Novamente A Seleção escrita por Letícia Miyashiro


Capítulo 9
Terno Marcado


Notas iniciais do capítulo

Okay, demorei, demorei, mas cheguei!

Eu queria agradecer á todas as garotas que comentaram me elogiando, esse tipo de apoio é essencial meninas, muito obrigada! Podem ter certeza que eu li todos os comentários. Só não respondi todos para não me tornar repetitiva, mas muito obrigada gente, mesmo.

Vocês viram? Na série oficial, a America está grávida...e de gêmeos! Por essa eu não esperava, adorei a novidade. Agora só me resta roer as unhas até que O Herdeiro (não seria "Os Herdeiros"?) seja lançado.

Enfim, espero que gostem desse capítulo...



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Quando abri a porta, cheia de expectativas, fui surpreendida pelas figuras de duas garotas em cantos diferentes do meu quarto.

Uma moça de pele morena e cabelos negros costurava um vestido idêntico ao que ela usava sentada numa poltrona. Outra garota se encontrava sentada numa gigantesca cama, maior que a cama de meus pais, entretendo-se com uma revista de moda. Ambas se assustaram quando eu entrei, e logo se dispuzeram á minha frente, fazendo reverências exageradas.

A garota que estava lendo a revista foi quem falou primeiro:

– Senhorita, somos as suas criadas, estamos aqui para suprir todas as suas necessidades - sua voz era vacilante, com medo de como eu iria tratá-la. - Meu nome é Hannah, esta é Jocelyn - ela indicou a moça que antes costurava ao seu lado. - E, meu Deus, onde está...

– America! - uma voz vinda do fundo do quarto exclamou, assustada. Meu olhar rapidamente foi em sua direção, tão assustado quanto a sua voz.

Era uma mulher, mais velha que as garotas, provavelmente uns quinze anos mais velha que a minha mãe. Tinha a pele alva e seus cabelos loiros com fios cinzas estavam rigidamente presos num coque. Rugas tomavam conta de seu rosto, e mesmo quando a moça suavizou sua expressão de susto ao notar que eu não sou minha mãe, estas falhas continuavam muito evidentes em seu rosto. Estava claro que ela não se cuidava.

– Perdão, senhorita, eu a confundi...

– Com minha mãe? - completei.

Novamente ela se surpreendeu, provavelmente não esperava que eu fosse filha de uma das antigas selecionadas.

– Sim, America, eu era uma das criadas dela, sou Anne - e dizendo isso, ela fez uma reverência, claramente emocionada, não tirava os olhos de mim.

As garotas, que até então haviam se mantido caladas, continuaram a apresentação com hesitação.

– É...bem, senhorita, como Hannah dizia, nós somos as responsáveis pelo seu bem-estar no palácio, e além disso, pela sua aparência - desta vez quem falou foi Jocelyn. - Fomos treinadas para deixá-la satisfeita aqui e respeitar qualquer exigência. Seu desejo é uma ordem.

– Bem, meninas, muito obrigada por me receberem tão bem aqui, acho que essa apresentação, por ora, está excelente. Foi um prazer conhecê-las, mas por enquanto, eu desejo ficar sozinha até o jantar, tudo bem? - vi sinais de decepção no rosto das meninas, com certeza estavam ansiosas para cumprirem uma ordem mais útil.

Hannah começou a insistir em me ajudar em algo mas Anne a interrompeu:

– Se é o que a senhorita Rosalie deseja, respeitaremos sua vontade. Qualquer coisa, senhorita, é só tocar um dos sinos espalhados pelo quarto - ela indicou um próximo á porta do banheiro. - Vamos meninas.

E as três saíram, Anne ainda me observava quando fechava a porta e eu a agradeci com o olhar.

Me virei para contemplar o quarto. Era realmente muito grande, provavelmente do tamanho da sala de entrada de minha casa. Extremamente luxuoso, mas o que eu achei incrível é que realmente parecia um lugar em que minha mãe já estivera, e com esse pensamento comecei a perceber os detalhes do quarto.

Havia um piano num dos cantos, com uma partitura pronta para ser lida, a folha parecia envelhecida, como se fosse a própria America que tivesse colocado-a lá. Me aproximei e percebi que realmente poderia ter sido ela quem deixou ali.

