Perpétuas Mudanças escrita por Hunter Debora Jones


Capítulo 31
Xeque-mate


Notas iniciais do capítulo

Olá, vingadores, agentes, marveleiros, asgardianos e cia! Tudo bem com vocês? Espero que sim!

Acho que vocês devem ter notado o tamanho do capítulo e se antes não notaram, com a minha dica vão notar. Hahaha

Não é minha intenção escrever capítulos grandes, mas alguns acabam saindo, todavia minha beta (lê-se Hunter Pri Rosen ♥) aprovou o capítulo e disse que não seria enjoativo, qualquer coisa, reclamem com ela. Brinks!

E há um pouquinho de tudo que vocês vinham sentindo falta na fic, espero que vocês gostem!

Boa leitura!



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Sou uma mulher excepcional, não há uma coisa sequer que eu não possa fazer. Certo, talvez escalar o monte Everest ainda não esteja ao meu alcance — ou ter uma fazenda de javalis, aí já seria um pouco demais. No entanto, sentindo o cheiro delicioso de uma torta de maçã que retiro da geladeira de Sam, feita por mim mesma, posso me orgulhar de minhas habilidades um pouquinho. É uma pena que Bruce tenha ido embora ou Sam não tenha retornado para casa, desde sua saída mais cedo em busca de algum paradeiro do Bucky. Espero que Sam tenha tido sorte e retorne com algo relevante sobre seu passeio. Como em resposta a esse pensamento, ouço o trinco da porta sendo destravado. Coloco sobre a bancada da cozinha a bandeja com a torta de maçã que tem um desenho em espiral feito com fatias de maçã. Levo uma mão à região da cintura atrás, agarrando a arma que tenho. Mesmo que seja Sam, meus instintos me lembram para nunca baixar a guarda, até ter a certeza que é realmente seguro. Fico parada próxima a bancada da cozinha, com uma mão na arma e a outra sobre a bancada perto de um pote com facas.

Ouço o som de passos, e uma voz logo se sobressai:

— Olá?

Steve? Não esperava que retornasse tão cedo, mas com a convicta certeza que é ele ouvindo sua voz, instantaneamente saio do modo de defesa, ajeito minha arma na cintura e enuncio:

— Na cozinha.

Sentindo uma ansiedade para revê-lo, e de fundo uma leve hesitação por tudo que decorreu nessas últimas horas longe um do outro, seja pelo Bruce que deixou escapar que Steve disse que gostava de mim, ou por eu estar ciente de que estou apaixonada por Steve, e por ter dado um passo mandando a ele uma mensagem dizendo que sentia sua falta — que não teve resposta, espero pacientemente Steve aparecer no meu campo de visão. A sensação é de estar no centro de um furacão de emoções e tudo bem se for assim, se eu me mantiver centrada, ficarei bem.

Steve aparece, nossos olhares se cruzam em um instante. Analiso Steve vestindo uma jaqueta escura por cima de uma camisa branca, que não posso deixar de notar seus músculos ainda assim se destacando, em conjunto com uma calça brim cinza que tenho certeza que destaca bem o seu bumbum. Céus, esse homem involuntariamente tem mexido comigo de várias maneiras, e não exatamente da maneira que mais tenho desejado no momento... Concentração, Jessie! Pigarro, antes de estabelecer de vez o contato visual com Steve que se apoiou no batente da porta que liga ao corredor, aparentando não ter notado o meu olhar outrora libertino sobre ele. Abrindo um pequeno sorriso, falo:

— Ei.

— Oi. — Steve sorri radiante. Sinto os músculos de meus lábios se esticando mais. Idiota apaixonada, idiota apaixonada, idiota apaixonada!

— Você voltou cedo. — ressalvo ligeiramente, forçando que meu sorriso se amenize, o que é quase uma tarefa impossível quando Steve permanece me olhando, com um sorriso charmoso nesses lábios... Foco, Jessie! — Caso esteja se perguntando, Sam está checando alguns endereços onde há a possibilidade de Bucky estar.

— Eu sei. Falei com ele há pouco, ele já está voltando para casa. — seu sorriso desaparece, não há sinal de tristeza, só um pouco de descontentamento. Aproximando-me dele, indago:

— Nenhuma pista?

— Não.

Exalo o ar vagarosamente. Era suposto imaginar que esse seria o resultado do primeiro dia de buscas em possíveis esconderijos.

— Bom, amanhã será outro dia e aposto minhas fichas que teremos mais sorte. — há outros lugares em que podemos olhar, a esperança não está perdida enquanto se há chances. — Você deve estar cansado. Está com fome? Eu fiz torta de maçã.

Muitas afirmações desenfreadas da minha parte parecem desnortear Steve por breves segundos, contudo, seus olhos ganham um brilho extra quando cito a torta de maçã. Literalmente.

— Torta de maçã? — Steve repete devagar, me olhando com suas sobrancelhas levemente arqueadas enquanto se desencosta do batente da porta.

— Pelo visto alguém aqui gosta de torta de maçã. — cantarolo brincando, Steve parece farejar a torta até a bancada. E também parece gostar mesmo de torta de maçã. Sem qualquer palavra, ele pega uma faca no pote da bancada e está prestes a fatiar a torta, mas me apresso até ele segurando a sua mão para impedi-lo. O contato de sua pele com a minha arrepia-me em pequenos segundos. Steve me encara surpreso, só então noto a proximidade em que estamos. Posso sentir a sua respiração batendo em meu cabelo. Definitivamente, esse homem está mexendo comigo. Empurrando essas sensações para longe, baixo meu olhar, escorregando minha mão para tomar a faca da sua, até me afastar um pouco dele, o fito nos olhos, e recomposta digo:

— Desculpe, Capitão. Mas eu vou ter que guardar essa torta na geladeira, esperar até Sam chegar para dividirmos. Até lá você pode comer algumas bolachas que tem ali naquele pote. — tomo a torta sobre a bancada, e a guardo na geladeira exatamente como disse. O vinco entre suas sobrancelhas demonstra exatamente o quanto ele está confuso. — O que? Seja paciente!

