Perpétuas Mudanças escrita por Hunter Debora Jones


Capítulo 23
Foco, Jessie


Notas iniciais do capítulo

Olá, vingadores, agentes, asgardianos, marveleiros e cia!
Título totalmente sem spoilers, como sempre...
Eu tinha que ter postado esse capítulo ontem, mas eu fui atingida com um mal terrível chamado "gripe". Então não pude nem revisar o capítulo, nem escrever o próximo, não consegui fazer nada além de bancar uma de Jessie como a Bela Adormecida (créditos dessa piadinha a Hunter Pri Rosen. Oi). Hoje eu acordei melhor e vim aqui postar o capítulo como prometi que faria essa semana. Espero que gostem.
Boa leitura!



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— Tem mesmo certeza que precisa ir agora? — a Sra. Parker me pergunta quando estamos em frente à calçada de sua casa, tendo um táxi a minha espera. — Olha, você pode ficar por um ou mais dias, não há problema.

— Eu sei que não, Sra. Parker, mas eu realmente preciso ir. — mostro minha gratidão com um sorriso, e continuo: — Eu tenho que ir ver meus amigos, eu liguei para eles e vi que eles estavam bastante preocupados. E como estou praticamente recuperada é melhor ir vê-los pessoalmente para tranquilizá-los.

— Bom... Se não há outro jeito, é melhor que vá. — ela me afirma mais resignada, com um pequeno sorriso me fitando. Então inesperadamente ela me abraça. — Obrigada pelo que fez pelo Peter, Jessica, muito obrigada.

Eu não sei o que responder, porque como já disse muitas vezes, não fiz nada além de ter permanecido viva. Mas sentindo que preciso fazer algo, eu retribuo o seu abraço maternal, e digo:

— Não foi nada. — nos afastamos desfazendo o abraço quando Peter sai pela porta da sua casa vindo em nossa direção. Olho para a Sra. Parker sorrindo, e faço menção a Peter: — Mas você tem que saber que o seu sobrinho é o herói da história.

Ela ri orgulhosa, admirando-o.

—Tudo certo? — Peter pergunta quando de fato chega até nós com o olhar em mim. Balanço a cabeça afirmativamente. — Então vamos, eu não vou deixar você ir sozinha.

— Ei... Eu pensei que você estava vindo aqui para se despedir, não ir comigo. — franzo meu cenho, eu já dei tanto trabalho para ele, agora darei mais ele querendo bancar o meu guarda costas? Verbalizo minha resposta de forma sucinta: — Não é necessário, Peter.

— Tia May, eu vou voltar rápido. — Peter nem dá a chance de eu me manifestar direito, ou até de sua tia dizer “tudo bem”, ele apenas nos dá as costas indo até o táxi, abrindo a porta e lançando o seu olhar então para mim ainda embasbacada com sua atitude. — E aí, vamos?

Mudo o meu olhar para a Sra. Parker que sorri dando de ombros, retorno o olhar para Peter que tem as suas sobrancelhas desafiadoramente arqueadas. Ah, que se dane.

— Até mais, Sra. Parker. — me despeço ganhando um meneio seu de cabeça, enquanto me dirijo ao táxi, passando por Peter que segura à porta enquanto adentro o veículo. Peter logo entra atrás de mim, sentando-se confortavelmente enquanto o taxista pergunta para onde vamos.

— Torre dos Vingadores, a antiga Torre Stark. — dou as coordenadas. Logo ele dá a partida pondo em movimento o carro.

Há uma coisa sobre mim que nunca consigo deixar de fazer quando entro em um carro: colocar o cinto. Percebo o olhar de Peter sob mim assim que faço isso no assento do meio. Virando meu rosto para fitá-lo, pronuncio:

— O que é?

— Nada. — mas ele segura um riso, com o humor evidente em seu rosto. — Só que é engraçado você...

