Always With Me escrita por Menta


Capítulo 20
Simple Twist Of Fate


Notas iniciais do capítulo

Olá queridas leitoras!
Semana passada não pude postar um capítulo, foi mal, mas pretendo postar DOIS essa semana! Consegui escrever um de tamanho razoável hoje, nem tão longo assim, e virei com mais do Sirius na próxima! =D Pretendo postá-lo até quinta-feira, pois sexta vou viajar. Tive alguns imprevistos tensíssimos na semana que passou, mas ainda bem que deu tudo certo e estou aqui para postar e escrever!
Teremos um POV da Cordelia, uma tentativa dela de proteger Reg de uma maneira bem sonserina (ou seja, por baixo dos panos, heheh), e uma demonstração de lealdade sua para Phyllis. Um segredo grandioso dessa personagem será revelado nesse capítulo!
Infelizmente não teremos Marauders participando, mas eles voltam no próximo!
Espero que gostem. Lembrem-se que é um capítulo intermediário, mas de grande importância! A revelação do final dele mostra MUITO a respeito da personalidade e decisões que virão a ser tomadas por diversos personagens.
Então, é isso! Dedico este capítulo a leitora LaurenPS, minha linda diva das fanarts e amiga do nyah, que sempre comenta e recomendou minha humilde fanfic! *-* Espero que outras leitoras que ainda não recomendaram sintam-se impelidas a fazerem o mesmo heheheheh! Amei MUITO a recomendação, linda! Lá embaixo tem presentinho procê!
Dedico o capítulo também as leitoras Lune Noire, duda fap e Lena18, outras que também sempre comentam e me deixam com mais e mais vontade de escrever! =D Leitorinhas fantasmas, vocês são bem-vindas, mas façam uma autora feliz! Comentem, por favor! Contamos com 50 leitoras na fanfic, 6 recomendações e 22 favoritações! Não demora nada fazer um comentáriozinho e deixar sua opinião. Portanto, sejam gentis e retribuam o carinho que dou a vocês, sempre respondendo a todas e trazendo com frequência capítulos novos, escritos com esforço e dedicação!
Assim, que a magia flua em todas vocês!
Beijos e boa leitura!



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A madrugada daquela segunda-feira começara preguiçosa, calma e arrastada. Apesar dos dias primaveris já iniciados, naquele dia 24 de março de 1977 o sol provavelmente se recusaria a iluminar os campos e terrenos das cercanias da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, deixando-se esconder por trás de camadas e camadas de nuvens grossas de mormaço. Uma brisa fria soprava pelos corredores de pedra da escola, entrando até mesmo nos subterrâneos do castelo.

Cordelia MacLearie já estava acordada há tempos, arrumada, esperando a alvorada. Vestia saias que iam até quase o final de suas coxas, bem como meias pretas três quartos e os típicos sapatos escuros e simples que usava na escola. Usava uma blusa de algodão de mangas compridas, coberta por um suéter cinza da escola, não o que era em feitio de colete, mas o de mangas longas, que serviriam como proteção do frio daquele dia atípico da primavera. Ao longo dos detalhes do suéter, havia o bordado verde que indicava a Casa a qual a aluna pertencia. Além disso, sua gravata da sonserina pendia bem amarrada em seu pescoço, indicando que a estudante já estava pronta para o novo dia de estudos que se daria em breve.

Porém, antes de tudo, antes mesmo do nascer do sol, tinha um plano em mente, um plano que a levara a percorrer todas as tendas e barracas ciganas paradas em Hogsmeade no domingo. Tinha pressa em concretizar sua ideia, esperando, do fundo de seu coração, que funcionasse.

Sentada de pernas cruzadas no chão de pedra escura, a coluna levemente mal posicionada tamanha a ânsia com que a garota levava à frente sua tarefa, seus olhos brilhavam à luz bruxuleante das chamas das fracas velas iluminando o banheiro do alojamento feminino do quinto ano da sonserina.

