Always With Me escrita por Menta


Capítulo 26
Somebody That I Used To Know - Parte Final


Notas iniciais do capítulo

E aí, gente! Eu falei, não falei? Segunda parte já postada essa madrugada, heeheheh! =D Dois capítulos para tirar o atraso.
Peço, suas lindas, que comentem nas duas partes, please! Mais uma vez ficam meus agradecimentos a LaurenPS, duda fap, Lena18 e Arrriba, suas fofas que comentam sempre! Esse é outro capítulo que dedico à querida Lune Noire, que inclusive fez a renderização que eu deixei no fim do outro capítulo! *o* Ela é muito diva, né gente? No final fica uma feita por mim mesma, heehheeh!
Mais um POV do Latrell! Estou muito curiosa para ver o que acham desse menino pirado e fdp! Ele é um babaca? Certamente, machista, chauvinista, controlador e um tanto megalomaníaco, como todo bom Comensal da Morte tem de ser HUAUHSUHSHE! Mas ele tem seu lado fofo também. E obcecado. E coooomo é obcecado... Enfim, sem spoilers!
Espero que gostem!
Beijos e boa leitura...
...E que a magia flua em todas vocês!



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Now and then I think of when we were together
Like when you said you felt so happy you could die
Told myself that you were right for me
But felt so lonely in your company
But that was love and it's an ache I still remember...

...But you didn't have to cut me off
Make out like it never happened and that we were nothing
And I don't even need your love
But you treat me like a stranger and that feels so rough...

...I guess that I don't need that though
Now you're just somebody that I used to know

Now you're just somebody that I used to know...

~ Gotye - Somebody That I Used To Know (feat. Kimbra)

Sentado defronte ao túmulo de sua mãe, Latrell Graeme foi despertado com o som de gargalhadas agudas conhecidas. Alastravam-se metros abaixo do terreno elevado no qual se encontrava a mansão dos Graeme, chegando aos seus ouvidos após percorrer uma boa distância.

Bellatrix Lestrange. Ele pensou, sorrindo com escárnio. Escandalosa como sempre.

Levantando-se com elegância, Latrell ajeitou o colarinho de seu agasalho, movendo-se até a entrada de sua mansão de campo. Estava na Inglaterra, país mais quente do que a Escócia, mas uma chuva fina caía sobre o terreno de sua residência bucólica, e a névoa densa dançava pelos vales e charnecas do Peak District.

Fazia frio, mesmo estando no início de abril.

– Bem-vindos, sintam-se em casa. – Latrell manejou com sua varinha o feitiço para a abertura dos portões de ferro da entrada da mansão, permitindo que Bellatrix Lestrange e seu marido, Rodolphus, fossem os primeiros a entrar. Junto aos dois, Graeme viu Regulus, andando um tanto mais recluso na sombra de ambos. Cumprimentou-o abertamente, apenas para constrange-lo. Nunca gostara do rapaz. Era próximo demais de Cordelia, e ele conhecia as vontades masculinas muito bem.

Atrás do casal e do pivete desprezível, Latrell reconheceu um estrangeiro entusiasta das artes das trevas e professor de Durmstrang, Igor Karkaroff, bem como os cabelos pálidos de loiro platinado de Lucius Malfoy. Ao seu lado, caminhava sua esposa com quem havia recém-casado, Narcissa Malfoy. Por um tempo um pouco maior do que gostaria, Graeme encarou os fios loiros dela, mais escuros e dourados que os platinados cabelos de seu marido. Movendo a cabeça ligeiramente, ele desviou o olhar, assim que percebeu-se fitando-a por tempo demasiado.

Encarando o início do vale abaixo, ele podia enxergar que lá aparatavam diversos Comensais da Morte, dentre eles parentes de Avery, Yaxley e Mulciber, além de alguns Crabbe, Goyle e ex-membros esparsos da casa corvinal que sentiam-se seduzidos pela perspectiva de novos conhecimentos oferecidos pelo Lorde das Trevas.

Em pouco tempo, mais de trinta e nove bruxos reuniam-se para mais uma das reuniões secretas para avanços da Revolução.

