Novamente A Seleção escrita por Letícia Miyashiro


Capítulo 10
Na Moral


Notas iniciais do capítulo

Demorei de novo, mas to aqui!

O que acharam da capa nova? Eu particularmente amei! Muito obrigada, Kelsey di Angelo por ter se apenhado em fazer essa obra de arte :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/490078/chapter/10

Na manhã seguinte, fui acordada "delicadamente" por um grito assustado de Jocelyn. Me levantei confusa, me perguntando onde estava e de onde vinha aquele grito irritante.

Finalmente lembrei-me, estava no palácio, e eu fiz a maior sujeira.

– Senhorita? O que você aprontou ontem? E que olheiras são essas! Minha nossa! A senhorita precisa de um banho urgentemente, está tão imunda quanto este quarto! - e estas foram as exclamações que tive que ouvir das criadas.

Minha mente ainda estava lenta por ter acabado de acordar, então deixei-me ser guiada por Anne, e dei uma olhada em volta.

Minha obra de arte da noite insone jazia jogada no chão, aparentemente intacta, porém envolta por mais tinta espirrada no antes impecável piso de mármore. Os lençois brancos de seda da minha cama também estavam todos sujos com uma infinidade de cores, e ao passar em frente á um espelho, me vi mais suja que a cama.

As criadas estavam claramente preocupadas com a minha situação, mas não perguntaram o que aconteceu...nem eu lembrava exatamente o que havia acontecido.

Anne despiu minha camisola colorida e olhou para o tecido preocupada:

– Senhorita, onde está o broche de prata com o seu nome, para identificação?

E foi assim que começaram as perguntas...e as lembranças.

– Por onde a senhorita andou? Precisamos do broche! Você conhecerá o príncipe hoje! - a velha criada repetia, enquanto apanhava todo o tipo de produto numa prateleira.

Merda. Aquele príncipe babaca...não estava afim de reencontrá-lo, apesar de saber que só iria reecontrá-lo para que ele me mandasse embora antes que eu pudesse dizer "Vossa Alteza".

– Por favor, Anne, não me pergunte sobre essas coisas, o melhor que vocês podem fazer agora é questionarem as outras criadas se não viram o meu broche perdido por um desses corredores. Ou pedir outro.

Me senti mal por elas, realmente mal. E ainda por cima, culpada, sabia que seria difícil adquirir outro broche, os superiores questionariam e provavelmente descontariam tudo nelas. Vi tudo isso em seu olhar, enquanto ela asentia tristemente. Quase pedi desculpas, mas não queria que ela acabasse fazendo mais perguntas.

Anne ajudou a me lavar. Tirei o excesso de tinta sozinha numa ducha quente e a seguir entrei numa banheira onde Anne usou alguns produtos especiais em mim para tirar qualquer resquício de tinta do meu corpo.

Logo a seguir, as meninas ajudaram a me vestir. Era um vestido longo, porém leve, num tom amarelo pastel, bem diurno. Havia rendas ao longo dele e era tomara-que-caia. A partir do meio da minha coxa, ele era transparente, dando para ver minhas pernas cheias de sardas.

Trançaram meu cabelo e me mostraram as jóias, eu poderia escolher. E então lembrei-me de algo que poderia substituir o broche. Mandei Jocelyn pegar minha caixinha de jóias e lá estava. Um colar de ouro com meu nome como pingente.

Enfim me chamaram para descer. Senti a minha barriga se contrair e enfim percebi o quanto estava com fome. Lucy explicou que nós tomaríamos o café e então seríamos levadas á um salão em que cada uma de nós seríamos chamadas para uma conversa breve com o príncipe. Revirei os olhos ao ouví-la mencioná-lo. Provavelmente seria a primeira a ser dispensada assim que ele me reconhecesse.