Posicionado na frente da menina, havia um pequeno caldeirão portátil, de bolso, que já tinha dentro de si uma mistura determinada de curiosos ingredientes. Cordelia levantou as duas mãos, uma que passou nervosamente em seus cabelos loiros e longos, e a outra buscando lépida dentro de um pequeno saco de pano os ingredientes restantes da mistura: tirou e colocou, suavemente, frutos de sorva, cortados em pequenos pedaços, sem casca, cuidadosamente iguais. Essas singelas frutas eram uma espécie semelhante a pequenas amoras de cor bastante avermelhada. Depois, em outro saco de pano, de cor bege e discreta como o anterior, retirou sementes de carvalho e folhas de bétula, fervendo-as em fogo baixo. Por último, de um pequeno frasco comprido, derramou água do córrego da Floresta Proibida, que circundava a clareira a qual ela regou com a poção do vigor preparada na última festividade de Ostara. Todos os componentes da poção foram colhidos por ela mesma, uma tarefa essencial para que a mistura fosse bem sucedida, com exceção de um. Tratando-se de magia celta, quanto maior o contato do bruxo com os elementos necessários para a realização do feitiço, poção ou encantamento, maiores as chances de sucesso.

Assim que sentiu o aroma simultaneamente frutado e similar ao cheiro da floresta após a chuva, sabia que chegara à última parte da poção.

Com cuidado, Cordelia levantou-se, apagando o fogo do pequeno caldeirão e o levando consigo após realizar um feitiço de levitação. Ainda dentro do toalete, apontou sua varinha para si mesma e proferiu o feitiço de desilusão, sabendo que teria de ser mais rápida ainda a partir daquele momento.

Saiu a passos ligeiros do banheiro, andando pé ante pé pelo alojamento do quinto ano, reparando no rosto de Grace, que dormia angelicalmente, sua expressão descansada em um sorriso discreto. Lembrou-se de como ela e Regulus passaram aquele final de semana nas nuvens, e instintivamente seu olhar se voltou para a cama de Phyllis, próxima da sua, agora vazia, e da amiga de cabelos longos e castanhos adormecida. As cortinas de dossel verde de Lis continuavam fechadas, em um claro aviso de que não queria contato com nenhuma pessoa enquanto estivesse ali.

Lia mordeu os lábios, enquanto já abria a porta do dormitório feminino do quinto ano de sua Casa. Desceu os pequenos degraus daquele quarto elevado dentro das masmorras, e quase suspirou de alívio ao reconhecer que a sala comunal continuava vazia, àquela hora da madrugada.

Saindo da sala, subiu rapidamente as escadarias que levavam as masmorras, mas teve de se deter, sentindo seu coração parar uma batida, ao ver Pirraça atravessando o corredor que deveria se encaminhar para enfim sair aos terrenos do castelo. Com as costas firmemente encostadas na pedra fria atrás de si, Cordelia aguardou as risadas zombeteiras do poltergeist cessarem, e olhou discretamente pela esquina do corredor, sua mão direita ainda apontada para o caldeirão portátil que flutuava ao seu lado, pelo feitiço mantido em realização. Passados alguns segundos, vira Pirraça enfim atravessar mais uma parede, carregando pesadas correntes e um balde repleto de abacaxis, uma fruta tropical difícil de ser vista nos mercados bruxos do Reino Unido, e que raramente era servida durante o café da manhã. Prefiro nem saber o que ele pretende. Cordelia levantou uma sobrancelha, satisfeita de ver que o fantasma inconveniente já se afastara, e seguiu caminho.

O caldeirão já esfriara, e Lia corria contra o tempo aproximando-se do Lago Negro. Sabia que a hora já era tardia, o amanhecer estava próximo, sua visão apurada dos elementos naturais lhe gritava isso. Podia sentir o ar mais rarefeito da manhã, o cheiro de orvalho cada vez maior, e a mudança de temperatura sutilmente perceptível. Detalhes que apenas os que realmente valorizavam o ambiente dito por natural seriam capazes de compreender.

Em um terreno pedregoso, próximo da água do lago, ela depositou o caldeirão e o acendeu outra vez em fogo baixo. Pegou o pequeno vidro que se assemelhava a um frasco de perfume, repleto de uma substância cuja coloração mudava entre o azul da noite e o verde matutino das folhas banhadas pelos primeiros halos de sol.

Anns a' mhadainn. Madainn an-diugh. A-nis. Nas anmoiche.* - Cordelia MacLearie disse o encantamento, apontando sua varinha para o caldeirão, enquanto, com a mão esquerda, regava a mistura quase pronta com o componente restante: orvalho de lua.

Cliodne, uma das druidas mais famosas de toda a história celta, fora uma bruxa reconhecidamente sábia e poderosa, que, dentre vários feitos relevantes e dignos da mais profunda admiração, descobrira as propriedades curativas do orvalho de lua. A substância era capaz de curar as mais diversas enfermidades, venenos, e magias destrutivas, especialmente conhecidas...

