Perpétuas Mudanças escrita por Hunter Debora Jones


Capítulo 14
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Notas iniciais do capítulo

Hey, meu povo marveleiro! Como é que vocês vão? Espero que bem!
Well, eu hesitei um pouquinho, ou talvez muito, antes de vir postar esse capítulo. Eu acho que desenvolvi até uma "postfobia", medo de postar novos capítulos na fanfic. Oi?
Mas aí uma sábia amiga me disse: "Sinta o medo e o enfrente", e aqui estou eu, tremendo nas bases, e enfrentando essa insegurança, sentindo o medo e os enfrentando! Porque eu sou brasileira e eu não desisto nunca!
Okay, passado esse momento meio lixoso, desculpem a demora, e espero que gostem do capítulo.
Boa leitura!



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— O que ele está mesmo fazendo aqui? — Steve dirige a sua pergunta para Fury, em uma raiva notoriamente mal contida, ignorando o fato de ter sido chamado afetuosamente de “Capicolé” por Tony.

Eu não nego. Saber que dois heróis não se dão muito bem deveria ser preocupante, mas apesar de tudo, eu acho tão engraçado, e divertido vê-los juntos.

— Capicolé, cuidado ou vou pensar que não ficou feliz em me ver.

E não fiquei. — ele murmura em retorno a Tony.

— Mas sabe, meu amigo. Eu me fiz a mesma pergunta quando Nick entrou em contato comigo, e até agora não sei bem. — ele anda enquanto fala, parando próximo a Steve pondo a sua mão de ferro sobre o ombro dele em um gesto camarada. Steve por outro lado, parece muito aborrecido com o seu jeito. — Mas ele me disse que algumas velhas amizades estariam aqui. Hill, Sharon, Jess... Nossa, parece que um javali atropelou você. — ele me analisa dizendo inconvenientemente o óbvio, antes de continuar: — Bem, e claro, você e a dona aranha também. E apesar de você ser um pouco congelado e a dona aranha, um pouco discreta. Aonde vocês vão tem festa, e eu não poderia ficar de fora dessa. — vejo Natasha revirar os seus olhos diante desse discurso zombeteiro do Tony. — Só achei um pouco ofensiva a receptividade lá fora, mas como vocês podem ver eu dei um jeito. Hey, mas quem é esse cara? — ele pergunta fitando Sam com as suas feições franzidas.

— Sam Wilson, ex-combatente do exército e amigo do Capitão. É um prazer.

— Amigo do Picolé? O prazer é meu. Que se chama Wilson? Isso é engraçado, me lembra um filme em que...

— Tony. — Fury se pronuncia pela primeira vez cortando a comparação que Tony estava prestes a concluir. — Trouxe o que eu te pedi?

— Está bem acima de nós no seu hangar secreto, capitão. — ele responde tranquilo, olhando Fury. — É só subir a bordo, içar as velas, e esperar o vento bater a nosso favor e poderemos seguir viagem pelos mares que você desejar.

— Ótimo. — Fury objeta como se entendesse tudo que Tony dissesse. Bom, se ele falou isso deve mesmo ter entendido. — Tony nos dará uma carona no seu jato ao nosso compromisso de hoje antes de seguir viagem para New York.

— Por que não nos avisou que ele viria? — Sharon pergunta a Fury.

— Digamos que eu sabia como ele é bem querido por todos aqui. — ele responde a ela, mas com o olhar preciso em Steve. Tony faz um muxoxo. — Não quis estragar a surpresa.

Sim, aposto que de todos aqui o que mais sentia a falta da presença irreverente do Stark é Steve. Reprimo uma risada que insiste em querer escapar de meus lábios. Reparo que Steve me olhar de soslaio desconfiado.

— Espera aí! — dispersando o meu estado de divertimento para não entrar em conflito com Steve, eu me manifesto um pouco já recomposta e com uma dúvida palpável. — Ele que é a minha carona para NY?

— É a carona que te levará o mais rápido em segurança para lá. — responde ele convicto, já vetando qualquer possível negativa minha. — Vamos sair em vinte minutos, então esse é o momento para vocês pegarem o que tiverem que pegar. — diz sem mais esclarecimentos, dando-nos as costas e seguindo o seu caminho para sei lá onde.

