Always With Me escrita por Menta


Capítulo 14
A Hard Rain's A-Gonna Fall


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, queridas leitoras!
Depois de um triste dia para o futebol brasileiro, venho com um capítulo regado a conversas de maus vencedores, bons perdedores (como nossa seleção brasileira foi, lutando até o final), um pouco de Sirilia que eu sei que vocês sentiram falta (confesso: eu também HEHEH), e um tanto de mistério, além de uma revelação: QUEM TENTOU MATAR O UNICÓRNIO?! Hahahaahah!
Dedico este capítulo ao David Luiz (LINDO! TE AMO! Antes de ser modinha! -q), à toda a seleção brasileira também, e as leitoras Lune Noire, Isabel Macedo, duda faps, tia voldy, LaurenPS e natália leão, sempre comentando e me apoiando.
Agradeço pelos já 33 leitores que a fic conta, espero angariar cada vez mais. Peço que continuem comentando, e, aos que ainda não comentaram, se animem a fazê-lo para me dar força e dedicação para continuar goleando na escrita! =D Não seria nada mal ganhar umas recomendaçõezinhas também, hehehehe!
Beijos, boa leitura, e que a magia flua em todas vocês!



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– Pelas barbas de Merlin, esse jogo foi um banho de sangue! – Rabastan debochou, enquanto Madame Pomfrey o receitava uma poção para parar o sangramento em seu nariz, atingido por um balaço certeiro de Sirius Black.

Cordelia MacLearie, Grace Macbeth, Phyllis McNair, Rabastan Lestrange e Regulus Black se encontravam, naquela tarde chuvosa de domingo, em uma ala da enfermaria da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Regulus, o apanhador, estava deitado em uma das camas, sua perna suspensa por magia no ar, em um ângulo de 45 graus com o colchão. Seu rosto estava repleto de arranhões avermelhados, alguns cortes, e seu ombro deslocado, já curado, deitava-se harmoniosamente pela cama. Grace, sentada em uma cadeira ao seu lado, acariciava delicadamente as costas de sua mão direita, enquanto o garoto parecia adormecido em um sono profundo.

– Acho que a Grifinória nunca teve uma derrota tão grande. - Phyllis McNair conjecturou, franzindo as sobrancelhas e olhando a chuva que caía pesarosa pelas vidraças da janela mais próxima. Cordelia percebia que ela se recusava a encarar o - agora assumidamente -, casal formado por Grace e Reg.

– Acha? Ganhamos de goleada! – Rabastan deu uma risadinha, enquanto Madame Pomfrey se afastava e lhes pedia decoro. O grupo estava sozinho, já que a enfermeira só permitia visitas com um número limitado de pessoas por vez. – Foram cinco gols deles e vinte e três nossos. – O garoto parecia exultante. – Se não fosse por Potter e o irmão repulsivo de Reg, teríamos até mesmo apanhado o pomo e os humilhados ainda mais. – O garoto riu cruelmente.

– Acho que você deveria estar feliz por ter ganhado, Rab, a derrota acachapante deles é secundária. – Phyllis respondeu, bocejando. – Eu não dou a mínima se eles vão perder de 500 a 0, ou por 10 pontos de diferença. – A garota de cabelos cacheados fez um ar blasé e se aproximou da janela. Cordelia sentiu que ela parecia incomodada, como se quisesse sair da companhia do grupo. Tinha certeza que seu comportamento era relacionado ao casal ao seu lado.

– E é por isso que você não joga quadribol. – Rabastan desdenhou. – Não entende o valor dessas coisas. – Ele encarou Regulus, que, assim que fora levado a ala hospitalar, recebeu urgentemente uma dose de poção de morfinácea que o apagou imediatamente, tamanha as dores que sentira. Madame Pomfrey lhes dissera que a queda da vassoura, após a Finta de Wronski desempenhada por James Potter, fraturara algumas de suas costelas, lhe quebrara a perna direita e lhe deixara cortes profundos pelo rosto e pelo braço que demorariam a cicatrizar.

Tiveram sorte de ter tido a ajuda de Rabastan antes do atendimento da enfermeira, que usara um feitiço de ocultamento no braço de Reg para lhe esconder a Marca Negra. Teriam sérios problemas a enfrentar, caso Madame Pomfrey descobrisse.

– Tá, eu sei que o idiota do irmão do Reg merecia ter apanhado em jogo, e perder de muito mais pelo que fez. – Phyllis levantou os ombros, indiferente, enquanto Cordelia engoliu em seco, um tanto desconfortável. Lembrou-se de imediato de Sirius Black lhe dizendo que estava bem, ao sair de campo acompanhando Regulus e suas amigas, e do último encontro que tivera com ele, na ponte suspensa... E do que lá fizeram.

