Perpétuas Mudanças escrita por Hunter Debora Jones


Capítulo 26
Faça uma oração


Notas iniciais do capítulo

Olá, Vingadores, agentes, asgardianos, povo marveleiro e cia!

Obrigada a todo mundo que tem acompanhado, e comentado também. Vocês são demais. ♥

Bem, demorou um tiquinho, mas tá aqui o capítulo. Eu ainda não voltei, a diva da Pri continua me ajudando, but acho que até o momento as coisas tem dado certo. E ela que dá os títulos lindos dos capítulos e aparece nas notas, porque sim!

Em caso de dúvidas, curiosidade, ou apenas para saber o que esperar da fic tenho dado às informações no Twitter. Então abizoem lá sempre! Eheheheh

Enfim, acho que não tenho nada, nada mesmo a dizer sobre esse capítulo... Só que fortes emoções vem por aí, e não, não é o que vocês estão pensando. Oi?

Boa leitura!



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— Se cuide também. A gente se fala, James. — encerro amistosamente a conversa com meu meio irmão no celular, tendo já avisado a ele e antes a minha assustada mãe que estou bem. James e eu não temos exatamente um forte laço afetivo, além do sanguíneo, o fardo de servir o país e a assinatura abreviada praticamente idêntica, é uma relação mais estranha, como pelo fato de termos quase a mesma idade e sermos de mães diferentes. Digamos que meu pai quando vivo, sempre esteve bem... Disposto e galanteador... E não quero nem ao menos falar das nossas mães que eram e ainda são amigas — ugh —, nem falar ou pensar. O ponto é que toda essa relação é estranha, e podemos não ter exatamente um amor pelo outro como seria suposto imaginar, mas somos irmãos, prezamos muito o nosso laço e desejamos bem um ao outro, é o suficiente para nós. Falar com ele e relembrar toda a história de nossa complicada família me traz o sentimento de nostalgia, enquanto me reaproximo de Steve e Sam. Estar em um cemitério não anima muito o meu espírito. Especificamente, neste cemitério.

— Tudo bem? — Steve questiona, com seus olhos me inspecionando levemente quando me coloco ao seu lado, em frente a uma lápide que diz:

“Cor. Nicholas J. Fury

“O caminho do homem justo...”

Ezequiel 25:17”

Balanço a cabeça em um gesto afirmativo. Steve, nem Sam dizem algo a mais, eu não verbalizo um A. Apenas continuo a fitar a lápide de Fury, não ousando olhar para outro lugar. Repreendendo um frio que me sobe pela coluna, é sinistro.

Assim que chegamos a D.C. depois de passarmos uma noite na Torre d’Os Vingadores por alguns assuntos de praxe que Stark tinha que resolver devido ao agito dos últimos dias, ele nos trouxe em seu jato e logo se foi. Maria Hill ficou em NY, porque “conseguiu” um novo emprego nas Stark Industries, e Fury, sem o seu braço direito, assim que chegamos, apenas convidou Steve e a Sam para estarem dentro de duas horas em um endereço que ele tinha enviado para os seus celulares, eu, bem, fui intimada a estar no local. Nesse meio tempo, matamos o tempo na casa de Sam, e quando se aproximou o horário para vir ao local combinado e chequei o meu celular, tive uma leve surpresa. Ok, talvez eu tenha me surpreendido mais do que realmente quero admitir, e se tivesse imaginado que este seria o local de encontro teria sugerido ao Fury outro local para nos encontrarmos. Digo isso porque esse é o cemitério onde meu avô, e meu pai estão enterrados, e mesmo que tenha aceitado a morte deles, não é algo que eu quero me lembrar sempre. De início até pensei que Fury estava querendo fazer uma brincadeira de mau gosto comigo, mas diante da lápide com o seu nome, acho que é uma brincadeira de mau gosto com ele mesmo. Como disse anteriormente, sinistro. Estranho. Mas tão típico dele.

— Então, já passou por essa experiência antes? — dirijo o meu olhar para o local de onde surge a voz de Fury. Meu olhar se sobressalta alarmado, não pela sua recém chegada, que eu até tinha percebido antes dele estar próximo, mas fico realmente impressionada com a sua aparência diferente da que estou acostumada a ver. Fury está vestido humildemente com roupas de frio de mangas longas, uma blusa de capuz por cima de uma touca, em contraste com uns óculos escuros. Sinceramente, é muito estranho ver Fury sem os seus casacos escuros, chiques e caros de couro e aquele tapa-olho único. É difícil aceitar que esse realmente é ele.