Por que ele sempre faz isso? Eu deveria estar acostumada com essa sua personalidade de “surpreender”, e parar de me surpreender com as coisas que ele faz. Mas é algo impossível, porque ele sempre arranja um jeito para surpreender.

Hill sai atrás de Fury também. E Sharon se adianta saindo sem proferir uma palavra. Natasha me lança um olhar atravessado a Steve, rumando o mesmo caminho de Sharon. Olho-a fixamente, fazendo um meneio quase que mecânico de cabeça com a sua total e irônica indiscrição. Ela sorri brevemente, graciosa.

E eu sei que ela faz isso só de provocação.

— Gostaria de conversar com você antes de ir. — Steve diz a mim de repente, enquanto Sam animado troca algumas palavras com Tony.

Sinto-me receosa com essa conversa que ele quer ter, mas balanço a cabeça afirmativamente o fitando. Provavelmente não deve ser nada demais, dada as últimas conversas que ele usou do mesmo tom de aviso antes.

— Certo. Mas é melhor você ir pegar as suas coisas, e conversarmos depois no jato, com mais calma... — porém adiar a conversa o máximo possível por cautela não custa nada. — Dez minutos. Tudo bem?

— Cinco minutos. — ele concorda em parte, para certo alívio meu e desespero também. Por que cinco minutos? O que ele quer conversar comigo com tanta urgência? Virando-se na direção de Sam, ele fala: — Sam, vamos. Ainda temos que acertar alguns detalhes.

— Me mostre o seu brinquedinho depois, Sam. — Tony diz a ele em despedida, e Sam apenas faz um gesto positivo.

Os observo com suspeita deixando essa dúvida sobre a conversa com Steve de lado, antes de Sam sair na retaguarda de Steve. Eu só me questiono: que diabo de brinquedinho é esse?

— Cuidado, Wally. — Tony cantarola, tomando a minha atenção. — Já ouviu que de tanto pensar besteira morreu o burro? Não estou te chamando de burra, longe disso, eu jamais diria algo assim a uma mulher. Mas a sua expressão é de alguém que...

— Já te disseram o quanto desagradável você é às vezes? — eu o corto com aspereza. É legal o ver tirando sarro dos outros — confesso, mas quando o lance é comigo, não é nada divertido.

— Sabe que é a primeira vez? — ele pergunta com irônica expressão, o fuzilo sabendo que essa é a maior mentira do dia. — Não vai pegar nada como os outros, Jess?

— Você sabe que eu não gosto que me chamem assim. — exponho com irritação o lembrando, mas ele insiste sempre em me chamar de “Jess”. — Não tenho nada a pegar, perdi tudo quando um javali me atropelou, como você mesmo disse. Natasha me emprestou algumas coisinhas e tenho comigo o essen... — me calo, olhando-o intrigada. — Por que você está sorrindo assim?

— Estava pensando em um javali te atropelando, Jess. — ele frisa o meu nome ainda com um sorriso idiota no rosto, reviro os meus olhos. — É como eu sempre digo: coisas engraçadas são. Ei, quer dar uma volta? — pergunta, estendendo a sua mão de ferro para mim.

— Você é louco? Olhe como eu estou. — ele dá de ombros, analisando-me brevemente. — Não. E não é engr... — não tenho tempo de terminar o meu comentário. Tenho tempo apenas de soltar uma exclamação, porque Tony age rápido planando com a sua armadura em minha direção com os seus braços de aço me circulando ao me segurar, e levando-me para fora da base. — O que diabos você está fazendo? — grito quando percebo que já voamos a uma altura considerável, seguro firmemente com o meu único braço livre e bom, a armadura de Tony.

— Te levando para dar uma volta. — ele responde óbvio com sua voz metálica reverberando da armadura, enquanto voa cortando o céu com minha companhia. — Muito legal, não acha, Jess?

Eu não respondo por que não consigo sentindo o meu coração bater a 180 por minuto. Tony Stark é um imbecil.

