Perpétuas Mudanças escrita por Hunter Debora Jones


Capítulo 27
Fugindo


Notas iniciais do capítulo

Olá! Aqui é a Hunter Pri Rosen, em nome da Hunter Debora Jones, trazendo mais um capítulo para o povo e para a pova!

Eu, como mishamiga preferencial, tive a oportunidade de ler o capítulo antes de ocês e posso adiantar que será cheio de emoções!

As partes em itálico são flashbacks de uma certa conversa que Jessie teve com um certo alguém.

Acho que a Debora vai me matar, mas eu não consegui pensar em um título melhor...

Anyway, lá vai!



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Empurro com minhas mãos a porta da capela, deixando para trás o meu pai, junto com o irritante rangido que ela faz. Posso ouvi-lo me chamar, percebo pelo tom de sua voz a tentativa falha de querer explicar o inexplicável, enquanto arranco do meu braço a tipoia e a lanço com força no chão. Céus! Eu deveria estar feliz por saber que ele está vivo, mas a única emoção que sinto no momento, visualizando do lado de fora dessa capela, permitindo-me enxergar o local onde simbolicamente o enterramos — ao lado do túmulo de meu avô — é revolta. Revolta, e uma fagulha de ódio despontando em algum lugar dentro de mim que não consigo deter.

Novamente, um rangido irritante se faz audível. Observo que Fury não está aqui fora como prometeu que estaria, mas já sei de toda a verdade. John, meu pai, apresentou-as a mim, a presença de Fury agora não seria mais importante, eu explodiria com ele também. Fecho meus olhos, tento suprimir essa emoção lacerante devido à última verdade descoberta.

Passos se aproximam, parando, a menos de meio metro de mim.

— Filha...

— Não. — o interrompo, abrindo meus olhos, lançando o meu olhar rancoroso em sua direção. — Eu não quero ouvir nenhum tipo de desculpas. Não sei se eu seria capaz de perdoá-lo, mas não sei também se conseguiria conviver com isso. Então, por favor, não faça isso comigo. Não me coloque nessa posição. Só... Deixe-me em paz. — sussurro essas últimas palavras com custo, tão baixo que mal sei se ele pode ouvi-las. Dizer isso me quebra emocionalmente, no entanto, é o que preciso no instante. Desvio meu olhar dos seus olhos não querendo capturar nada neles que possam me ferir emocionalmente ainda mais. Odeio tudo isso, mas tenho que admitir que me abala.

Tempo decorre. Silêncio. Gostaria de bloquear as minhas emoções, mas descobri que não posso com isso. Preciso sair daqui.

— Sinto muito.

Paro de andar, sem ação ao ouvir exatamente as palavras que eu pedi a ele para que não dissesse. Uma angústia me emudece, viro meu rosto em sua direção e o fito... Não, desculpe pai, mas não estou preparada para isso no momento. Ignoro a ele e a seu olhar arrependido, retornando meu olhar a um vazio a frente que parece encher-me ainda mais de angústia e melancolia, como se enche um balão. Dane-se se isso não faz nenhum sentido, nada mesmo tem feito. Tudo que pensava que fosse, toda confiança que tinha nas pessoas, nele, era uma espécie de ilusão. Então, que se dane tudo. Deixo mais uma vez ele para trás.

Ando. Caminho. Corro. Faço um pouco de tudo, como uma pessoa eclética e desnorteada. Dor. Droga, Jessie, controle-se! Aumentando.