Deixei um suspiro escapar enquanto me posicionava ao lado de Laetice na mesa para o café da manhã. Eu poderia fazer tantas coisas aqui...sim, não estava pelo príncipe, mas quantas de nós não ambicionavam a mesma coisa? Eu não o conhecia, e agora que o conheço quero sair mesmo. Não importa o quanto eu poderia fazer a diferença como rainha, o príncipe era um imbecil, e eu não me via feliz tendo que conviver todos os dias com um homem desse. As chances de eu me apaixonar por ele haviam despencado para -100%.

– Bom dia Rose - Laetice me cumprimentou com um sorriso calmo. - Como foi a sua noite?

Bem agitada.

– Foi normal, tirando o fato de eu estar cercada por mimos que nem imaginava que um dia receberia - respondi, com uma voz meio falsa, apesar de ser verdade. - E a sua?

– Admito que dormi um pouco além da hora por ter ficado conversando com minhas criadas - pela sua expressão, pude ver que ela percebeu que eu escondia algo, mas logo disfarçou com um sorriso. - São umas fofas! Principalmente Mary, que está aqui há mais tempo, ela tem muita história pra contar.

Começamos a conversar, até Lucy aparecer dizendo que já poderíamos nos sentar. Eu estava ansiosa por comida, porém fui decepcionada ao ter que ser obrigada á esperar e comer em pausas para ter uma pequena aula de etiqueta. Eu já sabia da maioria daquelas regras, mas estava na cara que as garotas das castas inferiores precisavam daquilo, vi impaciência no olhar de uma delas, mas também gratidão.

Enfim terminamos de comer e fomos todas conduzidas para um salão cheio de sofás e cadeiras. Duas poltronas estavam isoladas, provavelmente seria onde o príncipe conversaria conosco. Nos orientaram a sentar e permaneci perto de Laetice, e logo Kelsey chegou acompanhada de uma garota chamada Alexia, da Casta 6, muito simpática, porém contida, inocente. Temi por ela e por todas as garotas que eram como ela e seriam obrigadas a passar algum tempo com o príncipe pervertido. Mas eu não poderia alertar ninguém, pois não poderiam saber do nosso encontro.

Poucos minutos depois, o príncipe entrou, e toda a conversa no ambiente se cessou tão depressa que o silêncio repentino conseguiu assustar tanto como um baque de algum monstro num filme de terror. É como se até as respirações estivessem sendo seguradas. Percebi que era isso mesmo, porque até eu estava fazendo isso. Soltei o ar.

– Bom dia, meninas! - ele cumprimentou com um sorriso radiante. Provavelmente derretendo corações pela sala, e derreteria o meu, se eu não soubesse exatamente quem ele é. Vi um objeto de prata brilhante em sua mão, mas não pude identificar o que é. - Por favor...Alexia Golden, me acompanhe - ele chamou, olhei para Alexia e achei que ela fosse desmaiar. Lhe dei um olhar de incentivo, e vi as meninas fazerem o mesmo.

Ela estremecia enquanto caminhava lentamente em direção ao príncipe, que lhe avaliou discretamente - bem, mas era fácil perceber, já que toda a nossa atenção estava concentrada nele - e em seguida deu uma piscadela. Revirei os olhos. Ela chegou ao lado dele e ele apoiou a mão em suas costas, conduzindo-a até a poltrona.

Mais alguns instantes de silêncio total e a sala de repente explodiu em sussurros de todos os lados. O príncipe e Alexia começaram a conversar, ele parecia descontraído, mas o modo que mexia na orelha deixava claro o tique nervoso.

Pouco á pouco, o tempo corria e as meninas iam e voltavam, e assim que voltavam, eram massacradas por milhares de perguntas. Eu apenas escutava suas respostas.

Aparentemente, o príncipe era um duas caras que se mostrou comportado, alegre, feliz e extremamente educado com todas elas. Sério, qual era a desse cara?