Poderia estar gargalhando mentalmente pela sua expressão aborrecida, se o efeito do pequeno contato físico com Steve não estivesse reverberando ainda por meu corpo. Santo Deus.

— Ok. Já entendi o que você quer dizer. — Steve resmunga, sorrio francamente.

— Você é um cara tão esperto, Steve. — cruzo os braços sobre o peito, tomando um semblante sério e olhando-o fixo, emendo: — Agora, fale.

— Antes de começar... — sua postura e tom de voz me denunciam que não gostarei muito do que ele tem a dizer. Ele prossegue: — Quero que prometa que manterá a mente aberta, e não ficará irritada com o que falarei.

Manter a mente aberta. Não ficar irritada. Promessa difícil de fazer hoje em dia.

— Em partes, manter a mente aberta? Acho que posso fazer isso, mas não ficar irritada... Impossível. Eu estou morta para o mundo, tem um grupo de nazistas à solta por aí, planejando Deus sabe lá o que. E estamos em uma missão que tem tido pouco sucesso. Há alguns dias passei por uma experiência de morte, e agora tenho poderes. Ah! Vale ressalvar que você me deixou bastante curiosa sobre o seu chamado d'Os Vingadores, e ainda omitiu que o Dr. San... Digo, Dr. Banner viria me ver... — Steve parece pego de surpresa com todas as informações, entretanto desvia o olhar do meu mostrando timidez. Culpado, bato um martelo mentalmente em conclusão. Poderia acrescentar que ele ter chegado aqui de surpresa, lindo e... Sexy, não ajudou muito meus ânimos. Melhor ficar calada sobre isso. —... E você nem para responder minha mensagem. — arregalo os olhos. Calei-me sobre uma coisa, mas abri a boca para dizer algo ainda mais comprometedor. Agora quem desvia o olhar sou eu, antes vejo Steve levantar o seu a mim, me encarando. — O que quero dizer é: não posso prometer não me irritar, já estou bastante irritada.

— Jessie, sobre a mensagem eu... — levanto minha mão, fechada em punho em um gesto que pede sua parada e esclareço:

— Steve, por favor, coisas importantes primeiro.

— E você não acha isso importante? — rebate incrédulo, com seus olhos sondando o meu rosto. Abaixo minha mão, vendo-o se aproximar mais de mim. É claro que eu acho isso importante, mas sabendo que ele viu a mensagem e não se deu ao trabalho de dizer nada, me questiono se para ele isso seria importante. Sim, eu estou agindo como uma idiota apaixonada. Droga.

— Escute, Steve, não ligue para isso... — começo a razoar, tenho certeza que gaguejo uma palavra ou outra, quando ele para a minha frente impondo presença, com seus olhos penetrantes fixos aos meus. Ele arremata:

— Eu ligo. — suas mãos capturam as minhas com delicadeza, sinto o seu toque dando-me calafrios bem... Peculiares, tento esconder a todo custo dele. Seus olhos baixam por um instante, olhando minhas mãos, as pontas de seus dedos acariciam minha pele com afeição, nada de sensual ou lascivo, apenas extremamente carinhoso como Steve. Todavia é lógico que só com esse toque, minha mente, corpo e alma parecem querer gritar: deuses dos céus, socorro! Quase arquejo quando seus olhos sérios, rebuscam os meus, para sua voz se impor com seriedade: — Eu parti de New York, vindo diretamente para cá quando recebi a sua mensagem. Apenas para poder te dizer, olhando bem em seus olhos que também sinto a sua falta. — seus olhos ilustram sinceridade e sentimento. Euforia corre por minhas veias, fazendo o meu coração palpitar acelerado. — Então, eu ligo, Jessie. E espero de verdade que você também ligue, por que... — a voz de Steve desce um tom, como se deparasse com um impasse, algo que o oprime. Aperto suas mãos entre as minhas, dando o incentivo e tempo necessário para que continue. Voltando sua voz ao tom normal, continua: — Desde que acordei nesse tempo e descobri que tinha perdido mais coisas, do que ganhado, eu me senti vazio. Não importa se o país ganhou a guerra e o Capitão América se tornou símbolo de esperança e coragem, eu me senti vazio. E me questiono como Steve Rogers, se há espaço para mim neste tempo ou se terei que me sacrificar novamente... Como Capitão América, me questiono se é justo ter tido essa chance, enquanto um soldado valente como era o Bucky não teve a mesma sorte. — é injusto consigo mesmo Steve ter que desbravar essa luta mental, questionar o valor sobre si. No entanto, posso compreender e mesmo que me doa como uma navalha afiada contra a pele ouvir essas coisas, fico em silêncio e deixo que ele abra o seu coração. Machuca, mas ele precisa disso, então dou isso a ele. — É duro. Mas tudo o que um homem pode fazer quando não se tem esperança, é tentar. Por isso prossegui com o meu papel nesse mundo como o Capitão América, sem espaço para Steve Rogers, apenas o supersoldado.

— E então?

