Always With Me escrita por Menta


Capítulo 25
Somebody That I Used To Know - Parte Um


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Sei que demorei uns dois meses para postar, mas não foi por preguiça ou vadiagem de escrita! Esse final de ano está simplesmente impossível de tantos afazeres. Estou com inúmeras pendências no trabalho e também na faculdade, e meu tempo livre também foi consumido por questões delicadas familiares e novidades no meu meio social. Mas, enfim, mais um capítulo de AWM!
Esse daqui eu tenho certeza que é surpreendente pra muita gente. Afinal de contas, é um ponto de vista do... Latrell! Isso mesmo, do canalha do ex-namorado da Cora! Agora vocês me perguntam: "por que, Menta? Quero Sirius, quero Cora, quero Reg..." Calma, minhas caras leitoras, eu respondo! A Mentinha aqui tem uma certa regra: ODEIO personagens rasos. É claro que toda história precisa deles, um ou outro para compôr o todo, mas até mesmo os meus "secundários principais" tem um background desenvolvido. Já viram que é assim com a Lis, com a Grace, ora, até mesmo com o Regulus que de secundário passou a um dos mais importantes, tendo ponto de vista... E, agora, com o Latrell! Só digo uma coisa para não dar spoiler: não é à toa que esse monitor-chefe safado é um filho da puta do jeito que é. Ele teve muuuitas razões para crescer ferrado de cabeça desse jeito! E vocês descobrirão, neste capítulo!
Adianto apenas uma coisa: esse aí ainda tá longe de ter esquecido a Cordelia, viu... E isso vai dar o que falar. Ou melhor: azarar! Eita!
Dedico este capítulo especialmente a Lune Noire, que me disse algumas vezes estar necessitando urgente de mais capítulos em Always With Me! Então, tá aí de presente pra você, gata! Agradeço MUITO também o apoio e comentários das leitoras LaurenPS, duda fap, Lena18 e Arrriba, lindas que sempre comentam em todos os capítulos! A parte final virá em breve, acho que nessa madrugada mesmo termino de escrevê-la e posto amanhã. Só peço que, como sempre, comentem nas duas partes, por uma questão de consideração.
As inúmeras fantasminhas que a fic tem, afinal, são 64 leitoras ao todo cadastradas no nyah... Meninas, não se acanhem, comentem! Façam uma ficwriter feliz e venham dar suas opiniões! ^^ Eu não mordo, como eu sempre digo, quem faz isso é o Sirius! Eu ronrono de alegria pra quem comenta, ehehehehe! E quem quiser recomendar, então... Vou pular de alegria! Quem recomenda ganha presentinho, lembrem-se disso! ^^
Muitos beijos e boa leitura!
E que a magia flua em todas vocês!



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You can get addicted to a certain kind of sadness

Like resignation to the end, always the end

So when we found that we could not make sense...

~ Gotye - Somebody That I Used To Know (feat. Kimbra)

Ela gemia, cainhava de prazer, e ele tinha de se controlar para não agredí-la. Queria que ficasse quieta.

Estava estragando tudo.

A garota era loira, com cabelos longos e lustrosos que desciam-lhe sinuosos até sua cintura, finamente marcada em sua pele alva como mármore. Seus fios dançavam hipnotizantes por sua barriga, que agorava movimentava-se junto aos seus belos quadris em ritmados deslocamentos arredondados. Seus cabelos macios cobriam seus seios pequenos, enquanto unia-se ao corpo dele, deliciosamente encaixada. A cada segundo embrenhava-se cada vez mais fundo dentro dela... Faltava pouco para que enfim alcançasse o ápice do prazer.

Ao deixar seu olhar perder-se mais uma vez em seus fios tão dourados quanto uma manhã de maio, ele baixou suas mãos pelas costelas dela, apertando-se firmes na acintosa porção de carne tenra que havia entre sua cintura e o começo de seu quadril. Levantou as costas dos lençóis em que antes deitava, e, com as duas mãos, manteve-a presa contra si, sentando-se reto no colchão afundado. A garota, envolvida no ato, enlaçou-o pelo pescoço, encostando seu queixo pontudo nos ombros dele.

Ele agradeceu internamente.

Assim não seria mais atrapalhado com a visão de seu rosto.