— Ah, não precisa terminar. — interrompo, prevendo o que ele dirá. “Você é uma agente que se põe em riscos diariamente, mas coloca o cinto como uma desesperada quando entra em um carro. É engraçado.”, é o que a maioria diz. Mas eles não diriam isso se soubessem o quanto pode ser doloroso apenas ver alguém quebrar-se transpassando o vidro de um carro por não estar usando um cinto. Eu já presenciei isso uma vez, foi uma lição que um inimigo me deu quando sofreu um feio... Acidente. Acredito que seja quase tão doloroso como ser atropelada por um javali. — Não há nada de engraçado, é simples. E é lei colocar o cinto de segurança, então, pode ir colocando o seu aí, rapazinho.

— Tudo bem, tá certo. — ele se rende, colocando o cinto ao meu lado. Terminado, ele olha para mim risonho e bem humorado, pergunta: — Satisfeita?

— Muito. — me limito a dizer uma única palavra olhando para frente, Peter não diz mais nada e eu permaneço assim, calada. A verdade é que eu não posso deixar de pensar no que aconteceu mais cedo na ligação com o Fury e em como aquilo foi estranho. E depois de ter desligado o telefone percebendo também que eu podia ouvir as coisas mais claramente, até Peter conversando com sua tia na cozinha o drama das duas semanas em que ele desapareceu. E é claro que depois disso eu tentei ver se eu tinha o lance das teias em mim — foi bem idiota porque nada aconteceu, e passado algum tempo a minha audição retornou ao normal, e embora o meu corpo veio se recuperando duas vezes mais rápido do que de costume cheguei a conclusão de que o sangue de Peter não me deu poderes, ou mudou algo em mim — apenas me ajudou a me recuperar mais rapidamente. A droga que Kraven me injetou que deve ter feito com que minha audição ficasse mais apurada, mas qualquer efeito passou e de repente eu sou a velha Jessica Wally, a qual infelizmente não se tornará uma espécie de Mulher Aranha.

— Jessica, você tá me ouvindo? — a voz de Peter ressoa, despertando-me de meu longo devaneio frustrante. Olho para ele, dispersada dos pensamentos, e falo:

— Desculpe, eu estava perdida em pensamentos. O que você dizia?

— Eu não sabia que os seus amigos eram da Torre dos Vingadores. — ele expõe encarando-me curioso, e logo uma expressão de dúvida aparece em seu rosto, quando sussurra para que só eu possa ouvi-lo: — E você não me disse como me encontrou. Ou como sabia que eu, era ele. — é ao Homem Aranha a quem ele se refere. Não passava nem por minha cabeça que teríamos que ter essa conversa e absolutamente aqui não é o lugar mais adequado para isso. Dando uma breve olhada no trânsito da movimentada cidade de New York pela janela, retorno o meu olhar para Peter, e o respondo de forma sutil, porém sincera:

— É, eu tenho alguns amigos lá. — sutil e pouco esclarecedor, eu sei. Prossigo em tom baixo: — E você sabe que desde sempre fui uma agente, o meu trabalho é saber as coisas que ninguém mais sabe. — suas sobrancelhas levantam em concordância, mesmo eu não tendo dito muito, ele parece se contentar no momento com a resposta. Tudo o que ele precisa saber essencialmente no momento é que pode confiar em mim, portanto concluo: — E mantê-las em segredo para a segurança de todos, se é assim necessário.

— Obrigado. — ele diz, meneio a cabeça sabendo que a conversa acabou, olho para fora novamente, ponderando tudo o que passei por esses dias e que tudo desencadeou desde aquela batalha em NY, onde eu quase morri se não fosse pelo Peter... Se não fosse pelo Steve... E uma série de mudanças foi vista desde então pelas ações desses heróis. Seja no passado, ou no presente. E não posso deixar de me lembrar daquele misterioso homem de vestes brancas que não pude ver o rosto na mansão de Kraven, as palavras que pude gravar reverberam ainda em minha mente. Protetora. Vencedora. Heroína... Destinada. Em meio a uma grande ameaça haveria a esperança, um novo começo, e por mais que de alguma forma ele possa ter parecido bastante claro, eu não entendo. O que será que ele quis dizer com tudo aquilo? Aquilo poderia ser verdade? Aliás, aquilo significa realmente algo? A vida é dura e uma sacana às vezes, mas geralmente ela nos leva aos melhores lugares, mesmo que seja por um caminho torturante. E sinto que o destino me chama para algo incompreensível no momento, temo o que seja, mas como eu gosto de seguir o script que a vida me dá e estou mais do que nunca nessa de enfrentar os medos e superá-los, eu sei, vai dar tudo certo e vai ser incrível. Eu espero.