– Rosalie Singer! - ouvir meu nome saindo de sua boca me causou um arrepio. Levantei-me e fui em sua direção, perguntando-me o porquê ele teria usado meu segundo sobrenome. E não Leger, que era como me chamavam aqui.

Me sentei á sua frente com um olhar duro e vi reconhecimento em seus olhos, o que era proposital, obviamente. O simples fato de ele ter usado o sobrenome da minha mãe, já mostrava que ele debochava de mim.

Ele me avaliou como fez com todas as outras.

– A senhorita aparenta ser mais agradável á luz do dia, apesar de menos bonita.

Duvido muito que ele tenha dito algo parecido á outra selecionada.

– Então, vai fazer o quê, Vossa Alteza - adicionei ênfase ao "Vossa Alteza" - me dispensar? Estou só esperando - sentei-me e cruzei os braços.

Ele suspirou.

– Fiquei tentado, mas meu pai quer você aqui. Então não me resta escolha á não ser obedecer o velho, que quase nunca fala comigo.

Ouví-lo se referindo ao pai, ao rei de Illéa daquela forma foi assustador. Ali estava, á minha frente, um príncipe engomado soltando uma frase assim. O choque estranho foi tão grande que quase não pensei sobre o que ele falou - quase.

– Achei que era o príncipe que tomava as decisões d'A Seleção.

– Técnicamente, é, mas ele continua sendo o rei...ou seja, ele manda na porra* toda.

O modo como ele soltou aquele palavrão tão casualmente quase me fez engasgar com a própria saliva.

– Certo, entendi. Mas por que ele me quer aqui? - pergunto, ligeiramente desconcertada.

– Não, é óbvio? - ele dá um sorriso debochado. - Por causa da belíssima e amada America Singer, que por um acaso é a sua mãe. Mas você claramente não tem muito em comum com ela, além dos cabelos ruivos e um rosto bonitinho, pelo que ouvi dizer, era bem mais encantadora.

– Você só está com raiva pelo empurrãozinho justo que levou de mim ontem, seu imbecil - cuspi as palavras, com desprezo. Ele elogiou a minha mãe, mas disse tudo com tanta malícia e sarcasmo que fez meu rosto ferver em ódio.

– Talvez - ele admitiu sem mudar a expressão. - A propósito, isto aqui deve pertencer á você - ele estendeu a mão e a abriu, mostrando o broche de prata. - Vai precisar, o que você está usando é muito...pretencioso - indicou o meu colar.

Demorei alguns segundos para entender o que ele quis dizer, mas ao compreender, quase fiquei envergonhada. O ajeitei em meu peito, consciente de seu olhar em meu decote.

– Na moral, o senhor é um imbecil.

Já havíamos perdido a postura de qualquer forma.

– Está dispensada - Aaron finalmente disse, em um tom entediado.

Lancei um último sorriso cínico para ele e fiz uma reverência exagerada. Ouvi ele bufar de impaciência.

– Criadas! Por favor, acompanhem a senhorita Rosalie para seus aposentos, ela não está se sentindo bem.

Eu quase o agradeci, não queria ficar naquele ambiente e ter que aguentar as perguntas incovenientes e repetitivas. Mas ele disse aquilo alto o suficiente para que todas na sala se calassem e ouvissem. Ele fez eu parecer fraca. Como se uma única conversinha tivesse me abalado o suficiente para eu me acamar.

Eu o odiei mais depois daquilo. Percebi que ele faria o inferno em todo o tempo que eu estivesse no palácio, e não iria me dispensar de modo algum.

Acompanhada do ódio e das criadas, fui caminhando pelos corredores e no meio de um deles encontrei uma figura inesperada.

– Vossa Alteza - fiz uma reverência á princesa Alyss, e as criadas me imitaram.

– Senhorita - ela acenou com a cabeça e sorriu, parecendo ligeiramente desconfortável, não mais que eu, claro. Me perguntei o motivo. Mas ela desapareceu da minha vista tão rápido quanto surgiu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!