— Então eu conheci você. — não há nenhuma tática ou treinamento nesse mundo que me preparariam para reagir com normalidade a essa revelação. Minha boca se abre ligeiramente, quase petrificada, solto as mãos de Steve sentindo o ar preso na garganta. S-a-n-t-o. H-u-l-k. Meu coração bate sem pressa em poucos segundos e quando olho Steve constatando que ouvi, bem, o que eu ouvi, meu coração dispara, outra vez. Explanando o que tenho em meus pensamentos, Steve descreve: — Confesso que algumas vezes ainda me pego questionando sobre mim mesmo, mas desde que te conheci, você con...

Surpreendo Steve unindo nossos lábios, enquanto satisfação aquece minha pele, não o deixando terminar de falar. Ele não precisa. Sei agora que ele pensa em mim como penso nele e que gosta de mim. Tenho um espaço em seu coração mais do que deveria imaginar, sequer desejar. Eu não o mereço, de todo modo não posso me impedir de envolver meus lábios nos seus que tem um gosto doce, energicamente enlouquecedor nesse breve momento. Separando meus lábios dos seus, ainda perto o suficiente dele, encontro os seus olhos fitando-me com surpresa e curiosidade.

— Desculpe, eu já não aguentava mais. — murmuro, sorrindo um pouco sem graça. Sinto que preciso dar uma resposta a tudo que Steve expôs, e por mais que digam que um beijo vale mais do que mil palavras, acredito que ele merece uma resposta apropriada. Não fugindo do seu olhar, articulo: — Jamais vou ter ideia da dimensão de como você se sentiu quando acordou em pleno século vinte e um, Steve. Posso compreender os seus questionamentos, entretanto não posso concordar com eles.

Levanto minha mão e toco o seu rosto. Bem desenhado, másculo, e... Concentração, Jessie, foco. A pele de Steve parece um pouco mais corada, talvez seja por timidez do meu olhar super indiscreto. Provavelmente. Concentrando-me, ilustro:

— O que sei é que não importa o que você pensa, ou o que as pessoas digam, você pertence a este lugar. A este tempo. Você merece isso, Steve, senão o melhor. — seus olhos intensos da cor do oceano refletem um misto de emoções, tenho que me esforçar aqui para manter a concentração diante disso. Oh,Senhor, me ajude! Relaxando os ombros, pondero rapidamente e retomo a fala: — E não importa se você se veste com a bandeira de Porto Rico, Costa Rica, ou a dos Estados Unidos e sai por aí sendo o Capitão América. Um homem não se faz pelo seu uniforme, se faz pelo seu caráter e isso é o que o torna essencial: você. Steve Rogers. — aponto categórica para o seu peito. — A vida pode não ter sido justa com um soldado como o Bucky, mas ele ainda tem uma chance, você também. E aí que se encontra a esperança, a resposta para suas perguntas. É o mesmo céu, a mesma terra e o mundo ainda precisa de você, Steve. — solidifico sabendo que não omiti, nem menti em nada, porém ainda há algumas palavras presas na minha garganta. Respiro fundo, enchendo-me de coragem, completo: — Eu preciso.

Temendo o que Steve possa dizer e com ansiedade para ter o gosto dos seus lábios nos meus, o beijo novamente sem reservas, sou correspondida quase que imediatamente. Enlaço minhas mãos ao redor de seu pescoço, sentindo o calor de seu corpo moldando-se contra o meu, enquanto exploro com a ponta da língua a maciez dos seus lábios. A sensação é inebriante, me esforço para não me afobar e explorar insaciável o desejo que Steve me desperta. No entanto, sem sua resistência não consigo refrear o desejo e aprofundo o beijo sem qualquer inibição. Sinto Steve se sobressaltar, levo uma de minhas mãos até a linha de seu maxilar e seguro o seu queixo, harmonizando a chama de paixão que aquece a pele, sem assustá-lo. Eu sei que sou uma pervertida por abordar Steve com tanto fervor, mas em toda a minha vida não me deparei com um homem que mexesse comigo como ele mexe. Tudo isso é novo também para mim. E o que eu poderia fazer, sendo que ele é um velhote irresistível que mexe com os meus hormônios como uma adolescente com sua primeira paixão? Sentindo os braços de Steve se moverem ao meu redor, e suas mãos pararem sobre minha cintura, um arrepio me percorre por todo o corpo. É como chama que incendeia perto de palha, aplacador, natural. É algo além de pele, é como se expressássemos tudo o que não conseguimos expressar com palavras. Meu coração bate fora de ritmo, mas meu peito se aquece a cada segundo decorrido. Separo meus lábios de sua boca, depositando um último beijo em seus lábios, apenas para deslizar uma trilha de beijos por seu rosto, enquanto, desço minhas mãos para abraçá-lo. Meus dedos percorrem os músculos de suas costas bem definidos.

— Jessie... — ouço o murmúrio da voz de Steve. Não consigo discernir pelo seu tom a emoção exposta, se é desejo ou desconforto. Posso estar tonta pelo momento, mas acho que são os dois.

— Sim? — sussurro de volta, descendo a trilha de beijos vagarosos e sensuais até o seu pescoço, posso sentir sua pulsação acelerada na veia de seu pescoço quando a beijo. Céus! Sinto-me como se fosse primitiva, querendo urrar e reclamar esse homem como meu. Santo Hulk! Pervertida! Mil vezes pervertida! Não consigo parar!

