Cartas Para Quinn escrita por lovemyway


Capítulo 30
Capítulo 30 — Perseverança


Notas iniciais do capítulo

Olá o/

FELIZ NATAL, GENTE!!!

Eu ia escrever bem mais nesse capítulo, mas precisei botar o pé no freio e cortar até mesmo umas partes que tinha escrito pra ele não ficar tão grande. Ainda assim, é o maior até o momento. Sei que demoro muito pra postar, e tal, mas a gente faz o que pode, né? É difícil conciliar tudo, então quando a inspiração aparece, eu aproveito :p

Esse vai ser o último capítulo do ano, então queria agradecer a todo mundo que tem me acompanhado, que tem sido paciente, que tem transmitido tanto carinho por essa história. Espero que ela possa trazer um pouco de alegria pra vocês, assim como traz para mim. Obrigada pela paciência, pela compreensão, e principalmente pelo apoio. Que 2017 seja um ano maravilhoso para todos nós (até porque 2016 né, que coisa) e que consigamos encontrar a felicidade até mesmo nos momentos mais tristes.

Um grande abraço a todos vocês, e até o próximo ano ♥

P.S.: obrigada sleeping at last por "atlantic" que me inspirou a escrever grande parte do capítulo uashusahaush (https://www.youtube.com/watch?v=94LH08Y1vfM)



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Sam brinca no chão do quarto com um boneco de ação do Superman. O homem é um herói. Ajuda a polícia a pegar bandidos, auxilia os bombeiros a resgatar pessoas presas em prédios pegando fogo, salva a vida de pais e mães, permitindo-lhes voltar inteiros para suas famílias, para os seus filhos.

 

Quinn o odeia. Ela odeia esse alienígena repleto de poderes, que tem seu nome estampado na capa de diversas revistas em quadrinhos, porque ele não é real. Ele não é real, e exatamente por isso, quando as pessoas precisaram dele, o Homem de Aço não estava lá. Ele não estava lá para impedir o avião de bater na primeira Torre. Ele não estava lá para impedir os prédios de desabarem em cima das pessoas — pessoas comuns, sem poderes, com amigos e famílias que os esperavam em casa ao final do dia —, assim como não estava lá para ajudar os bombeiros, policiais e voluntários que fizeram o possível, tudo o que podiam, e ainda assim não foi o suficiente.

 

Mesmo uma semana depois, Judy e Russel Fabray ainda não retornaram para casa. Quinn sabe que eles não vão voltar, claro. Ela soube no momento em que viu o olhar nos rostos dos tios àquele dia. Soube no momento em que foi dormir, e sua mãe não estava lá para desejar boa noite. Soube na manhã seguinte, quando o pai não estava lendo o jornal à mesa do café, esperando para bagunçar o cabelo do filho, e rir do mau humor da filha, que sempre fazia cara feia quando tinha que acordar cedo. Sim, racionalmente, a garotinha sabe que eles não vão voltar. Por dentro, porém, ela não quer perder a esperanças.

 

Entretanto, a cada noite que passa, ela deixa de acreditar. Os pesadelos se tornam mais reais, mais significantes, e agora ela não teme mais os monstros imaginários. Ela não olha debaixo da cama ou dentro do armário (como o irmão caçula ainda faz). Ela não sente mais medo do escuro. Ela não faz nenhuma dessas coisas, porque o 11 de setembro ensinou a Quinn uma grande lição. Ela aprendeu que os piores monstros não são os de seus pesadelos, ou os que existem no escuro. Não, os verdadeiros monstros, aqueles que deixam um rastro maior de destruição, andam entre as pessoas nas ruas. Eles olham para estranhos e abrem sorrisos educados. Eles vão para seus trabalhos todas as manhãs, retornam para suas casas todas as noites, e quando ninguém está vendo, quando ninguém está prestando atenção, eles cometem o pior dos crimes: eles deixam de se importar.

 

Eles não se importam com quem vão machucar. Eles não se importam quem deixará de dizer “bom dia” na manhã seguinte. Eles não se importam com crianças que perdem suas infâncias, seu chão, sua inocência. Eles não se importam com os corações que estão partindo, ou com as marcas que acabam deixando.

 

Os piores monstros são aqueles contra os quais ninguém tem armas para lutar, porque eles parecem humanos, agem como humanos, mas no fundo, não são. No fundo, eles nunca foram.

 

Sam é novo demais para compreender isso, mas Quinn não é. Ela entende. Ela entende que sua vida nunca mais vai ser a mesma. Entende que agora Sam é tudo o que lhe resta. Entende que ela precisa encontrar um jeito de fazer com que ele sinta que está em segurança, mesmo que não seja verdade, porque ela o ama.

 

Ela o ama demais para permitir que ele também descubra que os monstros são reais. Enquanto ele brinca com seu boneco de ação, como se tudo estivesse bem, ela apenas o observa. Observa o garotinho loiro, ainda inocente, que não compreende completamente o buraco que agora existe em sua vida. O garotinho que ainda tem esperanças que os pais voltem para casa, e que quando tem um pesadelo, acorda chamando por eles, esperando que um dos dois apareça para lhe confortar.

