Enigma escrita por Matheus Pereira


Capítulo 3
A Polícia


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! Este capítulo introduz o elenco policial. Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/465194/chapter/3

Terça-feira, 4 de março de 1930

7h46

A neblina tinha finalmente se dissipado e o dia estava bonito. Apesar do vento frio, o Sol aparecia, vencendo as nuvens.

No Departamento de Polícia de Enigma, o Chefe de Polícia do município, coronel Warwick, deglutia os últimos fragmentos de torrada com geléia com um gole de café fumegante de gosto nojento. Ele era um homem razoavelmente grande, pálido e acima do peso. O confortável trabalho por trás da luxuosa mesa de carvalho, coordenando a segurança pública daquela pequena e esquecida cidade próxima ao Lake Patrick rendera-lhe uma barriga que caía para muito além da linha do cinto. Seus olhos eram de um profundo castanho escuro que transpareciam a experiência e perspicácia adquirida após tantos anos encarregado da gestão do departamento. Seu bigode era tão grande que cobria boa parte de seus lábios.

– Eric, o maldito café está com gosto de lama! – rugiu em uma voz grave e profunda, esperando ser ouvido pelo empregado. Provavelmente, ele havia ignorado-o. Sem paciência para sair de sua sala, continuou sentado na cadeira de madeira. Uma caixa de cigarros vazia descansava sob a mesa, junto de um mapa envelhecido da cidadezinha. Contrariado, uma carranca se formou em seu rosto; enquanto colocava os óculos de leitura e abria uma pasta com documentos de sua delegacia.

Uma batida na porta o interrompeu. Sem que ele concedesse autorização, o inspetor Thomas, um jovem de aproximadamente 25 anos, de cabelo liso e ruivo, cheio de sardas pelo rosto, entrou afobado, com um envelope já rasgado em mãos.

– Houve um homicídio, senhor! – disse numa voz tensa. Limpou a garganta. – A coisa mais estranha que já se ouviu.

– Acredito que eu vá precisar de mais detalhes que isso, Thomas. E também preciso que este criado faça um café decente... E de cigarros. – esbravejou Warwick.

– Sim, sim, senhor. Estas são responsabilidades do Eric. O avisarei, certamente. Mas, coronel Warwick, um jovem de aproximadamente 15 anos veio correndo entregar este bilhete... Foi enviado por uma mulher, Ruby – ele abriu o papel que se encontrava dentro do envelope e leu o nome todo – Ruby Morgan... Mas não sabemos muito. O corpo foi...

– Então é melhor descobrirmos! – esbravejou Warwick – Ande, Thomas, me entregue a droga do bilhete logo! Santo Deus!

O inspetor Thomas prontamente colocou o bilhete sob a mesa do coronel Warwick. Lia-se:

"Prezado Senhor,

meu jovem noivo, Daniel Smith, estava desaparecido desde a manhã de ontem. Sinto-me horrorizada ao encontrar seu corpo hoje cedo, no bosque próximo à estrada. Por favor, mande algum de seus homens logo! Não sei o que pensar! Escrevo de Turner Lane, 261.

Ruby Morgan"

– Corpo estripado? Finalmente esse fim de mundo deverá sair nos jornais. – Warwick riu consigo mesmo, enquanto Thomas engoliu a seco, apreensivo – Não quero as cabeças-ocas de Nashville se intrometendo neste caso. Aquela ocasião de 1926 não pode se repetir. Chame aquele italiano... Ele está em Enigma? Como se chama aquele dago miserável?

– O detetive Filippo Lucchesi? Sim, senhor, ele será contatado. – disse Thomas claramente.

– Ele é atrevido demais para o meu gosto. Mas provavelmente será de alguma ajuda.

– Certamente, senhor.

O coronel Warwick amassou o papel e o jogou na lixeira, enquanto, próximo a mesa, Thomas o olhava esperando por alguma ordem.

– Você está esperando o cadáver vir até aqui, bastardo? – rugiu Warwick, enquanto se levantava – Não tem trabalho a fazer? Quero o tal Lucchesi lá em dois minutos. Mande uma patrulha para o procedimento de rotina, junto com algum legista. Todos os homens vão trabalhar nesse caso. Quero relatório do legista até o pôr do sol. E nós vamos para lá agora.

– Sim, senhor, deixe-me providenciar tudo o que pediste. Logo iremos. Dê-me três minutos, senhor – disse Thomas, um pouco confuso ao início de seu discurso e em seguida saindo da sala de Warwick furiosamente antes que ele tivesse a chance de insultá-lo novamente.

O velho senhor Warwick esboçou nos lábios um sorriso – quase imperceptível. Em seguida, se preparou para ir de encontro ao corpo do jovem Smith.