Meus lábios param em um determinado ponto atrás do lóbulo de sua orelha. Steve se estremece ou então eu estremeço, não sei, só sei que a sensação é quebrada quando o som irritante de uma melodia se faz audível. Steve de modo repentino se afasta de mim como se acordasse espantado de um pesadelo, preenchendo-me de frustração sem o contato do seu corpo contra o meu.

— É... O... Celular, meu. Tocando. — atropelando as palavras, ofegante, Steve se explica com seu rosto corando violentamente.

— Deixe tocar. — tento dissuadi-lo percebendo que também respiro um pouco ofegante. Faço um muxoxo, tomando uma de suas mãos e a seguro entre as minhas. — Nós podemos continuar...

Os olhos azuis de Steve se arregalam com a minha insinuação, destacando bem suas pupilas dilatadas. Tenho que resistir o ímpeto de atacá-lo como a pervertida que sou nesse momento. Para minha frustração, Steve nem se dá o trabalho de responder. Vermelho como um pimentão, baixa seu olhar e se afasta de mim como se eu portasse uma doença contagiosa, tirando de seu bolso o seu celular com pressa.

— Alô? — ele leva o celular ao ouvido, mas o aparelho continua a tocar. Percebendo o engano, ele olha o celular, girando-o em sua mão, com constrangimento ele atende dessa vez cessando o toque. Pigarreando, sua voz ressoa com sobriedade: — Fury.

Soltando um grunhido ignoro totalmente a menção de Fury, não querendo me interessar na conversa, pois me sinto frustrada demais para isso. Vou até a geladeira e pego a torta que antes não deixei que Steve comesse. Coloco-a sobre a bancada, pegando uma faca corto uma fatia da torta, servindo-me em um prato. Noto o olhar de Steve sobre mim que continua na cozinha falando ao telefone, mas não o dou atenção, ciente de que um rubor se espalha por meu rosto. Apenas ignore, Jessie, aja como se você não fosse uma pervertida, em minha consciência, eu mesma me aconselho. Pego uma colher dando uma colherada na torta, levanto meu olhar a frente, levando a colher a boca. Me assusto deparando-me com a presença de Sam na porta como um voyeur.

— Há quanto tempo você está aí? — questiono, baixando a colher ao prato. Sam franze sua testa, recebendo a atenção também de Steve, objeta:

— Eu acabei de chegar. Não me ouviram chegando? — indaga, estreitando os olhos. Steve e eu não respondemos, dou de ombros tentando parecer apática. Mas se Sam tivesse chegado alguns minutos antes... Não sei nem o que dizer. Claramente desconfiado, Sam se aproxima de mim, e esquadrinha: — Eu perdi alguma coisa, não foi?

— Sim. — contesto em tom conspiratório. Pego minha colher, e antes de comer o pedaço da torta, falo: — A oportunidade de me trazer um hambúrguer. — Sam solta um suspiro pesado. Satisfeita, sorrio, fazendo gestos com as mãos, redarguo: — Mas eu fiz torta de maçã. Sirva-se.

Ignoro o olhar de Sam sobre mim antes dele ir fazer o que sugeri, talvez esteja surpreendido por eu ter dito que fiz algo que não fosse um hambúrguer. Ou talvez ele esteja aborrecido pela minha audácia de me estabelecer em sua casa e usar dos seus suprimentos sem avisá-lo, como uma tremenda folgada. Encolho meus ombros, sentindo culpa por isso. Preciso arranjar algum lugar para ficar, ao em vez de abusar da boa vontade de Sam. Mas para onde eu iria?

Interrompendo a atenção em meus pensamentos, a voz de Steve se faz presente:

— Fury ligou. — acho que eu já tinha percebido isso, Cap. Mas ele fala ao mesmo tempo para Sam, e detenho meus comentários sarcásticos. — Ele pediu um favor a nós. — ergo meu olhar para ele, curiosa pela palavra "nós". Ou ele me excluiu como de costume focando em Sam ou Fury enlouqueceu. Vendo que Steve olha tanto para Sam, quanto a mim, opto a segunda opção.

— Que favor? — Sam pergunta, quando observo Steve se distraindo olhando a torta de maçã sobre a bancada. Meneando a cabeça, voltando a se concentrar na conversa, retoma:

— Há de pé ainda uma base da H.Y.D.R.A. escondida aqui em Washington. Fury tem informações de um espião que esta base estaria abrigando um prestigiado astronauta da NASA que foi sequestrado no início dessa semana em New York.

— Então... Trata-se de um desertor precisando de uma lição ou é uma missão de resgate? — é a pergunta que tenho no momento. A mais importante dentre uma coleção. Por que Fury tem espiões dentro da H.Y.D.R.A? Ele sabe da existência de bases e as deixa de pé ainda? Há quanto tempo ele tem ciência disso?

— Uma missão de resgate. — articula com firmeza. Acrescenta: — E vamos derrubar a base. Não importa se Fury diz que há espiões da S.H.I.E.L.D., eu o avisei para que tirasse qualquer pessoal dele de lá, pois não pretendo deixar de pé nenhum covil de cobras.

— Quando? — Sam inquire de prontidão.

— Essa noite ainda.

Sam e eu concordamos. Ainda tenho minhas dúvidas se estou incluída na missão, mas não vou perguntar pra não correr o risco de levar um não. Levanto-me, pegando um prato para Steve e corto uma fatia da torta de maçã. Logo arrasto o prato na bancada até ele, e de forma gentil, falo:

— Pra você, Steve.

— Você está dentro, Jessie. — Steve resmunga resoluto, mas aceitando a minha oferta. Comemoro com o punho fechado. Yep! — Fury pediu pelo seu apoio, não irei impedir que faça o seu trabalho. A decisão é sua.