— A gente se acostuma.

— Eu não sei, continua sendo estranho pra mim. — externo meus pensamentos. Olhando Steve, que fita Fury, percebo que o mais provável é que seu comentário foi dirigido ao ex-Capitão Tapa-Olho. Faço um movimento de indiferença com uma mão, e digo: — Foi mal, esqueci que você acabou de fazer um amigo que tem as mesmas experiências que você. Tirando o congelamento de décadas.

Como sempre, ninguém dá atenção ao que digo, e nesse caso acho que posso até me sentir grata por isso porque meu comentário foi ridículo. Estúpido, mesmo dado aos sentimentos embaraçados de estar aqui. Preciso ficar de boca fechada.

— Estamos estudando os arquivos da H.Y.D.R.A. — Fury articula, tendo toda a atenção em si. — Parece que muitos ratos não afundaram com o navio. — me irrita saber que há agentes da H.Y.D.R.A. por aí, tramando Deus sabe lá o quê. Se eu pudesse, agora mesmo iria começar a correr atrás deles para chutar seus traseiros, mas preciso ficar quieta por um tempo e recuperar a confiança e o respeito das últimas missões que sei que não fui bem, mesmo que alguns digam o contrário. Fury prossegue: — Vou para a Europa hoje à noite. Queria saber se você quer vir. — outra pergunta direcionada a Steve, é claro. Permaneço calada como uma espectadora.

— Preciso fazer uma coisa antes. — Sam e eu, nos entreolhamos, sabemos o porquê de sua resposta. Eu contei a Sam quando tivemos um tempo a sós que Steve queria procurar Bucky. E claro, de tudo o que acontecer por agora, seu amigo perdido é prioridade no momento, nós sabemos. Fury não se dá ao trabalho de insistir, nunca fez muito o seu estilo. Seu estilo seria mandar alguém insistir por ele, mas acho que não restaram muitos subordinados para isso, então se contenta com a resposta de Steve, direcionando a sua atenção a Sam, para dizer:

— E você? Seria bom ter um cara com as suas habilidades.

— Eu sou mais um soldado do que espião. — Sam responde de pronto, olhando Steve em seguida. O que posso dizer? Sam é tão ótima pessoa, como é amigo, e mesmo que Steve não o tenha pedido, ele procurará Bucky conosco como se fosse um dos seus. Assim como eu farei. Steve merece isso, e Bucky, talvez, também pelo que fez pelo nosso país antes de o transformarem em uma máquina assassina, e por ter salvado Steve alguns dias atrás. Se há esperança de recuperá-lo, não desistiremos.

— Tudo bem, então. — Fury diz. Fito-o com apreensão e ansiedade. Mesmo que terminantemente esteja decidida a não ir com ele, espero ele virar-se para mim e dizer que espera que eu vá. Porque comprovaria que ele ainda me tem com a reputação de boa agente, todavia, tudo o que ele faz é oferecer a mão a Sam que a aceita balançando em cumprimento, em seguida a Steve, que faz o mesmo. Sou atentada para o fato que desde que chegou Fury não me deu um mísero segundo de sua atenção. Será que estou invisível ao seu único olho bom debaixo desses óculos escuros?

— Se perguntarem por mim... Digam que podem me encontrar, bem aqui. — ele instrui, antes de soltar a mão de Steve, fazendo menção a sua lápide.

— Misericórdia. — murmuro.

— Sinta-se honrado. — Natasha surge falando, ao mesmo tempo em que Fury vira o seu rosto para mim, parecendo finalmente perceber a minha presença no local. Ufa. Natasha continua: — É o mais perto que ele chega a agradecer. — ela me fita. — Resgatei a sua moto no seu apartamento como pediu, espero que não se importe por eu ter dado umas voltas com ela.

— Oh, meu Deus. — não sei se digo por agradecimento, ou preocupação, por saber que ela resgatou a minha amada moto e deu algumas voltas com ela. Oh, meu Deus, ela andou com a minha moto! Emendo ligeiramente: — Onde é que ela está?