...Como magias das trevas.

Era creditada também pela invenção de uma das mais complexas e demoradas poções da magia celta, a mistura cognominada por “Lànmhor Dìon”. Diz-se que o bruxo que ingerir a poção ficará resistente por horas e horas a todo tipo de azaração e encantamentos destrutivos. Todavia, o tempo que seria dispendido para a realização da poção não produz uma relação de custo-benefício justa com o tempo de proteção que compreende. A poção demora em torno de um completo ciclo de sabbats para estar pronta, o que seria basicamente um ano de duração. Seus ingredientes eram raros, também deveriam ser colhidos pessoalmente, e a mínima mudança na temperatura ou na forma de misturá-los poderia destruir completamente os efeitos da poção, tornando-a inútil.

Mas até onde Cordelia sabia, não havia magia anglo-saxônica com o poder de parar algumas maldições. A poção de “completa proteção”, como seria a tradução mais semelhante ao gaélico escocês, era capaz de proteger seu usuário dos efeitos de maldições imperdoáveis...

...Tais como a maldição cruciatus.

Enquanto deixava seus pensamentos desviarem-se para tais assuntos, Lia quase perdera o ponto da mistura. Levantando as sobrancelhas, e arfando, soltando uma exclamação de ansiedade, percebera que por pouco a poção não queimara. Apagou ligeira o fogo, e, aliviada, fechou os olhos ao sentir o enraizado aroma de terra úmida, embebida pelo orvalho matutino, saindo tanto de sua poção como do terreno banhado pelo lago e pelo orvalho da manhã ao seu redor. O céu cinzento acima de si já denunciava: amanhecera. A loira estudante da sonserina tivera a sorte de aproveitar os últimos e escassos raios do luar daquela noite fechada por nuvens. Caso tivesse se atrasado, o sucesso da poção seria definitivamente comprometido. O orvalho de lua é um componente mágico que só pode ser misturado à poções durante a última hora da madrugada, caso contrário, perde seu efeito.

Logo após o fim da tarefa empreendida, Cordelia MacLearie recolheu a poção em um tubo comprido, fechando-o com uma rolha de camurça, e enfim o guardando em um dos bolsos de suas saias pretas.

Ao retornar para o alojamento do quinto ano da sonserina, as cortinas de Lis continuavam fechadas, e Grace, dorminhoca como era, continuava entregue a um sono pesado. Suspirou de alívio, e deitou na própria cama, tirando os sapatos com delicadeza para não acordar ninguém ao colocá-los no piso de madeira do quarto das alunas. Reparou que o feitiço da desilusão já parara de funcionar, satisfeita por ter mantido-se escondida durante o tempo de preparo da poção para Regulus.

Soltou seus braços ao redor do colchão de lençóis brancos e verdes, sentindo o gostoso tecido de algodão ao passar a ponta de seus dedos pelo lençol que forrava a cama, e sentiu em seu peito uma leve pontada de preguiça pelo dia que teria. Os N.O.M.s estavam exigindo muito dos alunos do quinto ano; nunca antes em Hogwarts tiveram um ano tão atribulado, com uma grande quantidade de tarefas extraclasse e trabalhos a serem feitos em aula. As segundas-feiras eram os dias especialmente mais difíceis, com inclusive aula à noite. Após as curtas pausas dos finais de semana, no qual os alunos mais procrastinadores ou incautos que deixavam seus deveres acumularem corriam contra o tempo para ficar em dia com as matérias, as segundas realmente não eram bem-vindas para aqueles que sentiam precisar de descanso. Não era à toa que Hogwarts tinha a fama que tinha.

Cordelia gostava de pensar que se sentia cansada e dispersa como estava ultimamente pela grande quantidade de estudos; sempre fora uma aluna aplicada, silenciosa em aulas e com gosto por aprender. Não era viciada em estudos como alguns estudantes como Severus Snape ou o próprio Latrell, o último sendo alguém que Lia descobriu que mergulhava nos livros e pergaminhos para sentir-se superior aos outros inclusive em seu destacado desempenho acadêmico. E que agora, sem medir os limites de sua ambição desenfreada, era reconhecidamente um Comensal da Morte, um dos preferidos do Lorde das Trevas.