 

Eles não irão aparecer, mas tudo bem, porque Quinn estará lá. Sempre que ele precisar. Ela estará lá.

 

*

 

— Qual o seu problema? — pergunta Santana, dando um soco de leve no braço de Quinn. — Você tem andado com essa cara o dia inteiro.

 

— Não sei do que você está falando — Quinn resmunga com a expressão fechada, afastando-se da amiga. — Me deixa em paz, Santana.

 

— Ok — a garota ergue os braços, deixando claro que não vai insistir no assunto. As feições em seu rosto mudam, tornam-se mais suaves, e ela estende a mão e aperta o braço de Quinn com delicadeza. — Mas o que quer que seja — ela diz em voz baixa, de forma que mais ninguém possa escutá-la —, você sabe que pode contar comigo, não é?

 

Por uns minutos, Quinn não diz nada. Ela fica parada ao lado de Santana, observando o movimento das pessoas pelos corredores da escola. É um daqueles dias. Os dias que Quinn detesta, e dos quais ela nunca consegue escapar. Os dias em que respirar é difícil, em que a saudade aperta no peito, em que qualquer barulho mais alto faz com que ela se assuste. É um daqueles dias em que quando for se deitar para dormir, ela sabe que terá pesadelos. O mesmo que tem tido há anos. O mesmo que a assombra quando ela está acordada. Aquele em que ela está na escola quando acontece. Aquele em que seus tios aparecem para buscá-la com Sam já no carro, e a desolação evidente em seus rostos. Exceto que não é um pesadelo, é uma lembrança, e ela sabe que nunca poderá fugir das próprias memórias.

 

— Eu sei — ela se vira para encontrar o olhar de Santana, e abre um pequeno sorriso. — Eu sei.

 

E ela sabe, mas isso não ajuda. Não torna o fardo mais leve. Não faz com que ela se sinta melhor. Ela sabe que Santana vai estar lá por ela, mas sabe, também, que Santana não compreende a dor que ela carrega. A outra garota tem seus próprios demônios, suas próprias marcas. Assim como Quinn sabe que jamais irá entender completamente como Santana se sente, ela também sabe que a recíproca é verdadeira. Então, quando é necessário, ela finge que está tudo bem.

 

A vida dela é assim, agora. Mas talvez um dia ela possa parar de fingir.

 

*

 

— Você recebeu uma carta.

 

Quinn recebe o papel das mãos de sua melhor amiga, e franze o cenho, confusa.

 

— Carta?

 

— Daquele programa — Santana dá um tapa na cabeça de Quinn, e a soldado empurra a mulher para longe, revirando os olhos. — O de conversar com os pirralhos.

 

— Ah — Quinn coça a nuca, surpresa. — Bem, foi mais rápido do que eu pensei que seria.

 

— Você não vai abrir? — a outra pergunta, curiosa. — Se você me deixar ver a sua, eu deixo você ver a minha — ela balança as sobrancelhas sugestivamente, fazendo Quinn cair na risada.

 

— Se manda, Santana.

 

Santana solta um suspiro dramático e se afasta, resmungando algo que soa muito com “Duvido que ela falaria assim comigo se estivéssemos em Seattle Heights”. A soldado assiste enquanto a amiga se afasta, e depois volta seu olhar para a correspondência que tem em mãos. Seu coração bate mais rápido no peito. Por algum motivo esse parece ser um momento importante. Ela não sabe ao certo o que esperar.

 

A jovem se inscreveu para o programa porque imaginou que seria algo bom. Às vezes, ela se pergunta se está fazendo a coisa certa, se está lutando as batalhas certas, e talvez conversar com alguém possa ajudar. Ou talvez não.

 

Dando de ombros, Quinn abre a carta e começa a ler.

 

Quando termina, um suspiro escapa por entre seus lábios, e ela coloca o papel junto ao peito. Através da janela, ela percebe que é um dia bastante ensolarado. A soldado sorri, e se levanta para começar a escrever sua resposta.

 

Ela não tem a menor ideia de quem Rachel Berry, de Lima, Ohio, seja.

Ela quer muito descobrir.



*

 

— Quinn.

 

A garotinha abre os olhos e os esfrega com as costas de suas mãos, bocejando. Ela não sabe o porquê de se sentir tão cansada, uma vez que acabou de acordar. Suas pálpebras estão pesadas, e tudo o que ela quer fazer é se entregar ao mundo dos sonhos novamente. Entretanto, as duas figuras paradas perto dela chamam sua atenção.

 

Ela os conhece, sem sombra de dúvidas. Em algum lugar dentro de sua mente, a garotinha sabe os nomes deles, embora não consiga se lembrar. Seus pensamentos estão meio nublados, e ela se sente esquisita, como se não fosse ela mesma, como se não estivesse onde deveria estar.

 

Com muito esforço, a menina se senta na beirada da cama e encara o homem e a mulher que estão em pé a sua frente. O homem tem o braço esquerdo envolto nos ombros da mulher que, por sua vez, abraça-o pela cintura com o braço direito. Ambos possuem sorrisos semelhantes em seus rostos, e seus olhos brilham cheios de amor e carinho. Piscando várias vezes para conseguir enxergá-los melhor, a garotinha finalmente os reconhece. Os olhos verdes do homem. Os cabelos loiros da mulher. A forma que eles a observam. Ela sente como se um nó estivesse se formando em sua garganta e seu coração começa a bater muito rápido, como se estivesse prestes a saltar de seu peito.

