Novamente A Seleção escrita por Letícia Miyashiro


Capítulo 6
A Filha de Illéa


Notas iniciais do capítulo

Oie gente! Sei que demorei mais para postar esse, mas é que ando meio enrolada e ocupada (mentira), e como eu disse...não seguirei um padrão de tempo para postar, então realmente espero que vocês tenham paciência!

Mas cá estou postando esse capítulo que revela ainda mais sobre a personalidade da Rosalie - apesar de que em minha opinião, este ficou um pouco confuso, mas espero que vocês estendam a ideia que eu quis transmitir sobre o desenrolar da história, por meio deste capítulo.

Divirtam-se!



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Quando saímos, havia um carro do governo parado em frente à minha casa. Ele nos levaria até uma praça, onde ocorreria minha despedida. Cada selecionada teria uma despedida assim em sua província. Eu geralmente não gostava de ser o centro das atenções, mas ultimamente estava bastante acostumada à isso.

Agradeci mentalmente o carro. Hoje o sol estava escaldante e eu sempre preferia o frio. Então entrei com minha família no carro e fiquei de mãos dadas á Violet, que balançava as pernas, inquieta. Os olhos de minha mãe estavam fixos nas nossas mãos entrelaçadas, ela sorria, pensando solitária.

Paramos atrás de um palanque improvisado montado na praça. Me conduziram a subir numa escada e falaram para eu esperar o prefeito me anunciar.

Já no alto do palanque, enquanto o prefeito discursava com muita empolgação, eu tentava focalizar cada rosto conhecido que me encarava da praça.

Isla e Hella, com o olhar carregado de ódio, Helen, na fila da frente que sorria numa tentativa de me encorajar, nossos olhares se encontraram e eu sorri de volta. Martha Goode, uma Três simpática que eu conversava regularmente acenava animada para mim. Suzana Laers, Dois, minha vizinha, tinha um pequeno sorriso invejoso estampado no rosto maquiado. Derick Hovers, Dois, me lançava um olhar magoado, o garoto sempre gostara de mim, mas eu nunca o correspondi. Ele era um babaca esnobe e eu já tentei destruir suas esperanças, mas ele insistia. Só conseguia me sentir grata por ter que me afastar dele por alguns dias ou mais.

Estes eram das castas mais altas, comecei a procurar meus amigos de castas inferiores.

Anna Harper, uma Quatro que era filha do dono da livraria que eu frequentava, me mandava beijos, Felicity Jones, uma Seis que vez em quando trabalhava em minha casa, tinha os olhos, geralmente cansados, hoje elétricos e carregados de orgulho. Claire Drescour, era uma Cinco com quem eu conversava bastante. Não tinha uma vida difícil, por ser uma artista plástica conhecida na Carolina, eu gostava de me encontrar com ela para pintarmos juntas. A loira me dava um sorriso tímido, porém sincero, de compaixão, ela me conhecia o suficiente para saber que aquilo não era para mim.

E então, meu olhar se encontrou com o de Hugo Stone, o garoto que eu sempre gostei, mas nunca me correspondera. Ele tinha uma má imagem de mim, achava que eu era mais uma esnobe, e era um Cinco. Ele tocava piano maravilhosamente e sua voz parecia um presente dos Anjos. Seus cabelos castanhos estavam sempre bagunçados, e hoje não foi diferente. Dava-lhe um charme indescritível. Seus olhos cor de chocolate brilhavam em minha direção, e sua boca - a que eu tanto sonhava em beijar - estava reta, neutra. Ele não esboçava expressão e estava com o corpo apoiado em uma árvore.

Ele fora meu primeiro amor, platônico, não correspondido. Isso me deixava triste. Ele parecia ser o único que valia a pena, e para ele, eu era a que menos valia.