Toquei a folha e passei os olhos pela partitura. Eu reconheceria aquelas notas em qualquer lugar. Minha mãe vivia tocando-a. Respirei fundo e a deixei onde estava. Andei mais pelo quarto e parei em frente á penteadeira. Quase desmaiei. Havia uma foto da minha família colada ali. Bem, uma foto antiga dela.Tia May pré-adolescente, adorável como ainda é. Minha avó mais jovem, meu falecido avô, tia Kena e até mesmo tio Gerard com sete anos e uma cara emburrada. Me emocionei. Ela realmente havia estado ali. E não faço ideia se isso aumentará ou não a minha saudade, mas isso fez eu me sentir como se realmente estivesse em casa. A presença dela ali era clara, e tudo que eu precisava no momento era a segurança que minha mãe me transmitia, e ali estava ela.

Percebi que minha mala já estava ali, em um dos cantos, sobre uma mesa. Me aproximei e fui tirando de lá as coisas que eu guardei. Deixei os livros organizados numa estante e um exemplar rechado de poesias no criado mudo ao lado da cama. Voltei á mala e peguei meu álbum com fotos da família. Vasculhei até achar a que procurava. Era uma da minha família inteira também, só que atual.

Todos da foto da minha mãe estavam presentes, exceto meu avô. Mas agora também haviam os integrantes novos, meus primos, os esposos de meus tios e por aí vai. Arranjei fita adesiva numa das gavetas e colei-na ao lado da antiga. Encarei o resultado e ouvi uma batida na porta. Era Jocelyn.

– Senhorita, o jantar está pronto. É obrigatório comparecer - ela disse, ao entreabrir a porta. - Por favor, me acompanhe.

– Certo - disse me dirigindo até a porta para acompanhá-la.


Jocelyn me levou até a sala de jantar, que era enorme. Havia uma longa mesa para todas as selecionadas, em formato de U, e na abertura do U estava mais uma mesa com quatro lugares, provavelmente era onde a família real se sentaria.

As garotas já estavam sentadas, algumas ainda apareciam atrás de mim, percebi que havia uma plaquinha com o nosso nome indicando onde deveríamos nos sentar. Achei o meu lugar, que ficava bem de frente á mesa da família real, no centro do U. Mas não me sentei. Simplesmente esperei em pé atrás da minha cadeira.

Avistei Laetice se aproximando. Olhei para a placa á minha direita, era lá o lugar dela. Ela se pôs do meu lado e também não se sentou.

– Rosalie, eu não tive a oportunidade de vê-la depois da transformação - ela disse, com uma voz empolgada e confiante. - Está belíssima!

O elogio parecia ser sincero. E foi aí que eu reparei em como ela estava. Se eu estava belíssima, ela estava mais que perfeita. Usava um vestido tomara-que-caia vinho bem justo até a cintura e que ia se abrindo em babados grandes até o chão. Era lindo e parecia ser bem leve também. Usava bijoterias - sim, bijoterias, inocente era quem acreditava que nos disponibilizariam jóias de verdade - em tons de cobre e bronze, que de algum jeito davam mais brilho ao vestido. Seus cabelos pretos estavam presos num coque meio desarrumado, e percebi que seu cabelo naturalmente liso estava ondulado. Estava tão esplendorosa que minha auto estima até caiu. E ao olhar em volta, percebi que ela nem era a mais bonita do salão. Aquilo me abalou, mas eu não podia deixar que percebessem. Simplesmente sorri.

– Obrigada Laetice, você também está maravilhosamente encantadora - respondi com clara sinceridade.

– Obrigada - ela respondeu com um sorriso branco. - Você acha que vamos conhecer a família real hoje?

– Sinceramente, eu duvido.

A garota que estava á nossa esquerda se virou e interrompeu nossa conversa.

– Meninas, vocês não vão sentar?

Antes que respondêssemos, um barulho marcante de salto invadiu o salão. Era Lucy, ela bateu palmas, chamando a nossa atenção.

– Senhoritas! Levantem-se todas! - quando disse isso, ela olhou para mim e para Laetice com olhar de aprovação. As outras garotas se levantaram o mais rápido que puderam, e eu e Laetice continuamos ali.