 

— Mamãe? — a menina sussurra, insegura. — Papai?

 

A mulher confirma com um aceno de cabeça, desfazendo-se do abraço do marido e dando um passo em direção a filha, sentando-se ao lado dela e esticando a mão para tocá-la. Só então que a garotinha percebe que a mãe está chorando. Ela levanta a mão e limpa as lágrimas do rosto da mulher.

 

— Não chore, mamãe — ela pede, franzindo o cenho.

 

— Quinn?

 

Quinn olha ao redor, confusa. Não há ninguém falando, mas a voz parece estar vindo de perto. É familiar, a garotinha sabe disso, embora não consiga identificar exatamente quem a está chamando. Não que importe. Ela sorri para a mãe, e joga os braços ao redor do seu pescoço, abraçando-a com força. O cheiro do perfume é familiar e lhe traz a sensação de segurança e conforto. É bom. Muito bom. A menina enterra o rosto no ombro da mãe, sentindo o calor do corpo dela contra o seu, e é como se ela estivesse retornando para casa depois de ter ficado muito tempo longe.

 

— Minha menina — a mulher sussurra, acariciando as costas da filha. — Minha linda menina. Nós estamos tão orgulhosos de você, querida. Tão orgulhosos.

 

Judy Fabray se afasta ligeiramente para encontrar o olhar da filha. Ela sorri, e segura o rosto de Quinn entre suas mãos, inclinando-se para beijar sua testa.

 

— Você me deixou — a garotinha recorda, desvencilhando-se subitamente da mãe e lançando a ela um olhar acusatório. Quinn ergue a cabeça e encara o pai. — Vocês me deixaram.

 

As lembranças invadem sua mente. Um avião. Prédios caindo. Pessoas chorando. Sam acordando no meio da noite, gritando, despertando de um pesadelo. E seus pais — seus pais, que deveriam estar lá, que deveriam confortá-los, tinham ido embora. Para sempre. Quinn sente um aperto grande no peito, sem saber ao certo se é pela dor por tê-los perdido, ou felicidade por vê-los novamente.

 

— Não — Russel nega, suspirando, abaixando-se para ficar na altura da filha. — Nós nunca a deixamos, querida. Sempre estivemos aqui — ele aponta para o peito dela, bem acima do coração. — Sempre estivemos com você.

 

— Não estavam —  ela nega, e de repente, todo o seu corpo parece começar a doer. Sua cabeça, seus braços, suas pernas. Ela tenta se mexer, mas se sente paralisada, o medo crescendo em seu peito. As lágrimas quentes começam a descer pelo seu rosto, embaçando sua visão. — Sam gritava por vocês todas as noites, mas vocês nunca estavam lá. Eu precisei cuidar dele. Eu precisei dizer que ficaria tudo bem. Não deveria ter sido eu, deveria ter sido vocês.

 

— Nós sentimos muito, querida — o pai diz, traçando carinhosamente o contorno do rosto da filha. — Nós gostaríamos de ter estado lá. Você nos perdoa, Quinn?

 

— Eu…

 

A garotinha olha de um para o outro, insegura.

 

— Eu perdoo, se vocês prometerem nunca mais me deixar.

 

— Você tem sido tão corajosa, Quinn — a mãe murmura, pegando a mão da menina e a segurando entre as suas. — Tão linda. Tão forte.

 

— Eu sinto saudades — a garotinha admite, o choro se tornando mais intenso. Ela começa a soluçar, fazendo com que sua mãe a abrace novamente com muita força. — Todos os dias, mamãe. Eu sinto muita saudade.

 

— Nós também sentimos, querida — Judy garante, a dor evidentemente estampada em suas feições. — Mas você precisa ser forte. Mais do que já tem sido.

 

— Não quero ser forte — a menina retruca, a voz vacilando. — Eu quero vocês.

 

— Não há nada nesse mundo que não faríamos para poder estar com vocês — Russel promete, apertando gentilmente a perna da filha. — E não há dor maior do que saber que nossos filhos cresceram sem nós.

 

Ele olha para a esposa, a voz embargada de emoção.

 

— Só que há coisas que estão fora do nosso alcance, filha — ele prossegue, respirando fundo. — Fisicamente, não podemos estar lá com você, mas isso não significa que nós a abandonamos. Nós amamos você, Quinn. Com todo o coração, com toda a alma. Você é nossa menina, nossa princesinha. E-eu…

 

Russel vira o rosto e pigarreia, limpando as lágrimas que descem pela sua bochecha.

 

— O que seu pai está tentando dizer — Judy prossegue com delicadeza — é que não há amor maior no mundo que dos pais pelos seus filhos. Eu sei que tem sido difícil, doloroso, mas você não pode desistir, não pode deixar de lutar. Ainda há coisas boas esperando por você, querida. Ainda há uma vida toda a ser vivida. Um dia, quem sabe, você tenha seus próprios filhos. Quando esse dia chegar, você vai entender o quanto te amamos. Mas até lá…

 

— Até lá, você precisa continuar lutando — Russel sorri para a esposa. — Por você, por Sam, por Santana, por Rachel…

 

Ao ouvir o nome de Rachel, a imagem de uma adolescente surge das memórias de Quinn, fazendo-a sorrir.

