Cartas Para Quinn escrita por lovemyway


Capítulo 16
Capítulo 16 — Momentos Imperfeitos


Notas iniciais do capítulo

Hey gente, tudo bom?

Com saudades da fic? :P. Sei que demorei um pouquinho dessa vez, mas culpa do estágio feat. faculdade feat. bloqueio criativo. Felizmente, por esses dias a criatividade tem colaborado bastante. Consegui escrever CM, e acabei de escrever esse cap., e quis postar logo pra vocês ♥

Espero que estejam curtindo a história! Se puderem deixar reviews, deixem. Essa que vos fala certamente ficará muito feliz :D


Só mais uma coisinha... FELIZ NATAL e um PRÓSPERO ANO NOVO. Espero que venham muitas coisas boas em 2015 para vocês; e que esse Natal seja cheio de paz e alegria (ou o tanto quanto pode ser com a família toda reunida UHAUHAUAHUA, só brincando :p).

Uma ótima leitura! Espero que gostem :D



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07 de maio de 2012





Querida Quinn,



A primeira vez que me apaixonei, eu tinha treze anos de idade. Foi por minha melhor amiga do Ensino Fundamental, Stacy McAndrews. Ela era a única que tinha coragem de ficar perto de mim, apesar de eu ser a garota esquisita com pais gays, roupas feias, e uma obsessão por musicais e por ser o centro das atenções. Obviamente, ninguém mais queria andar comigo. Stacy, por outro lado, era do tipo de garota que não se importava com o que as outras pessoas pensavam. Aos treze anos, isso é algo bem impressionante.

No dia dos namorados, eu escrevi um bilhete à Stacy. Não assinei com o meu nome, claro, porque eu sabia que ela não gostava de garotas como eu, e porque não queria perder sua amizade. Só queria que ela soubesse que alguém a admirava, que ela era especial. Então coloquei o cartão em seu armário, e esperei que ela me contasse sobre ele, porque ela me contava sobre absolutamente tudo.

Não foi uma das minhas ideias mais brilhantes. Uns garotos me viram colocar o cartão lá. Eles deram um jeito de tirá-lo do armário de Stacy, e o leram em frente a sala inteira. Eles disseram que tinha sido eu. Mesmo que não tivessem provas… Bem, não precisavam. Eu era filha de gays. Em suas cabeças, isso me fazia gay também — o que realmente sou, mas não por causa dos meus pais. Sexualidade não é influência, não é uma escolha. É só quem somos. Uma parte natural de nosso ser. Claro que, aos treze anos, são poucos os que pensam assim. Depois disso, eu saí correndo. A única vez que me lembro de ter chorado tanto quanto aquele dia foi quando descobri que minha mãe foi para o Céu, e eu nunca mais a veria novamente. Você perde alguma coisa. Uma parte da inocência, do seu coração, do seu desconhecimento da dor, da decepção. É terrível, principalmente porque é a primeira vez. Sempre parece que o mundo está desabando, ainda que não esteja.

Stacy me procurou alguns minutos depois. Eu estava no banheiro, escondida, e podia ouvir risinhos vindos de fora. Ela não olhou para mim. Não se aproximou. Disse que não poderíamos mais ser amigas, e eu lhe perguntei o motivo. Não deveria ter perguntado. Stacy ergueu a cabeça e olhou para mim.

“Você é gay”, ela sussurrou, como se fosse um crime imperdoável. “Eu não”.

Então Stacy, a garota incrível de treze anos que não se importava com a opinião de ninguém, olhou por cima do ombro, provavelmente para ter certeza de que não havia ninguém por perto, e esticou a mão para segurar a minha. Não havia pena em seu olhar. Só um pedido mudo de desculpas.

“Eles vão fazer da minha vida um inferno, Ray. Sinto muito”.

Ela se foi. Minha melhor amiga. Minha primeira paixão. A única pessoa com quem eu podia contar em todos os momentos. Eu teria aguentado todas as brincadeiras se ela estivesse ao meu lado. Talvez não afastasse tanto as pessoas como costumava afastar. Talvez não fosse tão desesperada para ter tudo, ser o centro de tudo, conquistar o meu espaço. Talvez.

Lembro-me de ter chegado em casa naquele dia despedaçada. Contei ao meu pai o que havia acontecido, e ele se sentou comigo no sofá e limpou minhas lágrimas. Nunca me esqueci do que Leroy me disse. Ele passou o braço pelo meu ombro e me trouxe para perto, encostando seu queixo no topo da minha cabeça. Encostei minha cabeça em seu peito, e ouvi seus batimentos cardíacos. Foi o que me acalmou. Isso, e a música que ele cantava baixinho em meu ouvido.