Latrell Graeme investiu com tamanha violência adentro do corpo feminino enlaçado junto a si que a garota arfou. Depois, o rapaz fincou os dedos com tremenda força no quadril dela, guiando os movimentos circulares da garota acima de suas coxas, levando-a a quase gritar. A moça lamuriou-se em um exasperado som entre a dor e o pleno deleite.

E, com aquele arfar, veio-lhe à tona uma lembrança. Inevitável, tal como um caldeirão tão cheio e borbulhante que vem a transbordar.

Não Latrell... Não quero. Não...

...Não estou pronta.”

O rapaz fechou seus olhos, e concentrou-se uma última vez, grato por saber que ninguém poderia testemunhar o que se passava em sua cabeça. A voz que lhe falara as palavras que recordara era bem diferente do estridente timbre da garota em seus braços, assim como de seu sotaque inglês. A voz de que se recordara era um pouco mais grave, discreta, e não tão confiante... Tímida, proferida em um sotaque escocês inconfundível.

Era a voz de Cordelia ressoando em suas memórias.

Pensando na ex-namorada, ele chegou ao êxtase. Após um grunhido animalesco, ele próprio deixou seu queixo descansar nos ombros estreitos da garota que havia acabado de tomar para si. Ao fazê-lo, sentiu seu nariz e rosto ser tocado pelos fios finos dela, como uma cortina de toque aveludado. Abriu os olhos e piscou algumas vezes, admirando a cor daquelas madeixas.

Ao fechá-los novamente, um rosto que ele já conhecera tão bem veio de imediato visitar seus pensamentos. Emoldurado pelo mesmo tom dourado em seus respectivos cabelos, lhe dizendo a continuação das palavras das quais ele se lembrara.

Espere um pouco, está bem? Por favor... Eu te amo.”

Latrell Graeme abriu os olhos, e empurrou com agressividade a garota que ainda tinha presa consigo para o lado esquerdo da cama.

– Oy! Eu não vou aturar isso de você não, pirralho! - A moça reclamou em sua voz aguda. Graeme já havia levantado, e se vestia novamente.

– Pensei que eu lhe pagava para me agradar. Do jeito de minha preferência. - Latrell retrucou, já pondo uma longa capa negra e vitoriana acima de suas calças de linho, e camisa guarnecida por um colete de seda também negro. O feitio dos botões deste colete eram uma iguaria rara, o que fazia a peça ser uma das favoritas do rapaz. Eram originários da pele de elfos domésticos.

Não está totalmente errado. Mas apesar disso aqui ser um bordel, meu bem – a bruxa loira fez um gesto amplo com os braços, indicando o quarto em que se encontravam – também temos regras a serem obedecidas. - Ela, por sua vez, pôs-se a colocar um roupão finíssimo de seda, de um tom azul turquesa que combinava com sua pele clara e seus olhos da mesma cor.

Latrell a encarou rebolar em direção de uma penteadeira antiga, e a viu buscar sua varinha nos bolsos do roupão, proferindo feitiços de limpeza para disfarçar o cheiro deixado pelo ato que praticaram. Em seguida, enquanto ela se maquiava também usando a varinha, ele se aproximou.

A moça o encarou pelo espelho, franzindo as sobrancelhas, receosa.

– Para compensar a grosseria... - Latrell sussurrou nos ouvidos dela, mordiscando levemente o lóbulo de sua orelha direita, e lhe fez uma oferta irrecusável com a mão direita. Segurava uma grossa bolsa de pano bege. Moveu-a na direção dos seios da prostituta, sacudindo-a levemente, fazendo o conteúdo do que carregava tilintar. A garota riu, e pegou de sua mão a pesada sacola de galeões que ele lhe fornecera.

– Você sabe mesmo como seduzir uma mulher. - A bruxa falou vulgarmente, dando-lhe uma piscadela e pedindo com a mão que se afastasse para continuar a pintar seu rosto novamente.

– Até a próxima, Charlotte. - Latrell virou as costas para a jovem prostituta, e andou até a porta. Sempre difícil, tanto chegar quanto sair. Pensou, reclamando da dificuldade que era ter acesso a um prostítulo bruxo. Era uma instituição ilegal, como todas as casas de prostituição o eram. Portanto, o Ministério da Magia a perseguia com unhas e dentes.