 

— Vocês sabem sobre Rachel?

 

— Nós sabemos sobre tudo — a mãe solta uma pequena risada. — Principalmente das coisas que a fazem feliz.

 

— Ela me faz mesmo feliz — Quinn comenta, pensativa. — Faz com que não doa tanto aqui — ela põe a mão sobre o coração.

 

— Rachel é uma garota especial — Russel afirma, sorrindo. — Nós ficamos muito felizes por ela ter entrado em sua vida.

 

— Vocês não estão decepcionados? Por ser uma garota? — ela pergunta, nervosa.

 

— Quinn — Judy suspira, balançando a cabeça. — Como você estar apaixonada poderia nos decepcionar? O que todos os pais querem é que seus filhos sejam felizes. Além disso, seu pai está certo, Rachel é muito especial. Ela me lembra a mãe.

 

— A menina teve a quem puxar — Russel solta uma risadinha, e se ergue para beijar o rosto da filha. — Eu me lembro a primeira vez que segurei você em meus braços, sabia? Foi ainda na sala de parto. Você era tão pequena, tão frágil. Eu pensei, “Meu Deus, como ela é linda”.

 

Judy sorri para o marido, incentivando-o a não parar.

 

— Então você cresceu — ele continua —, e eu me perguntava o que tinha feito para merecer uma filha tão maravilhosa.

 

—  Quando você estava agitada, ele era o único que conseguia fazer você dormir — a mãe confidencia, sorrindo. — Todos diziam que você seria a garotinha do papai.

 

Russel revira os olhos.

 

— Você sempre foi — ele conta. — Você sempre vai ser minha garotinha, Quinn.

 

— E nós nunca vamos deixar de cuidar de você — Judy acrescenta. — Como temos feito toda a sua vida. Você pode não nos ver, mas nós estamos lá. Sempre estivemos.

 

— Quinn? Você está me escutando? Por favor, Fabray, abra os olhos!

 

— Eu preciso ir, não é? — a garotinha suspira, encarando as próprias mãos.

 

— Eles estão esperando por você — Russel confirma. — Você está pronta, querida?

 

A garotinha suspira e concorda. Com um esforço que parece consumir todas as suas forças, ela se levanta da cama e dá alguns passos para frente. Ao ver seu reflexo no espelho do quarto, Quinn percebe que não é mais uma garotinha. Ela é uma mulher, agora, e está vestida em um uniforme do exército.

 

Ela olha para trás. Seus pais estão em pé novamente, abraçados um ao outro, ambos sorrindo. A mulher se vira para eles e os observa por alguns instantes, tentando manter cada detalhe em sua mente, certificando-se de que ela jamais vai esquecê-los. Ela caminha até eles e os abraça com força.

 

Afastar-se deles é uma das coisas mais difíceis que Quinn teve que fazer em toda a sua vida, mas ela se afasta. Ela atravessa o quarto até chegar a porta, mas antes de cruzá-la, ela se vira para olhá-los pela última vez.

 

— Eu amo vocês — ela diz, porque não pode dizer no dia que eles morreram, porque não pode dizer nos últimos anos, porque não pode dizer em todos os momentos que precisou.

 

Ela diz pela última vez, porque pode, porque precisa, porque quer que eles saibam. Quinn pode ver as lágrimas que descem pelo rosto de sua mãe, e pode ouvir toda a emoção por trás de sua voz quando ela diz:

 

— Nós também amamos você, filha.

 

O pai lança a ela um olhar cheio de orgulho, cheio de amor, o que faz com que o coração dela se encha de calor e felicidade. A soldado acena com a cabeça para si mesma, reunindo toda a sua coragem para fazer o que precisa ser feito.

 

Quinn respira fundo, e ainda que seja extremamente difícil e doloroso, ainda que a quebre um pouco por dentro, ainda que seja como ter que dizer adeus a eles novamente, ela atravessa a porta.

 

*

 

— Rachel, você pode abrir a porta do quarto, por favor? Kitty está andando de um lado para o outro na sala, planejando coisas sem sentido para fazer você sair. Tenho quase certeza que escutei um “vou queimar aqueles moletons ridículos e usar os que sobraram de pano de chão”. Ela está começando a me assustar.

 

Rachel fechou os olhos e deixou escapar uma pequena risada pelo nariz. Soava realmente com algo que Kitty diria. Ela sabia que as amigas estavam preocupadas — desde o dia em que assistira a notícia no jornal, a jovem tinha se trancado dentro do quarto e se recusava a falar com qualquer pessoa, ignorando até mesmo as ligações dos seus pais —, mas ela precisava de um tempo para si mesma. Tempo para assimilar.

 

Há um limite de coisas ruins que podem acontecer a uma pessoa, não é? Um limite de golpes que alguém pode aguentar até aquele. Aquele que atinge o resto da estrutura que ainda está de pé, e faz com que tudo vá ao chão. Deve existir alguma coisa, qualquer coisa, que impeça uma pessoa de ter que enfrentar isso mais de uma vez. Enfrentar o medo, o pânico, a insegurança que consomem tudo. Cada pensamento, cada lembrança, cada sentimento. Tem que existir algo.

