Perpétuas Mudanças escrita por Hunter Debora Jones


Capítulo 19
Medo


Notas iniciais do capítulo

Olá, agentes, vingadores, povo marveleiro e cia!
Mais um capítulo na área depois do capítulo anterior que deixou 90% das pessoas com cara de esquilinho dramático. E agora, chega mais um capítulo para agravar a reação de vocês, haha. Ou não.
Capítulo um pouco maior porque vocês encontrarão as respostas das perguntas que tanto faziam, e mais alguns mistérios. Espero que gostem!
Boa leitura!



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Quente.

Escuro.

Pesado.

Aterrador.

Seja que lugar for esse, definitivamente, eu não gosto daqui. Seja quem eu for, eu não gosto da sensação.

— Jessica.

Uma voz familiar chama próxima de mim. Eu já ouvi este nome, mas não me recordo de outra coisa além da sensação de conhecê-lo, aliás, quem é Jessica?

— Jessica Miller Wally! Levante-se já dessa cama, ou eu não respondo por mim!

A voz experiente diz autoritária. Bastante familiar... Eu sou Jessica Miller Wally?

— Eu ainda tenho aquele cinto de castigo quando você era uma garota, não me faça tirá-lo do molho, Jessica!

A espessa escuridão que me cobre se dispersa quando por surpresa, e curiosidade começo a procurar o dono da voz. E então me encontro sentada em uma cama, envolta de um cobertor. E eu sei que conheço este lugar olhando ao redor, e também me recordo do dono da voz quando o vejo a minha frente, encarando-me com expressão séria.

— Vovô?

— Não, querida. O Capitão América. — seu tom é zombador conjuntamente com uma expressão rabugenta. — Você já está nesse quarto faz uma semana, está na hora de se levantar, e enfrentar a vida. Eu não suporto mais vê-la nessa depressão. Vamos, minha neta, levante-se. — por mais que sua postura seja mandona, eu posso captar em sua voz compaixão e carinho. Ele realmente é o meu avô, mas sou a Jessica que ele chama? Como posso recordar dele, e não de quem eu sou?

— Vovô... Eu... Eu não entendo. Eu... O que aconteceu? Como você...

Incoerência e medo me tomam. Vovô está morto há anos.

Suspirando e vendo-o com olhar de ternura sob mim se estender em seus olhos, ele senta-se na cama, tomando a minha mão com a sua.

— Aconteceu, minha neta, que você está se deixando se sufocar pela verdade. Pelo medo. Eu sei, entendo o quanto é difícil aceitar as cruéis verdades que a vida nos impõe. Como é difícil aceitar a morte... — seu olhar brilha com lágrimas, mas ele não chora. Eu sinto um crescente medo, mas quando ele aperta a minha mão, posso me sentir consolada e protegida, ele prossegue: — A morte de alguém tão próximo de você. Acredite, eu sei, porque ele podia ser o seu pai, mas ele nunca deixou de ser o meu garoto. O meu amado filho rebelde que me deu tanto trabalho como orgulho e que agora sabemos que se foi... É difícil, mas não podemos viver com essa dor, Jessica. Minha neta, seu pai partiu como um herói deixe-o que assim seja em sua memória. E então viva, honrando o seu nome que eu sei que você é capaz.

— Eu me recordo. Eu já vivi esse dia... Meu pai está morto. — instintivamente encolho os meus ombros puxando a minha mão, eu sinto todo o medo controlado se agitar novamente. Eu não quero ser Jessica. O medo é a única coisa que há nela. — Você está morto.

Ele me olha intrigado e divertido.

— Ora, eu, morto? Eu sei que já sou velho, mas ainda tenho uns... Meu Deus! Você... Tem razão, eu estou morto.

Um ribombar estronde em meus ouvidos com um manto de escuridão nos cobrindo, afastando-nos assim também. De repente, vejo copas de árvores se erguerem, e um verde se materializar ao nosso redor, conjuntamente construindo uma realidade reconhecida por mim em instinto. O medo predominante em mim tem de sobreaviso o que acontece, e comprovo quando ergo o meu olhar no meio da assustadora escuridão, levantando-me do chão e encarando as seguintes letras:

GERALD B. WALLY

Essa é a minha soneca mais longa... Hey! Não pise na grama!

27-10-1919 07-02-2003

Esse é o cemitério em que vovô e papai foram enterrados lado a lado, e essa é a sua lápide de humor cômico como ele queria que fosse. Ao lado, está à lápide de John Hervey Wally, meu pai, enterrado com honrarias de um militar, como ele era. Mas isso não importa, os dois estão mortos.