O vento golpeia o meu rosto enquanto ele ziguezagueia pelo céu sem destino, e uma adrenalina indescritível se apodera de meu corpo.

Estou errada, Tony não é um imbecil, ele é um maluco! Eu tenho certeza disso. E maluco ao triplo quando está dentro de uma armadura, contudo ele tem razão quanto a uma coisa: isso é muito legal.

Involuntariamente um gigantesco sorriso surge em meus lábios quando Tony faz mais uma manobra em sua armadura.

XXX

— Você não mede as consequências de suas atitudes? Você poderia tê-la matado! — Steve exclama com Tony assim que põe os seus pés no jato e vê o meu estado.

Bem, acho que ele nem me nota direito quando entra, mas com certeza viu o show que Tony deu comigo a tiracolo.

— Ei, Steve. Não precisa brigar com ele. Eu estou bem. — interfiro antes que se inicie uma briga desnecessária.

A verdade é que eu sinto uma ligeira maresia pós voo, boba para expor e tornar-se o fator de briga entre Steve e Tony.

— É, Picolé. — Tony diz. — Não vê? Ela está bem, não precisa ter um ataque do coração, vovô. Você está bem, não está? — ele sussurra me perguntando, querendo averiguar se é mesmo verdade sem o conhecimento de Steve.

Fuzilo Tony com uma carranca no rosto.

— Bem? — Steve indaga cético, enquanto alterna o seu olhar entre Tony e mim. — Olhe o estado dela. Você é louco. E deveria ser proibido de usar essa coisa.

Nossa, parece que um javali atropelou você”, “Olhe o estado dela”, nunca fui tão elogiada assim em um só único dia. O que me faz me questionar: será que estou tão horrível assim?

— Deveria ser proibido, anciões saírem por aí fantasiados de bandeira dando chiliques. Mas veja só, meu camarada. Não é.

Me atento para eles novamente. Steve analisa Tony com incômodo em sua fala pra lá de atrevida, Tony pegou pesado. O bilionário por outro lado o mede com um brilho desafiante e insolente no olhar.

— O que foi, Picolé? Vai me convidar para uma dança?

— Por quê? — ele contrapõe, a antipatia nítida em sua voz. — Pareço estar querendo dançar?

— Como uma garotinha com o seu par romântico no baile de formatura, Capicolé.

Não queria que eles brigassem, mas eu me pego sentindo novamente aquela coisa insana de descobrir qual herói é o mais forte.

Não existe mais Steve, tampouco Tony. É apenas o herói de guerra, Capitão América contra o imbatível Homem de Ferro. Passo a observar vidrada e com expectativa o embate. O escudo na mão do Capitão sendo segurado com mais firmeza, as luzes dos propulsores do Homem de Ferro ganhando um brilho a mais a cada instante e eles estarem prestes a duelar.

Isso é insanamente demais! Minha aposta é no Capitão, não acredito que o Homem de Ferro seja páreo para ele. É uma droga não ter nem ao menos uma câmera de celular para filmar esse momento. Vamos lá, Capitão, acabe com ele!

No entanto, não há nenhuma luta. Pois inesperadamente Steve reaparece destruindo todo o roteiro creditado em minha mente, saindo com o Capitão da posição de ataque.

Respirando fundo e ignorando o Homem de Ferro, ele me olha pela primeira vez com atenção desde que chegou, e pergunta:

— Você está mesmo bem?

Fito Steve, não antes de retribuir o olhar confuso de Tony, calando-me por alguns instantes. Disfarço o meu desânimo por ele ter despedaçado minhas expectativas do momento, e respondo:

— Sim.

Senhor Stark, a Srta. Potts deseja com urgência falar com o senhor”, J.A.R.V.I.S. a inteligência artificial de Tony anuncia, chamando a sua atenção por um momento.

— Se salvou de uma, Capicolé. — ele denota adentrando a cabine do jato, Steve revira os olhos, exasperado. — Agradeça a Pepper depois.

— Não acabamos aqui, Stark. E acho bem possível que seja o contrário. — Steve discorda, com uma última fuzilada nele. Tony ri caçoador, antes de sumir adentro.