 

Exceto que não há.

 

Não havia nada, nenhuma garantia, nenhuma promessa do Universo de que as coisas iam melhorar, de que elas só deviam melhorar, porque não podia existir algo pior que aquilo. Boa piada, Rachel pensou, esfregando o rosto com as mãos.

 

Parada em frente ao espelho do seu quarto, ela encarou o próprio reflexo. As olheiras. A expressão cansada. A dor. E sobre seus ombros, os fantasmas. Aquelas coisas que ela pensou que a essa altura já tinha deixado para trás, mas que agora apareciam para assombrá-la, e a lembrar de que ela jamais poderia esconder de si mesma.

 

Perder a mãe tinha sido difícil. Rachel era só uma criança, mas a dor que cortava seu peito não sabia disso, não se importava com sua idade, e deixara marcas e mais marcas que o tempo jamais poderia apagar. Mas crianças são fortes. Elas se adaptam. Elas crescem. Elas aprendem a viver com a perda muito mais rápido e muito mais fácil que os adultos.

 

Todavia, Rachel não era mais criança. Enquanto perder a mãe foi difícil, a simples ideia de perder Quinn era agonizante. Se a dor de perder Shelby deixara marcas, a dor causada pela possibilidade de perder Quinn ia mais fundo, corroía, destruía tudo o que ela tinha lutado tantos anos para construir, anos que ela tinha levado para se adaptar e aprender a conviver com a perda — e agora, lá estava aquela dor novamente, enraizando-se mais fundo, criando mais camadas, aproximando-se cada vez mais da essência de Rachel, pronta para corromper aquilo que a fazia ser quem ela era, e a transformar irreversivelmente em outra pessoa. Uma que ela não reconheceria.

 

Talvez, antes de Quinn, a garota tivesse permitido que isso acontecesse. Talvez ela tivesse se entregado ao sentimento por ser mais fácil, por não exigir uma luta, por não drenar o resto das forças que lhe sobravam. Entretanto, Rachel sabia que essa não era uma opção, não mais. Ela sabia que precisava continuar com a cabeça erguida, continuar de pé, porque ela devia isso a si mesma. Porque ela merecia.

 

Ela merecia coisas boas. Ela merecia a felicidade, e não só a tristeza. Ela merecia os amigos, os amores, a família. Ela merecia tudo que a fortalecia, tudo que a protegia e impedia a dor de encontrar a parte mais profunda de seu ser. Tudo que a podia derrubar, mas não derrubava, não derrubaria, porque ela era mais forte agora, mais corajosa, e se havia algo que Quinn havia lhe ensinado, então era isso.

 

Rachel não tinha mais medo de lutar.

Ela também não tinha mais medo de perder.

 

A jovem sabia que quando se entrava em uma batalha, ela poderia sair com um entre dois resultados. Vitória ou derrota. A estudante conhecia os riscos, sabia o que estava em jogo, e ainda assim decidiu prosseguir, continuar, porque independente do resultado, toda batalha trazia algum ensinamento.

 

Suspirando, Rachel andou até a porta do quarto e a abriu, deparando-se com Brittany encostada na parede, os braços cruzados sobre o peito. A loira ergueu os olhos e as duas se encararam, sem dizer nada. Por alguns instantes, ambas ficaram em silêncio, as expressões em seus rostos dizendo tudo o que a outra precisava saber.

 

Brittany estava sofrendo, também, Rachel podia ver. A diferença era que para a dançarina, que nunca tinha passado por nada do tipo, era mais fácil se manter otimista. Mais fácil acreditar que tudo ficaria bem. Para Rachel, não. Todos os seus instintos gritavam para ela correr, para se esconder da dor, para aceitar a derrota. Manter a esperança era uma decisão. Uma que ela havia feito.

 

— Ela ainda está ameaçando meus moletons? — indagou, por fim, arqueando a sobrancelha.

 

— Honestamente, não faço ideia — a loira bufou, dando de ombros. — Eu meio que me desliguei depois disso. Ela é louca.

 

— É — a jovem sorriu. — As melhores pessoas são.

 

— Talvez — Brittany inclinou a cabeça para o lado, analisando a garota a sua frente. — Você está horrível.

 

— Obrigada — ela disse, a voz carregada de sarcasmo. — Você também está ótima. Parece que passou o dia inteiro no spa.

 

— No seu sofá — a dançarina retrucou, sorrindo. — Muito confortável, por sinal. Torcicolo combina comigo.

 

— Você podia ter ido para casa — Rachel disse, envergonhada. — Não precisava ter ficado.

 

— Precisava — descruzando os braços, Brittany se aproximou da garota e pôs as mãos sobre os ombros dela, encarando-a com uma expressão gentil. — Precisava — ela repetiu, com um tom de voz firme —, porque você é minha amiga, e eu me importo com você. Precisava, porque mesmo que você tenha se trancado no quarto pelos últimos dois dias, eu queria que você soubesse que não estava sozinha. Você não está sozinha. Então se você quiser aceitar a proposta do Sam para irmos a Seattle, ou se quiser ir para Lima ficar com os seus pais, ou voltar para dentro do quarto novamente…

 

— Você está fazendo isso errado — ralhou Kitty, aparecendo no final do corredor e franzindo o cenho na direção da dançarina. — Nós queremos ela aqui fora, lembra?

