Novamente A Seleção escrita por Letícia Miyashiro


Capítulo 5
Minha Irmã


Notas iniciais do capítulo

É apenas um capítulo para conhecermos um pouco mais sobre nossa querida Rosalie.

Obrigada pelo apoio, meninas!



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Minha mala estava abarrotada de livros e material de desenho. Realmente, quase não se fechava, e eu queria levar apenas uma. Uma muda de roupas estava no fundo, para quando precisasse ir embora. Blusa azul escura transparente com botões na frente e sem mangas. Uma regata simples da mesma cor num tom mais escuro e uma calça jeans que acabava acima da canela. Também embrulhei uma sapatilha listrada, branca e azul, com um laço em cima e uma âncora de prata feita artesanalmente, posta sobre o laço. Bem, pelo menos eu sairia com estilo. Adorava usar aquelas roupas.

E acima de tudo aquilo, livros e mais livros. Além de um caderno de desenho já preenchido e um pela metade. Minha maleta recheada de lápis de cor nas mais diversas tonalidades, canetas e lápis profissionais. Também levei um jogo de pincéis, algumas bisnagas de tinta e outros potes de tinta feitos por mim. Acho que, se eu pedisse para algum funcionário do palácio, eles me dariam tinta e telas.

Eu adorava desenhar, acho que se fosse uma Cinco, como minha mãe era, seria artista plástica. Aprendi a pintar com meu avô, já que passava muito tempo com ele durante a infância, quando meu pai não estava em casa e minha mãe fazia shows. Apesar de eu adorar música, não levava tanto jeito quanto minha mãe. E o único instrumento que aprendi a tocar de modo decente foi o violino. Mas gostava de insistir no piano, de tanto ouvir minha mãe e minha avó Magda tocar.

Por isso também levei meu estojo de violino. Eu tinha uma coleção de vários violinos, de diversas cores, tamanhos e estilos. Mas aquele foi meu primeiro violino profissional. Ganhei de presente da minha mãe e tinha um certo valor emocional para mim. Por isso o levei, apesar de saber que já haveriam vários instrumentos para mim lá.

Além das roupas, inclui uma caixinha com minhas jóias favoritas, eram todas leves e pequenas, mas eram especiais. E também dei um jeito de enfiar lá meu álbum de fotos pessoal.

Custou a fechar. Mas com a ajuda de Viola - ela teve que se sentar em cima da mala - consegui. Levantara a hipótese de apanhar outra mala, mas ao conseguir fechar aquela, não julguei ser necessário.

Quando saiu de cima da mala, Viola me olhou com os olhos marejados.

– Vou sentir sua falta, você promete que volta para nós? - era uma súplica.

Dei um leve sorriso, comovida com seu jeito meigo de expressar saudades.

– Você não quer que eu me case com o príncipe? - perguntei com calma.

Ela balançou a cabeça com os olhos fechados, deixando as lágrimas escorrerem.

– Eu quero que você escolha o que faz você feliz.

Sua resposta tão madura me surpreendeu, e fiquei curiosa para saber o que se passava na cabeça dessa criança de 9 anos. Era meu último dia com ela e só hoje fui perceber o quanto ela era imprevisível e fantástica. Prestei tanta atenção no jeito adorável, inocente e lúdico de Viola que ignorei a Violet, a garota que estava crescendo e descobrindo o mundo.

Puxei seu corpinho leve para mim e a abracei com força. Sentindo lágrimas escaparem dos meus olhos.

– Eu prometo, não demoraremos a nos encontrar, Viola.

E ficamos ali, por vários minutos, abraçadas. E soube que ela se sentia segura comigo, sentia-se segura com a família toda ali. E com minha partida, percebo que ela se sentia roubada, parte de sua segurança fora levada para um lugar onde ela não valia de nada.

Me preocupei tanto comigo mesma nos últimos dias que não liguei em saber qual era a opinião dos meus irmãos, tão especiais para mim, quanto a Seleção. Como será que Louis se sente? Não sou tão próxima dele quanto sou de Viola, mas certamente temos uma ligação, nos damos bem, nos amamos.

Esperei a respiração da garotinha frágil ali em meus braços se acalmar para me afastar e sorrir. Fora um sorriso triste, mas que se alargou em uma espécie de animação improvável.

– Olhe, vou me arrumar agora. Você quer me ajudar? Arrumar meus cabelos? Você sempre foi tão boa com isso. Se ficar, posso te maquiar também, para irmos as duas lindas para a minha despedida.

