Perpétuas Mudanças escrita por Hunter Debora Jones


Capítulo 20
Homem Aranha


Notas iniciais do capítulo

Olá, vingadores, agentes, asgardianos e cia!
Eu gostaria de agradecer a todos vocês que tem comentado nos capítulos e me deixando muito happpy e convencida! (ignorem essa última, eheh)
Como sempre, gostaria de esclarecer que essa fase tem como base a hq do Homem Aranha "A última caçada de Kraven".
E há também dois personagens novos. Um que terá enfoque futuramente, e o outro é apenas para seguir o enredo da hq. :)
Então pelo título do capítulo vocês já podem prever o que vem por aí, não é? Teve gente que acertou bonito, e teve gente que já sabia, e teve gente que passou longe de saber sobre o que aconteceu com o Homem Aranha. Mas este é o capítulo que vocês irão descobrir tudo! Então muita calma nessa hora e boa leitura!



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A sensação de vida e plenitude não me abandona, pelo contrário, reverbera por todo o meu corpo despertando cada sentido meu. É estranho e confuso. Ainda não conseguindo abrir os olhos, sinto um formigamento pela minha pele, mas não consigo me mexer, nem abrir a boca para pedir alguma ajuda. Não tenho ideia de lugar, espaço ou tempo.

Não conseguir ter total controle sobre mim começa a me incomodar, é como se eu estivesse lutando para sair de dentro de uma bolha impermeável e estivesse com a metade do corpo fora e a outra dentro. É frustrante, mas continuo persistindo.

Meus olhos se abrem com lentidão depois de muitas tentativas, tenho a breve visão de estar em uma sala e alguém de vestes inteiramente brancas, em pé, muito próximo de mim observando-me estirada no chão. Meus olhos se fecham sem que eu consiga evitar, sem que eu consiga ver o rosto da pessoa.

— Jessica Miller Wally... — uma suave voz masculina, porém exuberante diz o meu nome, e só posso presumir que seja da mesma pessoa próxima a mim que não pude ver o rosto. Ele ainda fala comigo e é estranho, eu sei que posso ouvi-lo, mas as suas palavras não se gravam no meu racional. Eu o ouço com toda a atenção, mas não consigo nem lembrar o que ele diz. Eu acho que simplesmente... Não posso. E isso me deixa agitada, no entanto, algo me impede de ter o controle sobre mim para perguntar algo, abrir os meus olhos e ver o seu rosto, ou simplesmente conseguir entender o que ele está falando. A angústia por fim me deixa, quando noto que começo a compreendê-lo: — As intenções boas resultam em restos quando os meios intocáveis são usados, diante disso não há dessemelhança do bom e do mau. E os meios intocáveis têm sido manejados sobre a Terra, ameaçando toda a humanidade.

Eu ainda luto para ter controle sobre mim, meus olhos se abrem e vejo as vestes quase incandescentes do homem que fala comigo. Impossibilitada, e frustrada, meus olhos se fecham, enquanto a sua voz repercute novamente:

— Em meio à grande ameaça, há ainda a esperança...

Eu não entendo, nem como não consigo... Somente posso gravar e racionalizar certas coisas que ele diz, e ainda assim tenho a plena convicção de que tudo o que ele diz é verdade.

— E uma escolha que você terá que fazer Jessica Miller Wally, um plano de mudança para você ascender... Protetora... Vencedora... Heroína... Destinada... Há a esperança para a Terra. Um novo começo para ela, para você.

O formigamento se intensifica sobre minha pele, fazendo ao mesmo tempo um calor aumentar sumariamente em meu corpo, enquanto o homem de voz profunda promete-me:

— Quando o momento chegar, nem tudo estará perdido. Onde há vida... Há esperança. Para a Terra há esperança. Tenha fé.

E então tenho certeza que consegui transpassar a bolha impermeável quando meus sentidos retornam completamente implacáveis. Repentinamente posso sentir em meu sangue o calor se espalhando violentamente. Ar fresco inflama pela minha garganta, abrangido em meus pulmões com uma força descomunal. E enfim, meus olhos se abrem, em conjunto com a minha boca quando me pego convulsa procurando não me engasgar com o meu próprio ar em meus pulmões.

— Isso que é estar viva. — digo tendo minha respiração um pouco mais controlada, mesmo ainda ofegando.