Como eu já pude namorar essa criatura? Cordelia pensou, franzindo as sobrancelhas, sentindo uma sensação esquisita em seu estômago, uma mistura de certa repulsa e também alguma amargura.

Mas ela sabia que sua falta de atenção e fadiga atuais não eram devidas apenas às ocupações estudantis; havia muita preocupação no ar em torno de si. Regulus Black parecia mais e mais ligado à Revolução Bruxa, e ela sabia, pressentia que o amigo estava escondendo muito de si. O que era pior; parecia estar escondendo inclusive de Grace Macbeth, sua agora namorada. Lia não queria pensar naquilo, mas lhe parecia inevitável...

...O quanto ainda posso confiar em Reg? Cordelia pensou, sem poder se controlar, apertando com força o tubo no qual agora repousava a poção que preparara com o orvalho de lua comprado do bruxo cigano na feira de Hogsmeade daquele domingo que viera e já se passara, e que era um presente para o amigo.

É claro que o que mais a perturbava, naquele momento, era o desagradável clima de conflito que pairava até mesmo sob a proteção cuidadosa de Dumbledore, entre os muros protegidos por olhos e mãos acalentadores que eram as cercanias da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Cordelia sabia que seria cobrada em breve; em pouco tempo, apenas manter-se neutra, silenciosa enquanto seus colegas da sonserina comentavam sobre a guerra que estava por vir, alguns entusiasmados, outros céticos, e até mesmo outros disfarçando o próprio temor em sussurros ansiosos... Não seria suficiente. Teria de tomar uma posição, e declarar abertamente qual lado gostaria de estar.

Ela apertou ainda mais o frasco, soltando-o subitamente em cima do colchão, temendo que suas mãos ansiosas pudessem danificá-lo sem querer e assim, inutilizar a poção que preparara com tanto esmero. Gastara muitos galeões com aquele bruxo oportunista da feira, e aquela mistura poderia fazer a diferença por algum tempo na vida da garota loira.

A feira... Cordelia lembrou, também mais uma vez sem querer lembrar.

Enquanto tentava negociar o preço descomedido que o bruxo cigano lhe impusera para conseguir a mercadoria, Lia fora surpreendida por uma aproximação inesperada.

Surgindo em meio a barracas de amuletos falsos e bugigangas bruxas inúteis, um rapaz de cabelos morenos que desciam até seus ombros andara decidido até ela, seus olhos castanhos faiscando com aquele brilho sempre intenso e desafiador. Black a puxara para si em público, em meio a uma visita para Hogsmeade na qual inúmeros alunos de Hogwarts compareceram, ignorando completamente a possibilidade real que tinham de ser flagrados durante aquele beijo. Cordelia instintivamente levantou um dos dedos que antes seguravam o vidro da poção para seus lábios, tocando-os devagar. Seu coração se acelerava, e, dessa vez, não era pelo medo da decisão que em breve lhe seria exigida pela inevitável Revolução Bruxa.

Ela levantou em seguida as duas mãos e cobriu o rosto, esticando as pernas com força, sentindo os músculos ao redor de suas coxas e joelhos enrijecerem, para depois soltá-los acima do chão, fazendo um ruído surdo do contato de seu calcanhar com a madeira. Soltou um suspiro de dor silencioso, enquanto ainda cobria o rosto com as mãos.

Tinha de estudar. Tinha de escolher um lado da Revolução. Tinha de fazer muitas coisas.

Tinha, também, de entender o que, em nome de Merlin, estava acontecendo entre ela e Sirius Black.

– Já acordou? – Phyllis falou baixo, ao seu lado, e Cordelia soltou um grito agudo que despertou praticamente todas as colegas do quarto.

Ela ouviu a amiga de cabelos encaracolados soltar um palavrão sibilante, em seguida, apertando os ouvidos por seu grito inesperado, e franzindo as sobrancelhas. Cordelia, acalmando a si mesma e sentindo uma forte e imediata sensação de vergonha, viu as colegas se levantarem, aos poucos, remexendo-se em seus lençóis e abrindo suas cortinas de dossel verde da sonserina.

– Não foi nada, só “siricutico” da Lia. – Phyllis respondeu, levemente irritada, encarando algumas alunas que as olharam também irritadas. – Apareceu uma barata na cômoda dela. Já a matei. A não ser que queiram comer um pedaço, não encham o saco. - McNair falou grosseiramente, e as outras alunas lhe lançaram olhares silenciosos de desprezo. Algumas se levantaram para se banhar e escovar os dentes, preparando-se para o dia que se iniciava, enquanto outras aproveitaram os últimos minutos de sono que lhe restavam. A um olhar, Lia viu que Grace continuara dormindo profundamente.