Muitas vezes eu deixei poemas em sua janela, mas eu sempre o via queimá-los. Aquilo acabava comigo, mas continuava forte, ia nos seus shows e insistia para minha família contratá-lo em todos os meus aniversários. 20 de setembro, o único dia em que eu podia fingir que ele era meu. Porque ele cantava com seus olhos nos meus, uma música só para mim.

Seus olhos se desviaram para o prefeito, que encerrava seu discurso.

– E a Carolina estará torcendo pela bela filha de America e Aspen Leger, a jovem senhorita Rosalie!

O hino de Illéa começou a tocar no fundo. As pessoas reunidas lá me aplaudiam. Inclusive ele. Abri o maior dos meus sorrisos - verdadeiro - eu gostei de ser aplaudida. Aquela sincronia barulhenta aquecia meu corpo, fazia eu me sentir especial. Mas aí lembrei o motivo dos aplausos e meu sorriso vacilou, fingi que uma lágrima escorria, como se estivesse emocionada demais e acenei. Me jogavam flores.

– Senhoras e senhores, queiram unir-se a mim na despedida a Rosalie Leger, nossa filha de Illéa favorita!

Mais aplausos, mais flores, assobios e gritos de incentivo. E eu gostava daquilo, mas me deixava triste o fato de eu não ter feito nada de especial, aquilo ali era puramente minha imagem. Agora penso que se eu fosse rainha, poderia fazer grandes coisas, e as pessoas me aplaudiriam por aquilo.

Mil coisas começaram a se passar pela minha cabeça, me arrepiei ao perceber que estava fantasiando como seria ser a rainha, adorada e admirada por todos - ou quase todos. Uma determinação nunca sentida antes me animou, me fez erguer ainda mais a cabeça, e ajeitar minha postura numa posição nobre. Talvez eu pudesse correr atrás da coroa, afinal.

O prefeito me ofereceu o microfone, caso eu quisesse dizer algo, mamãe havia me avisado que eu faria isso, mas até agora, não havia preparado nada para falar. Mas mesmo assim, apanhei o microfone e o apertei com força em minhas mãos, frias com o nervosismo. Sorri antes de começar:

– Nem todos vocês me conheciam aqui, nem todos vocês sabiam quem eu era ou como era, mas mesmo assim, vieram até aqui para me verem, para torcerem por mim e para me apoiarem. Me sinto lisonjeada com esse tipo de atenção - parei e começaram a gritar meu nome, em delírio.

– Tenho a confiança de vocês, e isso é algo que eu nunca imaginei conquistar, excedi minhas expectativas, e agora estou aqui, e em breve estarei dentro do palácio, para exceder a de vocês. Me tornar a rainha, esposa do agora príncipe Aaron, seria só uma consequência para os grandes feitos que pretendo fazer em meio à realeza. Meu objetivo maior é mostrar a minha força, mostrar a minha voz, à favor de vocês, à nosso favor. Abrir os olhos para o que há além dos muros altamente protegidos do palácio. E ajudar vocês. Que tanto me ajudam, que tanto me dão força agora para enfrentar o que virá pela minha frente - minha voz foi aumentando a medida que falava, tornando-se mais confiante, mas forte, e a do público me acompanhava.

– Sei de muita coisa que se passa por aqui, sou uma observadora, e agora que vocês me observarão, farei de tudo para não decepcioná-los.

E encerrei meu discurso. Não pensei que fosse possível, mas os aplausos aumentaram, encarei o rosto das garotas que antes me lançavam olhares de nojo, ódio e repulsa, e vi que até elas aplaudiam, com as expressões mais suavizadas, agora, carregadas de expectativa e relutante admiração.

– Belas palavras, senhorita Rosalie, certamente daria uma grande rainha, não concordam? - disse o prefeito calorosamente, parando para escutar os gritos de aprovação da multidão. Eu sorri com simpatia.