***

— Mas você não tem nem um cartão de crédito, Peter? — eu questiono a ele quando estamos em frente à Torre dos Vingadores e estamos com um problema: não temos dinheiro para pagar o táxi.

Peter me olha sem graça, balançando a cabeça negativamente. Eu respiro fundo. O taxista nos olha da janela com uma expressão nada boa e resmunga possesso:

— Olha, eu acho bom algum de vocês me pagar logo porque eu não trabalho de graça.

— Me desculpe, senhor, eu vou...

— Tudo bem, Peter. — eu interrompo mais calma a Peter antes que ele faça qualquer promessa ao taxista raivoso, com toda a razão. Eu me lembro que eu possa ter ficado dois dias fora do radar, mas ele não tem um emprego e ficou por essas duas semanas como um morto, seria abusar da sua boa vontade que ele pagasse a conta do táxi. Aproximando-me da porta do taxista, eu me abaixo um pouco até a sua altura do assento para declarar: — Você vai ter o seu dinheiro, senhor. Eu só vou entrar e pedir para um dos meus amigos trazer aqui, beleza?

— Acho bom. — ele murmura a contragosto com as mãos no volante. — Mas um de vocês vai ter que ficar aqui, eu não nasci ontem e não vou cair em nenhum golpe.

Eu me afasto, meneando a cabeça. É válido o homem pensar dessa forma, mas eu sinto um pouco de raiva por ele pensar isso do Peter e de mim. Vou até a Peter que apoiou as suas costas na lateral do carro, com os braços cruzados, visivelmente chateado com a situação, porém eu rio da comicidade das circunstâncias.

— Bom, pelo menos alguém está contente com essa situação. — Peter satiriza, me olhando. Eu paro de rir, sorrindo, coloco minha mão sobre um de seus ombros e digo:

— Peter, tudo bem. É sério. Eu vou lá em cima e em menos de dez minutos alguém vai aparecer aqui para pagar a corrida, não há problema algum.

— Eu só fico chateado por não poder ajudar. — ele se reserva a concordar com o seu humor mais ameno, eu ainda sorrio tirando a mão do seu ombro.

— Esquece isso, ok? Você já ajuda demais. Bem, eu acho que vou ficar lá em cima por um bom tempo para explicar o que aconteceu, dizer que estou viva. Você sabe, então... — Peter demonstra entender pela expressão e profere:

— Se cuida, tá?

Um sorriso genuíno cresce em meus lábios. Me cuidar... Deixando minha cabeça cair levemente para o lado, brinco:

— Juro que vou tentar. — ambos rimos, até que eu cesso o meu riso aos poucos. Abraço a ele brevemente o pegando de surpresa, mas depressa ele retribui o abraço, me afastando dele o avaliando percebo seu agastamento por debaixo de seu sorriso. Novamente me lembro que Peter é um herói, mas ainda assim um jovem rapaz. Um dos quais eu me preocupo não só por gratidão, mas porque eu realmente gosto dele. Tendo em mente os acontecimentos das últimas semanas, pergunto: — Você vai ficar bem?

— Sim. — ele me responde, o seu sorriso se suaviza um pouco como se recordasse de algo, e conta: — Alguém me disse que temos que manter a esperança, não importa o que aconteça. Há dias bonitos e dias sombrios. Ou semanas. Mas agora? Agora estou tendo um bom dia, eu estou bem e vai ficar tudo bem. — concordo com um meneio de cabeça com ele, é bom saber disso. — E você?

— Eu? — indago a mim mesma, logo raciocinando para dizer: — Eu te digo o mesmo, Peter. Agora eu preciso ir, qualquer coisa me ligue, você tem o meu número.

— Você também, tenha cuidado. Até. — ele diz com o seu semblante descontraído, pondo as mãos no seu bolso e apoiando-se no táxi novamente, o que faz o taxista resmungar algo sobre o taxímetro estar rodando e ele querer o seu dinheiro. Eu aceno um gesto positivo pra ele, me controlando para não ser grossa. Se eu vou pagar (mesmo que não seja o caso — mas alguém pagará em meu nome, provavelmente o Tony), não tem por que ele estar reclamando, não é mesmo?