Cordelia levantou-se junto a Phyllis, pedindo desculpas polidas e quase indiferentes para as alunas que ainda a olhavam feio, e dando bom dia àquelas colegas que não se incomodaram com seu grito súbito. Após ver que Lis estava também pronta para o dia que se iniciava, foram juntas acordar Grace, como era de praxe, já que ela nunca acordara antes delas.

Exceto nos dias em que Regulus se encontrara adoentado, e ela passara quase todo seu tempo livre na ala hospitalar, esperando que o garoto despertasse do sono induzido pelas poções curandeiras de Madame Pomfrey.

Quando enfim as três estavam arrumadas, desceram para o café da manhã, já atrasadas por conta do sono demasiado de Grace, que tomou uma exagerada xícara de café para acordar. Regulus já a aguardava, e sentaram-se juntos, Cordelia ao lado de Grace para separar Phyllis e sua recente dor de cotovelo do novo casal de pombinhos.

Ao logo encontrar uma oportunidade, Lia chamou a atenção de Regulus.

– Reg, lembra o que me falou sobre sua dificuldade para estudar, ultimamente? – Cordelia falou despojada.

– Sim. – Regulus passou a mão esquerda pelos olhos, exibindo seu cansaço, enquanto o braço direito enlaçava Grace pelos ombros, que era toda sorrisos para o garoto. Cordelia percebia que ele sentia dificuldades em se concentrar no que Lia lhe dizia, tamanho era o efeito de Grace e sua beleza sobre si. – Tenho caído no sono em cima dos deveres direto. Está realmente difícil. – O garoto comentou, e Cordelia MacLearie mais uma vez reparou em seus cabelos, agora compridos na altura do ombro, e nas similaridades físicas que tinha com o irmão mais velho.

Aferir aquela semelhança, por alguma razão, deixou suas orelhas quentes, como se fosse algo indevido ou até mesmo indesejado. Pare de pensar tanto em Black. Cordelia censurou-se a si mesma. E vá cortar esses cabelos agora, Regulus. A menina desejou, em pensamento.

– Eu preparei para mim mesma um concentrado de energia. É uma receita celta, minha mãe me ensinou. – Cordelia falou mais baixo, mentindo para ele o real uso da poção, de forma que apenas Reg, Grace e Lis pudessem escutá-la. Não queria ver olhares censores dos alunos sonserinos sobre si logo tão cedo de manhã, muitos que declaradamente desprezavam sua magia celta, considerando-a de poder inferior.

Ela reparou que havia certa dúvida no rosto de Regulus. Ignorando a ofensa sutil que era a dúvida do amigo em sua especialidade mágica, ela passou para Grace o frasco da poção, que o passou logo para o namorado.

– Gray, seria uma boa você tomar essa porcaria aí também. – Phyllis falou grosseiramente. – Pelo menos vai parecer menos uma lesma na hora de acordar, e vamos ter menos trabalho pra te tirar da cama. – A garota de cabelos cacheados reclamou, ofensiva.

– Eu não te contratei como minha babá, Lis. – Grace respondeu de volta, levantando as sobrancelhas pela ofensa gratuita.

– Que desnecessário, McNair. – Regulus prontamente defendeu a namorada, franzindo as sobrancelhas para Phyllis e despejando boa parte da poção goela abaixo. – Isso é bom, Lia. Tem gosto de, sei lá... Salada.

Cordelia deu uma risadinha, tentando logo desviar o assunto. – Pois é. Tem bastante frutas na mistura. – Ela comentou. – Vai ver como vai se sentir bem mais disposto agora. Tem de tomar três vezes ao dia. No café da manhã, no almoço e no jantar, até acabar o frasco. – Lia explicou ao amigo.

– Reg deve estar tomando outra coisa três vezes por dia para Gray ficar com essa cara de boba alegre aí. Só assim mesmo, conhecendo os dois. – Lis ofendeu o casal de novo, sugerindo a falta de atitude e “talento” de Regulus e o apetite levemente voraz de Grace, uma combinação que provavelmente não daria certo. Em seguida, virou o rosto, afastando de si seu prato de torta de fígado.