– Esta garota, não é apenas uma linda e deslumbrante Dois. Como vocês puderam ver agora, ela é cheia de força e determinação, assume a postura de líder com facilidade, seria uma honra ter uma rainha que saiu de minha província... - e o prefeito continuou a falar sobre minhas qualidades, baboseiras sobre como eu ficaria linda com uma coroa reluzente sobre os cabelos e coisas que eu não prestei atenção.

Estava embriagada pela ansiedade, agora que revisei o que havia falado. Comecei a preocupar-me se decepcionaria ou não as pessoas da Carolina, minha reputação estava em jogo, não que eu me preocupasse muito com ela, mas conhecia as pessoas, já vi essas mesmas reagindo ao serem enganadas. Dei uma grande expectativa à eles, deveria permanecer ali.

Encarei o semblante dos meus pais, eles pareciam ligeiramente chocados, dei a entender que realmente iria ser a rainha, deixei-me levar pela nostalgia de ser aclamada e admirada. Eu não sabia se aquilo era para mim. No momento, inacreditáveis instantes atrás, talvez eu realmente quisesse fazer algo, mostrar minhas opiniões, satisfazer o povo, mas agora percebi que seria muito difícil. Nada garantia que eu iria ser a rainha. Nem eu tinha certeza que era isso que eu queria. Fui uma estúpida, devia ter ficado calada.

Fiz de tudo para não deixar essa preocupação transparecer, agradei mentalmente às aulas de teatro e atuação, que me ajudaram nessa hora. Agora que eu era uma selecionada, filha de Illéa, deveria controlar meus sentimentos.

A despedida se finalizou e eu finalmente pude me despedir de quem realmente me importava.

Abracei e disse que amava cada membro da minha família. Prometi várias cartas à Viola e Louis. Não poderíamos levar o celular. Disse que contaria todos os detalhes da minha estadia no palácio para Helen e prometi que não iria esquecê-la.

É óbvio que todos ficaram surpresos com minhas declarações. Principalmente Helen, que agora estava muito confusa. Prometi uma carta à ela explicando tudo. Uma carta mais para mim do que para ela, eu queria desabafar com alguém.

Mas quando cheguei para abraçar meu pai, ele disse algo que me deu muito medo:

– Os ataques rebeldes ao palácio não são tão inconstantes quanto se dá a entender no Jornal Oficial, e você sabe disso. Por favor, não hesite em correr para os esconderijos secretos quando houver um. Eu te amo muito, e não quero, aliás, não vou perder você - ele me abraçava com muita força, emitindo segurança e conforto, que não durou muito ao desvencilharmos.

"Não vou perder você" - repeti a oração mentalmente. Ele não se referia apenas aos ataques, ele não queria me perder para a realeza, para a concretização das coisas que falei para o público. Compreendi que ele queria que eu continuasse sendo apenas a Rosalie. E eu também queria ser isso, era a única coisa que eu tinha certeza que queria ser. O problema é que depois de hoje, não sei exatamente quem eu sou.

– Mãe, você acha que conseguirei permanecer no palácio? - pergunto insegura, ao despedir-me de minha mãe.

– Se realmente quiser ficar, não demonstre que o fato de você ser minha filha lhe influencia em suas atitudes. Aja como se nem soubesse que eu havia estado ali. Mas mesmo se você sair rapidamente, faça questão de deixar sua marca ali, como prometeu para esse povo - ela disse isso mexendo nas pétalas do meu lírio. - Me deixe orgulhosa, mas não deixe de ser você mesma - sorriu e beijou minha testa.

Ao entrar no carro em direção ao aeroporto, encarei o enorme pedaço do meu coração que eu havia deixado para trás, minha casa, minha família, minha privacidade e meu conforto. Sentiria realmente muita falta deles, mas tentaria fazer com que essa distância valesse a pena.


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Notas finais do capítulo

Só quero deixar avisado, que os comentários de vocês também influenciam na história. Respeito o desejo das leitoras. E avalio sugestões! Então, não hesitem em dar opiniões e expressar suas vontades!