Capitulo 24 – I Know What I Saw.

Ela respirava pesadamente e sua expressão se dividia entre ira e culpa. Pensou que iria chorar, não acreditando que pudesse ter feito algo do tipo, mas foi apenas lembrar a cara de deboche de Harriet que sentiu as lágrimas sumirem dos olhos.

Novamente aquela sensação quente de ira abraçou o seu corpo e ela fechou a mãos com força, respirando fundo.

— Eu… Eu… Eu poderia matar aquela garota!!

— Não, não poderia, mas o tapa foi excepcional. Eu bem que queria poder dar um desses também na Ashley… Pena que ela provavelmente morreria se eu fizesse. Mas enfim, valeu a pena apenas ver você fazendo isso. — Sorriu Renesmee, se virando para amiga, com os olhos brilhando — Como se sente agora?

Helena olhou para a mão vermelha que formigava levemente.

— Bem dolorida. — resmungou a anja, evitando o olhar de Renesmee.

— Ahh, qual é! Não sentiu nem um pouco aliviada? A dor vale a pena de ter visto aquele rostinho rebocado um pouco mais vermelho, hã?

Helena deu um leve sorriso por um momento. Talvez houvesse sim algum alívio, por descontar um pouco os sentimentos que ela estava guardando, mas a culpa era maior. Ela sentia. Antes de ela cair do céu, ela nunca havia cometido qualquer ato tão violento como aquele.

Na verdade, ela teria ficado horrorizada, com quem quer que realize algo tão baixo. Principalmente sendo um anjo a fazer.

A pobre menina se sentiu ainda mais triste ao perceber que cada vez mais, sua parte anjo se esvaia, não só de seu corpo, mas também de sua mente, e ela se tornava cada vez mais humana.

Vendo o rosto triste da prima e o ar desconfortável que se instalara no carro, Renesmee encerrou o assunto, ficando ligeiramente sem graça. Não tinha certeza se entendia o porquê daquela expressão triste e achou que perguntar, talvez, não fosse uma boa ideia no momento.

A meia vampira, ligou o carro, saindo do estacionamento da escola. Dirigia com o máximo de cuidado possível quando entendeu o motivo de Rachel estava tão séria a respeito daquela tempestade.

Foi necessário usar todos os seus instintos de vampira para dirigir e decidiu que talvez não fosse uma boa ideia irem sozinhas até a mansão. Não com toda aquela neve que se grudava com muita facilidade no chão.

Estava se perguntando como Alice não havia previsto aquilo quando virou a primeira rua após o cruzamento e foi em direção à casa de Leah. A mansão era longe demais e estava pensando em ligar para os pais quando chegasse. Não valia a pena correr riscos atoa.

Enquanto isso, Helena olhava pela janela do carro, vendo as árvores passar, cada vez mais cobertas de branco, pensando sobre sua mão dolorida. Os flocos que vinham de encontro ao carro dificultavam um pouco a visão da floresta ao redor, mas ela não teve dificuldade de enxergar as árvores mais altas.

Helena gostava daquele lugar exatamente por aquilo, as árvores eram tão altas e tão antigas que pareciam ser quase como sagradas, e vê-las todas juntas, brancas no seu topo, lhe dava alguma paz. As arvores eram um tipo de vida tranquila, que existia apenas para ajudar, para balancear o ar, torna-lo bom e servir de alimento e abrigo aos animais.

A menina anjo já estava quase em seu estado normal de tranquilidade enquanto assistia as árvores passarem. Ela as olhava aleatoriamente quando algo em sua visão periférica a perturbou. Seu coração pulou quando finalmente o viu, parado a uns quarenta metros de distância, com os braços cruzados em frente ao peito.

Não, não havia como confundir. Ela reconheceria aquele formato de asas, o jeito que se mexiam, assim como a cor negra em qualquer lugar.

Seu coração parou por um segundo enquanto os olhos dele acompanhavam o carro passar.

As palavras engasgaram em sua garganta.

— Ra-Raziel?!

Renesmee pisou fundo demais no pedal com o susto e esqueceu-se de trocar uma marcha enquanto virava a cabeça, ainda em tempo de vê-lo parado entre as arvores. Sentiu um frio descer por toda a sua coluna; Era como se o anjo olhasse diretamente para ela.

Inconscientemente, a mão voou para a terceira marcha e alguns segundos depois a quarta marcha, enquanto seu pé afundava cada vez mais, esquecendo-se da preocupação com a neve. Helena ainda estava chocada demais para notar o olhar de quase pânico da sua prima, que lutava para controlar a respiração.

O que Renesmee faria? Aquilo arruinaria todo o plano!

— V-Você viu aquilo?! — despejou Helena — Você o viu?! Era Raziel! Eu tenho certeza! Era Raziel!

Renesmee engoliu em seco várias vezes antes de conseguir falar.

— Hã, o que... Do que você está falando? Hehe, eu não vi Raziel nenhum. Ah, provavelmente era apenas alguma árvore. — comentou Renesmee tentando acalmar a si mesma. — Você só está estressada, quando chegarmos à casa de Leah te farei um chá.

Helena estava afundada em meio a nevoa que invadira sua mente e demorou em entender o que Renesmee havia dito. Quando finalmente compreendeu, se sentiu quase como ultrajada.

— Chá? Por que? Eu sei o que eu vi e não foi uma árvore! Como uma árvore poderia ter asas ou ser tão negra quanto a dele? — Exclamou a anja.

Renesmee olhou de lado para Helena, acelerando um pouco mais para colocar mais distância entre o anjo e o carro. Ela precisava chegar logo na casa de Leah. Sorriu forçadamente para a anja ao seu lado, que a olhava assustada.

— Hã, eu acho que você está vendo coisas prima. — riu sem graça — Talvez precise descansar um pouco…

As sobrancelhas de Helena se franziram, ainda mais em confusão. Como Renesmee não acreditava no que ela vira?

— Você está me chamando de mentirosa? Eu sei o que eu vi! — perguntou Helena sentindo sua fúria crescer ainda mais.

— O quê? Não! Não é nada disso! — ela sorriu, dura — Apenas…

— Acha que eu inventaria uma coisa dessas? Acha engraçado? Se tem uma coisa que eu não faço é mentir, Renesmee. Ainda mais sobre uma coisa tão importante.

— Não estou dizendo que você está mentindo! Só que você pode estar se confundindo…

— EU NÃO CONFUNDI NADA! — gritou a anja, com o rosto completamente vermelho. — Qual é a possibilidade de um anjo não reconhecer outro, ainda mais sendo seu irmão? Sabe quantos anos eu passei apenas olhando para aquela figura?!

Renesmee derrapou o carro com a freada que deu antes de parar em frente da casa de Leah. Por pouco o carro não rodou na neve.

Helena tinha seus olhos cravados nela e a meia-vampira não sabia como lidar com a situação.

— Um anjo nunca mente — declarou Helena, olhando no fundo dos olhos da prima e Renesmee simplesmente não aguentou mais a pressão.

— Um anjo também não bate em ninguém, mas olha, você fez isso minutos atrás!

Quase imediatamente Renesmee se arrependeu do que disse. Contou três batidas do seu coração antes de o rosto da anja em sua frente se transformar.

— O que quer dizer com isso? — O queixo da anja tremeu — Só porque eu fiz aquilo, quer dizer que eu mentiria também? SÓ POR QUE EU COMETI UM ERRO NÃO QUER DIZER QUE EU IREI COMETER TODOS. QUEM É VOCÊ PARA FALAR QUE ESTOU MENTINDO??