Ela suprime um sorriso. Isso me enche de apreensão, e acho que ela percebe.

— No estacionamento da entrada. — solto um suspiro aliviado, ela ri frente ao meu estado. — Mas vejo que ainda não pode dirigir. Você pode deixá-la comigo enquanto não estiver recuperada.

Só de pensar em outra pessoa com a minha moto por aí fico inquieta com o pensamento, e pensar na Natasha por aí se aproveitando das maravilhas da minha moto... Estreito os meus olhos, ainda a encarando, trato de retrucar:

— Muito obrigada, Dona Aranha. Mas prefiro cuidar da minha moto eu mesma.

— Mas se você não pode dirigir, o que há de mal...

— Não. — falo, enfática. Noto os olhares sob mim, sei o quanto possessiva e ciumenta soo. Mas caramba! É a minha moto! Nem pensar que vou deixar ela com a Romanoff! Suavizando o meu tom de voz, e meu olhar, sorrio minimamente, e reforço: — Obrigada pelo resgate. Mas enquanto eu não puder dirigir, o Sam pode deixar minha moto ficar na garagem dele, não é Sam?

— Claro. — Sam diz sucinto, quase indiferente após olhar a nós.

— Chega de papo — Fury interfere, sem fazer quaisquer cerimônias. —, me acompanhe, Wally. Temos coisas a acertar.

Ele não espera a minha resposta, e se afasta. Apertando os meus lábios com irritação pelo seu jeito, volto a fitar Natasha, vendo seu peculiar sorriso tranquilo no rosto, como se tramasse algo. Encaro-a com convicção e dureza, usando o meu melhor tom para ordenar:

— Natasha, entregue as chaves da minha moto ao Steve... Ou ao Sam. — acrescento rapidamente, ao ver seu sorriso aumentando quando cito Steve. É como se soubesse o que houve entre ele e eu, e risse disso. Será que ela sabe? Fito-a com desconfiança, movimentando os meus pés para a direção em que Fury foi. Seu olhar zombeteiro é parecido com o de... Stark. Ah, sim, com certeza ela sabe. — É bom ver você, Natasha... Mas é sério, deixe a minha moto quieta.

Tenho um balançar de ombros da sua parte, acompanhado de uma breve risada, antes de me virar para Steve e Sam e avisar:

— Eu volto já. Tratem de pegar a chave da minha moto com ela.

Sem dar tempo para algum dos dois responder, afasto-me sem segundas palavras como Fury, correndo atrás da sua sombra. O alcanço em pouco tempo. Andando já ao seu lado, para iniciar a conversa, sondo:

— Europa, hein? Legal, o que é que você quer que eu faça?

— Nada. A única coisa que espero de você, é que se não for uma grande dificuldade, aproveite a notícia de seu óbito e mantenha-se nas sombras por um bom tempo. — ele é direto, e nada sensível. Um pouco chocada com suas palavras, paro de andar, absorvendo o que disse.

— Uau. — balbucio, voltando a acompanhá-lo. Pondero que seja melhor não dizer a ele que falei com alguns parentes, certo? Nota mental: ligar novamente para minha mãe e James e pedir para não contarem a ninguém que estou viva, principalmente se for um homem caolho muito furioso... Usando de tom ofendido, mesclado com sarcasmo, profiro para Fury: — Não é uma grande dificuldade para mim, senhor. Seguirei as suas instruções, e pode deixar que não irei levar isso para o lado pessoal, como seria de hábito.

— É melhor. — ele expõe, com seu tom imperioso como de costume. — Porque se fossemos usar o hábito de levar para o lado pessoal, eu teria que destacar que na sua última missão você não cumpriu nenhuma instrução direta minha. — não posso retrucar a isso, ele tem razão. Continuo calada, esperando que ele diga então, o que ele tem a acertar comigo, porque sei que não é só isso. Ele me conhece bem, e tendo o meu silêncio, e a sua ‘vitória’ no assunto, ele demora um pouco, mas articula enfim: — O ponto é que com o seu sumiço, e o seu destaque nos jornais, você deixou bastante gente preocupada e interessada. Gente que não se cansa até saber de toda a verdade, e você deveria saber que a atenção depois de desperta é difícil ser contida.