 

Brittany revirou os olhos e ignorou a outra garota, fazendo Rachel soltar uma risada baixa.

 

— O que você quiser fazer — a dançarina completou com suavidade —, tudo bem. Nós estaremos lá por você.

 

— A não ser que você volte a usar aqueles moletons — acrescentou Kitty, fazendo uma careta. — Nesse caso, você está sozinha.

 

Rachel balançou a cabeça e caiu na gargalhada, lançando-se na direção de Kitty e a puxando para um longo abraço. A loira sorriu no pescoço de Rachel, acariciando as costas da amiga.

 

— É brincadeira — a loira disse, assim que elas se afastaram. — Se você voltar a usá-los, não vai estar sozinha. Ainda vai ter a companhia daqueles gatos horrendos bordados naquelas coisas.

 

— Deixe ela em paz — Brittany deu um tapa no ombro de Kitty, virando-se para Rachel de braços estendidos. A morena riu e se inclinou para abraçá-la. — E então, Rach, o que você quer fazer?

 

— Seattle — Rachel disse, decidida.

 

— Vou ligar para o Sam para avisar — Brittany informou, puxando o celular do bolso e caminhando até a sala.

 

— Você — Kitty apontou para a amiga, e então abriu um sorriso tímido —, não faça mais isso comigo, Berry. Eu estava preocupada.

 

A expressão no rosto dela suavizou.

 

— Vai ficar tudo bem, Rach.

 

Rachel concordou com um aceno. Sim, ela pensou. Vai ficar.

 

*

 

— Fico muito feliz que vocês estejam aqui. Significa muito para mim.

 

— Desculpe ter demorado tanto — Rachel murmurou, envergonhada.

 

Sam colocou a mão sobre o ombro dela, lançando-lhe um olhar compreensivo.

 

— Eu entendo. Por isso que achei que seria uma boa ideia se vocês viessem — ele abriu um pequeno sorriso para Brittany, que estava parada atrás de Rachel, apoiada no carrinho onde estavam as malas delas. — Em situações assim, ajuda ficar perto de pessoas que…

 

O rapaz virou o rosto, sem terminar a frase. Rachel segurou a mão dele e a apertou com gentileza. Ela entendia, também. Levou alguns dias para conseguir comprar as passagens, conversar com os professores na Universidade e fazer as malas, mas a estudante sabia que tinha tomado a decisão certa. Mesmo que não fosse ficar muito tempo em Seattle, seria bom poder ficar perto de pessoas que compreendiam como ela se sentia.

 

— Seus tios estão em casa? — Brittany desviou o assunto para aliviar a tensão. — Não vejo os dois há anos.

 

— Estão — Sam concordou com um aceno. — E eu vou logo dizendo que eles querem muito conhecer você — ele lançou um olhar de desculpas para Rachel. — Eles podem ser um pouco… Intensos, às vezes. Principalmente minha tia.

 

— Isso é um exagero — a loira franziu o cenho. — Elena é maravilhosa.

 

— Você diz isso porque ela gosta de você — ele revirou os olhos. — Nem todo mundo tem essa sorte.

 

— Bem, não — concedeu —, mas Rachel não precisa se preocupar com isso. Eles vão amá-la.

 

— Não é com a Rachel que eu estou preocupado — ele estremeceu. — Tenho certeza que eles vão se apaixonar por você de cara. E esse é o problema. Tenho medo só de imaginar das histórias embaraçosas de infância que eles podem desenterrar.

 

— Você não se importou de contar algumas da Quinn — Rachel disse, estreitando os olhos para o garoto.

 

— Porque eram sobre Quinn! — ele exclamou, a voz saindo extremamente aguda. — Não quero que eles saiam contando as minhas, também. A namorada é sua. Não vejo porque eu tenha que passar vergonha junto com ela.

 

— Rainha do drama — Brittany brincou.

 

— Ok, ok — ele ergueu as mãos, deixando o assunto de lado. — Vamos logo, antes que eles comecem a me ligar perguntando se eu me perdi no caminho. Uma vez — ele suspirou dramaticamente. — Você se perde uma vez, e eles não esquecem disso.

 

— Rainha do drama — a dançarina repetiu, rindo.

 

Rachel sorriu.

 

*

 

— Sam! — um homem exclamou, assim que os três entraram na casa do rapaz. Ele era alto, moreno, e seus olhos eram castanhos escuros e tinham um aspecto gentil — Sua tia já ia ligar perguntando se você tinha se perdido.

 

O rapaz gemeu, fazendo o homem rir.

 

— Não disse? — Sam reclamou. — Uma vez, foi só uma vez!

 

— Brittany, que bom ver você! — o homem ignorou o sobrinho e se levantou do sofá para cumprimentar a dançarina com um aperto de mão. — Quanto tempo!

 

— Christopher — ela sorriu. — Faz bastante tempo, mesmo.