– O quê? Você acha que eu estou comemorando só por vingança pelo Reg? – Rabastan riu alto. – Eles poderiam ter jogado mais limpo do que os imbecis da Lufa-Lufa! Eu estou comemorando porque vou rir demais da cara daqueles merdinhas de vermelho e ouro no Salão Principal hoje à noite. Vê-los sofrer não têm preço. – O rapaz falou de uma maneira sádica que despertou em Cordelia MacLearie arrepios desconfortáveis. Ela o encarou devagar, sem deixar transparecer seu desgosto com suas palavras.

– Você é tão corajoso no quadribol, Rab. – Phyllis McNair debochou do colega, provocando-o de uma maneira impulsiva e inadequada. Cordelia imediatamente encarou a menina, abrindo um pouco mais as pálpebras, lhe dizendo silenciosamente com o gesto para tomar cuidado com o que falava.

– Está insinuando alguma coisa, Lis? – Rabastan respondeu, sua voz mais calma e controlada, de volta. O tom perigoso em sua voz demonstrava as garotas que compreendera de imediato a provocação.

– Nada. Foi um elogio sincero. – A garota mentiu descaradamente, e, ao voltar os olhos para Lia, os revirou e bufou silenciosamente, indicando que só parara de provocar o rapaz pelo pedido da amiga.

– Eu também fiquei feliz com essa vitória. – Grace respondeu, séria, sua mão tremendo ligeiramente acima da de Reg, e levantou o rosto, finalmente, para os amigos. – Foi muito pouco para Sirius Black. Depois do que fez, merecia muito mais. – A garota encarou Cordelia por último, e Lia agradeceu intimamente por nenhuma das amigas saberem que lhe aplicava detenções, nem o que ocorrera durante a festa de Remus Lupin, e, especialmente, do último acontecimento na ponte suspensa. Ela sentiu seu estômago revirar, entre o nervosismo e uma sensação diferente, esta motivada pelas memórias da última monitoria.

– Concordo. – Cordelia respondeu rapidamente, levantando as sobrancelhas, temendo que pudesse estar deixando transparecer alguma emoção controversa. – Foi muito desleal. – Ela tentou acrescentar ao grupo.

– De qualquer jeito – Rabastan começou, olhando por cima do ombro para ver se Madame Pomfrey já havia se afastado, voltando os olhos para o grupo e baixando o tom de voz ao confirmá-lo – Regulus vai poder se vingar depois. Parece que o Lorde das Trevas o chamou para uma reunião com os Comensais da Morte. Deve lhe designar alguma tarefa, e ele pode pedir ajuda para, quem sabe, acertar as contas com o irmão. – Ele deu mais um risinho cruel.

Cordelia MacLearie sentiu imediatamente como se lhe atingissem com um feitiço agressivo na boca do estômago. Sentindo que seu coração se acelerava, teve de se controlar para não transparecer a súbita sensação de medo que se apoderava de seu corpo e pensamentos. Regulus não é assim... Ele não faria isso.

Ou faria?

Sentindo suas pernas tremerem levemente, Cordelia foi acordada de seus pensamentos ansiosos por Grace Macbeth, que lhe pedia ajuda para retirar a capa do uniforme esportivo da Sonserina do corpo de Regulus, que passara a suar muito, indicando que sentia bastante calor. A garota prontamente se dedicou a ajudar a amiga, tentando ocupar sua mente com outras reflexões enquanto estivesse na companhia do grupo. Ao retirar a capa de Regulus, Grace ajeitou seu corpo junto ao colchão, mais uma vez, enquanto o garoto ainda não dava sequer sinal de despertar. Cordelia levou sua capa para um cabide alguns metros longe do grupo, o mais próximo possível do leito de Regulus, e, de esguelha, vislumbrou dentro de um dos bolsos internos da capa um curioso frasco, comprido e repleto de um líquido que fez seu coração parar uma batida.

Reconheceu-o imediatamente.

MacLearie, assustada, retirou o frasco de onde estava, e guardou-o em um dos bolsos de suas calças negras, que usara para torcer pela Sonserina naquele dia. Não pode ser. Seu coração se acelerara ainda mais, e ela pensou rapidamente em uma desculpa para sair de perto dos amigos e poder confirmar se carregava consigo realmente o que pensava carregar.

Voltando ao grupo, Cordelia acenou um tchauzinho constrangido em despedida, enquanto Phyllis lhe depositava um olhar desconfiado. Ela sabia que a amiga percebia os poucos detalhes suspeitos de seu comportamento, mas que não a questionaria enquanto não quisesse lhe contar nada.