Levanto o meu olhar para visualizar o homem que estava falando comigo há pouco, mas apenas encontro uma sala ampla e vazia, móveis, objetos e quadros avelhantados bem cuidados com um toque “especial” de alguns animais empalhados, e até peles de animais como forros da mobília. Eu não tenho tempo para me questionar para onde aquele homem foi e o que ele quis dizer com tudo aquilo, porque tenho a plena certeza que devo estar ainda na mansão de Kraven e de infinitas maneiras isso não é uma boa coisa.

Espalmo as mãos no chão, sentindo dor e tontura enquanto sento-me, dando-me uma breve inspeção. Minhas roupas estão sujas, e há hematomas roxos em algumas regiões visíveis, e logo noto sobre a região do meu peito um pequeno dardo fincado na região do meu coração, a que tenho lembrança de Kraven disparando com o seu rifle em mim. Tiro-o rapidamente reprimindo um gemido de dor enquanto coloco-o com dedos trêmulos em um bolso interno da jaqueta. Não foi um tiro letal... Foi um dardo com algum tipo de droga que ainda não sei se é de fato letal, porque tenho os efeitos dolorosos repercutindo pelo meu corpo, e sendo assim precisarei de algum antídoto para que eu não morra, definitivamente, como acredito que seja necessário. Eu só preciso sair daqui e conseguir ajuda. Levantando-me, uma de minhas mãos esbarra com alguns jornais no chão, mesmo ansiosa para sair daqui, minha atenção é desviada quando me permito ler uns enunciados dos jornais:

NY DAILY NEWS:

ASSASSINO CANIBAL FAZ MAIS VÍTIMAS E PREOCUPA CIDADE DE NEW YORK”

Curiosa, com a quantidade de jornais resolvo prosseguir lendo ao menos os seus enunciados:

THE NEW YORK TIMES:

ASSASSINO CANIBAL DE NEW YORK ATACA NOVAMENTE!”

CLARIM DIÁRIO:

HOMEM ARANHA ENLOUQUECIDO”

Esse enunciado do jornal Clarim só reforça que Kraven precisa ser detido e que eu preciso de ajuda para detê-lo, preciso de reforço. Talvez seja à hora de esquecer o orgulho e chamar um dos contatos que Natasha me passou... Mas não tenho o meu telefone comigo, nesse caso saindo daqui preciso ligar para Fury, o único número que tenho gravado em minha memória com poder para me ajudar nesse momento, entretanto, antes que prossiga com essa nova tarefa sou abismada com o enunciado do último jornal:

AM NEW YORK:

AGENTE DA SHIELD, JESSICA MILLER WALLY, FLAGRADA TENTANDO MATAR HOMEM ARANHA HÁ DOIS DIAS É PROCURADA”

Que diabos...? Dois dias? Isso não faz muito sentido já que...

Releio os jornais procurando a data de emissão e todos datam dois dias recorrentes de quando eu fui flagrada na caça ao bobo sem teias. DOIS DIAS! Mesmo fraca e debilitada, o meu lado Hulk se manifesta dentro de mim. Mudança nos planos: eu preciso encontrar Kraven e adquirir a minha vingança.

— Você retornou. — eu reconheço a voz de Kraven de imediato e levanto o meu olhar para a direção que vem ela, encontrando a sua pessoa trajada apenas com uma tanga de pele de tigre e uma espécie de colete de juba de leão, com apetrechos de pele de animal em seus pulsos.

Levanto de uma vez ignorando a breve tontura e apertando o maxilar, enquanto lanço um olhar de fúria para Kraven, rujo:

— Dois dias! Não sei qual a macumba maluca que você fez, mas eu te digo uma coisa: você deveria ter me matado enquanto teve chance, bobo sem teias, porque agora eu vou acabar com a sua raça!

Kraven ri abertamente. Ele não se sente nem um pouco incomodado com a minha ameaça. Não, melhor, aviso. Porque eu pretendo acabar com ele, mesmo que isso desafie as probabilidades e a lógica...

— Você tem a prova, eu a derrotei. — Kraven comenta ainda com o sorriso desgraçado no rosto. — Eu a matei como faço com uma presa fácil e tomei a minha vitória.