Levando-os para dentro da mansão, Latrell guiou-os por corredores sofisticados com antigos lampiões de velas acesas bruxuleando e iluminando vagamente cada cômodo. Não havia necessidade de muita iluminação quando se tratava daquele tipo de encontro. Ainda mais em eventos reservados para aquele dia específico.

Ao enfim levar os convidados até uma das maiores salas de jantar, Latrell ordenou aos elfos que os servissem com o que quer que desejassem, e, em algum tempo, os bruxos já bebericavam um pouco de vinho, whiskey de fogo e gim tônica. Ninguém se atrevia a beber demais, dada a importância do que estava por acontecer.

Após uma espera de meia hora, Latrell Graeme sentiu uma forte ardência em seu antebraço esquerdo. Por questão de hierarquia, Regulus Black sentava-se ao seu lado na comprida mesa senhorial de madeira que havia naqueles aposentos de jantar. Latrell deu-lhe um olhar de esguelha. Regulus mal disfarçava a sensação pinicante em seu próprio braço, apertando-o como se aquilo realmente o incomodasse.

Fracote. Não irá durar nada. Graeme pensou, amargo.

Deu um olhar furtivo para a cabeceira esquerda da mesa, alguns metros longe de si. Seu pai, Ranald, vestia-se com suas melhores roupas, tamborilando os dedos na superfície de madeira, o mesmo gesto contido de nervosismo que era típico de seu filho. Não encarou Latrell, mas sabia que era uma questão de tempo até que se levantasse e fosse recepcionar o mais ilustre dos hóspedes.

Apesar de completamente indócil e desvairado em suas atitudes sádicas, Ranald fingia bem ao público. Provavelmente quase nenhum dos Comensais desconfiava dos castigos que gostava de dispender ao filho e aos elfos domésticos quando se sentia desagradado... Ou entediado.

Logo após alguns minutos, Ranald Graeme pediu licença aos Comensais, e caminhou até a saída da sala de jantar na qual se encontravam. Momentos depois, retornou na companhia daquele que fizera todos no recinto se levantarem juntos.

– Milorde. – Os Comensais da Morte sussurraram em uníssono. Como se obedecendo algum tipo de regra não escrita, o grupo se moveu até a figura de Lorde Voldemort, que sorria para eles como uma espécie de patriarca afetuoso. Seus olhos brilhavam, cintilantes e penetrantes como o olhar de uma serpente que aguarda para dar o bote.

Como sempre, sua postura e apresentação estavam estonteantes. Voldemort vestia-se de forma discreta porém respeitável, de maneira a ofuscar todos os trajes luxuosos dos Malfoy, e sua presença magnética impunha-se sobre cada ser que respirava dentro daquela sala. Seu rosto de traços masculinos e inegavelmente belos mostrava assertividade e imponência. Era impossível retirar os olhos dele.

O líder dos Comensais da Morte, por sua vez, apenas levantou uma das mãos, sorrindo de maneira branda, como se quisesse um pouco de espaço. Imediatamente, todos se afastaram, permitindo que ele se movesse como bem entendesse.

O Lorde das Trevas andou até a cadeira da ponta direita da mesa, e enfim pediu a todos que se sentassem. Parecia mais desinibido, como se não quisesse maiores formalidades. Latrell duvidou daquilo, mas obedeceu.

– Boa noite, meus amigos, meus camaradas. – Lorde Voldemort disse. Sorriu ainda mais amplamente. – Hoje, sem dúvidas, é uma noite muito especial. Devo agradecer à hospitalidade de Ranald Graeme, que nos cedeu sua residência de campo nesta vizinhança ilustre que é a de Peak District. De fato, se não fosse pela localidade onde estamos, o evento de hoje não seria este. – O Lorde riu, e todos o acompanharam. Latrell gargalhou junto, embora não compreendesse ainda do que se tratava a indireta do Lorde.

– Como todos bem sabem, a guerra já está começando. – Voldemort prolongou seu raciocínio. – Tivemos alguns bons atos bem sucedidos, o que é ótimo. Tenho plena confiança na capacidade de vocês, e não espero menos do que a perfeita lealdade de todos. – Seus olhos perpassaram o rosto de cada um dos convivas, e Latrell teve de se esforçar para não vacilar seu olhar nos orbes do líder do grupo. – Muitos me auxiliaram convidando novos membros, mas, o mais importante de tudo... Foram as provas concretas de interesse que me deram. – O Lorde sorriu, enigmático.