Oh, merda. Estatelo no lugar, encarando as costas de Fury. Conheço Fury tanto como ele me conhece — ou quase isso, mas com meias palavras prontas dele posso dizer que algo está acontecendo, e isso quer dizer que estou em maus lençóis. Eu não precisaria mesmo conhecê-lo bem para dizer que pela sua fala, além de problemas com a H.Y.D.R.A., ou órgãos governamentais, estou encrencada, mesmo.

— Será que Elvis Presley está atrás de mim de novo? Por favor, qual é, Fury. Você disse um monte de coisas, mas não disse realmente qual é o ponto. — rechaço, esperando que ele me fale logo o que está acontecendo. Ele para de andar, gira o seu corpo, voltando a sua atenção para mim. Observando a paisagem em volta, eu imito a sua atitude, estranhando o seu jeito, e notando que a uma quadra daqui é onde meu pai e vovô estão enterrados. Ignoro o fato, quando Fury olha para mim.

— Sabe por que a contratei, Jessica? — me surpreende o fato de ele me chamar pelo primeiro nome, e por fazer essa pergunta esquisita nesse momento. Mesmo intrigada para saber o que diabo está acontecendo e saber quais problemas tenho e desconheço, resolvo satirizar uma resposta para Fury:

— Por que eu Googlei o seu nome? E também por que você queria alguém para fazer na S.H.I.E.L.D. o trabalho que ninguém mais queria? Ou para descontar as suas frustrações me colocando nas piores missões? — indago, o fitando com altiva presunção teatral. Ele não tem qualquer reação, o seu silêncio me faz olhar com mais seriedade a sua pergunta. A resposta dela? Não sei. Até cheguei a me questionar algumas vezes, mas sempre estive mais interessada nas informações que poderia ter trabalhando na S.H.I.E.L.D., mas não quis saber o porquê ela iria me contratar, sendo que eu era uma agente não muito obediente com a C.I.A., e com pouco crédito na ocasião. Mas agora tenho que desfazer a minha pose zombeteira, estreitar meus olhos ainda em Fury, para retornar a pergunta sem delongas, com um pouco de curiosidade: — Okay, por que é que você me contratou?

Fury ainda permanece uns instantes em silêncio, até que de um jeito totalmente tranquilo, ele abre a sua boca para falar:

— Eu conheci o seu pai. — O quê? Fury disse... Eu o olho minuciosamente na busca de algo que denuncie que é uma pegadinha, ou que ouvi demais e devo limpar meus ouvidos. Mas meus ouvidos estão bem limpos, e Fury não é de brincadeiras. Então, ele conheceu meu pai? Se isso é verdade, por que Fury nunca me disse isso antes? Por que eu não sabia disso? Muitas perguntas, e não consigo verbalizar nenhuma, até mesmo que Fury retorna a falar, passando algum tempo: — John era um homem de fibra quando o conheci. Um homem que não hesitaria em se sacrificar pelo bem do seu país. Bem corajoso. Saber que você, filha desse homem que tive a honra de conhecer e trabalhar lado a lado, não me fez pensar mais que duas vezes antes de contratá-la. Você é uma Wally, certo? É o que ele diria, a sua família tem um histórico invejável nesse meio que eu sei. E o nome Wally parecia dizer bastante coisa para ele tanto como servir à bandeira desse país, achei que não seria diferente com você, embora eu tenha tido minhas dúvidas depois.

As palavras de Fury me dão a mesma sensação de planar no ar inesperadamente, sem motivo. Não consigo pensar em outra pergunta que me tire do meu estado de estupor, a não ser uma...

— Você trabalhou com o meu pai? — questiono. Eu sei, clichê e piegas para a revelação. Mas é a única coisa que consigo pensar no momento.

— Sim. — responde preciso. Continuo fitando a Fury, provavelmente com cara de imbecil, esperando que ele esclareça e me conte mais sobre isso. Mas ele é irritantemente quieto, até retornar com a fala: — Jessica, você é uma pessoa religiosa?

A sensação de estar planando no ar persiste. Como é que é? Além de me chamar outra vez pelo primeiro nome, Fury soltou a bomba de ter conhecido o meu pai, e trabalhado com ele, e simplesmente, como se nada mais precisasse ser dito, ele muda drasticamente de assunto, perguntando-me se eu sou uma pessoa religiosa... Se eu sou uma pessoa religiosa?! É muito difícil ter a mesma tranquilidade de Fury, e formar uma frase para respondê-lo quando tudo o que quero dizer é: o que diabos você tem, Fury?