– Primeira lição, antes das refeições, vocês todas irão esperar a família real de pé, e quando eles entrarem, vocês farão uma reverência, esperarão eles se sentarem e enfim se sentarão. E sem alvoroço, a família real não estará presente no jantar de hoje, nem no café da manhã. Vocês só verão todos eles pessoalmente na hora do almoço, mas não se preocupem, cada uma terá seu tempo inicial com o príncipe Aaron antes da segunda refeição do dia.

Isso deixou todas as meninas agitadas.

– Por favor meninas, contenham-se. Agora, finjam que viram a família real entrar e façam uma bela reverência...em três, dois, um, agora!

E nós fizemos as reverências, silenciosas e completamente sem sincronia. Lucy parecia decepcionada.

– Devemos melhorar isso. Podem se sentar.

Nos sentamos e diversos criados entraram por dentro do U para nos servir. Colocaram um prato coberto na frente de cada uma e descobriram a comida em uma sincronia assustadora. Assim que o fizeram, saíram em silêncio e organizadamente. O cheiro de comida invadiu minhas narinas e se espalhou pelo meu corpo me dando energia e água na boca.

Comi. Estava morrendo de fome, e estava delicioso, não era a única a fazer caretas de prazer enquanto comia. Suspiros de deleite se espalharam pelo salão. Parecia que eu nunca havia comido algo tão bom.


Depois do que pareceu ser o melhor jantar da minha vida, todas subimos novamente para nossos respectivos quartos. E eu não pude dispensar as criadas novamente. Elas me ajudaram a tirar o vestido e a maquiagem, desfazer o penteado, e prepararam meu banho. Aquilo tudo me surpreendeu, eu nunca mais havia precisado de ajuda em nada daquilo desde que eu tinha uns seis anos. E eu queria ter dispensado-nas, mas elas pareciam satisfeitas em me ajudar.

Depois daquilo, me vestiram com uma camisola fina de seda azul, e coloquei um robe do mesmo tecido por cima. Nós arrumamos minhas coisas, que ainda estavam na mala, organizamos o material de desenho, tudo em silêncio. Aparentemente, elas não eram muito de conversar. Pedi telas para pinturas e elas trouxeram, organizamos-nas também. E depois guardamos a mala vazia no armário gigante que havia lá.

Finalmente me deitei na cama ajeitando-me e apanhei o livro que eu havia deixado lá mais cedo. Comecei a ler, mas percebi que havia uma coisa errada. As meninas ainda estavam lá. Paradas, simplesmente me olhando.

– Senhorita? Há algum problema? - perguntou Hannah ao perceber eu encarando-nas.

– Vocês não vão embora? - pergunto, tentando não parecer grossa.

– Não, nós devemos ficar aqui para garantir que durma bem.

Achei aquilo um absurdo.

– Depois de tudo que fizeram, com certeza dormirei bem Hannah, e vocês devem estar cansadas também. Eu não conseguirei dormir com vocês me encarando, sério - aparentemente, não consegui conter a indignação na minha voz.

– Não se preocupe com nós senhorita, ficaremos aqui em silêncio. Não a incomodaremos em nada - insistiu Jocelyn.

– Não é questão disso, eu simplesmente não vou conseguir, isso já é exagero, vocês já fizeram demais por hoje, estão dispensadas - disse, colocando autoritarismo na minha voz.

– Mas senhorita, são ordens... - começou Hannah, já insegura.

– Não precisamos realmente fazer isso, é a vontade de Rosalie, e ordenaram para que a respeitemos, ela deve estar desconfortável - interrompeu Anne, que até então estava calada.

Aparentemente eu havia uma defensora ali.

– E vocês devem estar cansadas, isso é uma ordem, estou dispensando vocês de qualquer trabalho hoje. Estou bem, e quero vocês bem. Qualquer coisa eu toco os sinos, certo?

As garotas hesitantes finalmente concordaram, agradeceram, fizeram uma reverência e se dirigiram para uma porta.

– Ah, só mais uma coisa - chamei, e elas se viraram imediatamente. - Me chamem de Rose, só Rose - pedi.

Elas sorriram e assentiram. Me deixando sozinha no quarto.