 

— E você deve ser a Rachel — ele se virou para a garota, um sorriso brincando em seus lábios.

 

— Olá — Rachel disse, sem graça, esticando a mão. Christopher balançou a cabeça e a puxou para um abraço.

 

— É um prazer conhecê-la, querida.

O barulho de passos chamou a atenção de todos. Christopher olhou para trás, o sorriso se alargando, e Rachel podia jurar que ouviu Sam gemer novamente. Brittany deu um tapinha nas costas do rapaz, o ar divertido evidente em suas feições.

 

— Christopher? O Sam chegou? Eu preciso chamar a polícia?

 

— Pelo amor de Deus — Sam grunhiu, cobrindo o rosto com as mãos. — Tia!

 

Rachel se virou para ver a mulher parada na porta que parecia levar a cozinha. Ela tinha as duas mãos na cintura, e um olhar travesso em seu rosto. Ela encarava Sam com a sobrancelha arqueada.

 

— Não desta vez, Elena — Christopher negou. — Pode segurar a equipe de busca.

 

Elena Fabray soltou uma pequena risada, aproximando-se do grupo parado na sala de estar. Ela era uma mulher muito bonita, Rachel notou. Seu cabelo era loiro, seus olhos eram verdes, e a garota podia perceber algumas semelhanças entre Elena e sua sobrinha, como o formato do nariz ou até mesmo o das sobrancelhas.

 

— Eu odeio vocês — Sam resmungou, fazendo beicinho e cruzando os braços sobre o peito.

 

— Ninguém perguntou, querido — Elena dispensou o comentário do sobrinho com um aceno de mão, voltando sua atenção às duas mulheres paradas perto do seu marido. — Brittany! Linda como sempre!

 

— Elena — a loira abriu um largo sorriso. — Digo o mesmo. Você parece mais jovem a cada ano.

 

— Ah, querida — Elena riu. — Você não precisa mentir para mim. Meu marido serve para isso.

 

— Realmente — ele concordou. — Minto para ela todos os dias quando digo que a amo.

 

— Por favor — a mulher zombou. — Você não vive sem mim.

 

— Não — Christopher lançou a ela um olhar cheio de amor. — Não vivo, mesmo.

 

Elena sorriu para o marido, e voltou seu olhar para Rachel.

 

— Você deve ser a Rachel.

 

— Prazer em conhecê-la, senhora Fabray — a jovem falou educadamente.

 

— Senhora está no céu, querida. Só Elena — andando até se aproximar da estudante, a mulher a analisou de cima a baixo, fazendo Rachel ficar vermelha de vergonha. — Minha sobrinha é uma mulher de sorte. Quando a vir, direi isso a ela.

 

Sorrindo, Elena apertou o ombro de Rachel. Virando-se para encarar Sam, ela crispou os lábios e estreitou os olhos.

 

— Onde estão seus modos, Samuel? Vá ajudá-las a colocar as malas nos quartos.

 

— Nós acabamos de chegar, tia — ele resmungou. — Deixe elas respirarem primeiro.

 

— Elas respiram pelo nariz, não pelas pernas. Agora, seja um cavalheiro e carregue as malas delas para os quartos, sim? Brittany, você vai ficar no quarto de hóspedes. Lembra onde é? — a dançarina confirmou, fazendo a mulher mais velha sorrir. — Ótimo. Rachel, querida, você vem comigo. Eu vou lhe mostrar onde você vai ficar.

 

Sem esperar por uma resposta, Elena passou o braço pelos ombros de Rachel, guiando-a em direção às escadas que levavam ao segundo andar.

 

A casa dos tios de Quinn era muito bonita, Rachel percebeu. A sala era toda branca, o chão de madeira e os móveis escuros. Havia um sofá grande e uma televisão enorme pendurada na parede ao qual estava conectado um home theater. A melhor coisa, entretanto, eram as fotos que Rachel viu de relance espalhadas pelo aposento. Um pequeno sorriu surgiu em seus lábios, que foi notado por Elena. Percebendo a direção do olhar da jovem para as fotografias, a mulher sorriu, também.

 

— Sempre gostamos de ter fotos em todos os cantos — ela disse, soltando Rachel e começando a subir as escadas, olhando para a garota por cima do ombro. — Quando era pequeno, Sam gostava de personalizar molduras. Você pode imaginar como elas eram. Sam é um ótimo sobrinho, mas Deus o abençoe, ele não tem talento nenhum para decoração.

 

Rachel soltou uma pequena risada.

 

— Ainda bem que ele escolheu outro ramo da arte, então — comentou, divertida.

 

— Nós não o apoiamos muito no começo — Elena admitiu, suspirando. — Sempre quisemos o melhor para ele, para eles, e eu tinha tanto medo que ele investisse nessa carreira e não desse certo. Ele ia ficar devastado, e já vi devastação demais para uma vida inteira.

 

Elena acenou para Rachel segui-la pelo corredor, e parou na última porta à esquerda, indicando-a com um aceno de cabeça.

 

— É aqui que você vai ficar.

 

Abrindo a porta, a tia de Sam entrou no quarto, gesticulando para que Rachel a seguisse. Fazendo o que foi pedido, a estudante cruzou a porta, e seus olhos se arregalaram.