— Talvez alguém já tenha dito isso a vocês dois, mas eu vou dizer assim mesmo. — Steve me olha sério, esperando o que irei dizer. Abro um sorriso, declarando em tom de riso: — Vocês precisam de uma terapia. Sério.

Eu não me seguro e rio quando ele crispa a boca desgostoso.

— Okay, me desculpe.

— Ele é imprudente, poderia ter machucado você. Sabe disso, não sabe?

— Tem razão, Capitão. Mas a questão é que ele não me machucou, e embora pareça, Tony não é nenhum idiota. Sabe bem o que faz. Talvez seja um pouco babaca, ou muito... Ou exageradamente, mas acredite, há diferenças.

— Sei. — fala sério, mas por fim, abre um sorriso não prosseguindo o assunto e aproxima-se, sentando na poltrona ao meu lado, deixando o seu escudo em outro assento livre.

— Você queria conversar. — solto tomando coragem, antes que siga um silêncio constrangedor ou que ele me surpreenda e comece a falar do nosso momento no Hospital das Freiras Taradas — como apelidei, relembrando das enfermeiras e freiras de lá que babaram no Steve quando saímos. Ele foi visto realmente como uma “graça” idolatrada aos olhos de todas por lá.

— Sim. — responde, fitando-me complacente.

— Sobre? — sondo-o incerta, esforçando-me para não desviar os meus olhos dos seus por uma súbita timidez estúpida.

— Você não deveria ir para New York.

Reviro os meus olhos, zangada. Estico as minhas até outrora encolhidas na poltrona para fora dela, vidrando o meu olhar a frente.

— Então prefere que eu vá para o Triskelion com vocês?

— Sabe que eu preferiria que você ficasse por aqui, de repouso. — a suavidade de sua voz quase me convence, ele realmente se preocupa comigo, ou é muito bom em persuadir as pessoas. Mas para minha sorte, nunca fui muito suscetível a persuasão, e não será ele que irá conseguir esse feito. — Seja qual for a sua missão em NY, ela deve poder esperar. Seu bem estar deve vir em primeiro lugar.

— Obrigada pela preocupação, Steve. — minhas palavras são de agradecimento, mas sei que minha voz sai um pouco grosseira. Era isso então que ele queria conversar? — Mas eu estou bem, se eu estivesse mal, é lógico que eu não admitiria também. Mas eu estou bem. Estou legal. Posso te garantir que já estive pior.

Steve fica calado, algo que me faz refletir e perceber que além do tom grosseiro, minhas palavras soaram um tanto quanto incoerentes e atropeladas. Mas que inferno está acontecendo comigo?

— Isso não me convence muito. — ele enfim se manifesta.

— Eu estou bem. — sibilo com tranquilidade voltando a fitá-lo, reforçando o essencial com coerência firme. Eu não sei por que estou com raiva dele, ou porque falei tanta besteira. Apenas sei que estou, e que isso é uma droga. Apesar de tudo, o olhar de Steve se aquiesce, com mais serenidade. — E eu te digo que não iria para New York se realmente não fosse necessário. Mas não se preocupe, não estou indo bancar o James Bond ou o Rambo, estou indo apenas ajudar um amigo que está passando por alguns probleminhas.

— Não importa o que eu diga você vai mesmo para New York não é? — ele indaga, já com a certeza disso. Assinto, quase que culpada, mas sei que é algo que Steve tem que me faz me sentir assim quando o contrario, não quer dizer que eu esteja errada. — Bem, então prometa que não vá extrapolar e irá ser cautelosa. A H.Y.D.R.A. está por todos os lados, e mesmo assim não sabemos onde. — eu assinto concordando, ele acrescenta: — E qualquer coisa, ligue para mim.

Recordando-me que não tenho o seu número, e caso eu o tivesse, nem mesmo poderia ligar para ele — porque o meu foi destruído em New Jersey quando a H.Y.D.R.A. derrubou um prédio sobre nossas cabeças —, eu assinto novamente a ele com um ligeiro sorriso, ele não precisa saber disso.

— Fique tranquilo. Vocês irão derrotar a S.H.I.E.L.D., e espero não precisar da sua ajuda, Capitão.