— Jessie? — uma voz franca e melodiosa me chama a atenção. Steve. O vejo ao lado da minha moto, segurando uma pasta nas mãos, com o olhar confuso sobre mim. Não percebi que vinha até o estacionamento, e fico surpresa com a sua presença. — Você parece pálida, como se tivesse visto um fantasma. Não me diga que está assim por causa do Fury e a lápide? Garanto que você se acostuma com o tempo. — ele brinca com um sorriso, aproximando-se de mim. Seu comentário quase me faz rir, e desvia um pouco minhas emoções do pesadelo real que estou tendo. É, Steve, talvez eu tenha visto um fantasma. Poderia devolver-lhe isso, mas não posso, porque é mais do que verdade. E essa verdade me machuca. Perante meu silêncio, Steve me analisa, vejo seu sorriso desmanchando-se aos poucos, e voltando com o olhar mais aguçado sobre o meu rosto, pergunta: — O que houve com a tipoia?

— Eu a tirei. Eu estou bem. — respondo simples e objetiva, seu olhar está confuso e cheio de perguntas. Afasto-me dele, olhando ao arredor, procurando por Sam, ou pela sombra da Romanoff. — Onde está Sam, e a... Romanoff?

A emoção angustiante volta, cem vezes pior quando me dou por conta que até mesmo Natasha Romanoff, aquela em quem eu começava a ver uma amiga sabia da verdade. Como não poderia saber? Ela faz parte dela.

— Ela foi para New York. — Steve leva algum tempo para me responder. Ele tem ainda o seu olhar confuso e questionador quando caminho de volta para ele, porém prossegue: — Disse que precisava checar alguém e encontrar um novo disfarce. — ótimo, ela se foi, eu não poderia esperar por outra coisa. Bufo irritada. — Sam foi para casa, eu esperei por você e pensei que seria legal se nós... Bem, eu poderia dirigir a sua moto e nos levar até aquela mesma cafeteria em que fomos daquela vez juntos, digo, eu e você. Se você quiser, antes de... Jessie? — fito os olhos de Steve, após ele me chamar. Ele está apreensivo, mas fica preocupado quando seus olhos encontram os meus. Ele sabe que não estou bem, e tamanha preocupação de sua parte, faz uma luta interna dentro de mim com os sentimentos ruins. Foco, Jessie. Baixo meus olhos, pigarreando, ao me afastar um pouco, digo:

— Desculpe, o que foi que você disse? — ele falava sobre dirigir a minha moto? Franzo meu cenho, voltando à atenção para ele que olha embasbacado. Ah, sim! — Quer dizer, você quer tomar um café? Claro, tudo bem. Posso fazer pra você quando chegar à casa de Sam, não é um dos melhores, mas...

Seu olhar me mostra que eu disse alguma burrada. Droga, Jessie, caramba, Jessie. Não poderia ao menos focar-se por um minuto?, minha consciência me espeta, mas não mais forte do que a emoção que me atormenta.

— O que foi que Fury te disse? — Steve questiona sem rodeios. E sério, estende: — O que foi que aconteceu?

Não posso aguentar, deixo uma risada seca escapar da minha garganta, abaixando minha cabeça, antes de voltar à atenção a ele, e indagar:

— Ela não te disse?

— Ela? — questiona, franzindo o cenho. — Você quer dizer, Natasha? — balanço a cabeça afirmativamente. Todos sabiam a verdade, não? Até mesmo ela. — Não, ela não me disse nada. — Droga, Jessie, agora está ficando paranoica também? Controle-se, antes que comece a achar que é o centro do universo! Desvio meu olhar do de Steve, caminhando nervosamente para lá e para cá. O que devo fazer? Como posso recuperar o controle quando... Foco, Jessie! Saia daqui, já! Agora! — Olha, eu estava brincando antes, mas você está realmente pálida. E agitada. Você está se sentindo bem? Talvez não devesse ter tira...

— Onde está a chave da minha moto? — pergunto de supetão, retornando minha atenção a ele. Se minha moto está aqui, e ele disse sobre pilotá-la posso ter a certeza que a chave está com ele. O olhar dele é precavido e assíduo sobre mim, ele se preocupa comigo, posso sentir e ver, mas tudo o que quero fazer no momento é correr para longe daqui. Percebo-o segurando a chave em uma de suas mãos, sem qualquer intenção de me entregá-la. Articulo: — Steve, a chave.