– Regulus. – Voldemort chamou o pirralho, e Latrell sentiu um nó de insatisfação na garganta. Era revoltante que ele tivesse recebido menção antes, ainda mais em sua casa de campo.

– Sim, meu senhor. – Regulus Black respondeu, e Latrell reparou que os ombros do rapaz ao seu lado tremeram levemente. Covarde.

– Quanto tempo ainda para o preparo definitivo da poção da acidez? – O Lorde questionou, mas o rapaz Graeme aferiu claramente que ele sabia muito bem quando a poção estaria pronta. Era apenas uma forma de lembrar a Regulus uma tarefa que ele não poderia falhar.

– Até julho, milorde. – O garoto Black mais novo respondeu, sua voz soando mais firme.

– Pois bem. Está certo. Por hoje, e apenas por hoje, você aguardará mais um pouco. – Voldemort sorriu para o garoto, e depois fez um gesto firme com as mãos na direção de Bellatrix, e, em seguida, na direção de Ranald Graeme e de Latrell Graeme.

– Bella, Ranald, Latrell... Não temos mais tempo a perder. Vamos direto ao ponto. – O Lorde se levantou, e todos os Comensais da Morte seguiram seu gesto.

Enquanto Bellatrix fazia desvanecer temporariamente a mesa e as cadeiras do centro da sala de jantar, Latrell e seu pai se encarregavam de outra tarefa. Subitamente, surgiram quatro corpos amarrados por cordas firmes, suas bocas tremendo. Ao perceberem onde estavam, acompanhados das figuras hostis que eram as daquele grupo, os quatro indivíduos puseram-se a berrar quase ao mesmo tempo.

Silencio! – Voldemort bradou, aquietando a todos os quatro em um feitiço silenciador lancinante. Suas bocas ainda se abriam desesperadas, as veias em suas gargantas pronunciadas, ameaçando estourar. Os olhos dos reféns quase saltavam de suas órbitas, de tão arregalados em terror defronte à cena que viviam.

– Como eu disse, esta residência belíssima dos Graeme se encontra em uma localidade de excelência. – O Lorde pontuou. – Porém, como o resto do mundo bruxo em que vivemos, não se encontra imune... A pragas. – O chefe dos Comensais da Morte gargalhou. Após uma ressoada de risos, Bellatrix Lestrange pôs a língua para fora da boca, em um gesto de repúdio e aprovação pela condição submissa dos reféns ao centro da sala.

– Estes quatro montes de carne suja – Voldemort apontou-os com a varinha – não passam de trouxas enxeridos que ousaram tentar violar as barreiras mágicas que os impede de chegar a locais de legítimo valor como este. Trouxas desprezíveis que não reconhecem sua insignificância perante aqueles que lhe são superiores. E é mais do que chegada a hora de demonstrarmos a eles... Quem realmente está no poder. – Lorde Voldemort fez um gesto com a mão para Latrell e alguns outros jovens Comensais da Morte. O mais velho dentre esses poucos selecionados devia ter por volta dos vinte e um anos de idade.

A maioria dos Comensais encarava o rapaz de cabelos castanhos arruivados e seus companheiros de tenra idade com ânsia no olhar. Aguardavam pelo que viria. Alguns com evidente sadismo em seu olhar, outros ansiosos, e outros – Regulus em especial, como viu deliciado Latrell – com olhos indubitavelmente temerosos.

– Vamos soltá-los, meus caros. – Voldemort debochou, acariciando a varinha com seus dedos compridos. – Vamos libertá-los de sua existência imunda. – O Lorde sorriu.

A um gesto de permissão do líder do grupo, que, Latrell sabia, os julgava em cada ato, os Comensais de pouca idade se movimentaram.

O primeiro cortou as cordas que prendiam um idoso trouxa, de barba branca curta e de cabeça careca. Silenciado, ele gritava em desespero, mas ninguém podia escutá-lo. Em meio aos risos dos Comensais e gritos de incentivo, o ex-aluno da corvinal disse:

Imperio! – O trouxa idoso parou de se mover. Seus olhos pareciam vidrados, esfumaçados, como se estivesse em alguma espécie de sonambulismo. O antes estudante da corvinal mantinha a varinha apontada para ele, sussurrando palavras que Latrell não conseguiu ouvir.