— “Soneca mais longa”. — é o que vovô diz entre uma longa gargalhada, estando ao meu lado. — Eu temi que não fossem honrar meu último desejo, mas graças a Deus, eu tive os melhores netos do mundo. — ele tenta controlar o seu riso, respirando fundo por fim. Mas ele está morto, o que torna tudo muito confuso para mim. — É, eu sinto saudades.

Eu não digo nada. E nem entendo. E o silêncio assim se estabelece.

— Eu também estou morta. — digo fitando a lápide que me lembra do meu último suspiro, me lembra além, de que eu também sou uma dos Wally. Jessica Miller Wally. Apenas mais uma dos Wally morta.

— Não, você não está.

— Vovô...?

— Você não está morta, querida, mas estará se não conseguir enfrentar e superar os seus medos. — eu o olho. Ligeiramente ele vira o seu rosto para mim, com as mãos em seus bolsos da calça, com um brilho emocionado em seus olhos. — Sentir medo é o que mantém as pessoas vivas, Jessica, mas alimentá-lo é destrutivo. É preciso sentir o medo e o superar. Sinta o medo e o destrua. Sinta o medo, e abrace a verdade bem forte. Use-a ao seu favor. É assim que tem que ser, é assim que sempre foi conosco... — ele aproxima-se de mim, e eu posso me recordar com clareza dele e de mim, até o dia em que ele se foi. — É hora de lutar mais uma vez, guerreira. Eu sei que você sente medo, mas irá enfrentar porque você é uma Wally. E nós sabemos, um Wally jamais perde uma boa briga. — ele faz uma pausa, porém logo prossegue: — Siga em frente, abrace a verdade e faça a sua própria música quando ela tentar te por para dançar. Seja criativa. — ele pisca um de seus olhos, divertido.

Como posso sentir tanta esperança, sabendo que morri? Pois eu morri, certo? E sendo assim, como poderia rever o vovô e optar a abraçar a verdade crua em que ele não existe mais?

— Isto... Você... É real?

— Real... Hmm, a realidade é o gesto visível das mãos invisíveis de Deus, então, o que isso te parece, minha neta? — um sorriso contente aflora em seus lábios, arqueando levemente suas sobrancelhas brancas. — Eu estou feliz por revê-la e orgulhoso de você. — estendo uma de suas mãos em minha direção, diz: — Viva, continue o nosso legado.

Olho para sua mão, depois para ele. Eu ainda temo, mas raciocinando suas palavras, ergo a minha mão até tocar a sua sentindo a suavidade dela — é o vovô, eu sei. E então, em um instante tudo se torna sombrio e irreal. Vovô some a minha frente como a fumaça de um esqueleto que se evapora.

Estou só novamente, sentindo um frio transpassar em todo o meu ser, notando que me encontro em uma sala completamente tenebrosa e que além de mim, só há uma coisa nela: uma porta.

A poucos passos de mim, ela vibra, com uma luz clara em suas bordas. Ela espera ser aberta por mim, e não tenho a ideia de como sei disso, mas há algo assustador por trás dela que chama por mim. Eu estremeço de pavor, eu não quero isso.

Eu sei que você sente medo, mas irá enfrentar porque você é uma Wally. E nós sabemos, um Wally jamais perde uma boa briga.

Eu me recordo dos medos insuperáveis de minha vida, foram apenas três, os quais desencadearam uma sequência de outros. Eu sei que superando eles, não teria mais nenhum peso em mim, e acabo de ver dois deles. E superá-los, com a ajuda do vovô. A aceitação da morte do papai... E o vazio da perda do vovô foi difícil. Eu não me acho capaz de enfrentar o próximo... Eu não posso.

Todos morreram, eu também morri... Não, vovô me disse que não! Vovô está morto e isso é ilógico, mas eu posso sentir como se pudesse alcançar o anelo da vida, posso sentir em algum lugar que ainda posso viver. Há tanta coisa confusa, inacabada.

E Steve Rogers? De quem é esse nome? E por que ele não sai de minha memória quando todo o resto está nebuloso? Eu sinto medo, mas eu preciso viver. Eu tenho que descobrir. Eu tenho que viver.

Eu sou uma Wally.

Andando até parar em frente à porta a vejo ficando a cada segundo mais sombria, até a sua vibração por trás dela aumenta. Gigantesco medo. Meu medo. Há quanto tempo eu tenho vivido assim, com ele? É sufocante, pesado... Há quanto tempo eu me movo com essa culpa? Com o coração assombrado? E... Sem esperanças?