— Está dizendo que a sua intenção realmente era me matar? — o corto, sentindo-me ainda mais furiosa. Alguém aqui não tem a noção do perigo que corre. E essa pessoa não sou eu. Acho.

— Exatamente, e eu consegui concretizá-la.

A memória da lápide dizendo “Homem Aranha. Morto pelo caçador” em seu jardim se faz bastante presente, causando-me enjôo, tontura e com certeza mais raiva. Não podendo deixar isso de lado, questiono Kraven:

— O que você fez com o Homem Aranha? E não me diga que ele está morto porque senão eu mato você!

Eu exalo pura fúria quando ambos nos encaramos. Kraven me avalia com semblante curioso e até de certo jeito impressionado, enquanto eu espero uma resposta sua que não vem de imediato.

— Não sei qual mistério da natureza a trouxe de volta. — Kraven denota passado algum tempo. — Mas mesmo que estejas aqui, meus planos não serão adiados. Permitirei que viva... Para meus planos.

Quem ele pensa que é? Deus?

— Ora, seu...

— Siga-me.

Kraven me dá as costas seguindo um caminho para fora da sala, sem repetir duas vezes. Eu me impressiono com o seu jeito insano e imprevisível, mas mesmo assim, tudo o que ele faz tem sido estritamente engenhoso. E mesmo me sentindo muito mal e impotente até certo ponto, não pretendo sair daqui sem respostas, então sigo o caminho de Kraven, mas esperta dessa vez.

O caminho termina em outra sala ampla, iluminada por tochas, com mais animais empalhados, e até um elefante por completo. Passando da porta e descendo as escadas que há Kraven pega em um canto um pau para tocha, e o posiciona em um barril de chamas que inflama logo o acendendo. Há próximo ao centro da sala uma gaiola de três metros de altura, e uns quatro e meio de largura coberta por um pano.

— O que é isso? — pergunto lentamente descendo as escadas, imaginando se o Homem Aranha não está preso aí. É impossível acreditar que ele esteja morto.

— Sssair. Quero ssair, por favor, deixe-me sssair. — estreito os meus olhos observando uma figura peluda, de calça surrada, de nariz grande e olhos também grandes e vermelhos, dentes e unhas afiadas dentro da gaiola após Kraven apertar um interruptor no canto da sala fazendo o pano subir. O que é isso? É como um animal, mas não é... Pois o seu físico, mesmo que de certa forma animalesco, ainda é como o de um homem, e a sua fala humana discordam da ideia visual. Ele toca as grades da gaiola tomando um choque que o faz urrar desesperado, retrocedendo para trás. — Me ajudem!

— Você precisa soltá-lo!

— Ssim. — a criatura concorda entre euforia e desespero.

— Ratus, você tem fome? — Kraven pergunta ignorando o que eu digo, observando a criatura, o homem. Eu sei lá o que é! — Quer carne?

A criatura, digo, Ratus, como Kraven o chamou, fica surpresa e logo encantada com tal pergunta e responde prontamente:

— Sssim, Ratuss tem fome. Ratuss quer carne.

Parece um animal, mas não é um animal, parece um homem, mas não sei ao certo se isso é verdade também. Mais ao certo é como uma criança desesperada, atormentada.

— Mas que raio de criatura é essa?! — exijo uma resposta, olhando duramente para Kraven que ri brevemente com o seu sorriso idiota, olhando-me por um momento, diz:

— Os jornais o chamam de “O Assassino Canibal”.

Lembro dos jornais, de um jornal específico que essa simples frase me remete a lembrança da manchete. Olho para o ser na gaiola.

— Ratus... Você a quer?

Então percebo que Ratus não aparenta mais ser um homem, nem uma criança desesperada ou atormentada, parece uma criatura, que tem os seus grandes olhos vermelhos com um brilho intenso e medonho quando me fita, e exclama:

— Ssim! Sssim!

— Não! Não! — rebato prontamente, olhando Ratus com renúncia e a Kraven com ódio.

Kraven eleva a sua mão até outro interruptor, que eu presumo que se ele apertá-lo irá soltar a criatura que até então eu tinha certa pena, mas que agora eu não tenho nem um pouco. Essa coisa quer me devorar!

— Não faça isso, seu covarde! — cautelosamente dou alguns passos para trás, ficando próxima da escada, caso Kraven realmente o solte. Eu deveria ter fugido há muito tempo, agora eu sei.