— Sério? — indago retoricamente, segurando as palavras sujas que tenho vontade de gritar a ele. Respirando com calma, e com certa tensão — se é que isso tem lógica, profiro: — Desculpe, acho que não ouvi o que você disse.

— Eu perguntei se você é uma pessoa religiosa. Tem uma reza especial?

Ok... Respiro fundo uma, duas, e três vezes de olhos fechados. Abro os meus olhos voltando o meu olhar a Fury. Outra pergunta sem nexo. Talvez ele chegue com ela a um denominador comum e responda a minha pergunta com ligação a essa sua esquisita. Improvável, mas sendo Fury. Paciência e fé de Jó. Ele só não pode esperar que eu me conforme com o pouco que ele disse.

— Se sou uma pessoa religiosa? Acho que não, mas tenho minhas crenças. E reza especial? Sério, Fury? O que é que... Ok, vou te responder, não precisa me encarar assim... Eu não sou nenhuma ‘Madre Teresa do Pai Nosso Que Estai Nos Céus’, mas posso dizer que algumas vezes me pego fazendo uma espécie de oração, ou uma reza, mas... Chega! O que é isso? Você não espera que eu escute o que você disse sobre o meu pai, sobre ter trabalhado com ele e não exija mais informações, não é? Porque se você o conhecia, deve saber que pouca coisa está esclarecida sobre a sua morte, e saber que você trabalhou com ele... — respiro mais uma vez fundo, acho que se tornou um tique nervoso. Preciso parar com isso. Ainda encarando Fury, emendo em tom raivoso: — É estranho você depois de todo esse tempo comigo trabalhando para você me dizer isso, somente agora. Sabe, quando soube que nos encontraríamos aqui, primeiro, pensei que fosse uma piada de mau gosto sua comigo, mas depois de ter visto a sua lápide tomei como uma trágica coincidência. Mas agora, algo me diz que não é só isso, e também que você sabe de algo sobre a morte do meu pai, senão de tudo. É melhor começar a dizer o que sabe, Fury, eu quero respostas. Agora.

Eu já saltei de aviões, barcos, helicópteros, prédios e coisas que algumas pessoas duvidariam existir. Fui baleada. Envenenada. Feita refém, e corri contra o tempo pela minha vida. Quase morri milhares de vezes, e acho que até cheguei a morrer recentemente — ainda estou confusa sobre isso. Já escapei de um prédio em chamas por causa das explosões de diversas bombas, e em outra dolorosa e traumática situação fui atropelada por um javali. Mas nada dessas coisas tem comparação com a adrenalina de desafiar e exigir coisas do meu chefe, ou ex-chefe. Está bem, talvez ser atropelada por um javali esteja em empate. Mas é uma adrenalina imensurável, já enfrentei Fury outras vezes, mas não como agora. Tenho até um leve temor, mas luto com o meu íntimo para não transparecer, e continuar com a minha postura exigente e dura com Fury. É necessário.

— E terá.

— Agora. — repito, murmurando entre dentes. Começo a sentir abstinência por não repetir o tique nervoso de respirar fundo. Autocontrole, Jessie, foco.

— Entre na capela e faça uma oração antes disso. — ele me instrui, com o seu tom típico de “eu sou seu chefe, isso diz tudo”.

Não, não mesmo. Com meu olhar tenso, e completamente irada, explodo em palavras:

— Vai se danar, Fury! Fazer uma oração?! Qual é a sua? Olha aqui, acho melhor você fazer uma, antes que eu perca o respeito por você e avan...

— Jessica... — seu tom repreensivo, como de aviso, me faz lembrar o meu avô. Se ele estivesse vivo e me ouvisse falando desse jeito com Fury, iria morrer imediatamente com o traiçoeiro ataque do coração. Fico calada, fitando Fury, comprimindo os meus lábios, não me entregando ao tique nervoso, ou as palavras de baixo calão.

— Fury... — falo em tom arrastado, pondo-me o mais calma possível na situação. — O que é? — minha pergunta tem o tom mais brando que consigo no momento. Tenho que manter a calma.

Fury leva alguns segundos, como se me inspecionasse, para dizer:

— Acho mesmo que seria bom entrar na capela, orar para se acalmar um pouco.