— Jessie, por Deus. O que foi que aconteceu? — ele pergunta com certa exasperação. — Está louca se acha que vou deixá-la subir na moto nesse estado de nervos.

Não quero dar explicações, não quero discutir e tampouco quero pensar no que me aconteceu. Quando dou por conta tenho a chave de minha moto em minhas mãos e Steve está a uma exata distância por eu ter usado um golpe contra ele para pegá-la com certa força. Ele me encara perplexo. Olho para as minhas mãos, nervosa e tão perplexa, quanto Steve me encara. Imediatamente me sinto mal e culpada. Não posso suportar tudo isso, e antes que Steve tente me impedir de alguma forma, caminho até a moto apressadamente engatando a chave da moto, e ligo-a.

— Jessie, Jessica, espere aí... — Steve tenta dizer enquanto se aproxima, acordando do seu estado de perplexidade. Sobre o ronco do motor, o interrompo antes de me afastar:

— Desculpe! Eu preciso ir.

O som de sua voz eleva-se outra vez, mas se perde em meio ao barulho do motor de minha moto distanciando-se, impossibilitando-me de entender o que ele diz. Já me encontro bem longe e a única coisa que posso ouvir, sentir é o ronco do motor, a adrenalina de correr pelas ruas sinuosas de Washington. Sem capacete, sinto o vento frio vindo de encontro o meu rosto, e meus fios de cabelo. Não me importo, pois é tudo que preciso: correr. Acelero mais, entrando em uma grande avenida. Corro para fugir de mim mesma e de meus pensamentos, mas não consigo evitar pensar que hoje vi meu pai, vivo. E as sensações de mágoa e rancor tentam se destacar dentre qualquer alegria que poderia sentir. Acelero, instigo a adrenalina, mas os pensamentos são confusos e desenfreados, e tenho que me permitir relembrar o encontro com meu pai...

Olá, filha. essas duas palavras reverberam vividamente em meus ouvidos, como se realmente as ouvisse agora. Posso ainda ver com clareza a imagem de meu pai, de olhos claros e cabelos mais grisalhos da última, digo, penúltima vez que o vi. De ver o seu rosto diferente, como se ele tivesse envelhecido. Como poderia se ele estava morto? E então o fitei abismada com a perspectiva de que talvez ele não estivesse morto.

Poderia ser alguém disfarçado para me distrair, preparando-me uma armadilha. A minha consciência falante dizia que sim, meus instintos de agente diziam que não. E meu coração, santo Hulk! Meu coração colocou qualquer coisa racional fora de órbita, ele era o mais forte que me dizia que aquele era meu pai. Com essa batalha interna não consegui esboçar nenhuma reação além de espanto.

Eu sei que você está surpresa, e confusa. com um tom leve, e despretensioso ele se manifestou ante meu silêncio. Isso também é um pouco confuso para mim. Embaraçoso. E imagino o que você deve estar se perguntando, e garanto que não sou um inimigo e que eu... Sou eu. terminou com uma expressão confusa, como se esperasse que eu acreditasse ou entendesse o que ele disse. Apenas observei como os seus trejeitos pareciam com os de meu pai, porém não podia me permitir acreditar, e deixei minha consciência me guiar à lógica que seria desconfiar piamente que aquilo era o que parecia ser.

Mascarei minha surpresa com um semblante severo, posicionei-me de jeito sutil e estratégico para qualquer ataque que ele pudesse me fazer, e dei um ultimato:

Prove.

Talvez eu não estivesse sendo tão racional, porque se fosse eu teria o atacado sem dizer qualquer palavra.