Ou ao menos até não agir de maneira... Suspeita demais.

– Já vai? – Grace perguntou, surpresa. – Mas hoje temos o dia livre. – A garota de longos cabelos castanhos escuros insistiu.

– Não posso ficar mais. O professor Kettleburn quer repassar uns detalhes sobre a próxima monitoria de quinta-feira comigo. Disse que sua semana está muito cheia, agora que vai viajar em breve para a América do Sul. – Ela mentiu, usando uma desculpa plausível.

– Ai, que saco isso. – Phyllis respondeu, fazendo uma careta. – Larga dessa monitoria logo. Ficar cuidando de bichos não vai te levar a lugar algum. – Ela disse, um tanto agressiva pelo tempo em companhia do novo casal formado.

– Ela tem um ponto. – Rabastan respondeu, concordando. – Talvez devesse direcionar suas habilidades para objetivos mais... Úteis, Lia. – O rapaz sugeriu, e Cordelia sabia que mencionava a “Revolução” bruxa.

– Por enquanto meu foco são os N.O.M.s. E meu trabalho de monitoria só me ajudará a alcançar notas melhores. – Ela respondeu, afastando-se do grupo.

– Há um mundo bem diferente da Escola lhe esperando lá fora, Cordelia! – Rabastan falou, dando-lhe um adeusinho. – Nos vemos na comemoração da vitória de hoje! – Ela ouviu sua voz sumir ao longe, enquanto já passava da porta da enfermaria.

Ele está certo. E isso me deixa cada vez mais apreensiva. A garota pensou, enquanto saía a passos largos da ala hospitalar de Hogwarts.

Ao caminhar pelos corredores, Cordelia ouviu passos vindo naquela direção, e julgou ter enxergado a borda de vestes vermelhas fulgurantes arrastando-se no chão, portadas por um grupo que iria cruzar o corredor naquele momento.

Ela teve tempo apenas de se esconder por trás de uma grande estátua, enquanto ouviu o som de seus passos estalando pelo chão de pedra dura daquele corredor, cada vez mais próximos. Abriu bem seus olhos, para estudar o grupo que se aproximava, e não ser obrigada a encontrar alunos da Grifinória, logo agora em que estava apressada para comprovar se o que Regulus carregava era realmente o que ela julgara ser.

– Ah, que vergonha, que vergonha. – Aurelia Diggle, a goleira da Grifinória, chorava desconsolada, amparada por Emmeline Vance, caminhando arrastada pelo corredor. Pelo visto, o resto do time que ainda não visitara seu batedor se aproximava da ala hospitalar para encontrar Sirius Black.

– Foi tudo culpa do Sirius. – Tim Wood bradava, irritado, enquanto Brumhilda concordava com ele silenciosamente. – O time se desestabilizou completamente quando ele resolveu parar de jogar para atacar o irmão. Eu sabia que ele era um babaca egocêntrico, mas não a esse ponto! Ainda bem que foi expulso. – O colega artilheiro de Black quase gritava, sem medo de ser ouvido por qualquer um que ali estivesse.

– Cala essa boca antes que eu te faça calá-la, Wood! – Emmeline Vance se manifestou, parecendo irritadíssima com o comentário do colega de equipe esportiva. – A culpa de termos nos saído mal foi nossa. Só nossa. O Sirius fez merda, eu fiz merda, a Aurelia fez merda, você fez merda! O único que não fez merda foi o James, que capturou o pomo e nos salvou de uma lavada ainda mais feia do que a que a gente levou. – Ela respondeu, furiosa. – Se você não vai conseguir desculpá-lo, mas conseguiu se desculpar a si mesmo, conseguiu desculpar cada um de nós, então não deveria nem sequer ir visitá-lo com a gente. – A garota respondeu com atitude.

– Quadribol tem dessas. A gente perdeu porque jogamos mal. Todos nós. E isso não foi uma humilhação. Faz parte da vida. Isso é competição esportiva. – Frank Longbottom disse, caminhando mais atrás do grupo, junto com sua namorada Alice, os dois parecendo concordar com o ponto de vista de Vance.

– Ah, qual foi, Emmeline? Ficou gamada nele, agora? – Tim Wood respondeu, parecendo levemente ciumento, ignorando o posicionamento de Longbottom.

– Não, Tim. – Emmeline respondeu, revirando os olhos, já impaciente. – Eu apenas sei ter espírito de equipe. Fomos eliminados nas semifinais da Taça das Casas, sim. Só podemos lutar pelo terceiro lugar. Mas só vamos conseguir superar essa se nos unirmos como um time. – Ela falou corajosamente.