Eu só queria poder me encolher e cair em um sono profundo sem sonhos, sem pesadelos, mas isso é o medo me consumindo, me dominando. Eu sinto.

Quem é Steve Rogers? Por que o fragmento desse nome me enche de esperança? Não sei de onde vem essa esperança, mas a certeza é que preciso viver e desvendar o que tudo isso significa. O propósito. E o peso do medo é exaustivo, estou cansada de fugir disso. Preciso enfrentar, seja o que for.

Eu fito a porta pensando nisso uma última vez, e sem pensar em mais alguma coisa, ligeiramente estendo a minha mão para alcançar a maçaneta e a giro. Em um rompante, me vejo caindo diretamente no pior dos pesadelos.

Sinto a freada do carro, e o cinto apertando o meu peito com a parada brusca.

— Ataquem. — uma voz familiar dá a ordem ao meu lado, virando o meu rosto para olhá-lo, eu exclamo:

— Adam!

Ele guarda o seu celular no bolso, voltando o seu rosto para mim. Eu o reconheço. Ele também está morto.

Eu estremeço, minha memória principia a ficar bagunçada, não compreendo.

Adam levanta a sua mão tocando a minha face, instintivamente eu me afasto do seu toque com o olhar assustado.

— Ei, tudo bem com você? — ele me pergunta, preocupado. Adam está morto, mas não consigo me lembrar de como, mas eu tenho o rastro da culpa em minha memória confusa. Ele tenta se reaproximar novamente, eu me afasto. É tudo tão confuso. — Jess...

Ele não prossegue porque alguns jipes passam por nós tomando a minha atenção com o seu alarde. Há civis sentados nas janelas e... Não! Eles não são civis! São homens fortemente armados, que começam a descarregar suas armas, metralhadoras na direção dos caminhões protegidos pela equipe da Blackfag entre eles, que também são alvejados. É uma emboscada! Um ataque! E eu só sei de uma coisa no momento: meus instintos precisam agir.

Puxo a minha arma do cós da minha calça, abrindo a porta do carro e a usando como escudo, a disparar contra os outros atiradores.

— Jess, me escute! — Adam me grita, agachando-se no banco do nosso carro quando alguns tiros são disparados em nossa direção. Ele toma a arma de minha mão inesperadamente, e captando a minha atenção. — Hey! Hey! Não atirem, porra! Eu estou aqui, não atirem! — ele exclama irado, levantando as palmas das mãos em rendição com a minha arma na mão. Encaro-o abismada.

— Adam! Ficou louco?! — eu o puxo pela manga de sua camisa, tomando a arma de sua mão nos colocando atrás da porta aberta do carro, e percebendo a tamanha da loucura que ele está fazendo. Por sorte ele não é alvejado por nenhuma bala. O ataque persiste com a equipe Blackfag, até com granadas. — O que está pretendendo fazer, se matar? Nos matar?!

— Jess, calma, está tudo bem... — eu não lhe dou ouvidos, e volto a disparar nos filhos da mãe que voltam a revidar, até eu ficar sem balas. — Jess!

— Cala a boca, Adam! Se vai amarelar, beleza, mas vê se não nos ferra! Deixa comigo que eu me garanto por nós dois. Depois a gente conversa. — jogo a arma sem balas para ele, procurando no chão do banco do carona a arma automática M249. Mesmo não tento grande armamento como o inimigo, fico animada ao encontrá-la, eu sabia que ter trago ela não seria algo desnecessário, e não posso deixar de dizer a ela: — Oh, gracinha, vem pra mamãe.

Preciso ser rápida, antes que o milagre deles não atirarem em nós acabe. Puxo a mochila com a munição para carregar à metralhadora, enquanto Adam volta a falar:

— Desculpe, Jess. — algo duro atinge a minha nuca, e enxergo tudo turvo até enxergar por fim tudo escuro.

Algumas memórias fragmentadas tentam se encaixar. Eu sinto medo. Não da escuridão, ela não me assusta muito, mas o que vem depois dela sim. É terrível. E há algo incompleto... Quente, escuro, e ouço um ribombar que me deixa tonta e confusa no meio de todo esse medo. Eu sinto a consciência retornando a mim, livrando-me de todas essas sensações, menos do medo, abro os olhos, enxergando embaçado. Pisco algumas vezes olhando ao meu redor com a visão melhor, e constato que estou no depósito de algum lugar, porque há cadeiras, mesas, ventiladores entre outras coisas velhas, e empoeiradas. Eu não me lembro de como vim parar aqui.

— Adam... — murmuro o seu nome, sentando-me no chão, notando ele agachado quando vejo um movimento a menos de um metro de mim.