“Dói tanto, papai”, eu lhe disse, soluçando.

“Minha querida”, ele me abraçou apertado, “a dor é inevitável. Todos nós sofremos um dia, e sofremos justamente por aqueles que amamos.”

“Não me parece justo”, resmunguei.

“Não”, ele concordou, e beijou minha testa. “Não parece. Mas, você sabe, há um lado positivo em tudo isso. Sei que você não pode enxergar agora — eu mesmo levei muitos anos para perceber —, só que a dor nem sempre é uma coisa ruim. Ela nos torna mais fortes, mais sábios.”

“Não me sinto mais forte”, sussurrei, agarrando sua camisa com força. “Me sinto horrível.”

“Rachel”, ele me disse, afastando-se e erguendo minha cabeça até nossos olhares se encontrarem. “Nós escolhemos as pessoas que entram em nossas vidas. Nós permitimos que elas tomem parte de nosso coração; nós as tornamos importantes. Se vamos sofrer um dia, então não seria melhor sofrer por alguém que é tão capaz de nos fazer chorar quanto é de nos fazer rir? As pessoas que amamos muitas vezes partem nossos corações, mas, você vê?, só amamos aqueles que consideramos especiais. Eles te conquistaram de alguma forma. São, ou foram, uma parte importante de quem você é, ou de quem se tornou.”

Eu achei que ele estava ficando louco. Claro. Não estava entendo uma palavra sequer, e como poderia? Com treze anos você não pensa nesse tipo de coisa. Tudo o que você pensa é no seu coração doendo, e no mundo desabando, e como tudo parece horrível e você sente como se fosse morrer. E ele continuou:

“O que estou tentando dizer é que se você for chorar por alguém, melhor chorar por quem também já te fez sorrir. A dor é maior, claro, mas pelo menos você tem os bons momentos para lembrar que a dor nem sempre foi tudo. Que houve uma época em que as coisas foram melhores. Que pode haver uma época em que elas sejam melhores novamente.”

Sei que tudo isso parece meio aleatório. Em um minuto — na verdade vários dias atrás, quando enviei a carta (mas você entendeu) — eu estava tagarelando sobre minha audição, e em outro estou falando sobre minha primeira decepção amorosa. O que estou tentando dizer com tudo isso é que, hoje, eu compreendo o que meu pai quis dizer.

Por que amamos as pessoas que amamos? Dizem que o coração não escolhe, mas isso não é verdade. Nós escolhemos. Inconscientemente, mas escolhemos. Escolhemos aquela pessoa de quem precisamos. Escolhemos aquela pessoa que de alguma forma pode nos completar, pode nos fazer melhores. Escolhemos quem queremos que esteja ao nosso lado, apesar de seus defeitos, por conta de suas qualidades. E muitas vezes as pessoas que precisamos são aquelas que, em circunstâncias ideias, nós nunca nos relacionaríamos. Então é uma coisa boa que a vida seja feita de momentos imperfeitos, e de situações que nos deixem de coração e mente abertas — se não fosse assim, então nunca teríamos nos conhecido.

Você me ajudou em minha audição. Com suas palavras, com as lembranças que tenho de nossas conversas, com os seus conselhos. Você, assim como Leroy fez há muito tempo, conseguiu abrir meus olhos para algo que eu ainda não havia percebido. Quero dizer, eu sabia disso, claro que sabia, só que é uma daquelas coisas tão certas que você sequer para para pensar sobre isso. E quando para, aquilo te surpreende. E eu me surpreendi. Surpreendi-me com a quantidade de emoções que vinha carregando dentro do peito. Surpreendi-me com a facilidade com que encontrei uma música para cantar. Mas, mais do que tudo, surpreendi-me por ter pensado tanto em você. Sei que tenho dito diversas vezes que você significa muito para mim — mas dizer e perceber a extensão desse sentimentos é algo diferente. Algo bonito.

Eu estava com medo de fracassar, mas acho que isso não é possível. Posso ou não ganhar a bolsa de estudos. Posso ou não ser aceita em NYADA. Entretanto, se as coisas não acontecerem do jeito que planejei, não é porque não sou boa o bastante, ou porque não tentei, ou porque sou um fracasso — a vida é inesperada. As coisas acontecem na hora que têm que acontecer.