Voltei a ler. Senti a fadiga tomando conta de mim e finalmente fechei o livro. Mas foi só apagar a luz do abajour e me ajeitar na cama que todo sono que eu sentia simplesmente desapareceu. Fiquei ali por um bom tempo esperando o sono voltar, me revirei na cama, peguei o livro novamente, passeei pela sacada e nada do sono vir. Já eram duas da manhã e eu precisava acordar em poucas horas. Tentei não me desesperar e comecei a pintar.

Me sentei em frente á tela, abri as tintas e encarei o branco maciço que estava á minha frente como se fosse a única coisa que existisse nesse mundo. E por um tempo, realmente foi a única coisa que existiu nesse mundo. A falta de inspiração me assolou, mas eu estava decidida á pintar algo e decidi apelar para o abstratismo.

Sem dó, sujei minhas mãos de tinta e comecei a pintar a tela com os dedos mesmo. Me sujei toda e a tela formava objetos sem forma e sem definição. Era uma arte sem futuro, e aquilo me agoniava. Eu precisava dormir porque caso o contrário iria acordar toda acabada arruinando minha primeira impressão com o príncipe e isso me agoniava. Eu estava presa naquele quarto e nem sair pro jardim eu poderia e isso me agoniava. Eu estava longe da minha família e isso me agoniava demais. Eu estava mergulhando no passado obscuro da minha mãe e isso além de me agoniar, me assustava.

Não sabia mais o que estava fazendo. Eu estava atordoada e saí do meu quarto. Comecei a correr pelo o corredor, apenas de camisola e descalça. Minhas mãos pingavam tinta no carpete até então impecável.

Eu corri e subi escadas. Eu queria que alguém ali me parasse, mas não encontrava guardas, estava tudo escuro e eu não sabia aonde estava. Até que eu dei de cara com algo sólido e caí no chão. Pronto. Consegui ser estúpida o suficiente para bater minha cara na parede.

Mas não era uma parede, era uma pessoa. Minha visão foi tomando foco na meia-luz e eu que esperava um guarda desavisado, vi olhos azuis gélidos e cabelos loiros bagunçados. Eu me esbarrei com o príncipe, e pior, havia caído em cima dele. Preferi mil vezes a parede nessa hora.

Ficamos ali, naquela posição. Eu não tive coragem da falar nada, de tanta vergonha, mas não precisei falar nada, porque o príncipe se adiantou.

– Se quisesse me encontrar, não precisava apelar para o clichê do esbarrão, era só esperar até amanhã, senhorita.

Eu não consegui respondê-lo.

Ele deu um suspiro e me empurrou delicadamente para o lado e se levantou, desajeitado. Assim que se pôs de pé, esticou a mão para me ajudar a levantar. Mão que eu recusei, ainda com muita vergonha. Ele pareceu um pouco decepcionado, mas não disse nada sobre isso. Mas fez algo pior, que eu não esperava.

O príncipe simplesmente me empurrou em direção á parede e me prendeu entre o corpo dele e ela.

– Mas já que está aqui, poderíamos começar essa relação de uma maneira melhor, não acha? - disse ele, afastando meu cabelo para dar um beijo no meu pescoço.

Aquilo me arrepiou toda, mas não foi de uma maneira boa. Usei toda a minha força e empurrei ele, para que parasse. Percebi que minhas mãos sujas de tinta marcaram seu terno branco. Mas ele não reparou nisso, estava inconformado.

– Quem você pensa que é? - ele disse, irritado. - Não veio aqui para isso? Não está aqui para isso? Sou o príncipe e você poderia ser uma de minhas esposas, poderia ao menos tentar me agradar.

– Pode ter certeza que há garotas que estão aqui exatamente para isso. Mas eu não sou uma dessas garotas, não sou uma qualquer, não vim aqui para ser usada por você! E se quiser me eliminar agora mesmo, fique á vontade! Já vi o tipo de pessoa que você é e posso dizer que você não vale a pena.

E com isso dei as costas para ele. Eu estava muito irada, inconformada. Não devia ter me metido em nada disso. Vim aqui para fazer algo marcante, mas aparentemente, a única coisa que eu consegui marcar foi o terno do príncipe sem caráter.


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