Kraven para com a mão quase ligando o interruptor. Um sorriso gigante surge em seus lábios, quando ele diz mais para si mesmo:

— Ele chegou.

Não entendo porque ele diz isso, mas fico grata pelo seu momento de distração. Ele abaixa a sua mão, acionando o interruptor que abaixa o pano com protestos de Ratus. Ainda sorrindo, coloca a tocha em um apoio na parede, e gira o seu corpo com o olhar fixo na porta como se algo extraordinário fosse surgir por ela. Eu o acho louco, mas então uma sombra surge através dela com extrema velocidade indo na direção de Kraven, que só a identifico quando dou por conta o símbolo em seu peito.

— Homem Aranha! — poderia ser outro falsário, mas o meu coração me diz com confiança que é o verdadeiro. Contente e agitada, querendo um retorno positivo quando os seus pés tocam o chão depois de jogar uma teia e a desfazer para chegar ao centro da sala, exclamo o seu sobrenome: — Parker!

A menos de um metro de Kraven, ele gira o seu pescoço em minha direção. E mesmo com a máscara e todo o resto tenho a confirmação: é ele! Foi imprudente exclamar o seu sobrenome na frente do vilão, mas não é como se eu dissesse o seu nome por completo e passasse o seu endereço.

— Como? O que? O que você está fazendo aqui? — ele me reconheceu!

— Bem — sorrio, o olhando timidamente. —, você pode não acreditar, mas eu estou aqui para salvar você...

— Ahn, ok. — a atenção então é novamente voltada para Kraven quando ele ri. — Ei, que tal depois a gente por o papo em dia? Eu tenho que fazer o meu papel de herói agora, sabe como é.

— Por mim, tudo bem. — o respondo tendo um aceno positivo de cabeça de sua parte, para logo depois ele se virar com fúria para Kraven, empunhando a sua força sobre ele com ferocidade, chocando-o contra a parede.

— Você passou de todos os limites desta vez, Kraven! — ergue um punho o ameaçando socá-lo, porém Kraven não reage. — Você roubou duas semanas da minha vida, seu animal!

— E dois dias da minha, seu bobo sem teias! — me intrometo tendo uma breve atenção de Peter, mas logo ele volta toda a atenção para Kraven desferindo um soco em seu rosto que eu não gostaria de ganhar nem mesmo morta.

Kraven cospe sangue, fitando o Homem Aranha com o seu sorriso insano. É uma afronta que o nosso herói não aceita.

— Eu vou fazer você sofrer! Vou fazer você gritar de dor! Eu vou... — o Homem Aranha promete segurando-o pelo pescoço contra a parede, mas ele somente tem o punho como uma ameaça, mas não o faz. Ele é um bom garoto que visivelmente queria estar bem longe daqui, mas o fardo do dever, sempre pesa. Eu reconheço isso.

— Vamos! Você pode me machucar e me bater centenas de vezes, Homem Aranha. — ele ergue as mãos a altura dos ombros, displicente e risonho. — Não resistirei, não vou lutar. Não há razão para revidar.

Caminhando até chegar próximo aos dois, Kraven elucida a dúvida que levanta a Peter, e a mim:

— Vocês não percebem? Eu venci!

— Quer saber? — indago para Peter, prosseguindo: — Volta a bater nele!

Peter não tem nenhuma ação no momento, nem fala. Alguns segundos se passam quando Kraven recomeça:

— Eu “matei” você, Homem Aranha. E matei a ela. E depois disso, tomei o seu lugar. Eu alcancei a minha vitória.

— Você me drogou, Kraven... —Peter denota destilando a raiva em suas palavras.

— E a mim também! — reforço. — Bate nele, Homem Aranha!

— Quer esperar um pouco antes de incitar a violência? — Peter me olha por um momento. Faço uma careta, dando de ombros e me afastando dos dois. Seja como ele quiser. Voltando o seu olhar para Kraven, prossegue: — Me pôs em um estado de morte aparente...