— Querido, eu estou sempre preparada. — respondo presunçosa, como se fosse uma espécie de Mulher Maravilha. E talvez eu seja. Ok, talvez nem tanto, mas acredito que posso ser comparada ao menos com a Supergirl. Acho.

Fito Steve, após ouvir um murmúrio seu incompreensível. Ele saboreia de olhos fechados um pedaço da torta, sinto minhas pernas ameaçando bambearem. Sam também evidencia gostar, mas é claro que somente Steve causa em mim uma reação peculiar só por saber que ele gostou da torta que fiz, afinal, sou uma idiota apaixonada por ele.

— Só uma coisa, Steve. — tomo a atenção dele, que levanta o seu olhar para mim. Seu rosto toma um tom vermelho acetinado em instantes. Tão fofo... Tão gato e sexy. Oh, Deus, eu estou perdida. Pigarreio, para perguntar com sensatez: — Qual é o nome do astronauta sequestrado?

— John Jameson. — Steve responde, dando um breve suspiro. A revelação me causa imediato alarme.

Droga. Essa não. Por favor, céus. Apenas, não!

***

Dizer que estou irritada seria um eufemismo, Steve contou que sua missão em NY nada mais era sobre vigiar o deus asgardiano que tempos atrás quis subjugar a humanidade ao seu poder. Como é e por quê? Ele foi preso com um bracelete em seu pulso que tem algum feitiço que retirou os seus poderes e banido para a terra por Thor, para somente recuperar os seus poderes e o cessar de seu exílio quando for digno. Ou seja: nunca. E então Loki está por aí, e não me importa se ele está sem poderes ou se agora depende da ajuda de uma simples civil que teve o azar de concordar com Thor para ajudar Loki, não acredito que o famoso Deus da Trapaça possa se redimir — afinal, esse é o seu título, segundo Steve, parece que com exceção de Thor, nenhum d’Os Vingadores acredita nisso também. Mas eles o deram essa chance. Espero que eles saibam o que estão fazendo. Steve disse também que seu chamado foi para uma reunião com a equipe, para discutir uma mentirinha que Fury tinha contado a eles em sua primeira missão juntos. Aparentemente o famoso agente Phil Coulson, que nas histórias sobre ele na S.H.I.E.L.D. contavam que ele tinha morrido como um herói na batalha de NY — tentando enfrentar Loki por sinal, está vivo e ainda por cima como o diretor da S.H.I.E.L.D.

Desisti de tentar entender tudo isso quando Steve falou que Coulson tinha realmente morrido, estou exausta desse papo de morto-não-morto, e fui então me arrumar para a missão estressante. O plano que Steve, Sam e a equipe de Fury planejamos é bom, mas saber que estamos indo resgatar o filho de J. Jonah Jameson já deixa a atmosfera do ar densa, isto por ele ser um magnata, dono do jornal Clarim Diário, que de segunda a domingo estampa o seu ódio contra heróis em suas manchetes. O Homem Aranha que o diga. Jonah pode ser um pouco mais tolerável com os heróis que tem ligação com o governo, por exemplo, Os Vingadores, mas vira e mexe há como manchete em seu jornal algo tendencioso que joga a culpa neles. Então, por tudo o que se passou nessas últimas semanas, todo cuidado é pouco. O astronauta John Jameson não pode sair com nenhum arranhão.

Vestida com roupas completamente escuras, sendo o diferencial só a jaqueta de tom vinho, e as botas cinza que ganham um contraste no look, caminho por mais um corredor da base da H.Y.D.R.A. com o disfarce facial. Usando graças à tecnologia moderna que a equipe de Fury me apresentou, o rosto emprestado de uma agente da H.Y.D.R.A. que a abati e deixei adormecida, e amordaçada em um dessas caçambas de lixo. Ela ainda teve sorte.

"Jessica, nos informe a situação.", ouço a voz de Steve retumbar em meu ouvido esquerdo, onde há o microponto que combinamos de usar para a comunicação. Um leve formigamento percorre meu corpo, lembrando-me de sua imagem.

Deparo-me com mais um leitor de impressão digital e o de retina.

— Vou passar pelo último sistema de segurança agora. — sussurro em resposta.

Escaneei todas as impressões da agente da H.Y.D.R.A., e tudo o que tenho que fazer é deixar que a câmera as minhas costas, não veja eu me aproximar com o celular e usar as imagens holográficas 4D, para que eu chegue exatamente onde quero: na sala de vigilância. Estrategicamente, de forma sutil, ponho-me a frente do leitor de impressão digital, tampando a visão da câmera como fiz das outras vezes. Aproximo meu celular e o deixo trabalhar por mim. Letras verdes e garrafais confirmam a leitura digital, em menos de dez segundos faço o mesmo com o leitor de retina. A porta se abre, permitindo a minha entrada por outro longo corredor que faz interseção com outros.

— Passei. Estejam preparados a qualquer momento. — murmuro por entre os lábios, enquanto ponho-me a andar. — Esperem a minha deixa. Sejam ligeiros, vou tentar distraí-los o máximo, mas vocês terão poucos minutos.

"Ok.", os dois respondem em uníssono. Mas a voz de Steve logo retorna, inteirando: "Tome cuidado."

Há alguns agentes que passam pelo meu caminho, mas não me dão nenhuma atenção. Sigo tranquila, e indiferente até chegar ao meu destino. A porta fechada de cor cinza tem em seu centro as palavras: "Sala de vigilância". Expiro sem pressa, antes de fazer minha entrada. Um par de cabeças gira em minha direção. Foco, Jessie. Os olhares se dispersam mais rápido do que a atenção deles sobre mim. Tão silencioso para um covil de cobras.