– Cada um de nós. – Frank concordou, dando um tapinha nas costas tanto de Aurelia quanto de Tim.

Cordelia encarou o grupo que já se afastava, sentindo uma súbita simpatia por Emmeline Vance. A garota perdera do jeito que perdera, mas ainda mantinha-se firme e forte, tentando unir o time, e não apontar culpados.

Talvez os Grifinórios não fossem tão estúpidos quanto pareciam.

Assim, com o caminho agora livre, Cordelia MacLearie se afastou daquele corredor, saindo assim que pôde para os jardins de Hogwarts. Logo que pôs os pés fora do teto do castelo, a garota levantou a varinha e proferiu “impervius”, prevenindo-se da chuva que ainda caía forte pelos terrenos da escola. Mais uma vez conjurou um dos feitiços que eram sua especialidade, o feitiço da desilusão, e rumou como um camaleão humano pelos jardins até os limites da Floresta Proibida.

Ao enfim alcançar os troncos grossos das árvores limítrofes, Cordelia adentrou a floresta, enrolando bem seu cachecol da Sonserina em volta do pescoço, e dizendo “foverum” para aquecer seu corpo do clima frio daquela tarde de inverno, de muito vento e céu plúmbeo.

Em torno de meia hora, Cordelia caminhou Floresta Proibida adentro, apressando-se para tirar a prova que desejava antes de escurecer. Aquela noite seria uma noite de lua cheia, e, mesmo que o tempo estivesse fechado e chuvoso, seria no mínimo desaconselhável rumar pela Floresta Proibida. A detenção que teria com Black, naquela quinta-feira, fora inclusive cancelada pelo professor Slughorn pelo risco de encontro com lobisomens, que reconhecidamente habitavam as matas desoladas, limítrofes ao castelo.

Ao aproximar-se de um córrego que corria em uma das clareiras mais próximas daquela fronteira da Floresta Proibida, Cordelia retirou o frasco que confiscara da capa esportiva de Regulus, e jogou algumas gotas do líquido na água.

Levantando a varinha, controlando a própria respiração e temor, ela respirou fundo e proferiu, apontando para o conteúdo do frasco que agora se espalhava pelo córrego:

Foillsich*. – A garota proferiu o encantamento celta em gaélico, e sentiu seu coração retumbar dentro de seu peito. Seu sangue passou a correr rápido pelo seu corpo, e os poros dos extremos de seu corpo passaram a formigar, pelo contato com a magia de seu sangue, sua magia celta. Mas isso não fora o suficiente para diminuir sua angústia. Sua garganta parecia ter se fechado, ao comprovar o que tentara negar a si mesma.

As gotas do líquido que despejara nas águas do pequeno riacho subiram, em sua cor profundamente prateada, respondendo ao encantamento. Foram se dissipando, junto ao ar, formando uma figura enevoada, uma espécie de fumaça prateada em meio às gotas de chuva... Em formato de um unicórnio. A figura relinchou, e correu pelas árvores da clareira, desaparecendo, enfim, em uma névoa longínqua de prata.

Foi ele... Foi o Reg que atacou o unicórnio. O Reg.

Cordelia MacLearie, tentando controlar suas mãos que passaram a tremer descontroladamente, abaixou a cabeça e respirou fundo, dando meia volta daquela clareira da Floresta Proibida. Sentiu que corria, ignorando a chuva que caía sobre si e sobre todo o terreno da escola, não querendo acreditar no que acabara de descobrir.

Não havia magia que não muito duvidosa que exigisse um ataque a um unicórnio. Regulus tentara matar uma criatura, reconhecida como sobrenaturalmente benéfica, para colher seu sangue. Cordelia, ao pensar nisso, quase tropeçou em meio a grama reta, sentindo-se profundamente assustada.

Era pacífico no mundo bruxo que qualquer magia que necessitasse o sacrifício de uma criatura tão benéfica e indefesa era certamente artes das trevas, desde os encantamentos mais complicados até as poções mais danosa advindas deste ato. Se Regulus tivera de fazê-lo, certamente não usaria aquele frasco para algo bom.

Cordelia sentiu o ímpeto de destruir o frasco naquele instante. Escondê-lo, despejá-lo em algum lugar muito longe dos limites do castelo. Mas temia o que poderia acontecer a Regulus se assim o fizesse.

Ela conhecia o rapaz. Que razão ele teria para atacar uma criatura rara e inofensiva como um unicórnio, senão por ordens de... Alguém?