– Qual é o seu problema? – Regulus reclamou tirando o braço de volta dos ombros de Grace, que agora também encarava Lis, seu rosto claramente magoado.

– Deveria estar feliz por nós, Phyllis. Se sua vida amorosa é inexistente, a culpa não é minha. – Grace Macbeth respondeu, sibilante, finalmente irritada, porém sua expressão não deixando transparecer o que sentia, parecendo simpática como sempre. Cordelia imediatamente olhou para Lis, sabendo que as palavras de Grace teriam um efeito muito mais negativo do que poderia pensar contra sua amiga.

– Não. Não é. – Phyllis respondeu, sua voz saindo claramente sarcástica, passando a mão direita em seu nariz e boca, e depois a fechando em punho na mesa. Socou a superfície com tanta força que os copos de sucos de abóbora de Lis e Lia tremeram e derramaram-se todos sobre a madeira.

– Acho que está na hora de irmos para a aula. – Cordelia falou, rápido, reparando que os colegas em volta na comprida mesa da Sonserina estavam prestando atenção na discussão. Alguns curiosos, outros parecendo se divertir, e outros receosos. Levantou-se antes dos outros três, e puxou Phyllis pelo braço, que se desviou dela com agressividade.

– Pare de fugir, Cordelia. – Phyllis McNair a encarou com os olhos claramente cheios de lágrimas, porém com uma expressão determinada e destemida no rosto. – Não vai conseguir fazer isso para sempre. – Lis a ofendeu, chamando-a de forma implícita porém indubitável de covarde, dessa vez.

– A manticora está solta, Little Lia. Melhor não chegar muito perto. Essa daí é indomesticável. – Rabastan falou, um tanto distante do grupo, de forma audível, enquanto muitos alunos gargalharam. Agora os estudantes próximos, da mesa da corvinal, em uma distância pequena do grupo, também estavam prestando atenção. Sua voz deixava claro o desejo que tinha por Lis, mesmo que carregada de deboche.

– Vá se foder, Rabastan. A conversa não chegou no chiqueiro ainda. – Lis estava fora de controle, quase, soltando ofensas para qualquer um que se dirigisse a ela. Rabastan engoliu em seco, após algumas risadas dos alunos próximos. Phyllis se levantou, dando as costas para Regulus e Grace. Cordelia a seguiu, mas percebeu que atrás dela vinha mais alguém.

– Lis, escuta... – Cordelia MacLearie ia começar, encarando os cabelos cacheados da amiga que seguiam outra vez em direção das masmorras. Entretanto, alguém atrás de si a tocou em seu ombro, e ela foi forçada a encará-lo.

Rabastan ultrapassou Cordelia, e parecia decidido em conversar com Phyllis. – Nos dê alguma privacidade, Cordelia. – O rapaz de cabelos ruivos pediu. Lia não sabia se deveria atender seu chamado. Estavam os três sozinhos em um corredor do castelo próximo as masmorras. Cordelia mal percebera o quão rápido Lis se afastara do salão principal do castelo.

– Sai daqui. – Phyllis sibilou, entre os dentes, mas Cordelia não sabia para quem era o pedido. Aturdida, tentava pensar no que dizer, percebendo que Lis enfim deixara a própria dor de cotovelo assumir um nível de frustração que agora derramava tudo, como um caldeirão transbordando após acrescentar componentes demais à mistura.

– Por que está me ignorando? – Rabastan cobrou, sério, ignorando Cordelia. – Você parecia bem animada no outro final de semana. Ficou fugindo de mim por Hogsmeade, fazendo charminho... – Lestrange falou, tocando com seus dedos grossos o rosto de Phyllis, que o encarava com claro desprezo.

– Se toca. – McNair respondeu, curta e grossa.

– Se você me ajudar... – Rabastan respondeu, malicioso, para depois puxar Phyllis para um beijo, e tudo aconteceu muito rápido. Cordelia MacLearie levantou as mãos à boca, como fazia quando ficava muito nervosa ou emocionada.

Lis levantou a varinha quase imperceptivelmente, tocando o tórax de Rabastan. O rapaz ruivo apenas teve tempo de olhar o pontudo objeto fincando em sua pele, quando foi atirado para longe, contra a parede. As mãos de Lis tremiam.

– Qual é o seu problema?! – Rabastan gritou, agora furioso, fazendo coro a Regulus. Lis desprezava Rabastan Lestrange, Cordelia tinha certeza disso, mas nunca o tinha agredido fisicamente antes.

