Novamente A Seleção escrita por Letícia Miyashiro


Capítulo 8
Vossa Semi-Alteza


Notas iniciais do capítulo

Sei que demorei, demorei muito, demorei uma vida. Mas foi complicado arranjar inspiração, gente! Me perdoem. Mas aqui está:



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Ao chegar no palácio, tudo para mim não passou de um borrão de extravagâncias. Praticamente me empurraram para seu interior, e tudo que eu pude ver foi uma estrutura exterior baseada na arquitetura greco-romana, com várias colunas brancas sustendendo um teto triangular. Era imponente como um palácio deve ser, e provavelmente havia sido reformado recentemente, porque eu já havia visto várias versões do mesmo prédio. Mas mal tive tempo para refletir sobre isso.

Fui arrastada por um salão de entrada, os passos apressados de saltos ecoavam pelo local enorme, decorado com vários vasos, plantas e móveis - obviamente, luxuosos. Era um local no estilo rústico, mas conservando apenas poucas características do estilo greco-romano, diferente de seu exterior.

Duas criadas nos guiaram por todo o percurso até o denominado Salão das Mulheres, que de acordo com explicações apressadas, era onde nós passaríamos uma grande parte da noite e receberíamos as primeiras instruções da "tutora". Parece que éramos as últimas a chegar e precisávamos fazer um monte de coisas antes de encontrar a família real.

De um salão para outro, passamos por um labirinto de corredores que mal pareciam corredores de tão grandes. As moças empurraram uma porta enorme de madeira refinada e ainda de fora do local, já dava para se ver o caos ali dentro.

Várias fileiras de lugares onde as selecionadas estavam sentadas com vários profissionais da estética trabalhando nelas. Virei meu rosto para o lado e encontrei uma moça vindo apressadamente em nossa direção, seus cabelos estavam presos num coque meio bagunçado, ela tentava arrumá-lo, mas não dava certo, certamente ela era a nossa tutora e estava comandando aquele caos, devia estar muito estressada.

– Vocês estão atrasadas! - foi a primeira coisa que ela disse, ela tinha uma voz extremamente delicada e feminina, mas falou aquilo com muita firmeza, tanta que até me assustou. Ela suspirou. - Sou Lucy e estou aqui para transformá-las em dignas damas, mas antes que eu comece a dar meus conselhos, esses profissionais da beleza estão aqui para dar uma polida em vocês.

Percebi que Lucy era mais jovem do que aparentava, provavelmente apenas dois anos mais velha que minha mãe, no máximo. O excesso de maquiagem a envelhecia, e aparentemente, o excesso de trabalho também.

Ouvi ela gritando ordens, e novamente fomos empurradas para outro local, aparentemente tirariam fotos nossas agora para comparar com o resultado da nossa "transformação". Me sentei em frente á uma câmera, atrás de mim havia um fundo branco, e eu estava numa poltrona ligeiramente sem graça, porém bastante confortável. A fotógrafa pediu para que eu fizesse uma cara neutra, como nas fotos que tiramos para fazer nossos documentos. Eu ajeitei a postura e olhei para a câmera dando o menor dos sorrisos. Após uns instantes, a moça sinalizou com a mão para que eu saísse de lá, e meu lugar foi tomado por Kelsey.

Mal havia saído dali quando uma equipe toda vestida de preto me cercou.

– Senhorita Rosalie, certo? Nos acompanhe, querida, daremos um trato em você - disse uma mulher. Ela era bastante estilosa, usava um rabo de cavalo alto que prendia também a franja, dando um volume em cima.

Fizeram eu me sentar em frente á um enorme espelho. Ele tinha algumas luzes ao redor que iluminavam meu rosto, naquele espelho, eu podia ver todas as minhas imperfeições com muita clareza, nunca me senti tão...pouco atraente.

A mulher de cabelo amarrado percebeu meu descontentamento com a imagem ali e apareceu por trás de mim. Ali eu podia ver as imperfeições dela também, como as olheiras profundas por baixo da camada de maquiagem que ela usava, e a cor diferenciada da região acima da boca, mais escurecida, porém sem pelos. Ela sorriu.

– Não fique assim, senhorita, não foque em suas pequenas imperfeições, se olhe no espelho e perceba seus traços. Se não fosse bonita, não estaria aqui, certamente - ela olha em volta, para as outras garotas deslumbrantes ficando ainda mais deslumbrantes. - Sou Soraya, e hoje eu e minha equipe estamos aqui para acabar com toda essas coisinhas desagradáveis no seu rosto, mesmo que sejam muito pouco relevantes - ela piscou e abriu uma cortina que envolvia parte do local. Era apertado, mas nem tanto. Pude ver uma arara de vestidos á minha esquerda e uma prateleira móvel cheia de produtos de beleza.

