Cartas Para Quinn escrita por lovemyway


Capítulo 17
Capítulo 17 — Amigos Verdadeiros


Notas iniciais do capítulo

Então é oficialmente o última dia de 2014.

Um ano pode ser muito e pouco ao mesmo tempo. Pode passar devagar e rápido; pode ser especial ou um daqueles que você prefere deixar para trás, porque trouxe alguns momentos de felicidade, mas a dor, o sofrimento e as perdas foram maiores.

2015 vai trazer lágrimas, decepções, tristezas. Isso é inevitável. O que eu desejo a vocês é que para cada momento em que vocês se sentirem só, vocês tenham o dobro de momentos cercados por pessoas que vocês amam; para cada lágrima derramada, o quíntuplo de sorrisos; para cada momento de tristeza, o décuplo de momentos felizes. Façam de 2015 um ano especial. Cresçam, aprendam, sigam em frente. Defendam seus valores, lutem para serem ouvidos, não se deixem derrotar pelas pedras no meio do caminho.

De coração, desejo o melhor a cada um de vocês.

Só tenho a agradecer por mais um ano, por mais essa oportunidade incrível de estar fazendo o que gosto, e de ter leitores ainda mais incríveis me apoiando, ainda que por vezes as coisas caminhem aos trancos e barrancos. Obrigada por lerem minhas histórias, pelos reviews, recomendações, favoritos. Obrigada por cada palavra e cada sorriso que dei por conta de vocês.

Agora já falei demais, né? auhauhauha. Aí vai o último capítulo do ano para vocês. Não sei se ficou bom, mas espero que gostem!

Boa leitura! :D



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18 de maio de 2012







Querida Quinn,



As pessoas tendem a subestimar o valor de uma amizade verdadeira. Elas não se dão conta de como uma pessoa, uma única pessoa, pode ser a diferença entre cairmos ou permanecemos de pé. É um fardo grande para carregar, sem dúvidas. Também é um grande privilégio.

Nem sei o que dizer a respeito do que você me contou sobre Santana. Não sei muito sobre ela — só que ela estudou com você no Ensino Médio, sofreu bullying como eu, teve uma grande decepção amorosa, e serve no Exército ao seu lado. Entretanto, apesar de não conhecê-la tão bem, sinto que a compreendo. Imagino que Brittany tenha sido uma das razões para que ela tenha se alistado, não? Você sabe, meu avô serviu o Exército dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Não aquele avô, o preconceituoso. Digo o pai da minha mãe.

Vovô me disse que quando era jovem, ele não sabia o que fazer da vida. Então o Exército lhe deu um lar, um propósito, uma razão para sair da cama todos os dias. Ele gostava de lutar pelo seu país; de defender nossa nação; de se sentir útil. A maioria de seus amigos estavam casados, trabalhando em empregos que detestavam, e ele estava livre para lutar pelo que acreditava. Minha avó era enfermeira. Eles se conheceram no meio da guerra. Os dois se casaram quando a guerra terminou, o que é meio que um final feliz, mas poderia não ter sido. Meu avô perdeu uma perna no campo de batalha. Vovó foi a enfermeira que cuidou dele. Eles ficaram juntos por alguns dias, o suficiente para estabilizá-lo, e então ele foi dispensado. Algum tempo depois, ele estava em casa.

Só que meu avô era do tipo de homem que não aguentava ficar parado. Isso quase o matou. A deficiência. A incapacidade. A fragilidade. Ele detestava precisar de ajuda. Mas, mais do que tudo, ele detestava não poder voltar para o campo de batalha. Vovô tentou se matar uma vez, perto do fim da guerra. Se vovó não o tivesse reencontrado, se não tivesse ficado ao lado dele… Eu não teria um avô hoje. Bem, na verdade eu provavelmente nem estaria viva, porque à época vovó ainda não estava grávida. Foi pela minha mãe que meu avô se reergueu. Voltou a ser o homem que era antes — com algumas cicatrizes a mais, muitas perdas, muita dor, mas, essencialmente, o mesmo homem. Bondoso, generoso, amoroso. Sinto falta dele.