Seu olhar melancólico desapareceu e ela sorriu comigo, como se nada tivesse acontecido. Mas suas pequenas lágrimas ainda estavam pontilhando seu rosto corado, deixando claro que a tristeza não tinha passado.

Antes que pulasse da cama, apaguei suas lágrimas com a manga da minha blusa, e fiz o mesmo com as minhas. Ela apenas fechou os olhos e sentiu o arranhar do tecido leve sobre seu rosto liso.

Ela abriu a gaveta e tirou dali as roupas embrulhadas em papel de seda que o homem que tirou minhas medidas deixou para mim. Eu deveria usá-las hoje. Ela me entregou, o sorriso se desmanchara de leve, mas continuava lá.

– Rose, você se importa se eu me vestir parecida com você?

Não pude deixar de sorrir.

– Mas é claro que não, Viola. Eu te ajudo a escolher sua roupa, assim que terminar de me vestir, ok?

Ela concordou com a cabeça, mais feliz.

Despi minhas roupas na hora e me vesti com aquelas outras. Simples blusa branca com mangas transparentes. E uma saia preta até os joelhos que ficou colada em minhas coxas. Para combinar, calcei salto alto preto. Não era algo que eu geralmente usava, mas achei que seria apropriado.

Me encarei no espelho, agora eu fazia oficialmente parte da Seleção. E aquilo me desesperou de leve. As roupas caíram muito bem em mim, mas eu não gostava delas.

– Você está bonita - a voz fina e tímida de Viola me despertou e fez eu me virar para encará-la. Também estava triste, parecia pensar a mesma coisa que eu.

– Obrigada, você ficará ainda mais linda que eu quando se vestir. Venha - estendi a mão.

Fomos de mãos dadas ao quarto dela. Era o típico quarto de garota de 9 anos. Entupido de bichinhos de pelúcia, paredes pintadas em azul bebê e móveis brancos.

Abri seu closet e tirei de lá algumas variedades de peças da mesma cor das as minhas roupas.

Acabamos escolhendo um vestidinho acinturado e meigo, branco em cima, preto abaixo da cintura. Ela se vestiu e eu sorri em aprovação. Lhe entreguei umas sapatilhas pretas e ela as calçou.

– Você parece uma selecionada mirim - ri e ela esboçou um pequeno sorriso.

Então voltamos para o meu quarto, lavamos o rosto e eu me maquiei de jeito simples. Olhos bege, delineador preto e rímel. Blush rosado e gloss do mesmo tom.

Fiz uma maquiagem parecida nela, porém, bem mais leve. Nos encaramos no espelho.

Ela era bem diferente de mim, nossos traços eram parecidos, mas só. Seus olhos eram grandes e azuis como o da minha mãe e seus cabelos eram pretos. A palidez da pele também é um ponto em comum. Louis é quase inteiramente como minha mãe, ruivo dos olhos azuis. Por isso Viola se sente deslocada as vezes, queria ter cabelos ruivos, mas quando falamos que é linda do jeito que é, ela acredita e aceita. Gosta de si mesma. Isso é uma qualidade muito admirável. Amor próprio. Espero que continue assim quando chegar à adolescência, que é quando tudo desanda.

Então deixei ela mexer nos meus cabelos. Adorava. Quando era mais nova, era um fiasco, meu cabelo ficava horroroso e ruim. As vezes precisava de uma boa hidratação, mas como sempre gostei de Viola, fazia de tudo para agradá-la. E negar aquele tipo de diversão à ela seria como se eu arrancasse sua felicidade. Mas hoje ela sempre os deixa lindos, de tanto ler revistas e assistir à canais de cabeleireiro, virou praticamente uma profissional. A pequena arte de criança virou talento, e com o tempo, tenho certeza que se aprimorará ainda mais.

Seus dedinhos tão delicados, ficavam fortes e ágeis quando trabalhava em minha cabeça. Penteava de um jeito que eles ficavam tão lisos e macios que eu poderia dormir em uma cama feito deles. Passou um creme com cheiro de maracujá e então usou o babyliss para fazê-los se ondularem. Deixando-os soltos.

– Acho que, se eu prendesse, você ficaria menos você. E eu quero que você continue você - aquilo me fez rir, seu jeito infantil de falar era meigo.

E deixei ela fazer a mesma coisa com seus próprios cabelos. Assim que terminou de ondular sua última mecha, mamãe bateu à porta.

– Meninas, vocês estão prontas?

– Sim, mamãe - respondemos em uníssono e nos levantamos, mamãe sorriu ao nos ver parecidas.

Mamãe veio em minha direção com uma flor em mãos, ela a colocou atrás da minha orelha, me abraçou e disse:

– Estão lindas, as duas.


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