8h12

Por uma brecha na porta, Ruby espiava a rua. Suspirou aliviada ao ver, logo em frente, uma patrulha do departamento de polícia, de um modelo da Ford, estacionar logo em frente. Abriu a porta finalmente, enquanto Warwick e desciam do carro. O inspetor olhou encantado para a bela mulher que descia os degraus da varanda da frente. O vento forte fazia seus belos cabelos negros balançarem, em contraste com sua palidez na pele. Seus olhos verdes eram de hipnotizar qualquer um. Tinha um ar decidido e destemido, um tanto incomum para as mulheres; ao menos, as que ele conhecia. Firme, a força intensa de sua personalidade poderia ser sentida a quilômetros. Thomas logo se sentiu mal pela terrível descoberta que a bela jovem fizer e compôs uma expressão solene. Aproximando-se, cumprimentou Ruby de forma cerimoniosa.

– Bom dia, senhorita Morgan... – interrompeu-se, buscando palavras – Desculpe-me ir logo à cerne do assunto, mas não será muito esforço indicar onde exatamente se encontra o corpo? Estou certo que a situação é...

– Senhorita, nós iremos fatigá-la o mínimo possível – interrompeu as condolências de Thomas, em voz profunda e firme, o delegado Warwick – Diga-nos onde se encontra o cadáver, por gentileza.

– Não... – ela mesma se interrompeu com uma pausa que parecera durar horas – Eu estou bem. Eu entendo que... O tempo é crucial, certo? Bem, o Daniel... – pausou novamente – Está a alguns metros, à minha esquerda. – apontou – Adentrando um pouco à mata, mas pode ser visto através da estrada por um bom par de olhos... Eu só não quero voltar até lá...

– Eu posso compreender, senhorita. Isso não se fará necessário, mas deverá responder algumas perguntas mais tarde – consolou-a Thomas, comovido pelo autocontrole que ela estava demonstrando.

– Temos trabalho a fazer! – o delegado Warwick dissipou a atmosfera sentimentalista que estava a se instalar – Lucchesi e os demais devem estar chegando aqui a qualquer momento. Ah, ali, estão vindo.

Outro carro de polícia estacionou logo adiante. Um homem de cerca de 35 anos foi o primeiro a sair. Tinha cabelos grisalhos, porte militar, a mandíbula cerrada, uma postura confiante. Tinha uma expressão entediada, como se esperasse encontrar ali um crime "anêmico", que não valesse sua atenção. "Mais um dia maçante de trabalho", parecia pensar. Seu jeitão impaciente era um pouco grosseiro. Seu nome era Filippo Lucchesi.

O médico legista da Polícia, Andrew Bundy, saltou do carro logo após o detetive, seguido por outro oficial, o policial George, em trajes simples, pronto para executar alguns processos de rotina. Os três seguiam em direção ao chefe da polícia, o inspetor Thomas e Ruby.

O delegado Warwick dirigiu um olhar ríspido para Lucchesi e disse, em seguida:

– Não se atrasou dessa vez, italiano indolente – disparou e virou-se ao legista e ao outro oficial, sem dar tempo de Lucchesi respondê-lo – Está tudo pronto?

È una bella donna veramente – suspirou Lucchesi, em um sotaque italiano carregado, para o inspetor Thomas.

– Como é? – perguntou Thomas, secamente.

– Uma mulher linda, realmente.

– Mas por que diabos vocês estão cochichando? Ande, vamos seguir – ordenou o delegado Warwick, rispidamente – Lucchesi, fique e interrogue a jovem.

– Não. Preciso ver o cadáver, signore, para entender a mente do criminoso– disse, em voz grave, Lucchesi, reunindo um pouco de ironia ao pronunciar o pronome de tratamento.

– Você não tem caprichos aqui, dago miserável. Se não está disposto a trabalhar corretamente, estou certo que há de haver outros querendo seu emprego – rugiu Warwick, gesticulando de um modo um tanto agressivo. Andrew e o oficial se entreolharam, incertos se deviam seguir sozinhos.

– Eu... Eu fico com a Ruby, e vocês vão até o corpo. Quando Lucchesi voltar, ele poderá interrogá-la se ela sentir-se pronta. – o inspetor Thomas murmurou em tom encorajador. Ruby passou a mão no pescoço, insegura.

– Está certo – cedeu Warwick.

Seguiram, então ao ponto previamente indicado por Ruby, onde supostamente estaria o cadáver de Daniel Smith. Warwick os guiava.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comente e dê sua opinião. É essencial para a continuação do projeto.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Enigma" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.