— Você acordou. — ele gira o seu corpo agachado para mim, olhando-me. Levantando-se do chão ele caminha até a mim, estendendo-me a mão que eu a seguro tendo sua ajuda para levantar do chão. — Sinto muito ter acertado você. — sinto uma pontada de dor na minha nuca, levando a mão até ela para massageá-la. — Mas você não me ouvia e estava incontrolável. Você está bem? — ele segura o meu pescoço, afastando o meu cabelo da região que dói, examinando-me com preocupação.

—Espere... — afasto-me dele, o lançando um olhar mortal e questionador. — Você me acertou?

— Eu já disse que sinto muito. — ele resmunga na defensiva. — Mas eu disse que você também estava incontrolável, não ouviu essa também? Estava prestes a descarregar uma metralhadora no meio de...

— Nós estávamos sendo atacados. — eu me recordo enfim. Mas há algo incompleto, assustador, que não me lembro. — Adam! O que aconteceu? Os Blackfags estão bem? Onde eles estão?

Então ligo os pontos, não estávamos exatamente nos locomovendo por uma região pacífica de Fallujah. Os conflitos pela região têm sido tratados com delicadeza nesses anos pelo governo norte americano, mas nunca houve nenhum incidente de grande gravidade até então, quando hoje, presumidamente digo que insurgentes — rebeldes — surgiram do nada para nos atacar. E a equipe Blackfag chama a atenção, nós também chamamos a atenção. Fomos o alvo.

Adam ri da minha pergunta.

— O que é tão engraçado, Adam?

— Nada... Nada. — ele controla o seu riso, voltando à normalidade. Eu intensifico o meu olhar sobre ele. — É só que até ontem você estava rangendo os dentes de ódio para arrebentar com os Blackfags, disse até que se pudesse pegaria o Tyler atiraria nele porque não aguentava mais as suas gracinhas, e amarraria o seu corpo na ponte do rio Eufrates e picharia em seu peito “idiota” só por diversão. E agora, você está se preocupando com eles. Você realmente é uma figura, Jess. — ele retorna a rir terminando de falar. Eu reviro os meus olhos.

— É um impulso que às vezes fico feliz por não me dar o luxo de obedecê-lo, porque provavelmente perderia o meu emprego se o fizesse, e a minha liberdade. — constato, Adam sorri meneando a cabeça e se afastando de mim, enquanto eu somente o olho, e reformulo novamente a pergunta anterior: — Mas o que foi que aconteceu? E os idiotas, onde estão? Os insurgentes foram neutralizados? Já informou a situação para o Richard? Oh, isso vai dar uma merda bem grande. Bye-bye, férias. Estamos ferrados!

— Fique calma, meu amor. Tudo está bem. — Adam me assegura, enquanto pega uma mochila e começa a revirar a procura de algo nela. — É bom que você tenha acordado, queria conversar com você. Lembra-se do que conversamos mais cedo, sobre obter o que se deseja é preciso de luta, sacrifício e muita paciência?

Ele levanta o seu olhar para mim, esperando um retorno, eu apenas balanço a cabeça confusa. Há algo de errado nessa conversa, com Adam.

— E você se lembra de como foi quando seu pai desapareceu em uma missão secreta do governo, e você e seu avô ficaram por três anos seguindo rastros até descobrirem que ele estava morto e o governo escondia isso tudo de vocês?

A lembrança de tudo me abala e deixa a minha visão turva por um momento, olho para Adam segurando as lágrimas. Eu sinto uma momentânea tristeza. Adam sabe que essa história me deixa sensível, ainda mais pelo vovô ter morrido há pouco menos de um ano, e mesmo assim ele tocou no assunto. Tentando controlar minhas emoções, me manifesto irritada com ele:

— E como diabos eu poderia esquecer, Adam?! É lógico que eu me lembro! Mas que merda isso tem a ver com o que está acontecendo?

— Desculpe, Jess. Eu realmente sinto muito. — ele diz fitando-me com o olhar que me desestabiliza completamente, desvio dele respirando fundo. Eu não gosto de lembrar essa história. — Mas isso tem tudo a ver com o que está acontecendo aqui. — Ele solta a bolsa, fitando-me ainda, segurando algo em sua mão direita. — Você e a sua família sofreram demais todo esse tempo por causa das artimanhas do governo norte americano. Eu sei disso, eu também sofri, minha família também sofreu. — fito-o surpresa, porque ele sempre se manteve arredio no assunto família, e eu nunca insisti porque também nunca quis falar muito sobre a minha, embora tenha desabafado algumas vezes e ele tenha sido meu porto seguro quando vovô se foi. — E não somos os únicos, Jess. A cada dia que passa, esse governo faz mais vítimas se declarando os donos do mundo. A cada segundo. Eles são uma doença desgraçada que tem sujado e arruinado esse mundo, uma terrível doença que tem se espalhado e destruído a esperança do mundo de ser um lugar maravilhoso. E o pior é que eles têm todo esse poder em mãos.