Sentindo seu estômago dar voltas de desagrado, ela sabia que entendera a razão do garoto portar aquilo consigo.

O Lorde das Trevas certamente precisava daquilo. E se Regulus não cumprisse o que pedira, o que poderia acontecer a ele? Cordelia tinha de confiar no bom senso do colega. Não tinha outra escolha. Regulus Black não seria do tipo que aceitaria usar esse ingrediente contra alguém inocente, ou que não pudesse se defender.

Tentando se convencer daquilo, ela correu até a ala hospitalar, chegando ao corredor que a levaria para aquele setor do castelo em tempo recorde. Nem sequer se lembrara de ter atravessado os jardins tão rápido, quando abriu a porta discretamente, arfando. A noite já caíra, e não havia sinal de visitas na enfermaria. Talvez o horário já estivesse findo, mas ela tinha de devolver aquele frasco, e rápido.

Caminhando rapidamente pelas camas vazias, ela se aproximou da de Regulus, que ainda estava profundamente adormecido. Soltando um alto suspiro de alívio, ela guardou o frasco de volta.

Assim que o deixou nos bolsos internos das vestes do garoto, sentiu o peso da dúvida se abatendo sem dó sobre si, como a chuva que castigava os terrenos da escola desde o início daquele dia. Deveria tirá-lo de volta? Deveria escondê-lo?

O que deveria fazer?

Passando as mãos pelos cabelos loiros, puxando-os para trás, ela ainda respirava com dificuldades, não mais pela rapidez e esforço físico de seus movimentos, mas pela angústia movida por aquela situação. Enquanto tentava decidir como agir, ela jurou ouvir um som canino, como um latido contido, vir de uma cama a metros de distância da de Regulus Black.

De imediato, a imagem de um cão de porte grande, pelo vistoso e expressão amigável desenhou-se em sua mente naquele instante.

Senhor Sinistro? Cordelia pensou, e sentiu vontade de rir de nervoso.

Pé ante pé, satisfeita com sua distração, Cordelia MacLearie se aproximou da cama na qual ouvira ser a origem do som. Assim que o viu, ela sentiu seus batimentos cardíacos se acelerarem, mas, desta vez, por uma reação diferente de medo.

Deitado em um dos leitos da ala hospitalar, Sirius Black parecia dormir, com um copo de suco de abóbora disposto em uma pequena cômoda ao seu lado, um de seus braços confortavelmente deitado no travesseiro fazendo um arco gracioso acima de sua cabeça, o outro descansando em cima de sua barriga, parecendo respirar devagar. Seu rosto tinha alguns arranhões, e havia um curativo mágico disposto no osso de seu nariz.

Fora isso, estava irritantemente bonito como de costume. Charmoso, como sempre, inclusive dormindo.

Sentindo suas orelhas ferverem, Cordelia olhou de um lado a outro, procurando sinal de algum cão, e lembrou-se da estranha correlação que fizera entre Sirius Black e o simpático cachorro que encontrara na noite anterior a véspera de Natal do ano passado.

Não é possível. Devo estar ficando louca. A garota girou nos tornozelos para sair rapidamente da ala hospitalar, mas parou de caminhar ao ouvir:

– Boa noite, Cora. – A voz macia e lenta de Black a saudou, um tanto mais arrastada do que de costume pela possível sonolência. Parecia ter sido ironicamente acordado pelos pensamentos da garota a seu respeito. – Veio me dar a honra da sua visita? – O rapaz sentou-se na cama, levantando os braços e estalando as costas e o pescoço, audivelmente.

– Certamente não. – Ela respondeu friamente. – Julguei ter ouvido um barulho esquisito. – A garota respondeu, não sabendo porque lhe dava satisfações, e, pior, porque não inventara uma desculpa melhor do que dizer-lhe a verdade.

– Que desculpa péssima. – O rapaz lhe sorriu enviesado, enquanto fazia menção de se levantar da cama. Ele ainda usava o uniforme da Grifinória, inclusive a capa, e Cordelia ainda não havia reparado em como aquelas vestes esportivas lhe caíam bem. Sentiu suas orelhas queimarem ainda mais, conforme o rapaz se aproximava, e ela recuava alguns passos. – Você já foi melhor nisso. – Ele andava em sua direção, seu sorriso cada vez mais largo e provocador.

– Não lhe devo satisfações, Black. Se acredita em mim ou não, não é um problema meu. – Ela falou alguns tons mais baixo e virou-lhe as costas. Logo foi apertando o passo para longe, temendo que Regulus acordasse e a testemunhasse naquela estranha conversa.

