos e complacente conta:

— Você parecia precisar de um abraço.

— Não — desfaço o abraço, sentindo-me um pouco frustrada por isso, mas o fitando, esclareço minha pergunta: —, não foi isso que eu quis dizer. Por que se preocupa comigo? Por que você é tão bom comigo não sabendo nada sobre mim?

O olhar de Steve tem então uma mudança repentina. Percebo o seu espírito cair em mau humor, com se eu o tivesse dito um insulto.

— Por que faz isso consigo mesma? — franzo meu cenho não o compreendendo. Ele prossegue aborrecido: — Você está sempre se desmerecendo, colocando-se a um lugar abaixo do que verdadeiramente é.

— Eu não faço isso.

— Sim, você faz. — diz convencido. — Quando descobriu que Natasha e eu não a abandonamos em New Jersey, você se enfureceu e foi totalmente contra isso. E quando você me contou sobre o amigo que teve que matar, você se afastou pensando que eu não falaria mais com você por conta disso.

Steve está certo. Droga. Por que ele tem que estar sempre tão certo sobre as coisas? O olho hesitante e exponho:

— Você sabe que ele não era só meu amigo, não é? — céus! Por que eu tenho que ser tão estúpida?

— Imaginei que não. — ele articula sincero. Sou pega de surpresa por essa revelação e mais uma vez não posso me impedir de questionar:

— Por que, você...?

Ele segura meu queixo, incendiando uma chama de calor pelo meu corpo. Oh, meu Deus, lá vem meu lado pervertido se aflorando. Steve me olha fixamente, sinto um misto de emoções enquanto ele me fala, sério:

— Eu também já tomei decisões difíceis. — seu polegar traça a linha do meu maxilar com delicadeza. Me seguro para não tremer ao seu toque, será que ele não percebe o que faz comigo? Isso é insuportavelmente tentador para perder o pudor. Com seus olhos azuis nos meus, continua: — Já estive em uma guerra, já lutei pela paz sendo um símbolo de esperança e justiça. Já tive em minhas mãos decisões das quais me fizeram desejar que nunca tivessem me tirado do gelo.

— Steve...

— Não, Jessie. Me escute. — sua mão para em meu rosto, olhando-me fixamente. Meu Deus, ele não tem mesmo noção do que suas ações despertam em mim? De qualquer forma mantenho-me quieta para escutá-lo: — Nada do que eu fiz foi fácil e com beleza, mas eu fiz o meu melhor, o que tinha que ser feito. Me recuso a pensar diferente.

— Você é um heroi, Steve. Não sou como você. — murmuro acanhada.

— Você se engana — ele discorda suavemente, seus olhos inspecionando o meu rosto e se detendo em meus olhos. — Talvez seja melhor do que eu. — ha-ha-ha, é para rir? Steve não pode estar falando sério.

— Sério, Steve, não sei o que você vê em mim. — Steve segura meu rosto, impedindo que me afaste dele, para ouvi-lo concluir:

— Quando olho em seus olhos vejo a mim mesmo dentro deles.

Santo... Perco o fôlego com o que ele fala. Certamente ele não sabe as coisas que desperta em mim, porque se soubesse não abriria a boca para chegar perto de provocar-me um ataque cardíaco.

— Narcisista. — balbucio, recobrando o fôlego. Steve parece chocado.

— Não foi exatamente isso que eu quis dizer. — contesta enrubescido, recuperando-se da minha resposta. — E você sabe disso.

Levo minhas mãos circulando o seu pescoço, inclinando-me perto de seu rosto, sussurro:

— Cale a boca, Sr. Piegas, e me beije.

É sempre assim que acabamos no final, Steve sempre me vence com seus argumentos e não é mais necessário do que meias palavras para isso. Então eu cedo e caio em seus braços. Para que protelar então?

Dito e feito. Nossos lábios se envolvem sem qualquer hesitação, Steve me segura contra ele, sua mão ainda pairando em meu rosto em um afago que me estremece e faz meu coração palpitar mais forte. Sua boca se abre na minha, sua língua traçando um caminho nunca antes percorrido, sinto o gosto da tentação com um leve toque de whisky. Oh, dane-se a compostura, é agora!

Calculando alguns passos para trás, arrasto Steve comigo sem interromper o beijo, até cair em uma das camas do dormitório com seu corpo sobre mim.

— O que... — Steve interrompe o beijo assustado tentando entender a situação, com uma mão protetoramente sobre meu quadril, claro que espalhando um calor mais libertino sobre mim. Rio do seu jeito arrancando uma pequena risada sua também, puxo o seu rosto para beijá-lo novamente em ansiedade. Steve demora um pouco, mas logo corresponde, enviando calafrios de ansiedade no meu âmago, deixando-me quase trêmula de desejo quando tomo ciência da sensação do seu corpo tão próximo ao meu. Calor parece aquecer cada célula do meu corpo, suspiro contra sua boca. Oh, meu Hulk da Terra, socorro! Guiada pelo sentimento, mergulho minha mão por baixo de sua camisa, acariciando os músculos de seu abdômen, descendo...