Subitamente, o trouxa levantou os dedos até a garganta. Apertou-a com as próprias mãos e, silencioso, para o completo choque dos outros trouxas que o encaravam, ainda presos no piso brilhante da sala de jantar da casa de campo dos Graeme... Sufocou-se a si mesmo.

Caiu inerte no chão, sua garganta afundada, seus ossos da traquéia quebrados pelo esforço de se matar.

Em seguida, foi a vez de outra jovem Comensal. Era Alecto Carrow, irmã de Amycus, conhecida por sua risadinha irritante e ofegante, corpo atarracado e sem curvas. Enquanto gargalhava agudo em sua respiração entrecortada, a jovem moça moveu a varinha, apontando-a para uma mulher de meia idade, de cabelos longos e ruivos e olhos castanhos que imploravam ajuda. Era possível ler a palavra se formando inúmeras vezes em seus lábios... Para restar nada.

Avada Kedavra! – A Comensal proferiu a maldição da morte, indo com muita sede ao pote. A mulher ruiva morreu de imediato, e alguns convivas aplaudiram a força do encantamento.

Foi a vez de seu irmão, Amycus Carrow. Um trouxa novo, da idade de Regulus, estava chorando em silêncio. Desistira de pedir que parassem. Se fosse Regulus em seu lugar, eu ficaria ainda mais satisfeito.

O trouxa olhou fundo nos olhos de Amycus, o que pareceu irritá-lo ainda mais.

Ignis Fatuus!* - O Carrow do sexo masculino berrou, sua voz reverberando pelo salão. Em segundos, chamas azuladas e esverdeadas subiram pelo corpo do garoto, que mal pôde ter tempo de berrar de dor. Tratava-se de um feitiço que incendiava o corpo das entranhas para a pele, sugerindo a inflamação espontânea do gás metano resultante da decomposição de seres vivos. Em segundos, só restavam cinzas de seu corpo.

O Comensal foi muito aplaudido, ovacionado quase. Até mesmo Voldemort parecia um tanto contente com o uso de um feitiço complexo de magia das trevas, não muito conhecido pelo mundo bruxo em geral.

Por último, chegara a vez de Latrell Graeme.

Sobrara para si exatamente quem ele queria, e, por isso, aguardara para ser o último a demonstrar o que aprendera em alguns meses de treinamento como Comensal da Morte. Mas mal sabia Voldemort e os outros que seu treino começara muito antes da feitura da Marca Negra.

Começara com os castigos que recebia de seu pai.

O rapaz de cabelos castanhos arruivados andou em direção ao trouxa ainda preso. Soltou-o, como fizera o primeiro comensal que atacara um dos reféns prisioneiros. Era um homem, que devia ter por volta de uns quarenta e muitos anos, de cabelos curtos, bigode espesso, e estrutura física larga e longilínea. Maxilar marcado, olhos que supostamente sugeriam alguma malícia, e rosto com a pele levemente flácida pela idade e provável sedentarismo.

Era a própria imagem de Ranald Graeme, em sua versão trouxa. Idêntico ao seu pai.

Latrell firmou a varinha na direção do trouxa e não teve dúvidas. O feitiço silenciador ainda funcionava, e, ao encarar os fustigantes olhos do jovem, o refém pareceu finalmente se assustar. Gritou em silêncio, correndo na direção oposta de Latrell Graeme. O rapaz desviou a direção da varinha para onde ele corria, e varreu os Comensais da Morte com os olhos.

Até encontrar os olhos de seu pai.

Com o rosto muito sério, Latrell articulou a palavra que aguardara tanto tempo para falar, ainda que não a usasse primeiro em quem realmente queria.

Seu feitiço das trevas soou como um raio trinchando a sala de jantar ao meio.

Crucio. – Latrell Graeme manteve o olhar firme nos olhos do pai. O trouxa, metros longe de si, caíra com um baque surdo no chão, e contorcia-se de forma a derrubar estantes e outros móveis que não foram desvanecidos por Bellatrix no início da reunião. Embora sequer olhasse o antes prisioneiro, o jovem Comensal podia perceber, pelos ruídos de seu corpo em pleno desespero, de que a dor que sentia era insuportável.