Apesar do número consideravelmente pequeno de cidadãos bruxos, a própria sociedade mágica era repleta de mazelas sociais, que também infligiam a realidade do território bruxo dentro do Reino Unido. Logo, ladrões, vigaristas e párias de toda a sorte não eram um “privilégio” existente apenas no mundo trouxa. A pobreza e a desigualdade social eram uma realidade até mesmo para aqueles dotados de magia.

Afinal de contas, não é possível reproduzir ouro por meio de feitiços e encantamentos. E são os galeões que realmente movem a sociedade.

Desta forma, alguns bruxos e bruxas encontravam sua própria forma de sobreviver dentro da realidade que lhes era impingida. Alguns roubavam objetos de valor, outros enganavam os incautos e ingênuos para conseguir pagar suas próprias contas, e algumas mulheres vendiam o corpo, pois nem mesmo o mundo mágico está isento de seus... Vícios.

– Você nunca vai enjoar de mim, não é, garoto? - Charlotte falou de maneira indolente, movendo sua varinha para aumentar seus cílios e engrossá-los em uma coloração preta.

– Tem certas coisas em você que são impossíveis de esquecer. - Graeme respondeu em forma de galanteio, e fechou a porta com brusquidão. Certos aspectos da prostituta eram realmente marcantes... Latrell apenas deitava-se com ela por ter traços físicos em comum com Cordelia MacLaerie.

Charlotte era mais uma dentre as bruxas que perderam tudo na vida, ou sequer nasceram com meios para subsistir. Trabalhava em um bordel de luxo inglês em Sheffield, no condado de South Yorkshire, onde também residia a mansão de campo dos Graeme, o Clã escocês do qual Latrell era herdeiro.

A bruxa loira era a mais nova prostituta de seu estabelecimento de trabalho, tinha por volta dos vinte e dois anos, sendo no máximo cinco anos mais velha do que o monitor-chefe de Hogwarts. Mas, como alguma forma de sentir-se menos humilhada em detrimento da posição de maior respeito, liberdade e poder que o jovem rapaz ocupava, gostava de acentuar o fato de ter mais idade do que ele.

Já está ficando um pouco velha demais... É melhor que arrumem alguém mais jovem. Pensou, um pouco contrariado com a quantidade de galeões que gastara com a prostituta, que era oferecida como repleta de diferencial pela pouca idade e sangue muito puro. Vinha de uma família antiga inglesa que pouco a pouco teve sua fortuna levada pela falência. Ele compreendia o preço alto, era quase justo, até, em comparação à mercadoria oferecida na maioria dos bordéis.

Afinal de contas, que tipo de bruxo que se preze iria querer deitar-se com meros animais, como as prostitutas trouxas? Seria um ato tão repulsivo quanto fazer sexo com um testrálio.

Contando os galeões que gastara e conjecturando a respeito, Latrell saiu pela porta principal do bordel, construído em uma antiga casa vitoriana bruxa. Foi saudado de forma bajuladora pela cafetina das mulheres do local, uma idosa gorda e atarracada.

Aguardou que os elfos domésticos da ‘abadessa’ proferissem os encantamentos necessários para permitir sua saída, e atravessou os portões que se abriram magicamente, rangendo agourentos.

Para não ser encontrada pelo Ministério, a casa de prostituição recebia todo tipo de feitiço existente para impedir seu rastreamento, tornando-a tão oculta que era difícil de ser encontrada até mesmo pelos clientes cativos. Apenas os bruxos da alta sociedade conheciam sua localização e os procedimentos para alcançá-la. Sendo assim, era frequentada por poucos e exigentes, mas que pagavam muito bem.

Ao enfim se ver livre do aroma entrevante que se alastrava por todo o bordel, Latrell Graeme respirou fundo uma lufada de ar fresco, sentindo profundamente o cheiro forte dos pinheiros. Estava nos confins do Parque Nacional Peak District, um dos maiores parques da Inglaterra, repleto de charnecas, florestas e vales. Moveu o rosto de um lado ao outro, apreciando brevemente a bela paisagem.