 

Era o quarto de Quinn, ela não tinha dúvidas. Três paredes eram brancas, e a na qual a cabeceira da cama ficava encostada era azul escuro. Havia um pequeno guarda-roupas, uma escrivaninha de vidro, e acima dela umas estantes cheias de livros. Uns posters estavam espalhados pelas paredes, e Rachel sorriu ao reconhecer alguns como sendo de Harry Potter e Star Wars. A jovem podia imaginar uma Quinn adolescente deitada naquela cama, lendo seu livro favorito ou fazendo dever de casa.

 

— Não mudamos nada desde que ela se alistou para o exército — comentou Elena, olhando ao redor. — No fundo, nós sempre torcemos para que ela voltasse logo para casa.

 

Ela se sentou na cama da sobrinha, passando a mão gentilmente pela colcha.

 

— Russel era meu irmão. Sempre fomos próximos, e perdê-lo foi um baque e tanto.

 

— Eu posso imaginar — Rachel disse, sentindo um caroço surgir em sua garganta. Ela pigarreou para se livrar dele, e continuou. — Deve ter sido difícil, ainda mais com Sam e Quinn envolvidos.

 

— Sim — ela concordou. — Não foi fácil ter que cuidar de duas crianças de um dia para o outro. Sam foi mais receptivo, mas Quinn… Ela foi muito resistente, no começo. Queria fazer tudo por si mesma. Queria carregar todo o peso nos ombros mesmo sem precisar. Ela tomou para si a função de cuidar do irmão, e o que nós podíamos fazer? Nós tentamos, nós tentamos até hoje, mas acho que mesmo que nos ame, Quinn nunca vai sentir que somos o apoio dela.

 

A mulher passou a mão pelo rosto, e Rachel pode perceber o quanto ela estava exausta. Seu coração se apertou no peito por Elena. Perder o irmão, e agora, a sobrinha… Ela vai ficar bem, Rachel lembrou a si mesma, espantando os pensamentos negativos. Quinn vai ficar bem.

 

— Sam tentou nos chamar de pai e mãe uma vez, sabia? — Rachel negou, e Elena soltou um pequeno riso. — Um olhar para Quinn, e ele nunca mais fez isso. Doeu bastante. Eu queria que ela sentisse que pudesse contar com a gente, que ela pudesse nos ver como pai e mãe. Não para substituir Judy e Russel, mas para… Para…

 

— Complementá-los? — sugeriu a jovem.

 

— Complementá-los — Elena sorriu, agradecida. — Não queríamos que Quinn se alistasse. Tivemos uma grande briga sobre isso. “Eu já perdi meu irmão, eu não quero perder você também”. Foi a última coisa que eu disse a ela antes de ela sair pela porta da frente. Depois disso, só umas ligações aqui, uns emails ali, mas geralmente ela só queria falar com o Sam. Ele sempre foi a prioridade dela.

 

Rachel se sentou ao lado de Elena, e apertou a mão dela uma vez, transmitindo-lhe forças.

 

— Tudo o que eu mais quero é que minha menina volte para casa — Elena disse, as lágrimas começando a cair pelo seu rosto. — Porque ela pode não me ver como mãe, mas eu a vejo como filha, e nenhum pai quer sentir a dor de…

 

A tia de Quinn balançou a cabeça e respirou fundo.

 

— Ela vai ficar bem — Elena murmurou. — Sei que vai. Quinn é forte. Além disso, ela tem algo agora que não tinha antes.

 

— O que? — Rachel indagou, curiosa.

 

— Você — a mulher disse, virando-se para encarar a jovem. — Nos últimos tempos, Quinn tem falado mais com a gente, e em todas as conversas, o seu nome surge. A voz dela…

 

Elena respirou fundo novamente, tentando controlar as emoções.

 

— Você não sabe o quanto é bom ouvir a esperança na voz de Quinn novamente. Saber que depois de todos esses anos, ela finalmente encontrou algo, alguém, que a desse algo que ela nunca teve.

 

— Compreensão — esclareceu Elena, ao notar o olhar confuso no rosto da garota. — Você a compreendeu. Deu a ela um ombro amigo, transmitiu a ela força, esperança. Eu sei que ela vai lutar para vir para casa. Para nós. Para você.

 

Rachel mordeu os lábios com força e virou o rosto, seu peito subindo e descendo rápido, todos os sentimentos que estavam acumulados dentro de si tentando escapar.

 

— Obrigada, Rachel — Elena murmurou, limpando as lágrimas que caíam pela bochecha dela, puxando-a para um abraço apertado. — Obrigada por me devolver minha filha.

 

— Ela vai voltar, não é? — a garota perguntou, a voz frágil, embargada, carregada de todas as dúvidas e medos que ela não ousava dizer.

 

— Vai — garantiu Elena, com certeza e esperança em seu olhar. — Ela vai voltar.

 

Rachel concordou, respirando fundo e se recompondo. Ela abriu um sorriso tímido para a mulher, que foi retribuído.

 

Eu estou esperando, Quinn.

Nós estamos esperando.


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Notas finais do capítulo

Não sei se ficou bom, mas fiz o que pude. Espero que tenham gostado, e até logo :)



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