Eu o encarava, ele me encarava de volta. Em menos de um segundo ele mudou o peso de uma perna para outra, pensei que fosse me atacar e levantei os meus punhos prontamente. Logo depois o percebi ainda me encarando como alguém que quisesse me passar tranquilidade, e divertidamente com suas sobrancelhas levemente arqueadas como me lembrava de meu pai fazer. Ele não fez mais nenhum movimento que fizesse a mim partir para briga, ele continuou em seu lugar, e começou:

Quando era criança nunca acreditou em qualquer folclore. Mesmo que sua mãe tentasse de todas as formas fazê–la acreditar em duendes, fada do dente, e no Papai Noel. Lembro de você com sete anos falando a ela com calma que se ela quisesse acreditar no Papai Noel estaria tudo bem para você, mas que você jamais iria se iludir com algo tão infantil. um sorriso apareceu no semblante de seu rosto, e me lembrei de ter dito algo do tipo à minha mãe quando era criança. Ela tinha ficado desapontada e orgulhosa ao mesmo tempo. Mas ele ter dito aquilo, não tirava minha desconfiança. Ele prosseguiu: Você a surpreendia sempre, ela te dava bonecas, e você só queria brincar com os Comandos em Ação do seu irmão. Ela te dava um estojo de maquiagem e você só usava a cor verde para se camuflar. Ou então usava para maquiar as pessoas enquanto dormiam, e ver as suas reações depois. a veracidade do que ele relatava era real, eu gostava de fazer travessuras e contrariar a minha mãe, era a minha diversão na infância. Mas é uma verdade que qualquer um poderia saber. Aos dez, você respondeu a ela quando te perguntou o que queria ser quando crescesse que queria ser como seu pai, e acho que foi aí que ela teve seus primeiros fios de cabelo grisalho. Depois você quis morar comigo e ela não pode superar o seu gênio forte. E então foi a minha vez de ter meus primeiros fios de cabelo grisalho dessa imensidão aqui. apontou para o próprio cabelo, satirizando. Depois ficou sério, vendo que eu não riria e completou: Mais tarde seu avô quis me ajudar a cuidar de você, porque, bem... Eu não costumava estar muito presente por causa do trabalho.

Não esperei muito para dizer:

Tudo o que disse é verdade, mas qualquer um poderia afirmar essas coisas fazendo uma pequena pesquisa. Então, papai, isso só mostra que você pode ser alguém muito confiante em minha burrice, ou muito estúpido para se arriscar assim.

Quando era criança detestava bonecas ou qualquer tipo de brinquedo de pelúcia. redarguiu sem se abalar.

Forcei uma risada, porque ele repetia a mesma coisa que havia dito anteriormente, e eu não iria acreditar nele com aquilo.

Você disse isso antes, e não foi o suficiente para me conven... parei, estranhando outra levantada de sobrancelhas, como meu pai faria. Calmamente, ele falou:

Bem, talvez você se lembre da vez que seu avô te deu uma Hello Kitty e você aceitou o presente tremendo de medo. Ele nunca soube do seu medo.

Que coisa mais estúpida. Isso não é verdade. balbuciei com convicção, mesmo que não fosse a verdade. Ele então ponderando em seu lugar, andou alguns passos, vindo em minha direção. Eu não fiz nenhum movimento de ataque, decidi que esperaria ele dar a deixa, e eu retomaria o controle quando atacasse. Mas quando ele parou realmente próximo a mim, com um olhar terno disse algo que me desarmou completamente:

Seu segredo está a salvo comigo. Guardarei a boneca assassina no porão. Código Bravo, Charlie, 77767., foi o que eu te disse sobre juramento, quando você me pediu para eu me livrar da Hello Kitty sem que seu avô soubesse. Você ainda ficou, alguns dias assustada pela minha brincadeira.

E eu tive a certeza que ele era o meu pai. Da forma mais estúpida, mas ele repetiu e descreveu tudo como foi exatamente. E tinha dado a sua palavra, e dito o código que ninguém tinha conhecimento daquilo além de nós dois, e eu sei que nem sob tortura ele diria algo daquilo a alguém. Porque ele tinha dado a sua palavra e ele nunca a descumpria.