Você está no Exército desde os dezoito anos, não é? Você faz vinte e dois em breve (não esqueci, senhorita Fabray), o que significa que foram quatro anos servindo. Não sei quais são seus planos para o futuro, mas espero que estar aí tenha dado um propósito para você, também. Espero que você tenha grandes perspectivas de futuro, grandes planos, e que tenha se encontrado. Espero que você tenha encontrado o que estava procurando quando se alistou. O mesmo vale para Santana. Desejo apenas o melhor a vocês duas. Tão corajosas.

Soldado Quinn Fabray. Até nisso você parece impressionante.

Somos tão diferentes uma da outra, não é? Tenho dezessete anos, e já me encontrei. Na verdade, desde criança, sempre soube quem era e o que queria. Meu grande desafio está sendo chegar até lá — e é nisso que você está me ajudando. A conquistar meus sonhos. A não desistir. Em relação a você, posso estar errada, mas sinto que estou fazendo o contrário. Sinto que estou ajudando você a se descobrir. Claro que estou correndo o risco de me super valorizar aqui (risos), mas sei que você não se importaria se eu estivesse errada. Ou certa. Você me parece um pouco perdida às vezes, Quinn. Como se ainda não estivesse certa de qual será seu próximo passo. Mas nos meses que estamos nos comunicando, eu vejo sua evolução. São os detalhes. Aquelas coisas minúsculas que a maioria das pessoas ignora (mas acho que podemos concordar que não somos como a maioria). Vejo como você faz planos, agora. Como você começa a falar do amanhã. Talvez nem você mesma tenha percebido as mudanças. Eu percebi. Mas também sou bastante observadora, então… (risos).

Só queria que você soubesse que estou orgulhosa de você. De nós duas.

Queria poder te abraçar agora. Bem forte. Por bastante tempo.

Será que é possível sentir falta de pessoas que nunca conhecemos? Eu meio que sinto a sua. Sei que é estranho, e tudo, porque nos comunicamos com frequência. O que é legal. Gosto de ler suas cartas. Gosto de imaginar você sentada em sua cama lendo as minhas. Gosto de imaginar rugas em seu rosto, ou seus sorrisos, ou seu revirar de olhos, ou até mesmo uma sobrancelha arqueada. Só que preferia que você estivesse aqui. Ao meu lado. Preferia não ter que demorar tanto para ter uma resposta sua. Preferia poder correr para os seus braços sempre que alguma coisa desse errado. Preferia poder ouvir o som de sua voz, em todos os seus tons. Preferia estar com você. Isso soa estranho, não é? Acho que sou estranha (risos).

Você já deve ter percebido isso, Quinn, mas eu me apego muito rápido as pessoas. Talvez porque eu tenha passado muito tempo sozinha, sem amigos, e isso tenha me feito mais receptiva, mais aberta a novas relações. Ou talvez esse seja apenas meu jeito de ser. Não que faça diferença. É como sou. Geralmente estou de braços abertos, esperando por alguém que se encaixe entre eles. Por alguém que esteja disposto a me abraçar de volta. Vai ver é por isso que quando me decepciono, sinto como se o mundo estivesse desabando. Eu entrego bastante de mim àqueles que me cercam. O problema é que as pessoas não se comprometem a você do mesmo jeito que você se compromete à elas. E não podemos culpá-las por isso. Não é culpa de ninguém — a não ser de nós mesmas — se tornamos a pessoa mais importante do que ela está disposta a ser.