– Você é lésbica ou maluca mesmo? – Lestrange continuou gritando, e Cordelia imediatamente sabia o que tinha de fazer, a um olhar para o rosto de Phyllis McNair e outro para o punho de Rabastan Lestrange que já levantava a própria varinha para atacar.

Aproximando-se de Lis, abraçou seu corpo e gritou “protego”, desviando ela e Phyllis do feitiço que Rabastan dirigira contra elas, que ricocheteou pelas paredes e o atingiu em cheio na barriga. Rabastan voltou o rosto para o lado, vomitou, e, durante essa distração, Cordelia puxou a amiga para dentro da sala comunal da sonserina, bradando a senha em uma voz aguda, porém decidida. Arrastou Lis para dentro do alojamento feminino, que, agora vazio, era o melhor porto seguro para as duas. Ali, Rabastan não entraria.

Silenciosas, arfando, Cordelia encostou as costas na superfície de madeira antiga da porta, respirando fundo e olhando a amiga. Lis continuava de costas para ela, suas mãos fechadas em punho, porém tremendo. Olhou os cachos castanhos da amiga, e sabia o que estava acontecendo.

Lis estava chorando. Finalmente.

Depois de algum tempo, Cordelia se aproximou da amiga, como se rodeasse um animal acuado, e acariciou seus cabelos. Geralmente, dentre as três do grupo, era Phyllis quem tinha a postura mais protetora, mas, naquele momento, vulnerável, frágil, exposta... A garota se jogou nos braços de Lia, mergulhando seu rosto em seus ombros.

Chorava como uma menina pequena. Cordelia ficou por longos minutos a abraçando, silenciosa, passando as mãos por seus cabelos cacheados. Podia imaginar a dor que a amiga sentia.

Depois de algum tempo, Lis se desvencilhou da garota loira, e sentou em uma cama na extremidade do quarto, perto da porta. Limpou seus olhos cheios de lágrimas, mais recomposta.

– Foi mal. – Ela disse, apenas.

– Não se preocupe. Só tente... Bem, não sei. – Lia parou no meio de sua própria frase, confusa. - Acho que talvez seja melhor que você se afaste de Reg e Grace por algum tempo. – Cordelia recomendou. – Está sendo claramente muito doloroso. – Ela insistiu, depois que Phyllis fez um gesto de recusa com as mãos.

– É só que eu não esperava que fosse tão rápido. Esse clima de “amor eterno”, esse “mela-mela” todo, fico me segurando para não vomitar quando estou perto deles. – Lis fez uma careta, tentando debochar, mas Cordelia via como a amiga estava ferida.

– Só fico preocupada que você fique exposta à toa. – Lia falou com doçura, sentando-se ao lado da garota de cachos castanhos.

– Little Lia... Falando sério agora. Não dá para se esconder para sempre. – Lis falou, e suas palavras tinham uma clara crítica ao comportamento de Cordelia, que sempre preferiu confinar seus segredos, sentimentos e opiniões a si mesma. E, ultimamente, percebia que Phyllis sabia que algo estava acontecendo consigo – no caso, seus furtivos momentos com Sirius Black, e sua dúvida sobre a Revolução -, e que tentava esconder das amigas.

– Não sou eu que sou parte do assunto agora. – Lia falou, sorrindo de leve. – Não tente desviar, sua chata. – A garota loira cutucou o nariz arrebitado de Phyllis com a ponta dos dedos, que a abraçou de volta.

– Ainda bem que eu tenho você. – Lis abraçou a amiga com força, que retribuiu o abraço.

– Sempre vai ter. Se não ficar silvando agressiva pra mim à toa. – Ela brincou de volta, as duas se separando do abraço.

– Ué, não era você que gostava das criaturas mágicas? – Phyllis lhe deu a língua, infantil, zombeteira. – Em uma coisa o imbecil do Rabastan tem razão, você está tentando me domesticar desde que nos conhecemos. Sem sucesso! – Lis troçou.

– Um dia, quem sabe, eu consiga te transformar em alguém civilizada. – Cordelia respondeu, rindo. Alguns segundos se passaram, e Phyllis suspirou, olhando para as unhas pintadas de Lia.

– Você acha que ele realmente... Sabe? – Phyllis McNair perguntou, devagar. Lia sabia muito bem o que ela queria dizer com essa pergunta, e a quem se referia.