Enquanto isso, Latrell não deixou de encarar seu pai. Ranald, por alguns segundos, manteve a ligação de olhares, mas o rapaz viu seu pequeno papo trêmulo abaixo do queixo movimentar-se, em breves tremores.

Seu pai engolira em seco.

Latrell Graeme sorriu, e o trouxa definhou ainda mais. Os Comensais, em silêncio, apenas encaravam aquela horrenda sessão de tortura. Provavelmente não esperavam tamanha capacidade de desejo por dor de alguém tão novo.

Afinal de contas, para proferir uma maldição cruciatus bem sucedida, é preciso querer que o outro sinta dor. E muita.

E esse era um dos maiores desejos do rapaz.

Latrell, depois de minutos, sentiu uma mão tocar seu ombro. Voltou os olhos para trás, e Voldemort lhe sorria em um gesto de compreensão.

– Pode parar. Ele está morto. – O Lorde apontou com a varinha para o corpo já sem vida do trouxa que tanto lembrava fisicamente o pai de Latrell, e ele enfim viu o resultado de sua magia das trevas.

Seu primeiro assassinato cometido.

– Bem, acho que temos um vencedor. – Lorde Voldemort aplaudiu brevemente, e os Comensais irromperam em aplausos agudos. – Latrell Graeme, você tem futuro. E muito talento. – O bruxo que norteava os Comensais da Morte sorriu, e olhou do pai do garoto para ele, um olhar curto, porém preciso.

O suficiente para que Latrell soubesse que ele compreendera suas motivações.

***

Latrell Graeme passara os últimos dias do feriado sozinho.

Rumild Lestrange, a garota que namorava, tivera de passar aqueles dias com a própria família. Portanto, nos dias em que estivera sozinho, aproveitou para compensá-los com alguma variedade. Apesar de ter um corpo delicioso, Rumild era limitada intelectualmente, e tinha uma personalidade um pouco irritante, julgando-se muito melhor do que realmente era.

Mas era um bom troféu para ter ao seu lado, então valia a pena levar o namoro adiante.

Até o último final de semana da data festiva, sua tia avó havia lhe visitado, talvez condoída por mais uma ausência de seu pai em um tempo em que o garoto poderia dispender com a companhia familiar. Mal sabia ela que, desta vez, seu pai viajara não para fugir das atrocidades que cometera contra Latrell...

...Mas sim por compreender as que o rapaz poderia fazer contra ele.

– Huby. – Latrell Graeme falou alto, vestindo um sobretudo escuro por cima de suas roupas, em seu quarto amplo. O elfo doméstico que fora assim nomeado aparatou no quarto, ao chamado do patrão.

– Sim, mestre Latrell? – O pequeno elfo de voz esganiçada aguardou.

– Prepare um bom jantar para mim. Darei uma caminhada pela vizinhança. Devo voltar daqui a algumas horas. – Graeme avisou em tom de exigência, e o elfo assentiu com a cabeça.

– Como quiser, meu senhor. – O elfo reverenciou-o, e aparatou para as cozinhas.

Em seguida, o rapaz desceu as escadarias do sul da residência, em feitio de caracol, que dariam em uma saída para os fundos do território da mansão.

Seguindo caminho, o rapaz demorou apenas alguns minutos para sair dos arredores da residência de campo dos Graeme. Andando a esmo, desceu o relevo alto no qual se localizava a mansão, indo em direção as charnecas e vales do Peak District.

Passou por um córrego afunilado nas proximidades do vale. Ali, pequenas azaléias brancas e camélias rosas cresciam naturalmente em meio as flores campestres da grama. Naquele dia, não chovia. Além delas, Latrell reparou em uma curiosa espécie de flor, uma que sua mãe gostava muito e colhia para enfeitar tanto sua casa de campo quanto seu castelo na Escócia.

A prímula escocesa, flor roxa típica de seu país de berço.

O rapaz caminhou, quase indiferente, na direção da flor. Ao estar muito próximo, outra lembrança foi inevitável.

Ela tinha apenas treze anos quando pôde realmente vir a conhece-la. Faria catorze em outubro daquele ano.