Por isso devemos dar mais valor às pessoas que permanecem conosco. É engraçado, não é? Estamos sempre buscando alcançar o impossível; sempre desejando aquele que provavelmente não nos olharia duas vezes, e que nos trocaria na primeira oportunidade. Enquanto isso, há uma pessoa ao nosso lado. Uma pessoa incrível, brilhante, que está lá em todos os momentos. A pessoa que estaria de braços abertos para nos apanhar caso começássemos a cair.

Amigos verdadeiros.

Às vezes até mais que amizade.

Depende do caso, eu acho. Quero dizer, não sou nenhuma expert no assunto, porque a única vez que me apaixonei acabou terrivelmente mal (olá Stacy), mas acho que a melhor pessoa para estar ao nosso lado é o nosso melhor amigo, não? Ou pelo menos alguém com quem temos um nível grande de confiança e respeito. Caso contrário, de que adianta? Qual o sentido de se envolver com alguém se você não confia na pessoa? Se acha que ela vai te trair com qualquer um que apareça? Se você não respeita suas opiniões, ou seu modo de ver o mundo? Talvez por isso as pessoas se machuquem tanto. Elas não procuram por alguém que as completam. Elas procuram por alguém perfeito. E a perfeição não existe.

Bem, eu acho. Como disse, não tenho experiência no assunto. Mas, não sei… Se eu pudesse escolher a pessoa que ia estar ao meu lado em todos os momentos, eu escolheria alguém realmente importante. Alguém especial. Alguém que me fizesse sentir bem. Uma grande amiga.

Ou talvez eu também esteja sonhando com o impossível e não saiba. Ao menos, parece ser o impossível. Mas, ultimamente, tudo tem me parecido ser quase inalcançável. Acho que algumas pessoas precisam lutar por tudo, o tempo todo. E acho que sou uma delas. Pode ser que eu esteja errada — mas acho que você é, também.

Não se preocupe, sempre poderemos lutar juntas contra o mundo. ☺

Até a próxima, senhorita Fabray.

Da sua grande amiga,

Rachel Berry.






29 de maio de 2012







Querida Rachel,



Eu acredito que existam dois tipos de pessoas nesse mundo: as que fazem, e as que observam. Por muito tempo, eu fui uma que só observou. Observou enquanto o tempo passava; observou as outras pessoas correrem atrás de seus sonhos; observou enquanto a vida se tornava mais complicada; observou quando deveria agir.

Muita gente reclama que a vida não é fácil. É bom reclamar. Falar o que quiser. Colocar tudo pra fora. Você pode passar horas e horas inventando mais desculpas para não ser melhor, para não saber melhor, para não tentar — no final do dia, entretanto, tudo não passa disso: desculpas. Dizemos muitas coisas a nós mesmos e a outras pessoas para conseguirmos dormir bem à noite. Coisas que nem sempre correspondem com a realidade. Coisas que inventamos para não enfrentarmos verdades assustadoras sobre nós mesmos.

Nós mentimos. Para os outros, e para nós mesmos. Talvez porque mentir seja tão simples. Mude um pequeno detalhe e você possivelmente estará mudando toda a história. “Mas é só um detalhe”, você diz a si mesmo. Você passa a acreditar que está tudo bem. Você se engana. E quando a verdade chega, você não está preparado.

Sei que tudo isso pode parecer meio aleatório, mas não é. Você estava certa no que disse a respeito de mim. Ainda estou tentando me encontrar. Aos dezessete anos, Rachel, você já sabe o que quer. Já sabe quem é. Já sabe cada passo do seu futuro. Aos vinte e um, ainda estou batalhando para descobrir como sobreviver ao dia de hoje — e não digo isso por estar no Exército, ou por estar arriscando minha vida. Digo porque sei que não estou vivendo. É o que tenho feito nos últimos anos: sobreviver até o próximo dia, porque ele será melhor. Só que nunca é. Porque eu nunca sou.