— Steve. — ele me corrige, arqueio as sobrancelhas levemente dando um leve sorriso, que ele retribui.

— Steve... — falo o seu nome com delicadeza, pensando bem nas palavras que direi a seguir. — Você sabe... Que, ele vai estar lá para impedi-lo, não sabe?

Ele foca o seu olhar a frente, perdido. Entretanto, percebo antes a tristeza em seu olhar quando compreende a quem me refiro. Ao seu velho amigo, Bucky Barnes, e atual arma da H.Y.D.R.A., o Soldado Invernal.

— Ele não se lembra quem ele é. Muito menos se lembra de mim. Ele não é essa pessoa.

— Eu espero que você não esteja se culpando pela condição dele. — olho-o esperando uma resposta negativa, que não vem. — Steve, eu não acredito que você se culpa por isso, pelo amor de Deus! O que aconteceu com o Bucky foi culpa da H.Y.D.R.A., e somente dela. Você pensou que ele estivesse morto, não sabia que podia salvá-lo quando ele caiu. E mesmo assim, se soubesse, depois você foi dado como morto, e permaneceu... Congelado por anos. O que aconteceu nesses anos, não é culpa sua. Entenda isso. — termino, quase que tentando inserir essa ideia em sua cabeça. Se fosse possível, com certeza o faria. Steve tem essa terrível mania de querer carregar a culpa pelo que não tem, coisa típica de herói.

— Você tem razão. — voltando a sua atenção para mim, ele parece aceitar a verdade. Suspiro aliviada por ele tirar ao menos esse peso de sua consciência. — A H.Y.D.R.A. é a culpada de destruir as nossas vidas. Eu vesti esse meu uniforme antigo, que costumava usar quando eu e Bucky lutávamos juntos na guerra, na esperança de que ele me reconheça quando me vir. Mas se não acontecer... Se Bucky não se lembrar, o único jeito para derrotar a H.Y.D.R.A. hoje ironicamente é... Parar o meu melhor amigo. — ele titubeia antes de escolher uma palavra, talvez, menos cruel para o que ele terá que fazer.

O Soldado Invernal é outra lenda viva, assim como Steve. Infelizmente, não é um herói pelas informações. É um homem sem memórias programado para matar. E tenho certeza que Steve sabe, tanto quanto eu, que só há um jeito de parar um assassino. O matando. E quando o assassino é alguém que você tem um laço afetivo muito forte, fazer o que é certo se torna um fardo. Um fardo que nem mesmo um herói deveria carregar.

— Ouça, Steve. — me ajeito melhor na poltrona, virando-me totalmente em sua direção com os seus olhos atentos em mim. — Eu já estive em uma situação parecida como a sua, eu tive que escolher o destino de um... Amigo, quando ele se perdeu. E eu sei que não é fácil, o quanto é difícil. — seu olhar torna-se intrigado e curioso diante da minha revelação. — E eu sei que você fará o que tiver que fazer para cumprir o certo, porque você é o supersoldado da América, é o homem mais íntegro que esse mundo viu, e o único que jamais pouparia esforços, ou sacrifícios para salvá-lo. Para salvar a sua pátria.

Eu me calo por alguns instantes notando o homem por trás do herói, o qual é o verdadeiro herói, mas que por décadas tem sido apenas uma sombra de um símbolo heróico de sacrifício.

Steve Rogers, um homem que se voluntariou e presenciou a guerra como Capitão América e lutou contra os piores inimigos, que perdeu tudo, e atravessou décadas parando em uma época, longe de seu tempo, apesar de tudo, ainda assim é um dos homens de coração mais puro e sincero que esse mundo já teve. Este sim é o herói: Steve Rogers.

— Você é um bom homem Steve, e sempre será. — tento me esforçar para que minha voz não saia emocionada como me sinto, contudo sei que ele pode observar minha comoção fitando meus olhos. Nesse momento, sei que sou transparente e pouco me importo. E estou certa de que o que vou dizer pode ser uma loucura descabida e sem tamanho, mas convicta de que é algo que Steve precisa ouvir. Então, prossigo: — Mas se Bucky não se lembrar, não faça o que o fardo do herói exige. Faça o que o seu coração pede, porque eu sei, eu sei o quanto... — detenho-me baixando o meu olhar, segurando dentro de mim a emoção que me teima a querer esvair. Steve segura a minha mão, oferecendo-me um leve afago, que me encoraja a terminar em poucas palavras emocionadas. — Salve o seu amigo, Steve. Não desista dele.