Eu tive vontade de abraçá–lo e vi que ele esperava por isso com um controlado sorriso, mas tinha uma alegria dormente e tardia que deixava o espaço para que eu dissesse o que a consciência mandava:

Eu procurei por você. Desde o seu desaparecimento. Eu segui os seus rastros, depois vovô e eu procurávamos por você. Viajamos o mundo atrás de respostas, atrás da esperança que você estivesse vivo. Nos metemos com gente perigosa, até descobrirmos o que aconteceu em Budapeste. E soubemos da sua... Morte. foi nesse momento que a mágoa começou a se manifestar, quando encarei meu pai, e diante da verdade, vi as mentiras se desfazendo.

Eu posso explicar. murmurou tranquilo.

Explicar?! ri seco, balançando os ombros em seguida. Tudo o que eu queria por anos era uma explicação, um motivo de tudo, ouvir as três palavrinhas "Eu posso explicar" vindas dele, não é de longe o que eu esperaria. Ninguém espera algo do tipo, mas diante daquilo, o olhando, engoli o nó que se formava em minha garganta e proferi: Vá em frente.

Você sabe que em dois mil e um, as agências de proteção, o Pentágono, o Capitólio e todo o mundo estava em alerta por causa dos ataques terroristas da al-Qaeda. Corria a Guerra ao Terror, as perseguições, a crise, e a tensão que crescia cada vez mais e assim novas leis e procedimentos eram postos em ação. Foi um ano turbulento, e eu como coronel do exército tinha minhas novas obrigações, secretas.

Ele se calou por um instante, o seu olhar vagou distante como alguém que tinha a memória de algo desagradável. Talvez fosse a lembrança dos acontecimentos em que descobrimos que, como Ferréz diria: os inimigos não mandam flores. Não me atrevi a dizer qualquer coisa, ou a questionar. Esperei ele prosseguir, sentindo um mal estar que prenunciava que o que quer que ele fosse dizer eu não gostaria.

Muita gente achava terríveis, e evasivas as medidas que os EUA, outros países e as agências tomavam, não sei o que eles teriam dito se soubessem as medidas não reveladas ao público que foram adotadas. Não digo que era errado, nem digo que era certo, mas afirmo que quando nos atacaram desprevenidos tivemos que usar todas as armas que tínhamos e sermos astutos.

Não diga essas coisas como se eu fosse uma idiota. Eu posso ter sido cega por muito tempo, mas eu sei que grandes coisas das teorias da conspiração, são mais do que teorias. O mundo não é como um lindo globo de cristal. Sei que há trapaças, truques e bastante sujeira escondida por baixo do tapete norte-americano. Porque quando o presidente descobre que seu país não tem a casa limpa que pensava que tinha por causa de servos rebeldes, ele os despede e varre a sujeira pra debaixo do tapete, fazendo de tudo pra que ninguém a veja até que ele limpe tudo. trocamos um olhar de compreensão. Adam era uma prova, do seu show em Fallujah quem recebeu todos os créditos nada mais foi do que os insurgentes. Ele saíra como um herói na imprensa, enquanto tinha sido o semeador do caos e a C.I.A. sabia da verdade e a ocultou do público mesmo assim. Havia inimigos reais, mas sempre houve os traidores e os mentirosos em nosso meio tramando. Mas se você está querendo me dizer que você era parte da sujeira, eu juro que não me importa se você é meu pai, há muito tempo pra mim você está morto, e eu não hesitaria em concretizar esse fato se você for alguém que eu não imaginaria que era. minha voz era dura como ferro, pesada de sinceridade. Eu não tive hesitação em dizer aquilo, a experiência com Adam me fez duvidar ainda mais das pessoas, e a ser mais dura em relacionamentos, trabalho, cética da bondade no ser humano sem faces.