Não tenho tempo a perder, caminho até a única mesa vazia, vendo uma plaquinha com o nome "Lorain Schering", minha agente da H.Y.D.R.A. adormecida. Sento-me na cadeira sem pensar duas vezes.

— E aí. — um cara da mesa ao lado, murmura preguiçosamente sem tirar os olhos da tela.

— E aí. — retorno o cumprimento usando além do rosto da Schering, sua voz que consegui imitar graças a mais uma tecnologia. O cara suspira entediado sem desconfiar de nada. É hora de colocar o plano em ação. Pego o pen drive que usarei um comando sorrateiro que contém nele, que fará que as imagens se repitam sem que meus camaradas nazistas percebam Steve e Sam entrando por pontos estratégicos da base e façam a missão de resgate à surdina. Mas antes disso, entro no circuito de mapeamento do local e procuro pelas informações de onde o Jameson está. Checo se alguém está de olho em minhas ações, ninguém parece se importar com qualquer coisa. A sala é tão quieta, inaminada que não consigo evitar um bocejo. Meus olhos param abruptamente quando encontro a pasta que contém informações, sobre um prisioneiro 003, que elucida como: John Jonah Jameson III. O nosso astronauta sequestrado. Copio os mapas e os arquivos, e envio codificado todas as informações para o celular de Steve, e Sam que tem o programa apropriado para decodificar.

— Acho que estou ficando gripada. — falo com a voz rouca, chamando atenção.

"Recebi as informações.", Sam informa.

"Igualmente." Steve também confirma. Então só falta um movimento com meus peões, e deixar que os reis façam todo o resto. "Já podemos entrar?"

Estralo meus dedos. Alguns me olham, mas logo os olhares se dispersam. Volto a segurar o pen drive em minhas mãos. Preciso só colocar na entrada USB que em meio segundo ele fará todo o trabalho que por outro meio nosso plano não daria certo. Só preciso da desatenção de todos nesse meio segundo para que não desconfiem de uma imagem picada repentinamente.

"Jessie?", a voz ansiosa de Steve repercute em meu ouvido novamente. Só mais um segundo, Cap.

— Hey, pessoal! — exclamo alto, chamando a atenção de todos, coloco o pen drive na entrada USB ao debruçar-me sobre a mesa, levanto arrastando alguns papéis para tampar a visão do pen drive. Sorrindo euforicamente, ligeira prossigo: — Já ouviram os boatos sobre o Capitão América?

"Jessica, o que você está fazendo?", confie em mim, Capitão. Insisto com um sorriso no rosto minha simpatia, enquanto há quase uma dezena de pessoas olhando para mim, intrigados.

— O que você sabe sobre o babaca do Capitão América, Schering? — um homem impõe a sua presença com semblante severo, e olhos fixos em mim. Eu o reconheço. Seu sotaque amedronta metade da sala, mas a lembrança que tenho dele me faz rir. Em sua identificação posso ler o nome Brian L. O homem que enfrentei e que matou os seus companheiros involuntariamente e no fim levou um tiro no traseiro. Dando um sorriso de desdém, falo:

— Nada. Só estava querendo dizer que ouvi pelos corredores que ele tem roubado bandeiras de Porto Rico para reparar os rasgos do seu traseiro. — a sala explode em risos e se anima com burburinhos. Brian dá um sorriso nervoso — talvez lembrando do seu próprio traseiro, quem sabe? Aproveitando a distração, sussurro entre dentes para que Steve e Sam me ouçam: — Podem entrar, garotos.

"Isso foi realmente necessário?", Steve resmunga. Ah, foi sim.

—Há gente que afirma que ele tem pegado bandeiras da Costa Rica também — mais risos. Eu poderia me enturmar muito bem aqui, se não quisesse em segredo eliminar cada um deles. —, eu não sei, mas não me surpreenderia mais, tratando-se desse americano.

"Deixa isso pra lá, Steve.", Sam comenta solidário. "Vamos seguir com o plano. Lembrem-se da cronometragem."

Então é isso, eles ficam com toda a ação no fim, enquanto eu fico com a parte mais tranquila, rodeada de agentes da H.Y.D.R.A. tirando sarro do Capitão América. Eu até que gosto da ideia de tirar sarro do Steve, mas fazer isso com o inimigo não torna as coisas agradáveis. Porém, mantenho um sorriso no rosto olhando sutilmente meu relógio digital no pulso esquerdo que marca regressivamente a contagem: sete minutos e quarenta e oito segundos. Quarenta e sete.

— Hey, hey! — Brian eleva a sua voz em repreensão, todos se calam. — Voltem todos para o trabalho, não quero ouvir mais comentários. — atenuo o meu sorriso quando ele fita a mim com seriedade e cruza os braços sobre o peito. Sua voz ressoa grave: — Vejo que está animada, Schering. Por isso fará hora extra hoje.

— Mas...

— Você não está indo me contrariar, está? — pela tensão que se estabelece instantaneamente no ar da sala, contrariar Brian não é uma boa ideia. E não vou arriscar o meu disfarce a essa altura do campeonato, mesmo que esse H.Y.D.R.A. não me ponha nem um pouco de medo.

— Não, senhor. — volto para minha mesa, quando ele me dispersa com o olhar. — E quem quiser fazer hora extra como a Schering, é só me dizer. — o silêncio impera na sala como resposta. O homem da mesa ao lado, mostra os seus polegares risonho para mim, mas logo volta com seu semblante centrado quando parece encontrar o olhar de Brian sobre si. Patético. Aposto que esse Brian foi retirado da ação de campo pelo seu fracasso comigo, e consigo mesmo. De qualquer forma não me importa.

