Infinito escrita por The Escapist


Capítulo 20
20. Você não me ensinou a te esquecer


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo tá fora do eixo Isabella-Inácio, tem um foco completamente diferente, longe do romance e tals, porque né, tanta doçura chega uma hora que cansa. E também vai ter continuação, porque agora eu tô com sono e preciso pensar melhor nos problemas do Miguel.
Ah, a música de hoje "você não me ensinou a te esquecer" já parece com uma fossa, dor de cotovelo e whatever, mas não foi usada nesse sentido, iupi! Apenas alguns trechos foram utilizados.



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Agora, que faço eu da vida sem você?

Você não me ensinou a te esquecer

Na maioria das vezes, Inácio escuta o que a mãe dizia sem reclamações. Às vezes ainda respondia, mas geralmente não se preocupava em discutir com ela, fazia o possível para ser paciente e não se incomodar nem mesmo com as coisas mais bobas, como quando ela ficava ligando para o celular dele de noite para saber onde ele estava. O jeito resmungão e protetor de dona Luísa já era comum, por isso ele ficou tão assustado quando a encontrou chorando.

Foi num domingo à noite, quando voltou para casa depois de passar o fim de semana todo na casa de Isabella. Àquela hora ela geralmente ficava sentada na sala assistindo ao programa do Silvio Santos, às vezes fazendo crochê ou palavras cruzadas. Só que quando ele entrou na sala ouviu logo o soluço ressentido dela. Assim que deu pela presença do filho, ela tentou disfarçar, mas já era tarde.

— O que aconteceu, mãe? Por que você tá chorando?

— Por nada — disse ela, secando as lágrimas dos olhos e forçando um sorriso. — Pensei que você não vinha mais pra casa. — Inácio sentou ao lado dela e colocou o braço em volta dos ombros dela. Estava preocupado, sua mãe era ranzinza em alguns momentos, mas vê-la chorar era algo assustador. A última vez, e talvez a única, que a viu chorar foi quando seu pai morreu.

— Ei, você quer me contar o que aconteceu? — Ela encarou o filho com os olhos marejados, a tentativa de impedir as lágrimas de caírem falhando miseravelmente.

— Se o seu pai estivesse vivo, hoje nós completaríamos quarenta e cinco anos de casados.

Inácio sentiu como se tivesse levado soco no estômago, tinha esquecido completamente o aniversário do casamento dos pais. Embora seu pai não estivesse mais entre eles, deveria saber que a data importava para ela. Não era de admirar que ela estivesse tão triste. Ele a abraçou e passou a mãos pelas costas dela, depois deu um beijo nos cabelos grisalhos.

— Desculpe por ter esquecido.

— Eu sinto tanta falta dele.

Não vejo mais você faz tanto tempo

Que vontade que eu sinto

De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços

É verdade, eu não minto

— Eu sei.

— Eu queria ir logo pra onde ele está. — Isso assustou ainda mais Inácio. Ela já tinha falado da falta que sentia do marido outras vezes, mas nunca manifestara nenhum desejo de morrer.

— Eu não quero que você diga isso, mamãe.

— Eu já fiz o que tinha pra fazer nesse mundo, Inácio. Você e o Miguel já estão criados, não tem mais por que eu ficar aqui.

— Por que você tá dizendo isso, mãe? Pelo amor de Deus!

— O que vai ser de mim quando você se casar? Eu vou ficar aqui nessa casa sozinha.

— Mãe, de onde foi que você tirou a ideia de que eu vou me casar?

— Você tá praticamente morando com aquela mulher.

— Isabella, o nome dela é Isabella, lembra? E eu não tô morando com ela, eu só passeio o final de semana no apartamento dela, deixe de ser exagerada.

— Você vive lá agora, nem se lembra que tem mãe. E o seu irmão é pior. — Para isso, Inácio não teve argumentos. Ela estava certa, Miguel não aparecia, nem dava um telefonema há séculos. Provavelmente nem se lembrava que tinha uma família, o egoísta.

— Olha, me desculpa por não passar mais tempo com você, eu sinto muito mesmo. Mas eu nunca vou te abandonar, mãe, eu prometo.

Ele a beijou novamente e só descansou quando conseguiu um sorriso. Ficou mais calmo, mas não menos preocupado, era horrível vê-la tão deprimida. Assumia sua parcela de culpa, admitia que não andava sendo o mais atencioso dos filhos e tentaria compensá-la passando mais tempo em casa, apesar da possiblidade disso interferir na relação com Isabella. Esperava que sua namorada pudesse entender a situação.