Eu olho para cima vendo o símbolo mundial da esperança e defensor da paz nos últimos anos, o símbolo d’Os Vingadores. Voltando o meu olhar para baixo, passo pelas enormes portas do prédio e caminho até uma porta giratória de vidro que há dentro dele que me escaneia da cabeça aos pés, permitindo a minha entrada.

Há gente por todos os lados, indo e vindo, conversando, trabalhando, passando informações na recepção e recebendo. Mas eu sei exatamente para onde vou e não preciso de nenhuma informação para chegar até lá. Algumas pessoas me olham curiosas, e eu só posso presumir que seja porque elas pensam que sou parecida com “aquela dos jornais que Kraven matou”, então não dou qualquer importância e deixo que meus pés me guiem até a um dos elevadores principais que me levará direto para o andar específico d’Os Vingadores. O qual eu acredito que tenho acesso, desde que Tony um dia disse que eu tinha passe livre para ir e vir na Torre, e até morar por lá se quisesse enquanto eu o vigiava. É claro, usei o meu acesso para ir até a ele algumas vezes, mas não durou muito tempo porque Tony não tinha muitas coisas a esconder, seu estilo sempre foi do exibicionista problemático, e sendo assim, mais tarde, fui resignada para outras missões pelo Fury.

Coloco a minha mão sobre o scanner que lê as minhas impressões digitais ao lado do elevador, e sou agraciada com letras verdes e garrafais da tecnologia Stark antes de adentrar o elevador: “JESSICA M. WALLY ACESSO PERMITIDO”.

Senhorita Wally, seja bem vinda a Torre dos Vingadores. É bom vê-la em bom estado de saúde, apesar de alguns visíveis machucados, quando todos pensavam estar morta pelos últimos noticiários

— É bom reencontrar você também, J.A.R.V.I.S. — respondo a educada inteligência artificial que ecoa dentro do elevador. Tendo as portas transparentes do elevador fechadas, eu pergunto: — Escute, J.A.R.V.I.S., Tony, Fury, Hill, e Steve estão por aqui?

Sim, senhorita. Já informei da sua presença ao senhor Stark e aos outros desde a sua entrada na Torre...

— Droga. — resmungo comigo mesma, a chegada surpresa pelo visto, desta vez não vai funcionar.

Desculpe-me. Mas o senhor Stark me solicitou que o avisasse caso encontrasse sua localização ou alguma informação nova sobre a senhorita. Todos tem estado bastante preocupados procurando por você.

— Tudo bem, J.A.R.V.I.S. — eu devia ter vindo numa teia com o Peter, não de táxi, agora não tem como eu ver a cara deles de surpresa e ainda de sobra tenho que arranjar alguém para pagar o taxista. —, não há problema. Para onde exatamente estamos indo agora? — inquiro quando sinto a leve elevação do elevador pondo-se em trabalho subindo.

O senhor Stark me pediu que a encaminhasse para a sala d’Os Vingadores onde o senhor Rogers se encontra, enquanto ele e os outros se juntarão em seguida.

— Espera — é impossível conter a agitação dentro de mim só pela menção que estou indo encontrar Steve. — Steve está só?

Sim, senhorita.

Santo Deus. Stark, você é...

— E ele sabe que eu estou aqui? — pergunto quase que pausadamente, mas assim que termino espero com grande ansiedade a resposta, que J.A.R.V.I.S. diz:

Não, o senhor Stark me ordenou que não o fizesse. Ele gostaria de assistir a reação do senhor Rogers ao vê-la.

Um sorriso gigante se estampa em meu rosto, e mesmo que talvez Tony possa estar me vendo e gravando isso para depois se divertir a minha custa, eu não me importo. Stark, você é... Sensacional.

— J.A.R.V.I.S. você poderia me fazer um favor?

Contanto que não seja para descer o elevador, ou impedir os planos do meu chefe Stark, sim, senhorita Wally. Eu posso prestar meus favores nestes termos, o que deseja?