Você mudou alguma coisa em mim. Posso sentir. Você tem me inspirando a começar a ver pequenas coisas bonitas em meio às coisas feias e assustadoras. Você tem me mostrado que a vida é muito mais que um campo de batalha; que há muitas mais lutas a serem vencidas, e a maioria dentro de nós mesmos. Acho que essa é a intenção por trás desse programa de troca de cartas. Fazer-nos acreditar em mais; fazer-nos lutar por mais; fazer-nos desejar mais. Fazer-nos ter esperanças.

Eu tenho tudo isso agora. Por sua causa.

Interessante, não é? Como uma única pessoa pode mudar nosso mundo por completo? Então, claro, eu concordo com absolutamente tudo o que você disse a respeito de amigos verdadeiros. Você está certíssima, senhorita Berry. De fato, não consigo imaginar uma situação até agora em que você não tenha estado (risos).

As pessoas deveriam dar mais valor ao hoje. É tão fácil levar a vida como se não fosse nada quando temos o amanhã como garantido. Não é até você sentir que tudo pode acabar a qualquer momento que você muda. Não é até ter sua fragilidade exposta diante de seu rosto — e para quem quer que seja ver — que você se dá conta de que o hoje é um presente. O problema é que ganhamos esse presente todos os dias; e porque o temos tanto, não o valorizamos. Não é assim que funciona a vida? Quem tem muito dificilmente para para pensar no quanto é afortunado. Quem tem pouco não perde tempo se lamentando pelo que não tem, mas procura aproveitar o que tem, da melhor maneira possível.

A verdade é que a partir do momento em que nascemos, nós também começamos a morrer.

Tão curta é a vida para não a aproveitarmos ao máximo. Tão curtos são os dias para não os vivermos com intensidade. Tão curta é a felicidade, que acaba mais rápido do que passa um sopro de vento. Tão longa é a dor, que parece se estender pela eternidade — e algumas eternidades duram apenas alguns segundos. Cabe a nós decidirmos como queremos viver nossos pequenos pedaços de “para sempre”. Engraçado que, quando escolhemos errado, tendemos a culpar os outros, nunca a nós mesmos. A verdade, contudo, é que somos os únicos culpados por nossos próprios erros.

Não fique preocupada por não ter encontrado sua pessoa. Sabe, muita gente acredita que temos uma alma gêmea. Acreditam que há uma parte de nós por aí, uma parte que procuramos incansavelmente. A parte que nos completa. Mas a verdade é que todos nós podemos encontrar nossa “alma gêmea” em qualquer outro ser humano. Não existe só uma pessoa para cada um de nós, Rachel. Existem várias pessoas, várias almas, e elas vão sempre nos completar de maneira e intensidades diferentes. Isso não significa que uma pessoa seja mais certa do que outra. Só significa que somos humanos — e como tais estamos em um processo ininterrupto de evolução. Evolução do corpo, da mente, e da alma. Talvez por isso seja tão difícil nos conectar de verdade com alguém. São três elementos que precisam entrar em harmônia. E não há ser menos harmonioso que o humano.

Como você perfeitamente apontou, a perfeição não existe.

Mas nós existimos.

E se mesmo não sendo perfeitos, nós estamos aqui, e podemos amar, e sorrir, e chorar, e viver — então de que nos adiantaria a perfeição? Quem sabe o imperfeito não seja o melhor. Bem, não sei. Também não sou muito experiente (risos). O que sei é que gosto de pessoas. Perfeitas ou não. E também só quero alguém que me complete. Alguém que seja especial. Alguém que torne os meus dias mais felizes. Alguém que faça meus instantes de “para sempre” valerem a pena.

Ou talvez nós duas estejamos sonhando com o impossível. Vai saber.

Acho que o que nos resta é continuar lutando. (E obrigada por me fazer companhia nas nossas batalhas diárias).

Da sua companheira lutadora,

Quinn Fabray.


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Notas finais do capítulo

Feliz ano novo, pessoal ♥

Vejo vocês em 2015 :)



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