É exatamente como você disse, o mundo não é um lindo globo de cristal, na melhor das hipóteses ele é um meio globo de cristal quebrado e sujo, e algumas vezes torna-se nosso trabalho tentar consertá–lo, e você acaba se ferindo, se sujando. Às vezes você se corta e se suja com o próprio sangue. Provavelmente não sou o que você imaginava que eu fosse minha filha, mas espero que você veja hoje, assim como eu me vi com minhas decisões: alguém muito melhor. evitei arquejar, ou me ludibriar com suas palavras. Cruzei meus braços sobre o peito, e disse:

Apenas conte a sua história e veremos. — seus olhos azuis, meio cinzentos pairaram sobre mim em silêncio. Talvez hesitasse em me contar, mas iniciou:

No dia dezenove de novembro de dois mil e um, recebi ordens de eliminar um indivíduo perigoso de habilidades ínfimas, ele tinha ligação a grupos poderosos do alto escalão, mas tinha trocado de lado servindo aos seus próprios propósitos. Desacatando ordens.

Eliminar... Indivíduo perigoso de habilidades ínfimas... Ligação com grupos poderosos... Desacatando ordens... disse pausadamente cada pequena informação, descruzando os braços, olhei para ele e indaguei: Deixe-me adivinhar, S.H.I.E.L.D?

Você é uma garota esperta.

Ouço uma buzina a minha esquerda quando faço uma ultrapassagem em alta velocidade. Não tão esperta como eu gostaria que fosse. Por isso deixo-me torturar pela amarga lembrança.

Eu deveria eliminá–lo e apagar os rastros. Em tempos normais teria sido feita uma força tarefa, mas era arriscado chamar a atenção com tanto alarde e escolheram a mim para o serviço. Ele era alguém que jogava dos dois lados e era o inimigo traiçoeiro, ou pelo menos era assim que as coisas eram vistas quando se tinham ordens desacatadas, e se desaparecia sem explicações com o inimigo alvo. meu pai olhou-me, virando o seu olhar para o lado em seguida. Andou até parar e sentar-se em um dos bancos próximo a mim, e prosseguiu: Não me importava quem o homem fosse, suas habilidades e ligações. Ele tinha abandonado seu país e não somente deixado escapar seu alvo, mas escapado com o alvo que trabalhava para uma agência que tinha sua culpa alimentando conflitos. Cumprir as ordens me faria suar um pouco, mas eu dormiria com a consciência mais tranquila à noite. Então com as pistas que tinha, usei os recursos que podia para encontrá–lo. O encontrei em Zurique, e tentamos nos matar mais vezes do que você pode chegar a se entediar. Sempre que achava que o tinha nas mãos, ele escapava. Era jovem, mas era um combatente a altura, e aquilo só aumentava ainda mais a minha vontade de cumprir minhas ordens. E claro que o alto escalão não estava nada feliz, e percebi um alvo incolor em minhas costas no decorrer de duas semanas. Eu tinha que fazer aquele serviço e recuperar a minha patente. Tinha seguido o homem até Budapeste. Estar naquela cidade não era muito sensato nos tempos em que estávamos, ainda mais com ordens de eliminar alguém, mas aquilo tinha chegado ao meu limite de paciência, eu tinha decidido que aquele seria o último confronto, e foi. eu o olhava com uma curiosidade infinita, esperando não demonstrá–la. Eu sabia de suas atividades por Zurique, em alguns lugares da Europa, nunca descobri os detalhes, ou os porquês. Sabia que em Budapeste tinha sido o seu ponto final, mas nada mais do que isso. Minhas investigações eram arriscadas e limitadas. Levantando o seu olhar terno para mim, com sua voz amena, explicou: Algumas vezes nos agarramos no que temos para nos salvarmos, em Budapeste eu me agarrei firmemente a uma decisão, e não matei aquele homem.