E começaram a trabalhar em mim. Tiraram a minha roupa e me levaram á um local para me lavar, apesar de não haver necessidade. Após o breve banho, fui untada com óleos com cheiros exóticos e cremes que me deixaram extremamente macia. Voltei ao espelho, sem maquiagem, eu ficava pior ainda. Soraya apareceu por trás de mim novamente.

– Antes de começarmos, gostaria de saber qual é a impressão que você quer passar de si mesma - ela perguntou.

Me encarei no espelho por alguns instantes. Pensei em tudo que eu havia planejado desde que discursara para o povo da minha província em minha despedida, pensei em tudo que eu queria fazer aqui. E então comparei tudo o que eu planejava ser, com o que eu parecia agora.

O que eu via no espelho? Eu via uma garota, uma garota que estava afundando no cenário ofuscante de luxo que aparecia por trás de mim. Uma simples anônima em minha província, conhecida apenas como "a filha de America Singer". Agora sou uma selecionada, e uma selecionada não pode ter a aparência de uma simples garota da Carolina. Eu precisava convencer os outros, e a minha imagem é um meio disso.

– Quero parecer nobre - não, quero ser nobre.


O flash da câmera me cegou por alguns momentos. Eu não estava mais sentada com um fundo branco atrás, numa poltrona sem graça. Estava simplesmente numa das cadeiras luxuosas decorativas do Salão das Mulheres, que era gigante.

A fotógrafa deu sinal de que já havia terminado. E antes de eu sair do alcance da câmera, disse:

– Está deslumbrante, Vossa Semi-Alteza - ela deu um sorriso. Era jovem, com cabelos loiros longos e ondulados, poderia estar entre nós, mas permaneceu atrás das câmeras, aparentemente, gostava de lá.

Eu retribuí o sorriso.

– Muito obrigada, senhorita - respondi, no tom mais careta e pomposo possível. Ouvi uma pequena risada.

Passei em frente ao espelho. Não podia acreditar que era eu. Meu cabelo ruivo estava preso num coque que era formado por tranças, e eu tinha algumas mechas soltas, emoldurando meu rosto. É o tipo de penteado que eu usaria, que a princesa Rose usaria. Também usava um vestido longo, dourado e bem colado ao corpo, era um tecido leve e mole, então eu não tinha dificuldades para respirar. Ele era simples, mas deslumbrante ao mesmo tempo. Não quis perder a minha essência, foi esse um dos pedidos que fiz á Soraya. Nobre sem ser forçada. Sorri com meu reflexo.

Olhei para o lado e quase pulei de susto, Lucy estava bem ali, parada, me encarando.

"Fiz algo errado?" - quase disse.

Ela percebeu meu espanto e apenas sorriu.

– Oi Rosalie, vim aqui para dizer que você pode ir para o seu quarto enquanto as outras não ficam prontas para o jantar - senti meu coração relaxar. Ela parecia bem mais calma. - Acompanhe-me.

Me juntei á mais umas três garotas, eu não conhecia nenhuma delas. Seguimos Lucy, e pude contemplar melhor o palácio, até os quartos.

– Seus aposentos ficam no segundo andar, vocês poderão visitar o quarto uma da outra, e andar livremente pelo palácio. Os aposentos da família real ficam no terceiro andar, e vocês estão proibidas de irem para lá, a não ser que estejam acompanhadas ou solicitadas por um deles.

Passamos pelo jardim, a parede daquela parte era toda de vidro, então dava para ver o exterior com clareza. Senti muita vontade de ir para lá, e me lembro que minha mãe amava flores. Será que ela ia para lá com frequência?

Lucy percebeu o meu olhar e o usou como uma deixa para comentar:

– Vocês só poderão sair para fora durante o dia e com o consentimento dos guardas.

Que pena, eu realmente queria ir para lá assim que visse meu quarto.

Subimos as escadas, e Lucy continuou falando:

– Agora vocês conhecerão suas criadas, serão três para cada uma. Se não gostarem da decoração, vocês podem avisá-las que elas providenciarão uma mudança o mais rápido possível.

Ela foi deixando cada uma em seus respectivos quartos. Eu fiquei por último. Entramos numa parte meio isolada dos corredores, longe daquele caos de criados vindo de lá pra cá.

Paramos em frente á uma das portas, e ao encostar na maçaneta, Lucy comenta:

– Esse era o quarto de sua mãe.


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