Olho para as imagens de segurança, desço meu olhar para os agentes na sala. Ninguém parece desconfiar de nada, mas não dá para contar com isso por muito tempo. Olho meu relógio de pulso novamente. Seis minutos e trinta segundos. Diminuindo. Quando chegar ao zero tudo virá abaixo.

— Sejam rápidos, garotos. — murmuro, falando sob meu cabelo. Seis minutos e vinte e um segundos.

“Eu estou indo o mais rápido e cuidadoso que posso.” abaixo da respiração um pouco desregular de Steve, posso ouvir sons ocos, como de uma luta silenciosa sendo travada ao fundo.

“E eu estou colocando quantos detonadores eu posso.”, Sam fala com a respiração similar a de Steve. Chato.

”Alguém desconfiou de alguma coisa?”, Steve pergunta.

— Não, mas não conte com isso por muito tempo.

"Encontrei", Steve fala repentinamente. "Sam, proteja a minha retaguarda enquanto derrubo o sistema de segurança."

"Pode deixar."

Meu corpo parece ganhar uma dose de adrenalina. Eu queria estar no centro de toda a ação, mas logo chega ao alcance dos meus ouvidos o som ensurdecedor de tiros. Levo minha mão, retirando o ponto do ouvido rapidamente. Cinco minutos e vinte e oito segundos. Droga! Preciso sair daqui agora. Levanto calmamente da mesa e começo a andar até a saída. Ninguém a minha volta sabe da minha posição aqui, não há motivo para correria ainda.

— Onde você está indo, Schering? — fito ele que me mede com frieza. Minha vontade é de derrubar esse bastardo outra vez. Meu relógio marca cinco minutos e dezenove segundos. Não tenho tempo para isso, então apenas solto um meio sorriso, dou as costas a ele, abro a porta e corro para fora. Em outra hora eu cuido dele, ou talvez o tempo o dê uma lição. Mais precisamente em cinco minutos e nove segundos, contando mentalmente.

— Steve? Sam? Vocês estão bem? — ao mesmo tempo em que coloco o ponto de volta em meu ouvido e lanço as perguntas apressadas, caminho apressada pelos corredores passando por alguns agentes no percurso. O som de alarme se faz audível, luzes vermelhas nos cantos superiores de cada corredor brilham, com uma voz que anuncia que a base está sob ataque. Códigos de ação que desconheço são ditos. — Droga! Steve? Sam?

"Estamos bem!", Sam grita, com sua voz se mesclando ao som inconfundível de tiros. "Jameson e outros prisioneiros estão conosco."

— Vou ajudá-los.

"Negativo. Mantenha o plano." Steve veta a minha ideia com firmeza. O som do combate, os agentes passando armados por mim indo na direção deles e o arrepio em meu corpo que pressente o perigo, junto com a adrenalina me fazem querer ignorá-lo e ir atrás deles. "Você está me ouvindo? Mantenha o plano! A equipe de Fury entrará em ação."

— Ok. — concordo com incerteza, correndo ao sentido inverso que a maioria corre, rumando à saída. Quatro minutos e trinta e cinco segundos.

Passo pelas portas que encontro no caminho do mesmo jeito que entrei no prédio, torcendo para que Steve, Sam e nosso protegido consigam sair pela tangente como o combinado com a equipe tática do grupo da S.H.I.E.L.D. do Fury. A minha frente encontro a última porta, faço o mesmo procedimento com a ajuda do celular. O arrepio se espalha por todo o meu corpo, sinto como se algo tilintasse dentro de minha cabeça. Adrenalina. Quatro minutos e doze segundos. Assim que a porta se abre, vários pares de armas são apontados em minha direção.

— Parada! — um dos homens armados ruge as ordens, com uma metralhadora apontada bem para a minha cabeça. Fui descoberta. Quatro minutos e oito segundos.

— Droga! — não tenho como lutar tendo todas essas armas mortais apontadas para mim. Levanto as palmas das minhas mãos em sinal de rendição. Fui presunçosa com a minha participação no plano e agora estou ferrada. Rangendo meus dentes, com a mesma posição rendida, ralho em alto e bom som: — Sério? Droga.

— Calada, impostora! — o mesmo homem ruge novamente. O homem se aproxima de mim com sua metralhadora, com um homem à direita e outro a esquerda. Pela minha percepção conto na entrada doze homens ao todo. Chegando a um passo de mim, o homem fala: — Se fizer algum movimento em falso, não hesitarei em atirar. Não importa a merda de filha da puta quem é! Eu atiro. Continue parada!

Suas palavras me batem mais forte que qualquer coisa. Ele me chamou de...? Meu olhar sobre ele é mortal, ao meu redor seus homens se postam, enquanto um deles retira minhas duas armas escondidas por debaixo da jaqueta e pega o meu pulso esquerdo, levantando uma das algemas para me prender. Lutar contra doze homens armados sem uma mísera arma não é possível, estou em visível desvantagem, não posso fazer nada estúpido.

— Boa escolha, impostora. — ele murmura mostrando os dentes em um sorriso sujo. Sinto a algema se fechando no pulso esquerdo, e prestes a se fechar no direito. Não posso fazer nada estúpido, não posso fazer nada estúpido, não posso... Três minutos e quarenta e dois segundos, conto. Dane-se! O inferno congelará o dia em que eu me render, agora isso não está em cogitação. Fazer algo estúpido? Com certeza.