— É sério?

Tudo o que consigo dizer, porque percebo que ele fala sério.

— Eu estarei aqui quando sair. — ele assegura, fazendo um gesto com as mãos como se somente isto é o suficiente, em conjunto com suas sobrancelhas arqueadas. — Vai te fazer bem, faça a Oração da Serenidade, acho que irá cair bem nesse contexto.

Lá no subsolo das profundezas do meu ser tenho vontade de rir. No fundo eu tenho vontade de xingá-lo. E mais acima tenho a vontade de praticar os golpes mais sujos de luta nele. No entanto, pondero que tudo o que quero é saber a verdade sobre a morte do meu pai. Não uma história mal contada, ou hipóteses estúpidas como a que o governo, a Casa Branca, ou o exército para qual ele trabalhava deu. Tenho certeza de que Fury sabe da verdadeira história, pelo modo como ele citou meu pai, e por ter permanecido em silêncio durante todo esse tempo. Eu preciso estar com a cabeça no lugar para ouvi-lo sem querer arrancar o seu olho bom. Fito e analiso Fury por um pouco mais de tempo, em completo silêncio.

— Sério? — sondo-o, dando a possibilidade de fazer o que ele me aconselhou, porque, céus! Acho que ele pode estar certo e eu precise de um momento. Fury assente um sim com a cabeça apenas. — Ok, certo. Tudo bem. Isso pode ser uma maluquice, mas acho bom estar aqui fora quando eu voltar, senão eu vou atrás do seu traseiro por toda a Europa, Nick Fury. E você não vai achar muito agradável quando eu te encontrar e quiser arrancar a merda o seu olho bom.

— É com essa boca que você beija o Capitão América? — ele retruca de imediato.

Quase enrubesço. Não estava preparada para essa réplica. Faço um som de indiferença dando as costas a Fury, enquanto visualizo uma das capelas do cemitério que por coincidência, ou por uma brincadeira de mau gosto de Fury já estive para meditar sobre a morte do meu pai, e alguns anos depois para velar meu avô, me dirijo até ela abrindo a porta. Reforço para Fury uma última vez:

— Está avisado.

Adentro, fechando a porta da capela atrás de mim que faz um ruído de madeira velha. A capela está vazia, exceto por mim, é claro. Há alguns bancos meio gastos não muito diferentes de quando vim aqui pela última vez, e logo a frente na parede há imagens espalhadas de alguns santos e Maria, com um Jesus de madeira pregado a cruz, centralizada na parede. Há um púlpito também, algumas poucas flores espalhadas pelo lugar que é iluminado por algumas velas, e pela luz solar que entra pelas janelas da capela. Caminho até o primeiro banco, ignorando memórias desgastantes, mas percebo a tensão, e a inquietação em mim como uma cólera. A necessidade de me acalmar é praticamente vital, esta não é quem sou, ou melhor, dizendo, não é a pessoa que quero ser. Sento-me no banco que faz um rangido, fecho os meus olhos. Sem o tique, Jessie. Apenas respire. Eu deveria orar, certo? Certo.

Mas como é que se faz esse negócio mesmo? Arqueio uma de minhas sobrancelhas ainda de olhos fechados, tentando lembrar. Realmente... Faz muito tempo que não faço isso, então melhor fazer uma reza. Certo... Enrijeço, vendo que no momento a única reza pronta que me lembro é a tal da Serenidade que Fury me disse, nem o Pai Nosso consigo me recordar inteiro. Odeio dar o braço a torcer, todavia...

— Deus, conceda-me serenidade para aceitar as coisas que não posso modificar... Coragem para modificar aquelas que posso, e sabedoria para reconhecer a diferença entre uma e outra. — algo aqui não está certo, e não falo sobre eu estar rezando, mas disso não funcionar. Meus ombros se encontram mais pesados do que antes, e não me sinto nem um pouco serena. Porque não é o que quero, quero autocontrole? Sim, mas quero só descobrir a verdade, e não importa como. Pelo que me lembro dessas coisas, para funcionar tem que ser com sinceridade, ou assim deve ser. Permaneço de olhos fechados, não sei se tratando de eu ser sincera será algo bom, mas pelo menos terei tentado. Como se vê nessas novelas mexicanas, resolvo confessar-me: — Oi, Deus... Eu não quero nada disso, e eu sei que você deve saber, porque você sabe de tudo, não é? Então não serei hipócrita e vou ser sincera. Fico feliz se o Senhor me conceder autocontrole, e toda a verdade que espero. E um pouco mais de sorte se não for pedir muito. — isso soa muito mais sincero, e me dá certa tranquilidade. Só espero que Ele não fique muito irritado pela minha falta de prática com esse negócio. E mesmo que Ele também saiba disso, antes que dê com a língua nos dentes, é melhor encerrar: — Sinto muito por não falar com o Senhor como deveria, e cometer alguns pecados como... Esquece. Eu sinto muito mesmo. Perdão. Obrigada pela a atenção. Amém.