O silêncio torna-se quase perpétuo, quando eu aparento uma idiota sentimental diante de Steve, provavelmente eu até seja. Oh, santo Hulk! Eu deveria ter me socado enquanto ainda era tempo, por que eu não fiz isso?! Uma lágrima teimosa escapa de meu olho correndo pela minha face. O passado me atinge e me fustiga mais do que eu deveria permitir.

Não levanto o meu rosto para ver a expressão de Steve, mas sei que ele percebe o meu estado, ele não é nenhum idiota. Eu me mostrei frágil em sua frente, e para mim isso não poderia ser mais vergonhoso.

Uma mão gentil de Steve toca o meu queixo, levantando-o e obrigando-me a encará-lo. Silêncio ainda. Seus olhos azuis fitam-me tão claros e misteriosos ao mesmo tempo como eu duvido que jamais estiveram na vida, correndo o seu olhar em seguida por toda a extensão de meu rosto, ao tempo em que a ponta de seu polegar limpa o rastro da lágrima em minha face. Eu ofego me surpreendendo com o seu gesto, mesmo sabendo que ele é acima de tudo um cavalheiro.

Elevo a minha mão, insegura, com um pedido silencioso no olhar para ele que cede com um mínimo sinal. Toco o seu rosto sentindo a sua suavidade e textura.

Algo indescritível se aquece em meu coração nesse preciso momento. É uma emoção incomum, e totalmente inesperada que me avisa que devo me afastar dele. Correr para longe o mais rápido que eu puder, ou socar a minha cara quantas vezes for necessário para não cair nessa. Mas a cada segundo — valioso ao seu lado, a cada gesto gentil, a cada inexplorado sentimento extraordinário surgido, me envolvem e me enlaçam mais a ele. E não há como me afastar disso, nem fugir. E a verdade é que nem quero, ainda mais quando ele parece tão ansiosamente querer o mesmo. Não vou fugir mais, não hoje, e que se danem os prós e os contra, minha vida sempre foi vivida na corda bamba.

Eu vou beijá-lo.

Sutilmente a distância entre nós diminui a um centímetro perto de zero, o seu aroma masculino invade as minhas narinas novamente — como da primeira vez em que quase nos beijamos.

E pela segunda vez no dia meu coração volta a bater acelerado em um descontrolado frenesi, mas agora por um motivo: eu vou beijá-lo.

Fito os seus olhos azuis celestes uma última vez antes das minhas pálpebras irem se cerrando sobre os meus, e nós nos aproximamos... Já sinto a suavidade de seus lábios encostando-se nos meus.

Click, um barulho irritante atinge meus ouvidos, e tenho certeza que aos de Steve também porque ele recua afastando-se um pouco quando estamos tão perto. Eu seguro o seu rosto com a minha única mão boa, recusando que ele se afaste de mim e não me beije. Click.

Antes que o momento passe e ele se distraia mais, eu me apresso em tentar unir os nossos lábios. Eu vou beijá-lo, quase lá e... Click, click, click, seguido por flashes.

Não, click, por favor, não. Click.

Como em um pesadelo terrível, eu observo Steve se afastar totalmente procurando a origem daquela distração da qual eu já tenho uma pesada e concreta suspeita, click, enquanto deixo minha mão cair sobre o meu colo sentindo a frustração tomar conta de mim por inteira.

Click. Eu não vou mais beijá-lo. Click.

Ranjo os meus dentes, esbravejando:

— Você quer parar com isso, filho da p...

— Opa! Isso, faça essa expressão novamente! — Stark exclama, entre alegria e zombaria com um celular em mãos. Click. — Foi ótima, mas eu não consegui pegar. Vai, repita que eu garanto pegar dessa vez.