Lanço-me a frente do homem no comando, empurrando com força nos ombros sua arma para o lado. Nesse único segundo posso ouvir os homens reagindo surpresos, o movimento de suas armas firmadas em minha direção com intento de me matar, sinto a adrenalina imensurável e o tilintar dentro da minha cabeça que me faz inverter rapidamente meus movimentos como uma dança com a morte. Ergo ligeiramente meu braço esquerdo, acertando com o cotovelo o lado do queixo do homem que há pouco tentava me prender. Isso normalmente não teria dado certo, mas a minha rapidez, força e alvo certeiro torcem a cabeça dele para o lado, deixando-o sem ação ao prensar o cordão espinhal no pescoço. Vejo seu corpo caindo para trás sem reação.

Atirem! — o líder ordena, indo resgatar sua metralhadora e saindo da linha de tiro. Pressinto o perigo, o tilintar em minha cabeça me faz erguer minha perna direita, em um chute lateral no abdômen do homem ao meu lado direito. Perigo. Ergo meus punhos, acerto um golpe no tórax do líder e na garganta. Arrebentado e sufocado, o uso como meu escudo, pegando sua metralhadora. Empurro seu corpo fazendo-o cair no chão. Perigo. Desvencilho-me de balas, sentindo-as zunir ao meu redor. Minha agilidade só me dá tempo de atirar no homem ao lado que derrubei com um chute, e tomar novamente meu escudo humano que sofre com dor, tendo seus olhos esbugalhados. Três minutos e dezesseis segundos.

— Pessoal, eu preciso de uma mãozinha aqui. — anuncio alto para Steve e Sam, ao mesmo tempo em que os tiros diminuem. — A equipe de Fury viria bem a calhar agora.

"Aguarde!" Steve retruca. Reviro meus olhos. Claro, tenho todo o tempo do mundo. "Nós saímos, estaremos aí em segundos". Não, não tenho tempo para esperar pelo reforço.

— Não atirem! Cessar fogo! — um H.Y.D.R.A. exclama apavorado, provavelmente temendo que alguém atire em seu líder. Sorrio. Falando em líder, este com esforço fecha suas mãos em meus braços, infelizmente para ele isso não é o suficiente. Dois minutos e seis segundos. Respiro fundo. É hora de testar o máximo dos meus poderes. — Solte-o e se ren...

A fala do rapaz é cortada quando livro-me das mãos do líder, agarrando um de seus ombros e erguendo o quadril, dou um giro semicircular com seu corpo erguido acima de mim e lanço-o como um arremesso de peso derrubando dois homens. Cinquenta e sete segundos. Os homens perdem um tempo precioso em estupor, que não deixo escapar, uso a metralhadora para varrer os que restam. Perigo, perigo, perigo. O tilintar em minha cabeça se excede, continuo a me movimentar com o dedo firme no aperto do gatilho. Balas ainda voam em todas as direções enquanto homens caem ao chão. Dançando com a morte. Meu sangue se agita em pura adrenalina até o fim do combate, só então percebo a extensão das mudanças do sangue do Homem Aranha em mim. Olho os corpos no chão sentindo o cheiro denso de pólvora no ar, pasmem. Eu os derrotei, eu fiz isso. Vinte segundos. Disperso a imagem do presente, e ponho meus pés em movimento correndo para fora. Assim que faço isso, sinto o ar rarefeito bater suavemente contra o meu rosto, vejo em glória acima de mim um Quinjet da S.H.I.E.L.D. que não via um desde sua queda. Sua parte traseira se abre e corro até ela alcançando a mão de alguém que me puxa para cima, ao mesmo passo que agentes da H.Y.D.R.A. começam a surgir atirando contra nós que revidamos.

— Podemos ir! — a voz de Steve profere, e o Quinjet se afasta para alçar vôo longe. Ainda tenho o último vislumbre do som dos explosivos na base da H.Y.D.R.A. vendo o clarão laranja e amarelado consumindo o prédio em chamas.

— Xeque-mate. — sussurro em despedida desligando meu disfarce facial, olhando em volta vejo John Jameson coberto por um lençol térmico recebendo uma garrafa de água mineral por Sam. Mais algumas pessoas são amparadas do mesmo modo. Vejo no compartimento mais dois agentes da equipe de Fury, os cumprimento com um aceno de cabeça. Encontro o olhar de Steve sobre mim, sondando-me com atenção. Apenas balanço a cabeça, assegurando com um sorriso que está tudo bem. Desviando do seu olhar, finalmente encaro o rapaz que me ajudou a entrar no Quinjet. O que diabos?

— James?

— Oi. — ele sorri singelo, o fito com legível surpresa. Porém, logo compreendo quando um grupo de agentes surge e identifico entre eles meu pai. Santo Hulk, nunca entenderei minha família.


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Notas finais do capítulo

Eitcha lelê! Aposto que tem gente se perguntando "quem é esse James?". Lembrem-se que em outro capítulo ele foi citado como o meio irmão da Jessie, ou seja...

Agora quanto a Jessica pervertida, e a repercussão dos últimos dias nas mídias, saiba que ela ainda não acabou. Oi?
Hahahahahahahaha, desculpem, eu precisava dizer isso.

Foi muito legal ter escrito esse capítulo colocando romance, comédia, ação e um draminha no final. Mas a pergunta que não quer calar é: o que vocês acharam? ^^ São todos sempre muito bem vindos nos comentários, haha.

Até logo, pessoal! Abç.