Nas férias de julho e agosto de 1975, os MacLearie e algumas famílias escocesas foram convidadas a passar as três últimas semanas do mês de julho na casa de campo dos Graeme. Não era algo muito típico de seu pai, alguém mais recluso por conta de seu comportamento doentio que tentava esconder do mundo bruxo, mas era necessário para aprofundar os vínculos sociais do Clã com pessoas ‘importantes’. Os Graeme começavam a ter problemas financeiros, e isso não era algo que Ranald levaria muito bem.

Assim, com a desculpa de que aproveitariam o verão mais quente da Inglaterra, e teriam uma reunião exclusiva e requintada, digna da alta sociedade bruxa, muitas famílias de renome e sangue puro se reuniram naquela época para celebrar a estação de clima brando.

Ranald Graeme, distraído com a tarefa de entreter os hóspedes, parecia um perfeito anfitrião e pai durante aquelas semanas. Latrell talvez estivesse enfastiado e revoltado com a ideia de suportar a completa falsidade do genitor, mas pudera ter uma distração imprevisível. Ranald exigira que fizesse companhia à Cordelia MacLearie, e ele percebera que havia algum tipo de contrato lucrativo nesse suposto vínculo que seu pai parecia querer obrigá-lo a criar.

Um contrato lucrativo que logo tornaria-se um doce prazer.

Ele já havia a visto algumas vezes na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Três anos mais nova do que ele, quieta, reservada, elegante e bem educada. Era de uma linhagem de sangue puríssimo e ainda por cima tirava notas boas, aplicada nos estudos. Quando cresceu um pouco, reparou que era bonita, mas nada muito chamativo. Gostava de seu sotaque do norte da Escócia, mesmo país de origem que ele, marcante em suas palavras. Apreciava a sua personalidade que parecia dócil, delicada, tímida e gentil... Como uma boa mulher deveria ser.

Apesar de já saber quem ela era, e como era... Foi surpreendido. Não esperava que conviver com a garota algumas semanas fosse mudar tudo.

A primeira vez que sentira algo diferente ao vê-la fora no primeiro jantar em sua casa. Os bruxos jovens sentaram-se todos juntos em uma das salas de jantar, longe dos mais velhos. MacLearie parecia um pouco excluída do convívio, já que suas irmãs já haviam ido dormir.

Latrell reparou bem no rosto dela. Ela era magra, tinha um corpo com curvas marcadas, embora discretas, exibindo muita feminilidade. Mas a delicadeza de seu rosto era ainda mais bonita que a de seu corpo. Cordelia fora agraciada com bochechas redondas, que se tornavam rosáceas se ela se sentisse constrangida ou acuada.

Naquele momento, ela cruzara seu olhar com o dele. Latrell lhe dera um sorriso afável, como que para fazer com que ela relaxasse. Cordelia respondeu-lhe com um sorriso curto, discreto, e baixou os olhos para seu próprio prato de comida.

Suas bochechas coraram, um lindo tom rosa em seu rosto alvo, emoldurado por seus cabelos dourados e seus olhos de um verde muito claro. E ele sentiu-se docemente abalado por aquele gesto de fragilidade.

Nas manhãs de verão, ele acompanhava de longe quando ela acordava muito cedo e esperava os portões serem abertos para passear nos campos ao redor da mansão. Seguindo-a, Latrell se divertia com sua excentricidade, vendo a menina colher flores, fazer coroas com as pétalas colhidas e vesti-las por seus cabelos dourados.

Tentava compreender seus encantamentos tão distintos da magia que ele conhecia, e a reverência sobrenatural que todos os animais lhe prestavam. Em uma noite, testemunhou-a dançando com os cavalos selvagens que habitavam os Peak Districts, que pareciam segui-la como uma figura de liderança. Quando Cordelia percebeu sua companhia, sentiu-se envergonhada e fez menção de correr, mas Latrell pediu que não parasse, apenas humildemente solicitou que permitisse que ele a assistisse. Sem jeito, Cordelia MacLearie assentiu.

E ele se percebeu maravilhado.

De início, achava sua magia celta apenas um atraso. Magia unicamente de cura, benéfica demais para ter alguma utilidade real. Mas de fato havia algo de encantador naquilo... Na forma afável com que ela se unia perfeitamente à natureza a sua volta, a meiguice de seus gestos tão harmoniosos com o meio natural.