— Stark, você é um homem morto! — grito, me levantando e correndo em sua direção. Um sorriso largo se estende em seus lábios, click, mas ligeiramente o desgraçado ativa a sua armadura dando o fora em poucos segundos, mas não antes de expor:

— Excelente! Eu mando em uma moldura especial depois para os pombinhos.

Eu bufo sabendo que ele voltará só quando tiver bastantes testemunhas para que eu não cometa um homicídio, porque Steve provavelmente me acobertaria se eu o fizesse.

— Droga! — praguejo entre outras palavras gentis o Stark.

Estreito o meu olhar na direção de Steve notando que ele ri discretamente comprimindo os lábios.

— Por que você está rindo?

— Nada. — ele trata de disfarçar o seu divertimento e ficar novamente sério, mas o fato é que ele estava rindo. De qualquer forma, ele não parece disposto a dizer o porquê, e eu não estou nem um pouco a fim de sondá-lo no momento. Eu quero pegar o Stark e apagar aquelas malditas fotos que ele tirou, ou senão será a sua diversão eterna por anos conosco.

O silêncio se estabelece outra vez. Olho para Steve vendo que ele não parece chateado com Tony, quanto eu. Seu semblante é um tanto quanto sem graça, um lembrete que reverbera em meu pensamento: eu não vou mais beijá-lo.

— Eu vou ao banheiro. — anuncio já caminhando para fora da repartição, dando a primeira desculpa para sair daqui antes que minha frustração me faça agir e avance em Steve para beijá-lo. Não há mais nenhum clima para isso.

— Jessie. — Steve me chama, e eu paro já próxima a porta, voltando a minha atenção para ele ao girar meus calcanhares.

— Hm?

Ele me olha sério, hesitante.

— Pode dizer. — eu o encorajo em tom ameno, já imaginando a sua fala. Ele então prossegue:

— Qual decisão você tomou quando... O seu amigo se perdeu? — perguntou por fim.

Eu encaro o chão de tom escuro do jato, eu já imaginava que seria isso que ele iria perguntar, mas sempre que me recordo de minha decisão eu me perco dentre milhares de lembranças e arrependimentos. Não é uma coisa saudável.

Ergo o meu olhar para Steve, sabendo que ele nunca mais me verá como a mesma depois que eu dizer a verdade, mesmo que ele já desconfie dela. Talvez seja melhor assim, tanto para ele, quanto para mim também. Tratando de olhar fixo em seus olhos sem hesitar, eu respondo a sua pergunta sem emoção:

— Eu o matei. — eu não deixo de notar o ligeiro alarme em seu semblante, mesmo que ele tente cobrir. Eu suspiro decepcionada, não com ele, ou com a sua reação — bem longe disso, mas em como as coisas podem piorar assim tão drasticamente em minutos e nunca mais voltarem a ser como eram antes. — Nos vemos depois, Steve.

Eu me despeço dele seguindo o meu caminho a outro cômodo do interior do jato, com algo incômodo em meu coração que bate como uma certeza de que não o verei mais tão cedo, ou talvez, nunca mais.


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Notas finais do capítulo

Antes que digam que vão me matar, lembrem-se: se vocês fazerem isso, não vou poder postar mais, e assim, consequentemente não haverá mais próximo capítulo, nem fanfic... ._. Aí vocês que sabem! hehe
Esse é um capítulo cheio de referências, e pontas soltas que serão esclarecidas e amarradas em capítulos seguintes. Paciência é uma virtude!
* "Hospital das Freiras Taradas" foi uma piadinha que muitas leitoras aqui comentaram, e eu resolvi usar na fic, porque sim.
O que acharam do Capitão x Homem de Ferro? Lá vem Guerra Civil... brinks.
E o que acharam das revelações? Jessie matou o amigo dela. Bem, "o amigo", que muitos aí já podem juntar os pauzinhos e presumir quem é.
Acho que vocês não esperavam por essas hein? Peguei até a minha beta de surpresa. Amei. Muahahahahahahahahah
Vou aguardar o retorno de vocês, podem soltar o verbo sem medo que me gusta mucho. ♥ Até, bjs!