— Tem um taxista em frente ao prédio esperando que alguém pague a corrida que eu não posso pagar. Um rapaz me fez o favor de ficar lá enquanto eu vinha aqui e pedia dinheiro emprestado a alguém. — eu sei que posso ser muito pirada e folgada, ou muito mais do que isso, mas ainda assim pergunto ao J.A.R.V.I.S.: — Será que você poderia...?

Sim, senhorita Wally. Estou providenciando que a corrida do táxi seja paga em um instante.

***

Deixo um suspiro longo sair de meus lábios, sentindo uma onda de ansiedade subir pela minha coluna no momento em que as portas do elevador se abrem e J.A.R.V.I.S. diz que já chegamos ao andar principal dos Vingadores, na sala, onde somente Steve se encontra e agora eu também.

— Obrigada, J.A.R.V.I.S. — minha voz sai em sussurro que duvidaria que J.A.R.V.I.S. pode ouvir, se ele não me respondesse em retorno enquanto saio do elevador:

Ao seu dispor, senhorita Wally.

Eu percebo as portas do elevador se fechando atrás de mim e por mais que eu esteja ansiosa para rever Steve, tenho uma leve covardia no momento para fazer isso, então de forma irrefletida eu me viro ligeiramente para entrar no elevador, mas as portas se fecham por completo no momento que ajo.

Eu fito por um instante a minha “saída de covardia”. Por que diabos eu ia fazer isso? Eu há minutos atrás estava contente e ansiosa para reencontrar Steve e agora me encontro assim temerosa, sem motivos. Ou talvez tenha tantos motivos que agora eu temo que não haja uma recíproca dos meus pensamentos, sentimentos... De minhas expectativas... E se elas forem falsas? E se...

Foco, Jessie. Foco, Jessie. Foco, Jessie! Eu preciso repetir isso na mente para parar de pensar no que não deveria pensar. Foco, Jessie. É apenas um reencontro, não há nada demais nisso. Foco, Jessie. Giro os meus calcanhares para observar o recinto espaçoso em que me deparo inicialmente com a ampla sala de estar bem mobiliada que tem as suas paredes frontais transparentes que dão a bela vista do fim de entardecer da cidade de New York.

Eu dou um passo à frente, seguido por outro e outro, e vou indo muito bem consecutivamente enquanto adentro mais a sala e começo a observá-la sem sinal de Steve, com o temor idiota e a ansiedade crescente. Mais um passo a frente e tenho a total visão do lugar, meus olhos vão desde o primeiro ponto que eles recaíram digitalizando todo o resto, eu não encontro nada e a frustração começa a tomar lugar até que se dispersa quando vejo uma sombra alta, um pouco encurvada no canto esquerdo do ambiente. Uma sombra não, uma silhueta masculina. Um homem que observa silencioso, com uma de suas mãos apoiadas sobre o vidro transparente o movimento fora. Este homem é Steve e meu coração inevitavelmente dá um salto no meu peito com a constatação. Apesar do alvoroço dentro de mim, das batidas frenéticas do meu coração e toda a emoção forçando sair pela minha garganta, Steve permanece ali, quieto, silencioso, ainda sem o conhecimento de mim a poucos passos dele.

O que devo fazer? Devo dizer algo para chamar a sua atenção, ou devo ficar quieta, e esperar que ele me note? Ou posso simplesmente esperar Tony e os outros chegarem fazendo alarde para Steve virar o seu olhar para mim. Ou... Oh, Hulk! Eu não sei o que fazer! Eu devo...

— Steve! — tampo minha boca no instante em que percebo que gritei o seu nome querendo deter a confusão dentro de mim. Ele levanta no mesmo instante o seu olhar em minha direção, desapoiando-se do vidro, com o seu semblante transformando-se de alarmado para muito surpreso. O noto trajado com o seu uniforme de Capitão América quando ele vira-se por completo em minha direção. Avisto também o cansaço em seu rosto e há algo em seu olhar, intenso, algo a mais... Que é impossível para mim descrever. Retiro a mão de minha boca sabendo que foi uma impensada e péssima entrada, com ele me analisando como se quisesse comprovar se sou eu mesma a sua frente, tendo passos lentos em minha direção e parando o seu olhar em meu rosto, me pronuncio simplesmente: — Oi.