Adam não deixa de me encarar quando termina o seu discurso carregado de visível ódio. Eu o entendo, mesmo algumas palavras não sendo nada patrióticas. Richard provavelmente demitirá ele se souber que ele disse isso, mas no entanto, só não entendo aonde ele quer chegar com isso. Eu nunca vi esse olhar em seus olhos antes, e para falar a verdade, ele me assusta até a alma.

— E o que isso quer dizer? — eu o questiono, tentando compreender o que isso tem a ver com o que nos acontece aqui.

— Eu estou te dizendo que chega do Richard, chega da C.I.A., e chega de trabalhar para esse governo imundo! — ele esbraveja, é possível até ver as veias tensas de seu pescoço, mas ele ri, prosseguindo: — Estou te dizendo que por muito tempo eu desejei a queda dos Estados Unidos, para refazer o mundo, transformá-lo em um novo mundo. E hoje, estou dando o primeiro passo com você.

Olho Adam, abismada com o que ele diz com seriedade. Isso só pode ser uma brincadeira, uma brincadeira de muito mau gosto.

— Adam, eu não estou com muita paciência para brincadeiras, então é melhor retirar o que disse antes que eu perca a pouca paciência que tenho. — falo irritada com ele, com um olhar severo, mas ele não faz nenhuma menção de voltar atrás no que disse. Eu começo a ficar apreensiva e nervosa ainda mais. — Ok, vai continuar com essa brincadeira idiota? Beleza. Tudo bem. Mas eu não vou ficar aqui que nem uma palhaça escutando esse seu papo, eu prefiro me juntar aos idiotas da Blackfag, e quando você resolver se desculpar pode se juntar a nós também. Mas eu estou indo... — olho ao meu redor, nem sabendo onde estou, mas avistando a porta coloco os meus pés em movimento em direção a ela. Chegando até a porta, olho novamente para Adam que não tem nenhuma expressão diferente em seu rosto e digo: — Onde é que eles estão mesmo?

— Eles foram capturados pelos insurgentes. — ele esclarece tranquilo como se isso não fosse uma grande notícia que fosse abalar. Tirando a sua atenção de mim, ele retorna parando até certo ponto da sala agachando-se ali.

— Como é que é? — eu volto para dentro novamente questionando-o enquanto sigo atrás dele.

— Você não está com paciência para brincadeiras, então, é isso mesmo. Eles foram capturados. Bem, pelo menos os que não foram mortos. Boas notícias, Sunshine! Tyler está morto.

Adam enlouqueceu?

— Adam! Meu Deus, o que está acontecendo com você hoje? Se o que você diz é realmente verdade, devemos ligar para o Richa... O que inferno você está fazendo?! — eu me surpreendo quando vejo o que ele faz agachado, notando um pequeno objeto quadrado, repleto de fios com uma pequena tela que acende, quando Adam aciona apertando algo em sua mão. É uma bomba!

— A explosão abalará a estrutura do prédio. Vai destruir tudo aqui em cerca de dez minutos, precisamos ir.

— O que? Onde diabos nós estamos? Adam! O que é que está acontecendo aqui?!

Eu me exalto e puxo a gola de sua camisa irritada quando ele se levanta, fitando-o, esperando uma explicação plausível para o seu comportamento. Para tudo isso. Adam me fita terno, segurando a minha mão suavemente ele retira a minha mão de sua camisa, instruindo-me com um gesto para me acalmar. Respiro fundo, fecho os olhos dentre de alguns segundos, e volto a fitá-lo mais controlada.

— Nós estamos no depósito da universidade Al-Iman. — Adam esclarece destruindo toda a calma que eu tinha, arregalo os olhos reprimindo uma exclamação quando ele repete o mesmo gesto novamente para que me acalme. Eu não estou nem um pouco calma, porque nada faz sentido, e seu comportamento está um tanto quanto questionável, e embora isso seja assim, tudo é bem real, e não consigo deixar que o temor comece se apoderar de mim. — Eu sei que você deve estar um pouco confusa.

— Um pouco não, muito. — eu o rebato. Então é verdade tudo o que ele disse? A equipe Blackfag foi capturada, senão morta? A bomba não é uma brincadeira? Então se isso é real... Não consigo entender, há uma peça faltando aqui, tudo está errado.