— Não! — Steve se afasta de mim exclamando, senta-se na cama passando a mão pelo rosto. Sinto a frustração tomar conta do meu corpo onde outrora imperava sensações indescritíveis, todavia vergonha também toma o seu lugar diante da reação inesperada de Steve quando eu tentava... Meu Deus, que vergonha.

— Me desculpe, Steve. Eu pensei que... Eu... Eu achei que você... — sento ao seu lado raciocinando direito sobre a situação, franzo minhas sobrancelhas. O que foi que eu fiz de errado? Ele estava tão entregue ao momento como você, não tem do que pedir desculpas, Jessie, foco! Então uma ideia surge em minha mente fazendo meus olhos se arregalarem, fitando Steve com seu rosto ruborizado, exprimo: — Oh! Eu não sabia que você era, ahn, digamos, puritano. Por completo.

Abaixo meu olhar, sem graça por apontar esse fato tão pessoal assim.

— Eu não... — Steve sussurra tão baixo que se eu não estivesse ao seu lado eu não conseguiria ouvi-lo. Olho para ele, curiosa, mas ele não continua o que dizia. O que me traz a memória de Peggy Carter com uma pontada de ciúmes, certamente ele não é tão puritano se ele teve um relacionamento com ela e de qualquer forma, isso não é da minha conta. Pare de agir como uma adolescente, Jessica, pare com isso já. Steve conclui: — Eu só estou um pouco tonto pelo whisky.

— Você está bem? — preocupo-me imediatamente. Se ele está tonto é lógico que não está bem, que tipo de idiota eu sou! Idiota!

— Claro, só preciso de um pouco de ar. — explica, desviando o olhar e corando sumariamente. Volto a baixar meu olhar pelo ímpeto de querer agarrá-lo e continuar de onde paramos. Balançando a cabeça, apenas profiro:

— Tudo bem.

Não ouso dizer mais nada, nem fazer qualquer movimento. Steve parece fazer o mesmo e um silêncio constrangedor se estende entre nós. Deveria conversar sobre a situação, ou sair como se nada tivesse acontecido e recuar com Steve nesse relacionamento estranho?

— Eu vou voltar para New York. — Steve quebra o silêncio. Definitivamente não estaremos conversando sobre isso que aconteceu. Olho para ele, que acrescenta: — Sam prometeu continuar procurando o Bucky, mas sabemos que ele não quer ser encontrado e no momento Os Vingadores precisam de mim para vigiar o Loki. Então... Não sei quando vou retornar. — um amargor sobe a minha garganta prevendo o que Steve quer dizer. Ele quer terminar comigo. Digo, não somos nem namorados então não há o que terminar. O fato é que ele quer deixar bem claro que não vai querer mais investir nesse relacionamento estranho. Tudo aponta para isso. Desvio meu olhar, não quero ter que levar um fora seu e ver a pena em seus olhos, meu orgulho é forte, mas não aguentaria tanto. Sou pega de surpresa quando sinto um toque gentil em minha mão, olho para ela vendo a mão de Steve a cobrindo. Ergo meu olhar para ele, que pronuncia suave: — Quero que saiba que não me esqueci do encontro que marcamos antes da missão da queda da S.H.I.E.L.D. e a sua partida para NY, mas terei que adiar mais um pouco.

— Eu entendo, não se preocupe com isso. — usando todo meu autocontrole me esforço para não demonstrar a euforia que sinto por não levar um fora. Isso é demais! Acho que Steve tem razão, eu tenho tendências a me colocar a subestimar meu valor. Ele por outro lado, com o semblante franco, sussurra:

— Vou sentir a sua falta.

Meu coração palpita um pouco mais rápido do que de costume, aquecendo em paixão. Não estou brincando quando digo que Steve chega perto de me provocar um ataque cardíaco. Não repreendendo um sorriso enorme que parece despontar de uma orelha a outra, colocando minha mão sobre a sua, apertando-a, digo:

— O sentimento é recíproco, Capitão Porto Rico. — me satisfaço ao ver um sorriso em seu rosto.

— Eu não sabia que você tinha um irmão. — fala humilde.

— Pude perceber isso. — zombo com um sorriso malicioso, vendo-o titubear tímido, apenas repouso a minha cabeça em seu ombro deixando o assunto de lado. Porque não me importa os problemas do passado e as dúvidas do presente que me atormentavam até então, nesse momento me sinto tranquila ao lado de Steve que circula sua mão a minha volta me abraçando. Sinto-me alheia a qualquer mal e, além disso, sinto que não é só paixão que sinto por ele.


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Notas finais do capítulo

Bom, e aí meu povo? O que vocês acharam? Eu que escrevi amei. Oi? Hahahaha ._.
Mas falando sério, deixem-me saber o que vocês acharam, hablem comigo sem medo e sem vergonha. Eu não mordo nem se me pedirem. -q
Então... Jessica pervertida tem se aflorado com bastante frequência, mas não vão achar que o Santo Rogers vai ser uma conquista fácil.
Quaisquer informações sobre atualização na fic, acompanhe no meu Twitter @hunterdeboraj
Até logo, pessoal! Bjs