Momentos imperfeitos.

Mas, no final das contas, a imperfeição não é tão ruim.

Acho que podemos ser imperfeitas juntas. O que você me diz?

Da sua amiga que teve uma epifania,

Rachel Berry.

P.S.: Gostaria que tivesse um modo de enviar minha audição à você. Prometo que quando nos encontrarmos pela primeira vez, cantarei-lhe qualquer música que você quiser ouvir.

P.P.S.: A música que cantei foi “Fix you”, do Coldplay.

P.P.P.S.: Eu estava quebrada quando nos conhecemos. Acho que você me consertou.







12 de maio de 2012





Querida Rachel,



Hoje é um péssimo dia para enviar cartas (risos). Já recebi um email de Sam, e pode acreditar que estava cheio de pegadinhas, e coisas do gênero. Não que eu esperasse qualquer outra coisa. É Sam. Se alguém pode encontrar uma forma de zoar com a irmã que serve no exército, esse alguém definitivamente é ele (risos).

Obrigada por ter divido a história da Stacy comigo. Isso me fez lembrar da minha primeira paixão, Luke Staton. Nós tínhamos onze anos, e eu era a única garota da nossa faixa de idade na nossa rua, então eu costumava passar muito tempo com os meninos, brincando. Ele foi o meu primeiro beijo. Acho que poderia ter sido meu primeiro namorado, mas então o 11 de setembro aconteceu, e… Bem, foi isso. Um beijo foi tudo que tive. Para ser bem sincera, fico grata que tenha sido só isso. Olhando para o passado, percebo que ele era um idiota.

Crianças são complicadas. Elas têm esse mundo em suas mentes, e ele é grande, super assustador. Nós costumamos nos importar mais com as pessoas que conhecemos porque, bem, elas são tudo o que conhecemos. Num mundo gigante como o nosso, é assustador não ter as pessoas ao seu redor te apoiando e te respeitando. Há algumas exceções. Algumas pessoas especiais. Como você. Eu, infelizmente, não era uma delas. Sempre fui muito assustada, muito medrosa. Talvez por causa do bullying que sofria constantemente por ser gordinha — perdi peso alguns meses antes de entrar pro Ensino Médio, porque queria me tornar uma líder de torcida —, ou talvez porque era só meu jeito de ser mesmo. Talvez eu ainda fosse assim se meus pais… Enfim. Eu comecei a mudar quando eles se foram. Acho que a tragédia tem coisas boas, também. Elas podem trazer nosso pior lado à tona, mas, às vezes, também podem trazer o seu melhor.

O quão incrível seria se trouxesse apenas o melhor? Bem, nem tanto. As pessoas iam continuar odiando tragédias, e com razão. Mas ao menos teria um ponto positivo em tudo isso. Alguma lição para tirar. Algum conforto. Não sei.

Chega de falar de coisas que não sei. Se fizesse uma lista delas, provavelmente não teria fim (risos). Então vamos lá. As coisas que sei. Sei que estou orgulhosa de você de uma maneira que não consigo explicar. É só que… Eu sinto essa conexão com você. Sei que é esquisito, e tudo, mas é como me sinto. Você é uma grande amiga, Rachel. Alguém que fico feliz em ter em minha vida. Tenho certeza de que nos encontraremos um dia, e talvez esse dia não esteja tão distante. Bem, isso não sei (outra coisa pra lista). Ao menos é o que espero. Gostaria de ouvi-la cantar. Estou certa de que seria uma grande honra.

Sei, também, que você vai conseguir essa bolsa. Estou tão certa disso quanto estou de que meus olhos são verdes, de quem Sam é loiro, e de que o Sol é uma das coisas que nos permite viver neste planeta. Sei que parece absurdo ter tanta certeza assim em relação a algo que não tenho a mínima ideia de como funciona, principalmente por não ter estado lá para vê-la em seu momento, mas… É só esse sentimento em meu peito. Sinto que você está destinada à grandeza. Quem sabe todos nós estejamos, e só uns poucos realmente consigam alcançá-la. Seja como for, sei que você realizará seus sonhos. Apenas sei.

Você sabe, toda essa história de corações partidos, decepções e dor me fez lembrar de Santana. Acho que comentei com você sobre Brittany, não é? Disse que não era a minha história para contar, mas Santana deixou bem claro que não se importa que eu divida coisas com você. Senhorita Berry, aceite isso como um elogio. Santana não a conhece, nunca falou com você, mas acredite em mim quando digo que ela confia em você, Rachel. Ela se importa com você. Talvez porque eu não pare de falar sobre nossas conversas, ou porque ela te entende de uma maneira que eu não posso, em alguns sentidos. Enfim. Sobre Brittany.