— Mas eu sei que você irá compreender. — Adam constata convicto sondando os meus olhos, a minha reação. Desvio meu olhar do seu tendo lembranças de tudo o que aconteceu anteriormente.

— Você planejou tudo isso. — digo estupefata. Assombrada, fitando-o novamente. Ele balança a cabeça afirmativamente, com um pequeno sorriso. Antes de sermos atacados mais cedo ele deu uma ordem de ataque pelo telefone, e aí aconteceu, mas não fomos atacados, só dispararam contra nós quando eu o fiz, e quando Adam falou para que não fizessem... Meu Deus! Afasto-me de Adam, dando alguns passos trôpegos para trás. — Por quê?

— Essa é a nossa chave e passagem de saída para libertarmo-nos das amarras que nos puseram. — seu sorriso se alarga em seu rosto quando ele começa a falar. Isso é real. Tudo isso é real. O discurso que Adam deu anteriormente é real. Eu não tenho reação a isso, eu sinto apenas medo. — É o começo para refazermos o mundo.

Eu dou uma risada seca, e nervosa, e digo:

— Isso não é refazer o mundo, isso é um massacre, é instaurar guerra.

— Exatamente. Não é cruelmente extraordinário? — ele ainda sorri, o seu sorriso lindo que sempre me encantei agora o acho aterrorizante. Como ele pode dizer essas coisas? Como ele pode ter feito isso? Como eu não percebi? O que deu de errado? É mesmo real? Eu não posso acreditar. — E é aí que tudo começará. As guerras pouco a pouco enfraquecerão os Estados Unidos, e logo esse país imundo irá cair. Ele não terá mais o poder. E seremos livres para refazer o mundo, para governá-lo da maneira correta.

— Você enlouqueceu. — é só o que eu consigo dizer quando me afasto ainda mais dele, até bater com as costas em algumas cadeiras empilhadas.

— Jess, acho que você não está entendendo...

— Não! Eu não estou entendendo nada mesmo!

—... Mas temos agora uns oito minutos para sairmos daqui antes de tudo explodir. — ele caminha até mim me pegando pelo braço, mas então o meu lado racional volta. A bomba, preciso que a bomba seja desarmada. Mas o especialista nisso aqui, é o Adam, eu não conseguiria fazer isso em tão pouco tempo.

— Adam, olha, ainda dá tempo de consertar essa loucura. Eu falo com o Richard! Mas eu preciso que você desarme essa bomba.

Ele ri guiando-me para fora do depósito e alcançamos as escadas, depois dele pegar a sua mochila.

— Amor, essa é apenas uma das quatro espalhadas por toda a universidade. Eu não poderia desarmá-las, mesmo se quisesse. Essa, no entanto, está no prédio principal. É a que fará o grande estrago.

Livro-me de seu toque, parando-nos abruptadamente. Segurando o seu rosto entre as minhas mãos, eu procuro os seus olhos, não me importando de demonstrar o meu desespero, digo:

— Adam, meu amor. Olhe para mim! O que foi que aconteceu? Por que você fez isso? Alguém ameaçou você? — eu espero dele qualquer palavra que me dê esperança de que isso não foi feito por ele mesmo, que isso é uma loucura. Mas então, ele diz:

— Eu planejei isso por muito tempo, Jess...

— Não! Escute-me! — eu o corto em desespero. Não, não, não, não, isso não pode estar realmente acontecendo! — Adam, se você planejou tudo isso. Desfaça, eu perdôo você, de verdade, mas basta apenas desarmar a bomba, enquanto eu disparo o alarme de emergência, e depois nós podemos fugir, ok? Eu fujo com você! Nós fugimos, Adam, mas conserte essa loucura, por favor, amor. — imploro a ele totalmente desarmada, transparente, capturo um brilho diferente em seu olhar, como se ponderasse. Reforço o pressionando: — O tempo está acabando, Adam. Vamos.

Eu retiro as minhas mãos de seu rosto, dando-lhe as costas quando vejo um alarme de emergência a poucos lances acima. Mas Adam segura a minha mão impedindo-me de continuar.

— Por isso devemos sair daqui, ou teremos o mesmo fim que a Blackfag.

E então eu sei que não tem retorno quando ele diz isso. Giro os meus calcanhares, para encará-lo e então declarar sem querer ponderar as consequências da minha ação:

— Fuja para onde eu jamais poderei encontrá-lo. É a sua única chance, não a desperdice.