— Jessie... — o seu tom de voz brando, surpreso e esperançoso pronunciando o meu nome junto com o seu olhar avaliativo sobre mim novamente, faz um rubor se espalhar pelas minhas bochechas e o meu coração saltitar de 180 para 260, no mínimo. — Você está... — ele se cala, como se não tivesse mais palavras aproximando-se de mim com o seu olhar encontrando o meu olhar assim que fica a minha frente. Ele não desvia o seu olhar do meu, e eu não me atrevo, avisto um misto de emoções em seu olhar, sobre todos o de alívio quando ele exprime: — Viva. Onde você esteve? E-eu, nós, procuramos você e eu pensei... Pensei... Você estava viva durante todos esse tempo... Como? Isso é... Ah, Deus, eu sabia!

Não há chance para que eu responda as palavras atropeladas de Steve, porque os seus braços se estreitam ao meu redor me enlaçando em um abraço quente e afetuoso, por alguns segundos não sei o que fazer surpresa. Simplesmente no meu íntimo sinto-me feliz com o seu ato quando repouso o meu rosto contra o seu peito ouvindo as batidas do seu coração, tão agitado como o meu, quase em sincronia como se estivessem conectados. Abraço Steve de volta com o meu braço livre sentindo e passando o mesmo conforto. Eu estou viva, Steve está vivo. Permanecemos assim por um bom tempo, até que o seu abraço se afrouxa e eu sinto como se um vazio crescesse com essa quebra de contato que é minimamente suavizada quando eu levanto o meu olhar para ver o seu rosto e me deparo com os seus olhos azuis presos imediatamente aos meus, fitando-me com atenção e zelo. Muito perto, perto demais. Steve aparenta querer dizer algo, eu penso também em dizer, mas como em um efeito para tal proximidade as palavras nos faltam e parece que não há nada a ser dito, apenas feito.

Uma atmosfera diferente nos envolve e deste modo quebramos pouco a pouco essa barreira intransponível entre nós, perdendo o seu olhar e sentindo as nossas respirações se misturando em quase somente uma os lábios de Steve cobrem os meus em um beijo calmo, afetuoso, perfeito e completo de sentimento que me arrepia facilmente. Um beijo delicado que mexe comigo de maneira inexplicável, sentindo o calor emanando de seu corpo, a textura de seus lábios gentis sobre os meus, traço a minha mão até o seu pescoço para segurá-lo, retribuindo o seu beijo com mais ardor. Experimentando o sabor de seus lábios sobre os meus em uma inteira sincronia, envolvendo-me em uma onda de paixão que jamais senti. Em um sentimento que contém uma emergência de trocar qualquer aflição por este beijo, no instante que percebo os braços de Steve me apertando levemente, aconchegando-me mais em seu abraço. Tento extrair pelo beijo toda a sua aflição preenchendo-o com este sentimento inexplicável, até que de maneira inevitável temos que nos separar.

De olhos ainda fechados e com a sua respiração quente e descompassada contra o meu rosto. Isso foi... Uau. Santo Hulk. Com minha testa apoiada na sua, sinto a sensação do seu beijo reverberando ainda por cada fibra do meu corpo em um silêncio agradável, que é então interrompido por uma voz inconveniente que nos assusta, quebrando o encanto do momento:

— Uau, Sra. América não está somente viva como pronta para tirar a vir...

— Tony. — falo o seu nome, interrompendo-o na tentativa que ele não transforme isso em algo mais embaraçoso e constrangedor do que já é, quando eu e Steve nos separamos abruptamente olhando para os recém chegados acompanhados dele: Fury, Hill e Sam. Eu sabia que Tony chegaria em algum momento aqui, mas não imaginava que Steve e eu fossemos nos beijar assim... E que Isso poderia ser tão constrangedor quanto... Uau. Eu ainda não sei bem. O que foi isso?

— Oh, Stark, você agora me fez pensar bobagens. — Hill se pronuncia em um lamento do qual faz a minha pele da face esquentar como uma pimenta, juntando minhas mãos procurando uma saída para essa situação constrangedora e deixando de pensar no que aconteceu, ou a menos tentando.