Não lembro se cheguei a dizer alguma coisa sobre ela, então acho melhor começar do começo. Já disse para você que Santana e eu estudamos juntas no Ensino Médio. Éramos líderes de torcida, nós duas — só que, na verdade, costumávamos ser um trio. Havia esta garota, Brittany Pierce. Deus, Rach, se você a visse. Ela era linda, claro. Loira, olhos azuis, inocente. Mas a coisa mais linda sobre ela era sua dança. A paixão que ela tinha por música. O modo que ela fazia cada batida fluir pelo seu corpo como se fosse parte dele; como se ela e a música fossem uma coisa só. Era incrível de se ver. Santana se apaixonou por ela. Apaixonou-se pela maneira que Brittany via o mundo; apaixonou-se por cada detalhe de sua aparência, por cada nuância de sua personalidade. Nunca a vi tão envolvida por alguém.

Santana sempre foi muito aberta em relação à sua sexualidade, e Brittany não era. Ela era uma pessoa muito inocente, muito vulnerável, e qualquer um poderia machucá-la tremendamente com gestos ou palavras, por mais inofensivos que fossem. Brittany é uma daquelas pessoas raras de se achar — aquela que acredita em contos de fadas, em finais felizes, em que tudo é bonito e divertido. Esse jeito encantador que ela vê o mundo acaba por te envolver. O problema é que outras pessoas não são assim. Santana podia lidar com o preconceito, com as brincadeiras de mau gosto, com tudo. Brittany não.

Havia este garoto, Daniel, que era apaixonado pela Brittany. Ela deu um fora nele por causa de Santana, e não se dá um fora no capitão do time de futebol sem levar um troco. Claro que ele quis se vingar — teve seu ego ferido por não ter sido escolhido; por ela ter preferido uma garota. Foi então que o pesadelo começou para Brittany. Eles a destruíram. Completamente. Até o ponto em que ela não era mais inocente e esperançosa. Eles tiraram isso dela, Rach. Santana tentou impedir; tentou focar o alvo nela. Não deu certo. A única saída que ela encontrou foi mentir. Então ela admitiu para a escola toda que vinha forçando Brittany a ficar com ela através de chantagens. Santana quase foi expulsa por isso.

Uma coisa curiosa, entretanto. Os pais de Brittany foram ao colégio por conta daquela situação — depois do que Santana disse, e tudo —, mas eles não pareciam com raiva. Posso estar enganada, só que o modo que eles olhavam para minha amiga… Acho que, no fundo, eles sabiam a verdade. Não teriam lançado a Santana olhares de gratidão se não soubessem. Nunca conversamos sobre isso. Ela nunca me disse nada. Tudo o que sei é que Brittany foi embora no final do ano letivo. Santana não a viu desde então. E isso meio que a matou. Ela ainda se culpa por tudo o que aconteceu (o que é ridículo, porque não é culpa dela em tudo), e ela ainda pensa em Brittany, às vezes.

O que foi que você disse? Momentos imperfeitos?

Acho que você está certa. Quando estamos machucados, abrimos nossa mente e nossos corações. É uma coisa boa. Vemos coisas que não veríamos se estivéssemos inteiros. O que quebrou Santana foi, também, o que a reconstruiu. Sei que ela ainda carrega esse peso nas costas (todos nós carregamos os nossos), mas pelo menos uma coisa boa saiu de tudo isso. Ela ficou mais forte. Ainda mais corajosa. Uma pessoa que amo com todo o meu coração.

Aposto que você a amaria, também. Se você a conhecesse bem. Embora ache que seja difícil realmente conhecer uma pessoa, compreendê-la, sem acabar a amando.

Acho que somos todos imperfeitos.

Não me importaria de ser imperfeita com você.


Da sua amiga que gosta de epifanias,

Quinn Fabray.


P.S.: Essa é uma promessa que irei cobrar, senhorita Berry.

P.P.S.: Eu AMO essa música!

P.P.P.S.: Lights will guide you home/ And ignite your bones/ And I will try to fix you.

P.P.P.P.S.: Não se preocupe em relação ao primeiro de abril. Eu não mentiria para você :)


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Notas finais do capítulo

E então, curtiram o capítulo? Espero que sim :D

Obrigada por todo o carinho, e até logo ♥



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