Abro os meus olhos mais rápido do que de costume, me levantando do banco que faz o rangido. Estou um pouquinho ansiosa, mas nem tanto como quando eu entrei aqui. Não como se a Reza da Serenidade tivesse funcionado, mas uma pequena amostra se eu tivesse sido sincera, se tivesse orado com fé. É o que acho. Ou talvez foi a minha oração original, não sei. Tentarei de um jeito mais apropriado da próxima vez.

Viro-me, decidida e preparada para conversar com Fury. Começo a andar na direção da saída da capela, e a porta da entrada se abre. A claridade vinda do sol impede-me de ver quem entra, enquanto a porta não se fecha, e a pessoa parece segurar a porta um pouco mais de tempo. Paro a alguns sete passos da porta, olhando na direção da pessoa que ainda segura à porta. Poderia ser Fury, Sam, Steve, ou até mesmo Natasha, mas pela estatura e molde do corpo masculino descarto a possibilidade de ser algum deles. Se não é algum deles, e a pessoa parece indiscretamente me encarar, não é alguém que veio meditar buscando consolo. Sua leitura corporal me diz que ele tem negócios comigo, mas quem pode ser? Algum agente da H.Y.D.R.A? Talvez um maluco? O governo querendo me prender, ou me condecorar por ajudar o Homem Aranha? Seria pedir demais, e eles nem sabem que estou viva. Então,cautelosamente, dou meio passo para trás, preparando-me para quem for. Posso ter o meu braço imobilizado, mas me sinto na capacidade física para enfrentar qualquer um no momento. Danem-se as controvérsias.

Algo paira no ar, e dessa vez não sou eu, metaforicamente falando. E pior, não faço ideia do que seja. Alguns segundos se arrastam até que o homem solta a porta adentrando, fazendo com que a porta se feche atrás de si com aquele rangido da madeira. Esse lugar é só ruídos. Deixo de lado isso, pois finalmente posso encarar o homem e...

Espanto. Incompreensão. Incapacidade de reagir.

Pisco algumas vezes, passo a mão sobre as minhas pálpebras em um mecanismo para me despertar disso que só pode ser um devaneio maluco pelas emoções à flor da pele de hoje. Abrindo, e estreitando os meus olhos na direção em que estavam, deparo-me com a mesma visão. Dou um passo atrás assustada, atemorizada.

Fiquei maluca? Estou vendo fantasmas novamente? Não, não tem como ser, é tudo bem real, eu vejo com a mesma certeza que nem em um milhão de anos isso poderia acontecer. Então, como?

— Você. — digo monossilábica, minha voz sai com um pequeno tremor, hesitante. Tenho o olhar fixo nele, esperando que talvez possa desaparecer das minhas vistas, como um truque de mágica, ou um delírio. Não acontece. É ele quem eu vejo. — Você... — é tudo o que consigo dizer com o impossível a minha frente. Minha mente é um quebra cabeças, desmontado, embaralhado, porém muito óbvio. É ele? Meus olhos podem me enganar, ou eu posso estar me enganando, só sei que isso é impossível. Céus!

Encaro-o como um fantasma. Ainda não entendo, mas é. Um fantasma, bem vivo, que me encara de volta. Mais velho, diferente, mas com os mesmos olhos claros e pacíficos de que me lembro.

— Olá, filha.

É ele. Meu pai.


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Notas finais do capítulo

Não se esqueçam de deixar reviews fofas, fofas, fofas para a dona Debora, hein?

Estamos de olho O_O

Beijos da Hunter Pri Rosen, hacker oficial de Hunter Debora Jones.