A mim também, na verdade, ele tentou realmente me matar... Bate nele, Homem Aranha! Desejo com todas as forças, mas não acontece. Peter o solta, para escutá-lo dizer:

— Você teria sido morto se eu assim quisesse. — Kraven deixa bem claro isso. Mais um motivo para Peter bater nele, mas ele não o faz. — Eu permiti que vivesse... — Kraven está novamente perto do interruptor, antes de pegar a tocha que havia colocado na parede. — Homem Aranha, eu o “matei” para que soubesse que depois, eu, ao vestir seu uniforme e substituí-lo, provei a mim mesmo sob todos os aspectos que... — ele aperta novamente o interruptor fazendo o pano subir, e dando novamente a visão de Ratus que pede sem parar para sair. — Sou superior.

— Ratus?! — Peter se surpreende, assustando com a presença da criatura.

— Você conhece essa coisa? — pergunto.

— Ah, ele e eu o conhecemos muito bem. — Kraven caminha até ter uma visão melhor para observar Ratus, que toca a gaiola com suas presas afiadas e leva novamente um choque, causando seu grito angustiado. — Uma perfeita fusão entre homem e animal que a sua organização deixou escapar. — espere, a S.H.I.E.L.D? Eu nem mesmo sabia de sua existência, eu não entendo. — Uma fera vil, atormentada e maravilhosa... Que eu derrotei... E capturei! EU. E a venci.

— Ssair... ssair... Deixem-me ssair, por favor! — Ratus leva outro choque quando coloca outra vez as mãos na grade. Fusão entre homem e animal. S.H.I.E.L.D... Eu não sei, mas acho que Ratus precisa de ajuda.

— Homem Aranha... — há um pedido em meu tom de voz que Peter entende, balançando a cabeça, mas Kraven continua com um sorriso gigante no rosto ainda discursando:

— Eis o teste final. A prova. Você foi incapaz de derrotar esse monstro sozinho. Você mal pode garantir a sua captura, e teve ajuda daquele estranho. Mas eu venci Ratus, sozinho.

Kraven joga a sua tocha dentro da gaiola deixando Ratus completamente desesperado, encolhendo-se o mais longe possível dela.

— Fogo-fogo-fogo-fogo-fogo. — ele repete consecutivamente, então Peter se aproxima da gaiola para tentar fazer algo, mas só agrava ainda mais o estado de desespero dele: — Homem Aranha, nãão! Não me machuque maiss! — ele corre na direção contrária a que Peter, o Homem Aranha aparece, dando de cara com as grades e levando mais uma vez um choque. O que Kraven faz é desumano. Peter lança uma teia na tocha dentro da gaiola a puxando e a joga na direção de Kraven que não se move um centímetro. Ainda tem aquele sorriso insano e satisfeito no rosto, com se estivesse se divertindo com uma piada que só ele sabe. A tocha não o acerta, mas outra coisa vai a sua direção furiosa, bradando o seu nome, agarrando-o pelo colete pitoresco dele.

— Eu estou cheio de você, Caçador! Estou cheio das suas artimanhas, e da sua risada de gorila retardado, o jogo acabou! Você me ouviu?! E se pensa que simplesmente vou jogar o seu jogo para a sua satisfação, você está muito enganado!

A reação de Kraven a ofensiva de Peter não é diferente de algo esperado. Como Peter mesmo disse, Kraven ri como um gorila retardado. Diante disso, não querendo mais reprimir o que quero dizer, expresso:

— Eu sei que você não quer que eu incite a violência... — faço uma pausa, respirando fundo. — Mas nesse caso, se eu fosse você eu bateria nele!

É lógico que Peter não me dá ouvidos, embora esteja contendo uma visível fúria enquanto encara a Kraven, que ri outra vez. Louco. Cansada de tudo isso, caminho até perto das escadas, onde há uma porção de paus para tochas e pego um deles indo até o centro da sala. Virando-me na direção dos dois, ajeitando a madeira em minha mão como se fosse um bastão de basebol articulo:

— Está certo, Homem Aranha, se você não quiser bater nele, manda pra mim que... — Kraven nos surpreende descruzando com força brutal os seus braços que até então estavam cruzados, afastando Peter de si, enquanto agarra-se ao elefante empalhado próximo deles o subindo para sentar-se em seu topo e soltar um grito como um homem das selvas. Esse cara é estranho, eu disse.