Respiro pesadamente em meio ao silêncio que temos em nossa troca de olhares. Em algum ponto desse dia eu descobri que vivia em um castelo de cristal que se quebrou em mil pedaços, e os seus cacos me atingiram perfurando até a minha alma, e isso dói. Adam não diz qualquer coisa, então tomo a deixa para agir e lhe dou as costas caminhando até a caixa de alarme de emergência, pegando o martelo fixado para poder quebrar o seu vidro. Quando eu estou prestes a quebrar o vidro, Adam se interpõe o tomando de minha mão, aprisionando os meus pulsos acima da minha cabeça na parede.

— Eu não posso deixar você fazer isso. Nem posso deixá-la. — declara com suas feições tranqüilas, sua voz suave. Não tenho tempo para pensar no que diz, Adam está decidido de suas ações insanas, e eu sou a única que posso deter os seus planos se concretizarem. — Temos agora sete minutos.

Desespero me domina e age por mim, quando dou por mim já chutei a coxa esquerda de Adam fazendo com que vacile em seu aperto em meus pulsos, uso a distração para puxar os meus braços com força para baixo, a ponto de desferir um soco que atinge em cheio seu maxilar. Adam e eu já treinamos milhares e milhares de vezes, então não é surpresa que ele consiga bloquear os meus outros movimentos contra ele. A minha intenção não é derrotá-lo, no entanto, eu só quero chegar novamente perto da caixa de emergência para acioná-la, quando chegamos perto o suficiente, ensaio dar um chute em seu tórax, com o plano de socar o vidro de emergência para que ele não me impeça. Mas Adam é tão esperto como o conheço, então quando eu faço isso, ele segura a minha perna, puxando o meu braço, girando-me na direção contrária e me empurra para longe do meu plano. Tenho que me segurar no corrimão da escada para não cair por ela abaixo.

— Sabe que poderia fazer isso o dia todo, sem ao menos soar. — Adam diz tranquilamente. Ele tem razão, eu não posso com ele, não com esse plano, e não tenho punho forte para o que o dever pede nesse momento, só posso sentir o medo me deixando de mãos atadas. — Mas agora temos apenas seis minutos, e entendo a sua resistência e teimosia por ter sido pega de surpresa, mas quando você pensar com clareza verá que tenho razão.

— Pessoas vão morrer, Adam... — a emoção que nunca o demonstrei transparece em minhas palavras, e se transformam em algumas lágrimas que escorrem de meus olhos quando fito Adam, acovardada para agir. — Não entende? Isso vai ser uma guerra.

Eu preciso fazer algo, mas no entanto, não consigo. Há algo de muito errado... Estranho. Adam me olha compassivo por um breve, tempo.

— Eu sei, Jess. É preciso da guerra, para alcançar certos objetivos. As mortes são apenas um efeito colateral da guerra. — eu fico estática. Não posso acreditar no que ele diz, não posso acreditar que o Adam o qual confessei e tem o meu amor, tenha se transformado misteriosamente nesse amante do caos. Ele caminha até mim, parando próximo, fecho os meus olhos abaixando a minha cabeça. — Mas em breve o mundo poderá ser o qual nós sonhamos, mas para isso, basta apenas aceitar... — suavemente, com uma de suas mãos ele faz-me levantar a cabeça, e o olhar para ele. — A mudança. — e então seus lábios se encontram com os meus em um beijo do qual eu não sinto mais nada. É um beijo vazio.

Penso, raciocino, pondero... Aceitar a mudança. Ele tem toda a razão, é o único jeito.

Enquanto ainda o beijo de volta, forço um pouco mais a nossa aproximação.

— Hey! — Adam exclama, quando eu puxo do cós da sua calça a sua arma, o afastando com um empurrão, e empunhando a arma em sua direção. Ele levanta as suas mãos espalmadas, emparelhadas com o seu peito e diz: — Esse foi um golpe baixo.

— Saia da minha frente agora, Adam, fuja. Rápido, ou eu não sei o que farei com você. — eu rosno a ordem para ele que se mantém protetoramente a frente da caixa de emergência.

— Ora, Jess. Abaixe essa arma, nós dois sabemos que você não é capaz de atirar em mim. — ele ri antes de dizer: — Nós devemos ir, Jess. Temos pouco tempo, e você está até tremendo. Não vai querer atirar em mim.

Ele tem razão sobre isso também. Eu não sou capaz de fazer isso, nem quero, é um blefe. Miro a caixa de emergência quando tenho a brecha para atirar nela, mas Adam se interpõe na frente quando estou prestes a disparar, no segundo seguinte ele tenta dar um passo em minha direção, e então eu reforço a minha postura, voltando à mira em sua direção com convicção, brado:

— Não se aproxime! Deixe-me passar, ou eu juro que atiro em você!