Por ser um território ancestral bruxo, os trouxas consideram que sua extensão é de míseras 555 milhas, ou 1.440 km2. Na verdade, é quase cinco vezes maior do que esse valor. Isso porque o terreno do Parque é literalmente fechado com os mais diversos feitiços repelentes a trouxas – desde magia comum a encantamentos originários das artes das trevas -, e, se um deles for incauto e azarado o suficiente de conseguir atravessar os limites mágicos... Certamente jamais voltará.

Os bruxos moradores do local provavelmente se encarregarão muito bem disso.

Sendo uma das localidades de maior concentração mágica da Grã-Bretanha, quase não há residências bruxas ou terrenos à venda dentro do Peak District. Não há razão para as famílias tradicionais saírem de suas casas de campo, a não ser um súbito e vergonhoso desejo de menosprezar o valor de residir em um local inteiramente mágico. Com a praga trouxa se alastrando cada vez mais pelo mundo, somente um lunático jogaria fora a chance de morar em um local verdadeiramente de elite.

Latrell Graeme poderia ser muitas coisas, mas sabia que não era louco. Assim, passar os feriados na mansão de campo de sua família era, para o rapaz, um imenso prazer.

Após alguns momentos de contemplação, Graeme moveu sua varinha e aparatou. Seu corpo já havia se acostumado com a sensação angustiante provocada pelo feitiço de aparatação, como se fosse se dividir em duas partes devida a enorme pressão de atravessar inúmeros espaços em questões de segundos. Porém, não iria longe dessa vez, e a sensação foi mais branda.

Menos de um segundo depois, havia fincado os pés no vale defronte ao portão de sua mansão de férias.

Latrell guardou sua varinha no bolso direito de sua longa capa, e pôs-se a caminhar em direção a entrada.

Controlando uma respiração entrecortada, o rapaz andou adiante. Abriu os portões sem proferir em voz alta o feitiço necessário para entrar, apenas movendo a varinha no floreio que lhe fora ensinado por seu pai.

Como que por instinto, o rapaz de cabelos castanhos arruivados levantou a manga esquerda, e aspirou o tecido. Perfume nauseante de blueberry. Talvez ele perceba. Graeme crispou os lábios, mas manteve o olhar indiferente. Já não era mais hora de se importar com aquilo.

Latrell fora criado somente por seu pai, um senhor rigoroso e conservador que exigia o máximo de desempenho de seu filho e único herdeiro. Qualquer falha deveria ser punida, e qualquer mérito não era mais do que o esperado.

A mãe do monitor-chefe de Hogwarts morrera quando o menino mal completara quatro anos de idade, envenenando-se acidentalmente na longínqua China, em uma viagem a trabalho. Sua mãe era uma herbóloga de renome, uma das mais importantes cientistas bruxas da Grã-Bretanha, mas mesmo seu farto conhecimento não fora o suficiente para salvá-la do imprevisto. Em um equívoco que custou-lhe a vida, entrara em contato próximo demais com uma planta mágica peçonhenta.

A última memória de Latrell acerca de sua mãe fora de quando o abraçara, em um novembro antigo, prometendo que voltaria antes do Natal. Ele controlara o choro, temendo a ira de seu pai por ver sua fraqueza. Enlaçara a mãe de volta, contra si, e deixou seu olhar se perder nos cabelos loiros maternos que caíam pelo seu rosto, cobrindo-lhe docemente como se lhe ninassem.

Cabelos loiros como os de Cordelia.

Ao saber que sua mãe não retornaria jamais, o luto dos dois Graeme durou menos do que algumas semanas. Não demorara muito até que seu pai resolvesse descontar a dor da perda em Latrell, da forma que ele sabia melhor, da mesma maneira que tentava ‘educar’ a esposa se ela não o agradasse.

Com punição física.

Ao adentrar os portões de sua mansão de campo, o jovem rapaz percebeu que ainda era cedo demais para entrar. Os convidados mais ilustres ainda não haviam chegado, pois veria indiscutíveis sinais de sua companhia.

Como um sinal marcado em sua pele.

Em uma reação quase imediata, o rapaz passou a mão pelo antebraço no qual havia sua Marca Negra, coçando por cima do tecido do agasalho a parte do corpo em que ela fora tatuada.

Está perto o dia em que poderei me livrar dele, com a permissão do Lorde das Trevas.