Cale a boca! — Peter ordena depois de não pensar duas vezes, agarrando a estrutura do animal empalhado e levantá-lo com as duas mãos, causando uma queda de Kraven com força em um dos lados da gaiola que Ratus está preso, e depois com o choque levado com o impacto com a grade cair próximo a mim. Peter joga o elefante para longe.

O impacto de Kraven com a gaiola causa uma pane deixando a eletricidade da grade ter um sobrecarregamento fazendo-a subir até o teto. Ratus grita aflito quando percebe o que está acontecendo, mas eu somente olho Kraven agachado próximo a mim, massageando um de seus ombros, provavelmente dolorido por causa da queda, ou o choque. Bem feito, e foi menos do que ele merece. Achando ótimo que ele tenha provado um pouco do seu próprio veneno, eu seguro a barra de madeira entre os meus dedos com força e desfiro um golpe contra a cabeça de Kraven.

— Oh-oh. — balbucio dando por conta que houve somente um estalo antes do pau se partir em dois e não causar basicamente nenhum estrago em Kraven, que por sinal, percebeu a minha tentativa. — Hey, acho que esse é um trabalho para você, Homem Aranha! — profiro com um sorriso vacilante.

Kraven, sério, levanta-se retornando a atenção para o herói aracnídeo quando eu me afasto alguns passos dele por precaução, com punhos prontos se ele vir para cima de mim, porém ele caminha até Peter, dando-me um breve alívio.

Peter fica parado na sua, tendo toda a atenção minuciosa de Kraven sob si, até que o caçador faz um movimento inesperado... Elevando a sua mão até o rosto mascarado de Peter em um gesto... Afetivo... Isso é bem estranho, até mesmo se tratando dele, que diabos...?

Peter provavelmente se faz a mesma pergunta, porque ele afasta a mão do caçador com a sua em um gesto de desprezo e estranheza. E em mais um movimento imprevisto, Kraven próximo ao interruptor aperta um dos botões, abrindo o alçapão da gaiola deixando Ratus cair em gritos alguns metros de altura direto no chão.

— Saia daí! — Peter grita a mim quando percebe que Ratus se arrasta até a minha direção, sendo mais ligeira, eu ordeno os meus pés a correrem na direção oposta antes que a criatura canibal me perceba.

— Este é o ato final, Homem Aranha. — Kraven pronuncia, cheio de si.

— Eu não irei lutar para a sua diversão! — ele o rebate exaltado.

— Não para a minha diversão, para a minha emancipação!

— Não irei fazer isso, Caçador. — Peter anuncia se aproximando de Ratus para checá-lo, mas quando o vê ele se encolhe de pavor, repetindo para não machucá-lo.

— Ratus... Esta é sua chance! O Homem Aranha derrotou você... Machucou o seu corpo de uma maneira que você jamais poderia imaginar! — Oh, merda, posso compreender aonde ele quer chegar com esse papo e não é a alguma coisa boa. — Não deixe seu inimigo escapar! Não permita que ele se julgue melhor... Mais forte que você! — as feições de Ratus, até então apavoradas, mudam drasticamente com interesse no que o Caçador diz, querendo poder evitar ao máximo que a criatura, ou o homem apavorado aclame sua raiva, intervenho:

— Hey, cara, sem incitar a violência aqui, por favor!

— Revide, Ratus! — é, não deu certo, porque Kraven prossegue despertando toda a atenção de Ratus. — Você deve isso a si mesmo... A todos nós! Retribua sua DOR! — é tarde para tentar dissuadir a Ratus, pois é possível ver a raiva dele. A fera meio homem, o homem meio fera, que pende ao seu lado animal, lançando-se em ferocidade rugida contra o Homem Aranha.

— Cuidado! — grito a Peter, enquanto ele desvia das garras afiadas de Ratus que tentam machucá-lo.

— Ratus, não! Ele está te usando!

— Mentira! — ele não o dá ouvidos a Peter que continua a desviar de suas presas ligeiras.

A verdade é que presumidamente Kraven se passou por Homem Aranha e fez Ratus prisioneiro, e causou todo esse mal entendido com ele só para o seu próprio divertimento. Ratus não pode ser tratado como um inimigo “normal”, ele é alguém que precisa de ajuda e Peter sabe disso, por isso não o revida e tenta convencer que Kraven planejou tudo, mas Ratus não entende.