– Cora, ver você com essa roupa de torcedora da Sonserina me deixa um pouco irritado. – O rapaz a seguia abertamente, falando alto. Ela se voltou mais uma vez para ele, preocupada que Regulus despertasse e agora o visse ainda mais próximo dela.

– Não se preocupe, eu já estou indo. Também não me agrada ter de te encontrar mais uma vez. – A garota respondeu, fingindo pleno desprezo.

– Isso não tem sentido. Se não queria me ver, por que veio aqui para ficar me observando dormir? – Sirius Black debochou. – Quando vai admitir que é minha fã, Cora? – O rapaz brincou, seu sorriso de canto de lábios insuportavelmente arrogante.

– Só nos seus sonhos. – Ela respondeu, soltando um muxoxo de desdém, afastando-se dele e quase sussurrando em resposta. Passara pelo leito de Regulus, que ainda estava adormecido, e o rapaz ainda a seguia.

– Mas que coincidência. – Sirius respondeu, ao passarem pela porta da enfermaria. – Eu estava tendo ótimos sonhos com você agorinha mesmo. – O rapaz disse descaradamente. Ela o encarou mais uma vez, e sua expressão extremamente maliciosa fez um rubor subir às suas faces.

– É tão bonitinho ver como você tenta negar, Cora. Fica vermelha e tudo. – O rapaz da Grifinória debochou, tentando tocar com os dedos uma de suas bochechas, os dois em um canto do corredor completamente vazio, para alívio da garota loira. Ela afastou seus dedos com brusquidão, sentindo seu coração se acelerar mais uma vez.

– O que pensa que está fazendo? – Ela reclamou, irritada, recuando para longe dele. O rapaz se aproximou, mais uma vez, e sua postura decidida e provocante a lembrou novamente da postura de um leão alfa se aproximando da presa.

– Me divertindo bastante. Você é muito engraçada, Cora. – Black respondeu, movendo seus cabelos graciosamente para os lados. Pare com isso. Ela não sabia como reagir.

– Não estou achando graça de nada. Me deixe em paz, por favor. – Ela pediu, fingindo desinteresse, buscando a varinha dentro de um dos bolsos das calças.

– Vou deixar. Não precisa partir para a violência. – Ele segurou seu braço que buscava a varinha, e, ao sentir seus dedos se fecharem com delicadeza firme em volta de seu pulso, Cordelia sentiu a pele sensível subir alguns graus de temperatura.

– Embora te ver com essa roupa de torcedora me faça querer fazer isso. – Sirius Black insinuou, e ela desviou do toque de sua mão, encostando-se, dessa vez, contra a parede.

– Nossos sentimentos de irritação são recíprocos, Black. – Ela respondeu com desprezo na voz, sentindo seu coração palpitar em seu peito. A sensação ondulante em seu ventre voltara mais uma vez, agora com força total, e seu corpo mais do que nunca queria lhe trair, pedindo para mais uma vez se deliciar com o que ocorrera há alguns dias na ponte suspensa de Hogwarts.

– Será? – Os olhos escuros dele faiscaram, enquanto ele os semicerrava levemente. Sirius Black deu mais um passo, e Cordelia tentou agilmente recuar pela direita, quase escapando de suas mãos por um triz. Ao sentir o toque habilidoso dos dedos do rapaz em volta da sua cintura, a puxando com destreza de volta para a parede do fim do corredor, ela sabia que não resistiria mais.

– Porque quando eu vejo você com essa roupinha, Cora, fico muito irritado. Muito mesmo. – Ele se aproximou ainda mais, falando em seus ouvidos. Ela podia sentir seu coração retumbante acelerar-se cada vez mais, enquanto ondas de calor se espalhavam pelo seu corpo, a deixando em transe, fazendo-a se esquecer de tudo o que acontecia ao seu redor.

Exceto da presença dele, e como ele mexia consigo.

Sirius Black moveu seus lábios para perto da orelha esquerda de Cordelia MacLearie, sua boca falando devagar, não mais do que um sussurro, enquanto ela sentia arrepios descontrolados subirem pelo seu corpo, em especial em uma região em meio as suas pernas.

– Fico tão irritado, Cora, mas tão irritado... Que sinto vontade de rasgar essa sua roupinha toda. – O rapaz mal terminou de falar e imediatamente a beijou na orelha, levando-a a soltar um suspiro de prazer a contragosto. Suas mãos rápidas e firmes passavam de fora de seu suéter para dentro do que a peça de roupa escondia, buscando a pele que já ardia de calor em cada rastro de chamas que ele deixava por sua cintura e suas costas. Ao tentar mover o rosto para os lados, querendo raciocinar, mesmo sabendo que não conseguiria, seus lábios invariavelmente se encontraram, e ele a prensou ainda mais contra a parede enquanto depositava um beijo lânguido e tão quente quanto seu toque habilidoso em seus lábios desejosos.