Mas queria também que seu irmão fizesse a parte dele. Como filho preferido, Miguel devia ao menos uma visita à mãe de vez em quando. Apesar de detestar a ideia de pedir algo ao irmão, telefonou para ele, entretanto o número do celular estava sempre desligado e no consultório apenas a bendita secretária atendia e dizia que ele estava no meio de uma cirurgia. Inácio suspeitava que isso fosse mentira, embora não entendesse por que Miguel se negaria a atender um telefonema seu. Na verdade, ele nem mencionara à recepcionista o fato de ser irmão de Miguel. Em todo caso, resolveu ir até lá e encará-lo.

Aproveitou a hora do almoço para ir à clínica, que por incrível que pareça, ficava a menos de dez minutos do banco. Já chegou irritado quando deu o nome na portaria e recebeu o crachá de visitante. Não sabia se seu pavor de hospitais era algo natural ou se decorria do fato de seu irmão ser médico.

Subiu até o terceiro andar, onde ficava o consultório de Miguel, e assim que entrou no elevador, viu que havia umas seis pessoas sentadas na antessala. Aproximou-se da atendente e a cumprimentou com um sorriso.

— Boa tarde, posso ajudar?

— Eu queria falar com o Dr. Miguel.

— O senhor tem horário marcado? — ela perguntou, mexendo em alguns papeis que estavam sobre a mesa.

— Na verdade, não.

— Olha, hoje o Dr. Miguel está com todos os horários preenchidos. Eu posso ver se tem algum disponível amanhã. O senhor já é paciente?

— Não, mas eu não quero uma consulta, eu só quero conversar com ele.

— Desculpe, senhor.

— Eu sou irmão dele. — A jovem recepcionista ficou um instante sem saber o que dizer, Inácio a reconhecia como dona da voz que dissera mais cedo que Miguel estava no meio de uma cirurgia. — Ele já deve ter acabado a cirurgia a essa hora, já que tem todos esses pacientes aqui, não é? — Ela deu um sorriso amarelo.

— Desculpe, Inácio, não é? — Ele assentiu. — O senhor poderia ter dito que era irmão do dr. Miguel quando ligou. Ele não gosta de ser interrompido quando está com paciente. Como eu te disso no telefone, eu anotei a sua ligação e ele retornaria logo que terminasse de atender.

— Eu não vou tomar muito do tempo dele, só quero falar sobre a nossa mãe.

— Está bem, sente-se, aguarde um instante que eu vou avisá-lo.

Ele sentou. Ela levantou de sua mesa e desapareceu por um corredor. Não demorou mais que dois minutos, e quando voltou disse a Inácio que Miguel o veria assim que o paciente que estava atendendo saísse. Inácio olhou para o relógio, sua hora de almoço estava passando rápido. Ele pegou o celular e ligou para o escritório, avisou que talvez se atrasasse um pouco na volta. Passaram-se vinte minutos, quando finalmente viu seu irmão aparecer. Miguel vinha acompanhando uma senhora, com a mão nas costas dela, conversando e sorrindo.

— Não deixe de fazer seus exercícios, está bem? — ele dizia à velhinha, que assentia com a cabeça. Miguel se despediu da paciente e só então reparou no irmão. O cumprimento que os dois trocaram foi um meneio de cabeça. — Vem — ele chamou e Inácio o seguiu. — Aconteceu alguma coisa com a mamãe? — perguntou quando entrou na sala e fechou a porta.

Inácio reparou que os cabelos do irmão estavam ficando brancos, mas de resto Miguel continuava o mesmo de sempre. O rosto sério, e o nariz meio empinado que lhe era peculiar.

— Mais ou menos.

— Tente ser mais vago, Inácio.

— Ela não tá bem, anda muito triste, deprimida, eu não sei... Outro dia eu cheguei em casa e a encontrei chorando. Agora ela fala em querer morrer.

— Ela tem feito alguma atividade recreativa, alguma coisa que a distraia?

— Ela não gosta muito de sair de casa, você sabe disso. Ela sente sua falta. Você poderia ao menos telefonar de vez em quando.

— Ela tem você. — Inácio sentiu um quê de mágoa na voz do irmão, mas recusava-se a aceitar que Miguel sentisse ciúme dele. — Tudo bem, eu vou visitá-la qualquer dia.

— Ok, mas não demore tanto.

Continua.


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