— O jogo está acabando. — Kraven diz simploriamente, com o semblante sem emoções quando prende os meus braços com os seus nas minhas costas, quando tento correr até Peter para ajudá-lo com Ratus de alguma forma.

— Me solte, Kraven!

Piso em seu pé, tento acertá-lo com a minha cabeça, me debato e nada. Nada dá certo, bater nele, de certa forma é como bater em uma muralha e eu não estou no meu melhor físico. Suspiro dando-me uma trégua, confiando que Peter lide com Ratus sem ter qualquer ajuda, mesmo sabendo que a única vez que ele lutou com essa fera ele teve ajuda, e que não conseguiu capturá-lo sozinho (segundo o relato de Kraven), e que ele tenha estado essas duas últimas semanas desaparecido em estado de morte aparente.

— Certo, é assim que será então! — inesperadamente, totalmente cansado de desviar-se de Ratus que não o dá ouvidos, Peter explode: — Ele atirou em mim, me enterrou! — Peter desfere socos e mais socos em Ratus. Santo Hulk! Enterrou? Isso é horrível. — Ele me enterrou! Sabe o que é isso, seu animal estúpido e asqueroso? — o dá mais um soco forte no rosto de Ratus, invertendo totalmente os papéis. — Você sabe o que é isso?!

Kraven solta os meus braços. Puxando-os e mexendo os meus ombros olho a Kraven com repugnância me afastando dele, voltando à atenção para Peter que para com o seu punho no ar, e enfatiza:

NÃO.

Há algo estranho no ar, a sensação de perda. Todos percebem nesse pequeno instante de tempo — menos Ratus, logicamente. É notório que Peter percebe que jogou o jogo de Kraven, não só ele, todos nós, e que ele foi o vencedor. Virando o meu pescoço em sua direção vejo o sorriso satisfeito em seu rosto.

Ratus aproveita a distração de Peter, invertendo a posição e arranhando-o com uma de suas garras em seu peito.

— Não! — eu grito. Ele o arranha outra vez enquanto Peter tenta se afastar, Ratus soca e o chuta com rapidez, em seguida subindo em suas costas derrubando-o no chão, e dizendo sadicamente:

— Agora, Homem Aranha... Eu irei devorar você!

— NÃO! — um chicote atinge a Ratus quando estou quase me jogando contra ele no tempo em que ele está prestes a ferir com suas garras drasticamente a Peter, e cumprir o que prometeu.

Uma de suas mãos levantadas é atingida por uma faca que finca em sua mão com precisão a prendendo ao corpo do elefante empalhado atrás de si. Ratus urra surpreso de dor, mas felizmente Peter ainda no chão longe de ser devorado pelo canibal. Eu não me aproximo porque espero saber qual é a jogada de Kraven que fez tudo isso, depois de incitar a Ratus a atacar o Homem Aranha.

— Eu já provei o que queria. Seu trabalho terminou. Vá. — de repente o rosto de Kraven está muito tranquilo quando ordena isso a um Ratus surpreso.

— Ir...? — ele pergunta com temor, retirando a faca de sua mão ensangüentada.

— Vá!

Não é preciso que Kraven diga uma terceira vez antes de Ratus sair em disparada escada acima gritando sua liberdade. Eu não posso deixar que ele vá embora assim, ele pode ser um homem em parte, mas há uma grande parte insana e canibal predominante que não pode ficar a solta por aí. Cogito ir atrás dele sabendo que Kraven tem a total atenção em Peter, no Homem Aranha, mas por outro lado não posso deixá-lo sozinho e debilitado na companhia desse louco, mesmo que eu esteja tão debilitada quanto ele.

— Kraven... Você não pode deixar ele solto... — Peter se esforça para falar, ainda no chão. Então eu sei que tenho que fazer uma escolha entre ir atrás de Ratus, ou ficar junto com Peter, mas... — Ratus... Já matou antes... Vai matar de novo...

Não, ele não vai. Minha escolha está feita quando corro em disparada subindo as escadas, não tendo Kraven vindo atrás de mim, e isso de um jeito me deixaria aliviada, se por outro lado não resultasse que Peter teria que ficar sozinho e lidar com ele.

