Infinito escrita por The Escapist


Capítulo 21
21. Way back into love


Notas iniciais do capítulo

Faz de conta que ontem é hoje, ok? Tá atrasadinho, mas valeu a pena escrever hoje, porque ontem eu tava morta. Enfim, a música foi difícil, nunca ouvi! O capítulo tem um personagem especial aparecendo, que eu amei tanto que até pensei em fazer uma história só pro Miguel



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Miguel foi visitar a mãe no domingo seguinte. Não era nem dez horas da manhã quando a campainha tocou. Inácio acabara de acordar e ainda estava tomando café.

— Deixa que eu vejo quem é — disse ele, e deixou a xícara na mesa. Não foi exatamente surpresa encontrar o irmão, mas olhar para Miguel todo arrumado e parecendo disposto já tão cedo, enquanto ele ainda estava de pijama, era meio deprimente. — Você poderia ter telefonado antes.

— Você precisa se resolver, maninho, reclama se eu não apareço e reclama quando eu apareço. — O bom humor dele era igualmente irritante. — Você deveria mandar aparar a grama — disse Miguel, apontando para o jardim. Inácio deixou escapar um resmungo. O irmão entrou sem esperar mais convite, aparentemente ele não viria mesmo, já que o caçula parecia de ressaca, como sempre, não estava conseguindo ser a pessoa mais educada. — Há quanto tempo você não manda limpar a piscina? — Fazia tanto tempo que não usava a piscina que até esquecia que ela existia na casa.

— O quê? — Inácio balançou a cabeça, pensando se talvez não estava dormindo ainda. Em menos de três minutos, Miguel já conseguira estragar o dia. — Você veio aqui ver a mamãe ou o quê?

— Eu esperava que fosse mais responsável. Você é, tecnicamente, o dono da casa, o mínimo que se espera é que tome conta, mas ao invés disso você deixa tudo nas mãos de uma senhora de sessenta e cinco anos?

— Não vou ficar ouvindo isso. — Inácio saiu em direção à cozinha. — O Miguel tá aí — disse à mãe, que praticamente não acreditou no que estava ouvindo, parecia nem mesmo ter entendido direito. — Por incrível que pareça.

Mas antes que ela fosse até a sala, Miguel entrou na cozinha também. Inácio teve medo que a mãe desmaiasse, tamanha a cara de admiração de dona Luísa. A alegria dela ao abraçar o filho mais velho era genuína.

— Filho! — ela mal conseguia disfarçar a emoção; Miguel a beijou na cabeça, assim como Inácio, ele era bem mais alto, ela não chegava aos seus ombros. — Senta aqui. Você já tomou café?

— Já, obrigado, mãe.

Inácio voltara a sentar e comer. Ficou encarando o irmão, reparando em cada movimento de Miguel. Talvez tentando entender o motivo dele ser tão insuportável! A mãe insistiu tanto que Miguel acabou aceitando tomar uma xícara de café e comer um pedaço de bolo de cenoura — que dona Luísa lembrou alegremente que era o preferido dele. Então ela começou a encher o filho ais velho de perguntas sobre a vida dele, sobre o trabalho, etc. para surpresa de Inácio, Miguel ouvia a tudo pacientemente e respondia da melhor maneira possível, embora sem entrar em muitos detalhes. Ele sempre fora muito reservado, até distante, não apenas do caçula, mas de toda família de modo geral.

Inácio tinha apenas três anos de idade quando o irmão deixou a casa dos pais para ir estudar Medicina, por isso as lembranças mais remotas dele são de quando ele voltava nas férias e passava a maior parte do tempo trancado no quarto estudando. Foi daí que surgira a frase mais traumatizante da vida de Inácio: seu pai adorava dizer “você deveria ser como o seu irmão”. Usava as notas boas que Miguel tivera no colégio para motivar o caçula a estudar mais, mas Inácio não entendia isso como um fator motivacional. Ao contrário, sentia-se ameaçado. Na sua cabeça, tudo que queria era que o pai entendesse que ele não queria ser igual ao irmão, queria era que os pais o aceitasse mesmo que ele fosse diferente, mesmo que ele não fosse tão inteligente.

— E você tá namorando, Miguel? — Inácio ouviu a mãe perguntar, e parecia que era a primeira vez que a expressão de Miguel se alterara. À essa pergunta ele franziu a testa, sem conseguir disfarçar que não gostara de ouvi-la. — Seu irmão daqui uns dias casa — dona Luísa continuou, parecendo indiferente ao desgosto dos filhos, pois Inácio também manifestou seu desagrado com o que estava dizendo.

— Mãe, de onde você tirou a ideia de que eu vou casar? — Ela o ignorou e continuou falando. Falando dele como se ele não estivesse presente.

— Eu nem conheço a mulher ainda, ela não vem aqui. Mas eu acho bom que ele se case mesmo, vê se aprende alguma coisa na vida.

Como ela parecia realmente ignorá-lo, Inácio resolveu sair e deixá-la paparicando o primogênito. O fato era que ele ainda sentia-se ameaçado por Miguel na preferência materna, mas agora já era adulto e conseguia lidar com isso.

Queria ligar para Isabella e convidá-la para fazer alguma coisa, mas sabia que ela não acordava antes do meio-dia aos domingos. Foi sentar no sofá da sala, colocou os pés em cima da mesinha de centro e ligou a tv num programa esportivo. Havia prometido à sua mãe que passaria mais tempo com ela, mas como sempre acontecia quando Miguel estava em casa, já estava com vontade de sair.