Uma das mãos de Black subiu de suas costas para seu pescoço, acariciando sua nuca enquanto a outra ainda a prendia contra si, apertada a centímetros acima da linha de suas calças, cravada prazerosamente em sua pele, entre a área de seu corpo que era o fim de suas costas e a parede, cuja pedra fria contrastava com o calor que emanava de seus corpos enlaçados neste delicioso aperto. O beijo continuava, ritmado, lento e forte, e ela sentia estar vivendo uma espécie de delírio surpreendentemente sensual.

Ela sentia seu tórax firme contra seu corpo, seus seios apertados pela forma como ele a abraçava forte, e não pôde deixar de passar suas mãos com força pelos cabelos sedosos dele, não mais para puxá-los e agredi-lo de alguma forma, mas para permitir que intensificasse o enlace entre seus corpos, e a beijasse com ainda mais facilidade, prolongando instintivamente o prazer do momento.

Antes que pudesse raciocinar, ele já havia parado de lhe beijar. A mão que acariciava sua nuca havia descido para suas costas, passado dela para sua cintura, e deixado seus dedos tocarem de leve, como rastros de uma breve chama acesa, partes de sua barriga, abaixo do umbigo. Ao abrir os olhos, Black a encarava mais prepotente do que nunca, e o que mais a assustou foi não ter sentido arrependimento por ter cedido às suas ações sedutoras.

– Obrigado pela força, Cora. Depois do dia de hoje, fiquei um pouco mais animado. – Ele sorriu descarado, e mais uma vez a irritação se misturou ao desejo, dentro de si.

– Saia daqui. – Ela ameaçou, irritada, tentando respirar fundo, fechando os olhos para se controlar. Não sabia se o atacava ou o agarrava outra vez. As duas opções pareciam quase igualmente tentadoras.

– Estou saindo. Só lembre-se que dia 21 de março é meu aniversário. Essa sexta que vem. Pense em um presente bem legal para mim. Tenho certeza que vai saber me agradar! – Ele disse, malicioso e debochado, seus olhos faiscando em provocação. Antes que ela pudesse xingá-lo de volta, Sirius Black a enlaçou mais uma vez pela cintura, dando-lhe um curto e rápido beijo. Sentir seus lábios que se uniam tão deliciosamente aos seus, o perfume úmido e masculino de seu pescoço e cabelos, e suas mãos a apertando de forma a lhe fazer sentir espamos de excitação pelo corpo... Era algo forte demais para aguentar.

– Vá comemorar, agora, Cora. – Ele lhe disse, e ela sabia que a frase continha duplo sentido. Black puxou seu braço direito e beijou-lhe as costas da mão, enquanto saía rapidamente de perto dela, brindando-lhe com um último sorriso charmoso antes de sumir pelo corredor.

É. Eu enlouqueci de vez. Apoiando-se no beiral de uma janela do corredor, Cordelia ajeitou o próprio suéter, levemente amassado na linha da cintura, sentindo-se mais estúpida que o mais energúmeno grifinório. As ondas em seu ventre iam pouco a pouco diminuindo, sua respiração se acalmava, e as batidas de seu coração se tornavam mais lentas, mas uma espécie de pontada de frustração parecia se apossar de seu peito, como se não quisesse que aquilo tivesse parado... Não tão rápido.

Não tão incompleto.

O que estava acontecendo consigo? Por que se permitia aquilo? A garota pensava, enquanto caminhava para a sala comunal da Sonserina. Ao descer para as masmorras, sabia que uma festa de arromba se dava lá, em comemoração as finais do campeonato da Taça das Casas, o qual, graças à vitória arrasadora contra a Grifinória, lideravam como os favoritos para o prêmio.

Ao dizer a senha para o ponto das paredes pelo qual se dava a entrada para a sala comunal, Cordelia MacLearie lembrou-se mais uma vez de Regulus, dividida entre as controversas sensações que o Black mais velho lhe despertava, e o temor pelo que o Black mais novo agora pretendia, e as consequências de seus atos. Ao entrar na sala, foi bombardeada com o som de gritos, risadas e música ensurdecedora vinda de vários rádios bruxos ligados. Os sereianos que nadavam ao redor das janelas que davam para o Lago Negro batiam no vidro com suas mãos fechadas em punho, parecendo exigir silêncio, irritados com a barulheira da comemoração sonserina.