Correndo pelas salas dentro da mansão, e sentindo uma exaustão e tontura me assolarem enquanto tenho o meu coração disparado — provavelmente efeitos da droga que Kraven me injetou, esforço-me para me manter de pé seguindo o rastro de sangue que Ratus deixa. Enquanto corro, sinto dor, mas também sinto algo preso no cós da minha calça nas costas que me remete a lembrança da minha arma. Que eu não tive, nem pensei em usá-la quando Kraven me abateu, mas que agora será de grande ajuda. Retiro a arma do cós da calça chegando ao hall da mansão, enquanto me questiono que tipo de vilão se esquece de ver se o seu inimigo está armado, mas Kraven disse que sua intenção era realmente me matar, e me sentindo tonta, dolorida, e exausta assim, acredito nele. Não é a minha preocupação no momento também, pois tenho o vislumbre de Ratus correndo pelo pátio em direção aos portões escancarados da mansão. Corro atrás dele, parece tudo muito bem planejado para que tudo dê errado para o time dos mocinhos, nem cheguei a encontrar os seguranças de Kraven. Paro, mirando a Ratus, segurando o ar em meus pulmões, concentrada, atiro.

O tiro é certeiro, Ratus cai no chão, mas logo se levanta vacilante e ligeiro, exclamando com raiva e fugindo do meu campo de visão para a rua. Soltando o ar dos pulmões, corro ofegante até os portões que dão para a rua, mas apenas consigo visualizar Ratus entrando por um dos bueiros.

— Droga. — caio no chão completamente exausta, com cada fibra do meu corpo gritando de dor enquanto a vertigem aumenta. Alguém se aproxima pondo-se ao meu lado, e passando um de seus braços em minha cintura, colocando um de meus braços sobre o seu ombro, amparando-me. Ergo o meu olhar, contente por ver o verdadeiro Homem Aranha. Vivo.

— Você conseguiu. — comento feliz, depois de dar umas inspiradas tendo em mente que toda a dor é psicológica, sendo assim, empurro-a mentalmente para longe.

— Eu ainda não sei bem se sim, mas não vou reclamar. — Peter rebate ajudando-me a me colocar de pé. Eu não faço ideia do que aconteceu lá dentro com ele e Kraven e para ser sincera nem quero saber no momento, fico satisfeita em saber que Peter está bem e retornará para a sua casa, para a sua tia. — Onde está Ratus?

— Ele fugiu por um bueiro, sinto muito. Eu atirei nele, mas não consegui detê-lo.

— Droga. — Peter resmunga notoriamente esgotado. Acenando com a cabeça, me afasto de Peter o suficiente para ser amparada por ele, novamente devido à tontura. — Não é culpa sua, Ratus é muito forte, preciso ir atrás dele... Mas preciso levá-la a um hospital antes.

— Não! — veto imediatamente essa ideia, ainda amparada por ele, fechando os olhos repreendendo essa dor alastrante que me revolve, pigarreio e prossigo: — Eu não posso ir para um hospital. Digamos que eu tenho alguns amigos me procurando para cobrar algumas contas.

Mesmo com a máscara, tenho a plena convicção que Peter tem em seu rosto a indecisão, discordando do que eu digo. Não posso correr o risco de desmaiar, ou cair em uma soneca e Peter me levar para um hospital, portanto articulo persuasiva:

— Olha, se eu preciso de um hospital você também precisa. E você não vai querer revelar a sua identidade para a ficha médica, não é? — nem ao menos o deixo responder, e arremato: — Não. Talvez eu realmente precise de um atendimento médico, então aceito a sua ajuda... Mas eu falo sério que não duraria nem três minutos em um hospital antes que alguém aparecesse para me matar... — enfio uma de minhas mãos na jaqueta, pegando o dardo pelo qual fui atingida por Kraven, entrego a Peter, continuando: — Olha, faz dois dias que Kraven me injetou algo... Talvez isso possa ajudar, ou eu só precise de um descanso, não sei... Mas pense, se eu fosse morrer, já não estaria aqui.

— Está certo. — Peter suspira, dando-se por vencido. — O que você sugere então?

— Me leve para a sua casa. Conte a sua tia que você é um herói e tenha a sua ajuda. Soube que ela tem noções de enfermagem, certo?

— Ah, você não vai me convencer a fazer isso...

Ah, eu vou sim. Sorrio minimamente diante o desafio.


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