Adam aperta o seu maxilar, olhando para mim visivelmente sem paciência. Nós nos encaramos, e ele tem a mensagem clara em seus olhos que se eu quiser deter os seus planos, só poderei fazer isso de uma forma, e ele sabe que eu temo isso.

Adam dá um passo a minha frente. Medo. Eu não posso fazer isso. Eu... Isso já aconteceu, há muito tempo, a memória volve a minha mente, é isso o que tinha de errado, porém ainda sinto temor. Adam dá outro passo. E então uma voz clara torna a minha mente com a seguinte frase: sinta o medo, e abrace a verdade. Essa é a verdade.

O barulho de tiros então ecoa. Adam tem a expressão de surpresa em seu rosto, quando coloca a sua mão em seu abdômen já completamente ensanguentado. Eu dei dois tiros, do qual um, sei que foi certeiro. Adam dá alguns passos trôpegos para trás, encontrando as costas com a parede, tentando manter-se apoiado nela.

—Você atirou em mim. — ele balbucia com os olhos sombriamente julgadores, rancorosos. Sangue começa a sair de sua boca, quando ele ainda diz: — Jess, v-você... Você me matou.

Não, eu tenho mais o peso da culpa em mim. Eu não tinha alternativa, Adam não deixaria que eu impedisse. E ele não tinha outro fim desde que ele planejou aquele massacre sangrento. Desde que ele virou as costas para os bons princípios, e revelou o seu ódio pelos Estados Unidos e o amor pelo caos, ele deveria saber que estava condenado a este fim. Eu não sinto mais medo, pois eu fiz a coisa certa.

— Você me matou, Jess.

— Não, Adam, eu não matei você. Você mesmo se matou. — eu digo o que tinha que ter dito na época e não disse, porque estava aterrorizada demais com a crua verdade das ações e suas consequências. Agora eu sei, essa sou eu abraçando a verdade e descartando o medo porque não há motivos.

Depois eu me lembro de ter acionado o alarme de emergência, e deixado Adam já sem vida para trás com o peso remorso do que fiz, eu tentava me convencer de que fiz a coisa certa enquanto corria para fora dali, antes de tudo explodir e ir pelos ares, e não consegui me convencer. Mas nenhuma pessoa naquela universidade morreu além de Adam naquele dia, podem ter se ferido, mas ninguém inocente morreu. Bem, a equipe da Blackfag não teve o mesmo fim, e os conflitos dos Estados Unidos no Iraque perdurou por alguns anos em consequência de tudo aquilo. E talvez por isso também a culpa me remoeu por muitos anos, pelos bons soldados da Blackfag que morreram. Por Adam. Mas agora sei que agi na esperança de tentar salvá-lo — e tentei tudo o que podia, mas não se pode salvar alguém que não quer ser salvo, não nesse caso.

Eu fiz o meu trabalho, a escolha certa. Enfrentei os meus medos, e os superei.

Obrigada, vovô. Não teria conseguido sem você.

Diferente das outras vezes, não sou engolida pela escuridão, nem sinto medo, nem aquele absoluto terror, só uma alta claridade ofuscando a minha visão, forçando-me a fechar os olhos e sentir cada centímetro de mim sendo aquecido, sendo agitado, reavivado, e então um frescor subir dos meus pés até o alto da minha cabeça me envolvendo em uma absoluta paz, enchendo-me com um anseio que dá a certeza que não estou morta. Eu estou viva.


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Notas finais do capítulo

Jessica is alive. /pai do Diggle (entendedores, entenderão)

* Antes de qualquer coisa, quero ressalvar que discursos desse capítulo foram previamente inspirados na famosa avó de Olivia da fanfic Trapaças do Destino (inspiração aprovada pela autora, antes que surja alguém dizendo "isso é plágio), haha, estou dando os devidos créditos.

* Aqui tem o gancho com a hq do Homem Aranha A Última Caçada de Kraven, então se surgirem ideias, ou diálogos parecidos saibam que estou trabalhando com base na hq também.

* Sobre esse ocorrido em Fallujah, e a equipe Blackfag tive inspiração em fatos reais sobre a história política, e acontecimentos ocorridos nessa época por lá.

* Desculpem pelos pequenos (ou não), palavrões, mas era "necessário".

E acho que resumidamente é isso, no próximo capítulo tem a Jessie definitivamente de volta, comentem se quiserem pequenos spoilers o/

Até mais, pessoal! ♥