Phyllis, sentada em um canto do sofá, se agarrava com Rabastan, para a incrível surpresa de Cordelia, e Grace, parecendo alheia a um rapaz do sétimo ano que lhe cortejava visivelmente, sentava-se sozinha em uma cadeira de espaldar alto, suas mãos bebendo uma taça cheia de vinho tinto, sem sequer se preocupar em dar um olhar por cortesia ao garoto que insistia em chamar sua atenção. Este mundo está realmente de pernas pro ar.

Ao se aproximar da amiga, para perguntar-lhe se estava se sentindo melhor a respeito de Regulus, Cordelia foi parada por Latrell, abraçado com Rumild Lestrange, uma de suas mãos apertando a carne vistosa dos glúteos da garota, vulgarmente, por cima de sua saia.

– Foi uma bela vitória, não, Lia? – Latrell Graeme disse, apertando ainda mais a nova namorada contra si, tentando provocar a garota.

– Certamente, Graeme. – Ela respondeu indiferente a sua tentativa de humilhá-la. – Uma bela vitória. – Cordelia sorriu debochada, seus olhos indo de Latrell a Rumild, divertindo-se intimamente em imaginar como o rancoroso ex-namorado se sentiria se soubesse que passara de seus braços para os de Sirius Black.

O rapaz a encarou, seus olhos semicerrando-se como se quisesse entender se havia algum significado oculto em sua resposta, mas ela rapidamente sumiu de perto dele, em meio à multidão de seus colegas de Casa. Todos os alunos comemoravam a vitória, alguns de maneira pacata, embebedando-se, se agarrando com seus respectivos pares, soltando fogos e rojões por meio de feitiços proferidos com suas varinhas, e outros, de forma mais... Excêntrica.

Como pintando as paredes com tinta vermelha, escrevendo com suas varinhas dizeres como “Supremacia Puro-Sangue”, “Derrota dos Sangue-Ruins” e “Sonserinos são superiores”. Sentindo seu estômago revirar, pensando se esses alunos que pintavam tais dizeres segregatórios e preconceituosos sabiam realmente das consequências que perpetuar esse tipo de comportamento teriam na vida real, longe dos muros da escola, longe da proteção de Dumbledore, ela se aproximou de Grace, e passou a conversar com a amiga.

Regulus iria se recuperar bem. Em alguns dias sairia da enfermaria, e Cordelia se sentiu instantaneamente culpada ao lembrar que Black fora responsável por todos os ferimentos de Reg, e ignorara solenemente suas atitudes desprezíveis contra seu amigo quando ele a agarrou. Pensou em que motivos poderiam levar Sirius Black a ter este tipo de conduta violenta para com o irmão, e, logo em seguida, lembrou-se mais uma vez do frasco contendo sangue de unicórnio que encontrara nas vestes de Regulus.

Como o amigo reagiria se a tivesse visto com Black nas detenções? Será que a defenderia como ela o defendia? Para que seu amigo, que sempre julgara sensato e bem intencionado, poderia usar sangue de unicórnio que não as mais terríveis magias das trevas?

Pensando na agressividade de Black contra seu próprio irmão, e na desídia de Regulus de atacar um unicórnio e esconder o sangue coletado consigo, Cordelia sentia, mais do que nunca, que tudo tornava-se mais e mais confuso. O guia para o moralmente correto e a atitude certa a tomar pareciam cada vez mais distantes de se compreender, e a diferenciação entre que lado escolher não parecia mais tão fácil assim.

O conflito impreterível estava cada vez mais próximo, e ela podia ver isso mesmo dentre a hábil proteção de Dumbledore. Os limites eram cada vez mais tênues, e as consequências reais ainda chegariam, ela sabia, como um mau agouro que se pressente em um calafrio.

Ela via claramente, não apenas nas linhas imaginárias entre e o certo e o errado, que pareciam vir a se fundir, mas nas linhas concretas que seus colegas da Sonserina pintavam nas paredes da sala comunal, como os arautos do que estava por vir.

Os arautos da guerra.


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Notas finais do capítulo

*Foillsich: do gaélico escocês, significa "revelar", literalmente. Heheh! Feitiço celta para confirmar qual a origem do líquido do frasco da Cora. Teve de jogá-lo antes em um córrego, porque o encatamento precisa do apoio dos elementos naturais para funcionar perfeitamente. =)
A música do título é do Bob Dylan, escrita durante a Guerra Fria. Tem feels que combinam bastante com a fanfic!
Por último porém não menos importante, fiquem com um gif do David Linduiz: http://28.media.tumblr.com/tumblr_lhqurwxIXI1qe4xpno1_r2_500.gif
Até o próximo capítulo, fofas!



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