Lembrava-lhe de sua mãe, e seu amor pelas plantas, seu conhecimento vasto que a fizera tornar-se uma das maiores herbólogas do mundo bruxo.

Depois de algumas semanas, ele decidira que ela teria de ser dele.

Cordelia MacLearie era única, não havia nenhuma outra bruxa como ela. Latrell passara a ter certeza disso. E ele não esperaria que outro homem reparasse nisso e se adiantasse, tomando seu lugar.

Depois de duas semanas de convívio intenso, conversas e caminhadas juntos, Latrell Graeme havia feito alguns avanços, mas Cordelia não havia cedido. Ele gostava daquilo. Sentia que a menina seria difícil de conquistar por provavelmente ser inexperiente, o que o deixava ainda mais interessado.

Ninguém tocaria nela. Ninguém além dele.

Ao longo da última semana de julho, as prímulas escocesas desabrochavam mais uma vez, após terem florescido em maio. Latrell levou Cordelia até um riacho longe e profundo, algumas milhas distantes de casa, ouvindo-a contar histórias sobre suas irmãs. Tivera muita paciência e dedicação ao longo daqueles dias, realmente escutando o que ela tinha a lhe falar, interessado.

Em volta do riacho, brotando em meio a grama como buquês plantados, floresciam inúmeras prímulas escocesas, em seu vívido roxo.

Cordelia arfou àquela visão, e Latrell sorriu da doçura da garota.

“- Prímulas escocesas! Elas crescem perto do castelo de meu Clã.” – Cordelia MacLearie falou, animada. Abaixou-se um pouco para tocar nas pétalas, e, por alguns segundos, Latrell se permitiu apreciar discretamente o arco gracioso que seu corpo fazia. Aquilo o deixou ainda mais determinado.

O rapaz abaixou-se para colher uma delas, e a estendeu para a garota. Por alguns segundos, só se ouviu o som do riacho descendo léguas abaixo.

“- Obrigada.” – Ela sorriu daquele jeito meigo e discreto que o desestruturava, e ele teve de se controlar para não agarrá-la. Mas respeitaria sua inexperiência.

Quando Cordelia foi retirar a flor de sua mão estendida, Latrell não permitiu que ela a puxasse.

Ela o encarou, inquisitiva.

“- Eu gostaria de conhecer melhor o seu castelo.” – Latrell Graeme falou, sugestivo, aproximando-se um passo.

“- Hã... Bem, acho que minha mãe irá convidá-los em retribuição...” – Ela começou a responder, e Latrell quis rir de suas meigas bochechas coradas.

“- Você sabe que não foi isso que eu quis dizer.” – Ele insistiu, e a mão de Cordelia ainda tocava a dele. Percebeu que os dedos dela tremeram um pouco. Latrell levantou sua outra mão e segurou a mão dela que tocava a flor. Acariciou-a delicadamente, e deu mais alguns passos para mais junto a ela.

Cordelia manteve-se em silêncio, seus olhos verdes claros fixos nos olhos de Latrell. Ele estudava seu rosto, vendo suas maçãs do rosto cada vez mais ruborizadas. Percebeu que aquilo mexia cada vez mais com seu íntimo.

“- Little Lia...” – Latrell Graeme inventou naquele momento o doce apelido que as amigas de Cordelia e outros viriam a usar, apelido que deveria ser de utilização dele e apenas dele. Surgiu-lhe, naturalmente, como a ânsia que cultivara, como uma muda de prímula escocesa que enfim desabrocha para o verão...

"– ...Eu quero te namorar. Quero que seja minha." – Latrell falou, sério, e levantou o queixo de Cordelia, deixando a prímula roxa em suas mãos.

Beijou-a com a delicadeza com que colhera a flor, e sentiu-se o mais poderoso dos homens quando aferiu sua retribuição. Soltou-a apenas para colocar a flor de prímula roxa em seus cabelos loiros, acarinhando suas faces ruborizadas com as duas mãos. Em seguida, abaixou-as por seus ombros, descendo o toque de seus dedos pelos braços dela, vendo-a respirar fundo. Enlaçou-a pela cintura, puxando-a ainda mais para si. Cordelia moveu seus braços ao redor do pescoço de Latrell, e ambos se beijaram longamente.