Cerca de vinte minutos tinham passado, quando Miguel foi sentar na sala onde o irmão mais novo estava.

— Então você vai se casar? — Inácio rolou os olhos, e ficou ainda mais admirado quando viu seu irmão sorrir. Nem sabia que Miguel tinha dentes, pensou com sarcasmo.

— Eu não vou me casar, pelo menos por enquanto. A mamãe tá viajando com essa história. Eu te falei que ela não anda muito bem da bola. — Miguel deu um pequeno sorriso.

— Ela está solitária. Se o teu relacionamento é tão sério, por que você não traz a tua namorada aqui pra conhecê-la? Ela pode fazer esse drama todo, mas vai gostar da garota. Ela adorava a Valéria, lembra? — Inácio estava oficialmente assombrado com o comportamento do irmão. Até falar sobre a sua ex?

— Quem é você e o que você fez com o verdadeiro Miguel? — Miguel ignorou a ironia.

— Você poderia pensar em ter filho, a mamãe iria adorar ter netos correndo por essa casa.

— Você deve estar de brincadeira comigo!

— É apenas uma ideia.

— Por que você não pensa em ter filhos? — Miguel franziu a testa novamente e apenas balançou a cabeça.

— Por que você fez essa cara?

— Qual cara?

— A mesma de quando a mamãe perguntou se você estava namorando. — Miguel deu de ombros.

— Você sempre foi o filhinho querido, é melhor que os netos venham de você, em todo caso.

Inácio ficou olhando para a TV e a conversa morreu por alguns minutos. Mas ainda estava pensando “na cara” de Miguel. Havia alguma coisa que ele não estava contando.

— Você vai ficar pra almoçar? — perguntou depois de um instante. Miguel assentiu sem muito entusiasmo.

— Ela insistiu.

— E você está namorando?

— Qual o seu problema, moleque? — ele rebateu, nervosinho demais para o gosto de Inácio. — Minha vida particular não é da sua conta.

Inácio reparou no tom vermelho nas bochechas dele, depois não precisou de muito esforço para ligar os pontos daquela equação, embora a conclusão fosse extremante estranha, fazia todo o sentido.

— Você é gay? — Ele teve que dizer em voz alta, se não, não conseguiria acreditar. Miguel não afirmou, tampouco contestou. — Desde quando? — Ele deu de ombros, achando a perguntou idiota demais para se preocupar em responder. — Ok, então você tá namorando um cara? — Inácio estava obviamente se divertindo com o fato de ver o irmão constrangido, embora não achasse que houvesse motivos para isso.

— Você pode fazer o favor de falar baixo?

— A mamãe tá meio surda — explicou. — Por que você não contou pra ela?

— Eu não quero que ela saiba.

— Por quê? — Inácio insistiu.

Para Inácio era surpresa que seu irmão fosse gay. Agora percebia o quanto eles realmente eram distantes um do outro, pois isso jamais passara por sua cabeça. Mesmo assim, conseguia encarar com naturalidade, afinal, esse fato não mudava em nada a pessoa Miguel, ele certamente ainda era o mesmo chato convencido. Acreditava sinceramente que a mãe pensaria de maneira parecida. Dona Luísa tinha lá seus momentos de caretice, mas ela era acima de tudo, uma boa pessoa.

— Ela não aceitou isso quando eu era jovem, não vai aceitar agora. E eu não quero magoá-la mais.

— Ok, conta essa história direito.

Aquela era provavelmente a conversa mais longa que os dois já tiveram na vida. Inácio ouviu atentamente enquanto Miguel contava sobre a sua adolescência e como fora difícil lidar com a ideia de ser homossexual numa época em que tudo era mais complicado. O quanto tinha sido difícil lidar com a decepção dos pais.

— Eles nunca foram extremistas, mas mesmo assim... A mamãe olhava pra mim e começava a chorar, como se eu tivesse feito uma coisa horrível. Eles me tratavam como se eu estivesse doente.

— Não faz sentido, o papai adorava você, tinha orgulho, ele vivia me dizendo pra “ser igual ao seu irmão” — Inácio tentou uma imitação do tom gutural da voz do pai que fez até Miguel sorrir.

— As coisas melhoraram depois que eu saí de casa.

— Você saiu por causa da faculdade, né?

— Não! Eu saí porque não aguentava viver me reprimindo, me escondendo. Como eu não morava mais aqui, eles não tinham que me ver, era mais fácil fingir que nada acontecia. O que os olhos não veem, o coração não sente. Eles nunca mencionavam meus relacionamentos, não faziam perguntas e estavam bem, desde que ninguém soubesse. Eles não queriam que você passasse muito tempo comigo, pra que eu não me tornasse uma má influência.

Inácio não soube mais o que responder. Uma vida inteira baseada numa ideia errada a respeito do irmão.

— Apenas não conte nada a mamãe, está bem?

— Você não pode mentir a vida inteira!

— Tem funcionado bem até agora. — A resposta saiu mais ácida do que ele planejara. — Eu só quero que ela continue me amando.

I've been living with a shadow overhead

I've been sleeping with a cloud above my bed

I've been lonely for so long

Trapped in the past, I just can't seem to move on

I've been hiding all my hopes and dreams away

Just in case I ever need them again someday

I've been setting aside time

To clear a little space in the corners of my mind

All I wanna do is find a way back into love

I can't make it through without a way back into love


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