O jovem sorriu com o pensamento funesto e macabro. Andou pelo próprio jardim, contornando esculturas lúgubres e um pequeno cemitério da família Graeme que ali havia. Muitos bruxos de sua árvore genealógica foram enterrados ali, há gerações, desde que o primeiro membro do Clã clamara aquela localidade para si e seus herdeiros. Os escoceses preferiam ser enterrados em seu país de origem, mas havia alguns membros ingleses dentro da linha familiar de Latrell.

Dentre eles, sua mãe.

Passou pelo túmulo dela, e depois de tantas outras vezes ao longo de muitos anos, lera mais uma vez o simples epitáfio que ali havia:

Loretta Graeme, amada mãe e esposa subserviente. Que descanse em merecida paz. Agraciada é a estirpe intocada.

Como em todas as vezes que relera aquele texto, sentira vontade de chutar aquele pedaço de pedra infeliz. Sua mãe era mais do que aquilo, mais do que aquelas palavras asquerosas delineadas por seu pai. Ele sim deveria ser visto como a figura submissa da família, um homem limitado, estúpido, de prazeres doentios.

O rapaz ainda se lembrava da primeira vez em que seu pai o castigara com mais... Gosto. Foi inevitável adentrar suas lembranças hediondas, como se lhe atirassem em uma penseira, em oposição aos seus anseios.

“- Está vendo? Está vendo este túmulo?" – Seu pai lhe dissera, lançando um feitiço em Latrell sem proferir audivelmente o encantamento que realizava. O menino de dez anos foi jogado contra a pedra dura na qual, a sete palmos abaixo, repousava o corpo sem vida de sua mãe. Sua bochecha direita ralou-se no contato áspero e molhado, já empapado de água pela chuva que caía em cima da mansão de campo dos Graeme e cercanias.

“- Responda-me, seu inútil.” – Ranald Graeme balbuciou, seu queixo tremendo, quase babando. Enquanto seu pai movia a varinha para força-lo a falar com rapidez, trovões fustigavam as árvores e plantas do jardim. Latrell Graeme os via cortando o ar como um feitiço certeiro, e tremia tanto pelo frio quanto pelo medo.

Mas nada o assustava mais do que as feições endurecidas de seu pai.

“- Estou. Estou.” – O garoto tentava responder com o máximo de firmeza que conseguia reunir. Quando seu pai estava assim, ensandecido pela bebida e entorpecentes, era difícil saber como agradá-lo.

“- Quem foi que a matou?” – Ranald aproximou-se do garoto, a varinha implacavelmente apontada para as costas dele. Latrell via tudo com seu rosto duramente encaixado no túmulo da mãe, como se fazê-lo pudesse leva-lo para lá, para baixo da terra, e protege-lo das garras de seu pai.

“- RESPONDA!” – O pai do garoto atacou-o com um feitiço chamuscante que causou-lhe uma queimadura feia no cotovelo direito. Latrell gemeu de dor, e isso pareceu enfurecer ainda mais o pai.

“- Seu fracote, seu saco de estrume, responda AGORA!” – Ranald Graeme preparava-se para lançar mais um encantamento para infligir dor ao filho, mas ele respondeu ligeiro, impedindo o movimento.

“- Fui eu! Fui eu, eu sei! Eu sei! Ela não teria ido se não fosse por mim, foi por minha culpa!” – Latrell quase gritou, odiando-se a si mesmo por isso. Seu pai o tentara convencer disso desde a morte de sua mãe, e, por alguns anos, ele acreditou. Quando enfim percebeu o nível de loucura do pai, após anos de solidão, máscaras vestidas socialmente, hipocrisia e mentiras... Sua raiva superou o medo que tinha dele.

Mas ainda era muito novo. E fraco demais para revidar.

“- E o que você merece?” – Ranald perguntou o que o garoto já esperava, que respondeu de uma vez, aguardando mais algum feitiço doloroso. Acabar com aquilo o mais rápido possível era a melhor escolha. Depois de satisfeito, seu pai se recolhia por dias, chegando a viajar por meses a fio, deixando o garoto sozinho com elfos domésticos e visitas ocasionais de parentes distantes. Por vezes, o garoto até desejava ser punido, para ter certeza de que ficaria um bom tempo muito longe do pai.