Depois de alguns minutos, Cordelia MacLearie se separou dele, arfante, encarando-o entre o alegre e o ressabiada. A aura virginal que havia em volta dela era demasiadamente entorpecente, como uma espécie de vício irrefreável que o levava a querer estar cada vez mais letargo por sua causa.

“- Foi seu primeiro beijo?” – Latrell perguntou, sorrindo gentil.

Lia anuiu com a cabeça. O desejo dele por ela apenas aumentou.

“- ...Sou seu primeiro namorado?” – Latrell pôs as mãos nos bolsos da calça, fingindo retraimento.

“- Sim.” – E Cordelia beijou-o mais uma vez.

Voltando de seus pensamentos, Latrell encarava, naquele feriado de abril de 1977, a única muda de prímula escocesa que vira desabrochar. Adiantada, fora de época.

Lembrou-se da rejeição de Cordelia, repetindo-a em sua mente mais uma vez. Aquilo ainda doía; doía-lhe fisicamente, de uma forma intensa que ele jamais conjecturaria ser possível. Por muitos anos, sofrera abusos violentos por parte de seu pai. Mas o flagelo que sentia, ao ser obrigado a lidar com o dispensa... Ele sabia, dentro de si, que não conseguiria jamais aceitar que fora abandonado por ela. Latrell não hesitou.

Pisoteou a flor que vira, sem nenhuma dó. Seu rosto transparecia indiferença, mas, dentro de si, ele tinha uma certeza.

Tudo o que fizera, desde quando começaram a namorar até depois do término, fora para tentar se livrar do vício que tinha pela presença de Cordelia. Por seu corpo, seus lábios, seus longos cabelos loiros dourados como as manhãs de verão de julho que ela passara em sua casa de campo. Seus olhos de um verde tão claro que também pareciam amarelos, olhos quase loiros como suas madeixas.

A dependência que tinha por sentir sua pele, seu cheiro floral, ouvir sua voz falando em seu forte sotaque do norte escocês.

Fizera de tudo para tentar se afastar o pouco que pudesse de todo sentimento intenso que ela lhe gerava... Da alegria que fora passar seu aniversário com ela, e vê-la fazer catorze anos, depois quinze anos junto a ele, e percebê-la amadurecendo aos poucos. Conviver com ela na escola, as noites furtivas na sala comunal, nos corredores das masmorras... Ensiná-la os prazeres da carne, embora ela sempre evitasse ir às vias de fato...

Se esforçara para evitar sua completa dependência pelo seu olhar verde claro mergulhado no dele, e a forma como se mostrava adoravelmente tímida quando a elogiava e lhe presenteava. Se a traía, era para não enlouquecer completamente por ela. Não podia lhe mostrar o quanto precisava dela. Afinal, ela era o elo frágil da relação, ela era a mulher, e era seu dever protege-la, o que ele faria para sempre.

Faria tudo para tê-la para ele, para tê-la sorrindo consigo. Seus meigos sorrisos de menina, contidos, tímidos, reservados. Sorrisos que deveriam ser só para ele, motivados por ele, guardados para ele.

Latrell desistira da caminhada. Seu ânimo recobrado pelo êxtase de agradar a Voldemort já murchara, como a flor que destruíra.

De imediato aparatou, seguindo na direção do prostíbulo que frequentava. Era muito cedo, mas teriam de lhe abrir as portas. Charlotte tinha de estar pronta, disponível, e preparada para servi-lo em seus caprichos.

Lia... Tentei te ensinar. Mas você é tão ingênua, tão tola. Minha princesinha celta pedinte. Latrell Graeme pensou, quase sorrindo consigo mesmo.

Se você não for minha...

...Não será de ninguém.

É, gente, dor de cotovelo é foda. Se é ruim pra pessoas normais, imagine quando o recalcado é um sonserino perverso badass... Fodeu!


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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Aguardo comentários, garotas! =D
*Ignis Fatuus - Fogo fátuo em latim. É o foguinho sinistro que sai dos cadáveres e corpos em decomposição por uma reação loka do metano que sai deles! D: Sempre achei isso muito bizarro.
E aí, o que acharam de conhecer um pouco mais esse cretino que é o ex-namorado da Cora? Hehehehehe! Beijão!



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