Como? não era o que esperava ouvir, o fitei totalmente surpresa. Resolvi explicar minha dúvida: Nas minhas investigações solo e depois com vovô, recolhi informações que você tinha entrado em uma batalha com um homem muito perigoso, mas que você o tinha matado. A sua morte tinha vindo mais tarde como uma vingança de alguém ligado a esse homem. Só consegui descobrir o apelido do homem que você matou. Golias. Mas nenhuma foto, nenhum contato, nada. me calei com os olhos fixos nele, absorvendo tudo o que ele disse, e o que quis dizer. Ri sem humor, desviando o olhar. Claro, tinha sido tudo uma mentira muito bem ensaiada. Uma mentira que com muito custo eu achei que tinha descoberto algo. Uma mentira que pensei ser a verdade. Você é um mentiroso. expus, olhando para ele que não esboçava nenhuma reação. Prossegui: Nunca houve nenhuma vingança, nem mesmo houve um Golias, não é mesmo? Você inventou tudo apenas para me afastar por que...

Jessie... ele me interrompeu um pouco ansioso, prevendo talvez onde eu chegaria. Temendo. Mas podia ser mais outra mentira dele também, como poderia acreditar? Como posso? O deixei prosseguir: Não é como você pensa que é. Golias era antigamente o atual vingador Clint Barton. o encarei impressionada, pensei ser uma brincadeira, mas o seu momentâneo silêncio me confirmava. Ele ainda acrescentou: E a pessoa que vingou a sua morte, era a agente e vingadora Natasha Romanoff. foi como um balde de água fria. Não pude dizer nada, eu não conseguia. Suspirando, meu pai baixou os seus olhos por uns instantes, antes de levantá–los novamente, e continuar: Ninguém mais sabe de Budapeste, além deles, algumas pessoas, Fury e eu, claro. Houve sim um confronto em Budapeste, diria que foi uma guerra a nível Batalha de New York escondida de todo o público. E meu inimigo se tornava meu aliado, e vice e versa. ele falou com seu semblante meio cansado, pouco detalhando sobre aquilo, mas com uma sinceridade exposta que seria difícil duvidar da veracidade. Mas, Budapeste? Clint Barton? Natasha? Nunca ouvi sobre nenhum evento grandioso assim por lá, não havia nenhuma história de que o vingador e arqueiro Clint Barton se intitulasse por Golias no passado, e Natasha nunca me disse nada sobre isso. Ele percebeu minha dúvida, pois emendou: Desculpe, eu posso entender a sua dúvida e é outra longa história, não é a minha intenção dizer a você sobre ela no momento, não é relevante. Falei para que compreendesse que jamais menti. O que aconteceu foi que vi que estava comprometido, e desarmado num universo de ameaças, em um mundo completamente despreparado e desesperado. E me foi oferecida uma esperança, mas para tê–la eu precisava desaparecer para não comprometer a ninguém... nesse momento eu vi que essa esperança que ele falava era a S.H.I.E.L.D, deduzi também pela ligação do Fury com ele, com todos. Tudo se encaixava. E depois eu soube que vocês me procuravam, então...

Você forjou a própria morte. completei, com os olhos vidrados nele. Depois de um ano e meio de tortura. De procura. Riscos. Depois de tudo isso, você deu o seu golpe sujo.

Você nunca deixaria de me procurar se eu não tivesse dado aquelas pistas. Era necessário pra...

Pra o que, hein?! exaltei, externando minha ira diante do absurdo que ele me dizia. Quem ele pensou que era para articular todo esse plano, como se fosse Deus? Ele não podia ter feito isso, e sabia, por isso se calou mesmo quando deixei alguns segundos transcorrerem. Comecei a pensar no momento em tudo o que tinha acontecido pelos seus atos. Seria possível que meu pai fosse aquela pessoa? Eu não posso acreditar. disse no momento, e mesmo agora não posso, não quero. Vovô morreu acreditando que você tinha morrido. Ele procurou por você e sofreu a sua morte, ele... Como pode... um soluço imerge de minha garganta, não é uma lembrança, é o que vivo agora. Tenho vontade de chorar, mas não posso. Tudo é tão disperso e confuso.