– Não. Com certeza não. – Cordelia assegurou a amiga.

– Melhor irmos agora. Acho que você tem razão. Vou ficar afastada por um tempo. – Phyllis concordou com Cordelia, a contragosto. – Já vamos ganhar uma detenção por ter deixado o idiota do Rabastan naquele estado. – Ela começou a rir, e Cordelia, irresistivelmente, a acompanhou.

– E o pior é que eu não fiz nada! Só te defendi! – Lia riu alto.

– O cara é tão merda que se auto-azarou! – Lis debochou, e as duas gargalharam, enquanto saíam do dormitório feminino do quinto ano da sonserina.

As duas seguiram juntas para a aula de transfiguração, já atrasadas. Rabastan aparentemente se recolhera para a ala hospitalar, e ainda não tinham recebido o castigo pelo que fizeram. Lia quase acreditou que suas “travessuras” passariam incólumes, quando, ao chegar na aula da professora Minerva, a mesma as olhou severamente.

– Srtas. MacLearie e McNair, devo lhes avisar que perderam 5 pontos para a sonserina pelo atraso descabido em um mês tão próximo aos exames de N.O.M.s. A aula já começou há meia hora. – Os olhos duros da professora Minerva faiscaram por trás de seus óculos quadrados, que marcavam seu rosto. – Devo lhes alertar também que o zelador Filch gostaria de conversar com as duas ao fim do dia letivo. – Ela terminou o sermão, e pôs-se a discursar sobre um difícil diagrama de transformação de um lagarto em um camaleão. Os alunos anotavam, atentos, e mal repararam na bronca que a professora McGonagall lhes dera. Alunos sonserinos eram assim, focados em seus próprios interesses, acima das desgraças alheias.

Phyllis suspirou um “desculpe” silencioso para Lia, enquanto as amigas sentaram na última carteira dupla vaga. A um olhar de esguelha, a garota loira reparou em seus amigos Grace e Reg sentados juntos em uma das primeiras fileiras de carteiras, prestando atenção no que McGonagall ditava.

– Estamos juntas nessa. – Cordelia MacLearie sussurrou para a amiga, apertando delicadamente a mão de Lis, que já buscava pena e pergaminho em sua bolsa escolar.

– Sempre. – Lis sorriu para ela, e passaram a prestar atenção na aula, evitando mais problemas desnecessários.

Enquanto se focava nos estudos e tentava se concentrar na difícil tarefa requerida pela professora de transfiguração, copiando exaustivamente as direções dadas por Minerva, Lia pensou que, ao menos, fora bem sucedida em presentear Regulus com uma simples poção de proteção. Não era nem de longe eficaz como a verdadeira e difícil Làmnhor Dìon, mas serviria para melhorar sua sorte e trazer-lhe boas vibrações, algo que, se Regulus soubesse o propósito, provavelmente desacreditaria em seus efeitos.

Aquilo não evitaria danos maiores ao garoto, mas ao menos evitaria que malefícios menores o atingissem. Sua poção com orvalho de lua talvez, quem sabe, o ajudasse a elucidar seus pensamentos, e o fizesse refletir acerca da posição preocupante que estava tomando, ao tornar-se tão jovem um membro do círculo principal de pessoas de uma Revolução.

Ao final da aula, após ter finalmente conseguido transformar a pele do lagarto perfeitamente em uma pele de camaleão, ela percebeu o quanto aquele dever escolar era até mesmo de significado e simbolismo para ela.

E para Lis.

Duas garotas com muitos segredos, com muito a esconder, e com muito a perder. Pensou no que Rabastan dissera, e sentiu um pesar profundo por Lis, algo que jamais lhe diria, para confortá-la e mantê-la com menos sofrimento. Phyllis vivia um amor desafortunado, um amor secreto que apenas Lia sabia. Vivia um amor que jamais seria correspondido. Um amor platônico. E impossível.

Porque Phyllis McNair não era apaixonada por Reg.

Phyllis sempre amara Grace.


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Notas finais do capítulo

O feitiço da celta da Cora deste capítulo, feito para complementar a poção, significa:
*De manhã. Esta manhã. Agora. Mais tarde.
Ou seja, ela estava conjurando as propriedades protetoras do orvalho de lua para proteger o Reg SEMPRE, enquanto ele estivesse tomando a poção.
Uma fofa, essa "fada celta", como diz o Sirius, hehehehe!

Beijão, lindas! Aguardo reviews!



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