Tony tem o seu riso debochado fitando a mim e a Steve. Ao seu lado Hill dirige o seu olhar a nós, junto a Sam que ri discretamente, e por último há Fury que tem o seu semblante sério e assustador no momento, com o seu indispensável tapa-olho de pirata, pronunciando-se:

— Por onde é que você esteve, agente Wally? — o seu tom de voz é grave e direto, me faz tremer intimamente hesitante, porém fico mais do que agradecida por me dar à chance de desviar o foco do momento constrangedor tendo agora todos atentos para a minha resposta. No entanto, quando abro minha boca para respondê-lo, confusa vejo surgir do corredor ligado à sala uma cortina esvoaçante vermelha que, espera!

— Oh, meu Deus, esse é o Thor? — pergunto embasbacada quando levanto o meu olhar e vejo que não é uma cortinha esvoaçante e sim um alto homem loiro e musculoso, com vestidura imperiosa e... Ele que me desculpe, sua cortina vermelha prendida aos ombros e um martelo preso a sua cintura.

— Em carne e em espírito de semideus. — Tony aclara quando eu gasto todo esse tempo fitando deslumbrada a Thor que me oferece um sorriso dúbio no meio da situação, e diz com uma leve reverência:

— Senhorita.

Eu não quero ser o cara que corta o barato, mas tire os seus olhos por um momento do ladrão de cortinas vermelhas e foque-se em responder a pergunta do Nick que todos esperamos. — Tony fala, mas permaneço encantada com a presença do asgardiano que só vi por arquivos e pela TV. Ele é mais do que espetacular visto pessoalmente. — Cuidado, Sra. América, esse Shakespeare é comprometido e seu velhote pode ter um ataque de ciúmes.

Desvio o meu olhar imediatamente de Thor sabendo que passei um pouco dos limites fazendo um papel de fã deslumbra, e olho de relance para Steve que capto me fitando de forma suspeita antes de olhar a Tony com desagrado. Droga.

A essa altura devo parecer um pimentão porque sinto a minha pele extremamente corada a cada segundo que se passa. Foco, Jessie. Suspiro tratando de esquecer erroneamente as emoções do momento, fitando a Fury, exprimo imitando as suas palavras de outro dia:

— Bom, a história pode ser bem longa.

— Não temos outros planos no momento. Você pode começar falando do começo. — olho para Steve que articula com um perceptível descontentamento controlado. Ele está com raiva por toda a situação, dá para ver pela sua postura, pelo seu tom, e pelos seus intensos olhos. E tudo o que tenho em mente é que quero beijá-lo novamente... Estou definitivamente encrencada. Meneio a cabeça tanto concordando com esse meu pensamento e com Steve, desviando do seu olhar e voltando à atenção para todos, preparada para dizer a minha aventura com o Homem Aranha e a última caçada de Kraven, digo antes de qualquer coisa:

— Mas eu vou querer um hambúrguer antes de começar.


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Notas finais do capítulo

Ai meu santo destruidor Hulk! ._.
Confesso que estou ansiosa para saber a opinião de vocês sobre esse capítulo... E sim, não é uma alucinação! Jessie e Steve se beijaram! E não, não esperem que depois disso tudo seja um mar de rosas. Oi?
Ah, e o Thor estar sendo citado pelo Tony como "semideus" é totalmente proposital. No filme Os Vingadores ele mesmo o refere assim, acho que é porque talvez Tony seja cético quanto a essas coisas. Eu acho.
Eheheheh, bem, acho que é isso. Estou sem previsão para o próximo capítulo, gostaria de dizer que teria já um na semana que vem, mas não me sinto 100% bem ainda e não consigo escrever nesse estado. :c
Acho que a partir de agora não vou fazer previsões, porque sempre que faço acontece uma tragédia pra me impedir. Hahahahahahaha, a sorte me persegue como persegue a Jessie. #entendaaironia
De qualquer forma, fiz um twitter pra mantes vocês mais inteirados (vamos ver se dar certo, eheheh), aqui está o link: https://twitter.com/hunterdeboraj
E isso é tudo, pessoal! Até breve!