“- Eu mereço... Punição.” – Latrell Graeme respondeu. Seus ouvidos retumbavam com a pulsação rápida de seu coração, o direito colado na pedra gelada do túmulo de sua mãe. Como se ansiasse por uma palavra dela que pudesse salvá-lo daquele sofrimento.

“- Exatamente. Merece.” – O pai do menino saboreou a resposta dele, crispando os lábios como se os mastigasse. Em seguida, vociferou o primeiro encantamento proferido em voz alta naquela noite:

“- CRUCIO!”

A dor era excruciante.

Latrell penava com tamanha agonia física que mal sabia o que havia ao seu redor. Seu maior desejo era a inconsciência. Sentia-se preso dentro de si, preso dentro do cárcere de dor infinita que seu pai lhe infligia, que lhe fazia arder, congelar e dilacerar cada poro, cada osso, cada centímetro dentro de seu corpo. Ele não sabia ser possível existir tamanho sofrimento, não sabia que alguém poderia suportar vivo aquilo, mas ele suportava apenas para deleite de seu pai que lhe desejava um flagelo imensurável.

Só percebera que gritara quando o pai enfim baixara varinha. A dor fora tamanha que sentiu que aquele feitiço poderia ter durado anos. Não sabia como ainda estava vivo.

“- Esta... É a maldição cruciatus.” – Ranald falou, virando as costas para o filho, displicente como se lhe ensinasse algo sobre o clima.” – É o que usamos quando alguém merece castigo. Lembre-se disso, Latrell. Lembre-se disso, e não me decepcione mais... E quem sabe um dia eu lhe perdoe. Este é o meu mal.” – Voltou-se para o filho mais uma vez, olhando-o de soslaio. Levantou os olhos do rosto do menino para o epitáfio de sua esposa, e varreu os olhos para o rosto do garoto em seguida. “– Sou piedoso demais. Deveria tê-lo matado como você a matou.” – O enlouquecido pai de Latrell se afastou a passos largos, andando em direção ao portão da mansão de campo dos Grame. Berrou, sua voz tremendo, o feitiço que abria as grades, e vagou para fora. Após dar apenas um passo para longe, aparatou.

Logo depois, Latrell, ainda arfando, mal recuperando os sentidos, voltou o rosto para o lado. Não tinha forças para se levantar. Ouviu alguns estalos, e enxergou entre a névoa plúmbea as figuras dos elfos domésticos da casa se aproximando.

“- Vamos leva-lo, meu senhor.” – Um dos elfos respondeu, esganiçado. Olhou para o corpo magro e comprido de Latrell, já alto para a idade, procurando machucados.

Ao se ver acudido por criaturas tão abaixo de si, tão indignas de lhe tocar, o garoto sentiu sua raiva apenas aumentar. Em um esforço sobrehumano, pôs-se de pé, quase caindo de volta ao chão. Dois elfos o ampararam, um de cada lado, e, por hora, ele permitiu. Não tinha condições físicas de recusar apoio. Franziu as sobrancelhas com força, controlando as lágrimas.

“- Meu senhor Ranald não... Não sabe o mal que causa. Não sabe.” – Um dos elfos falou, tentando apaziguar a condição miserável de Latrell.

“- Ele sabe muito bem.” – O jovem Graeme respondeu. Sem coragem para contestá-lo, os elfos domésticos não responderam, apenas ajudaram o menino a voltar para dentro da residência de campo.

Maldição cruciatus. Latrell refletiu, decidindo-se internamente. Bom saber.

É assim que você vai morrer, pai. E deu um último sorriso ao adentrar as paredes da mansão.

Imagem ilustrativa maravilhosa feita pela ainda mais maravilhosa Lune Noire de nossos queridos (ou não) sonserinos! Não se meta com eles, é encrenca na certa! Na ordem: Phyllis, Latrell, Grace, Rabastan, Cordelia e Regulus! E nosso brasão das serpentes aí embaixo, heehheeh! ;P Alguma leitora é slytherin além de mim e da Lune?


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Notas finais do capítulo

Capítulo pesado, né? Não é à toa que o menino é desse jeito... :/ Aguardo comentários, suas lindas!



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