Uma luz próxima me ofusca a visão. Sinto minha pele se arrepiar em alerta como nunca senti antes, a ponto de poder desviar de um carro da pista contrária, escapando de uma colisão por um erro meu de desatenção. Meu corpo fica em alerta outra vez, e olho um caminhão vindo bem na minha linha de direção. Pela velocidade e pela distância não posso escapar de um acidente, eu sei disso, mas tenho que tentar. Aperto o freio dianteiro e traseiro, em um curto período, para causar uma virada com a moto tentando pará-la. A adrenalina percorre-me da cabeça aos pés, ouço os sons a minha volta com extrema nitidez como se tudo estivesse mais perto, sinto o espaço, o perigo gritante. Faço a única coisa que me resta: levanto minhas mãos para proteger-me da batida, e fecho meus olhos. O choque da batida é forte, sinto um calor intenso, enquanto percebo me mover como se fosse arrastada. Será que dessa vez morro?

Cheiro de pneu queimado. Pulso acelerado. Vozes e buzinas. Gritos.

Abro os meus olhos e a primeira coisa que vejo são as minhas mãos quentes contra a frente amassada do caminhão. Percebo meus pés fincados no chão, comigo sobre a moto que tem um realce mais fundo no chão. Eu fiz isso?

— Ela parou o caminhão. — um comentário se destaca entre as vozes, respondendo minhas suspeitas.

— Isso não é possível. — outra pessoa diz.

— Ele está certo! Eu vi!

— Meu Deus, meu Deus, meu Deus! Oh, meu Deus! — alguém muito crente exclama, se aproximando, chamando mais a minha atenção. — Foi tão rápido, eu não consegui parar a... — noto a preocupação rápida, a confusão e o alivio do senhor esbelto, me analisando quando retiro minhas mãos do caminhão e me afasto alguns centímetros dele. Sem respondê-lo, eu olho para as palmas das minhas mãos ainda quentes, trêmulas, formigando e muito avermelhadas, alguns arranhões por ela e em meus braços, mas nada visivelmente grave. — Você está bem? — o senhor indaga, com tom preocupado. Eu o encaro pasmem e arquejo pensando na resposta. Não, não me sinto bem, eu me sinto um milagre. Contudo, não o respondo.

Meu coração bate ainda acelerado, uma agitação que imerge de meu peito se espalha por todo o meu corpo. A agitação não é só em mim, percebo agitação externa. Uma multidão confusa e tímida que observa a certa distância, comentando e questionando como isso aconteceu. Vislumbro o flash de um celular, abaixando minha cabeça a tempo, deixo meu cabelo tampar o meu rosto, para não capturarem uma imagem minha. Tenho uma intuição ativa que insiste em me dizer que a multidão não será tímida por muito tempo e que estou em perigo nesse momento. Preciso sair daqui o mais rápido possível, chegar a um algum lugar seguro e esperar que ninguém me ligue a este acidente. Agora mais do que nunca, preciso correr.

— Espere, moça, você não pode se mexer. Você deveria... — faço um movimento rápido, antes que chame mais atenção, ignorando os protestos do senhor preocupado e confuso. De cabeça ainda baixa, levanto um pouco minha moto e coloco-a reta na pista, noto sua lataria um pouco amassada, não dá pra lamentar agora. Religo a moto, com um suspiro de alívio e sem dar mais tempo, deixo uma multidão impressionada para trás, acelerando em fuga.


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Notas finais do capítulo

Eitcha! Eu falei que o babado ia ser forte. hein?

Quando li, fiquei chocada em Cristo com este final. E vocês?

Contem tudinho nas reviews que a dona Debora quer saber, okay?