Enigma escrita por Matheus Pereira


Capítulo 13
A Manhã Seguinte


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pelo atraso! Aqui está o capítulo 13, finalmente! Neste capítulo, Lucchesi continua sua investigação. O detetive coloca Megan Becker contra a parede. Afinal, onde ela estava na hora do crime?



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CAPÍTULO 13

8h02

– Bom dia! – esbravejou uma voz forte. Lucchesi acordou num ímpeto, assustado e olhou ao seu redor como se não soubesse onde estava – Ah! Isso sim que é um bom café! Quer um pouco, Lucchesi? Poderia aproveitar enquanto lê as notícias.

Uma edição do jornal "The Atlanta Journal-Constitution", com títulos em letras garrafais e chamativas, jazia na mesa de carvalho de Warwick. O texto era todo adjetivado e sensacionalista.

ASSASSÍNIO CRUEL

Polícia atônita com crime brutal: cadáver mutilado

ENIGMA – Policiais da pacata cidade de Enigma, no condado de Berrien fizeram uma medonha descoberta nas primeiras horas da manhã de ontem, 4. Um cadáver masculino foi encontrado nos bosques da cidade, a poucos quilômetros de Tifton.

A crônica policial do condado jamais viu crime tão truculento. A vítima foi mutilada. Foram incontáveis facadas na região abdominal do homem, com ferimento de vários órgãos. Como se não bastasse, o cruel assassino eviscerou sua vítima e posteriormente a abandonou.

As autoridades ainda não deram nenhuma declaração oficial à imprensa, mas o prestativo chefe de Polícia da cidade, Warwick, forneceu alguns detalhes exclusivos. "A polícia de Enigma está lançando mão de nossos melhores recursos e nossos melhores profissionais a fim de punir o responsável por um crime tão bárbaro o mais rápido possível", disse.

O delegado não informou o nome da vítima, e a investigação corre em segredo. Porém, informou que "a polícia está às vésperas de encontrar o culpado do crime, e tão logo isso seja feito, a imprensa irá receber mais detalhes".

Mais informações acerca deste caso nas próximas edições.

Lucchesi passou os olhos rapidamente pelas linhas do jornal e olhou para Warwick:

– É o que o senhor tanto quer, não é mesmo? Pois, veja, seu nome foi mencionado aqui... Uma vez. Parabéns – Lucchesi disse com voz de sono, tomando aos poucos consciência de onde estava.

– Cobertura nos jornais da capital do Estado, detetive Lucchesi. A imprensa irá continuar a fazer perguntas e a acompanhar o caso. Estou perdendo meu tempo com você. Mas toda boa história precisa ter um pouco de suspense, não é mesmo? Ninguém aprecia respostas prontas. E, afinal, nosso verdadeiro assassino não pode estar tão longe. Tudo sobre controle – tomou o último gole de café – Agora, queira sair do meu lugar.

– Está enganado, Warwick. Fiz minhas descobertas – Lucchesi afirmou, agora em tom mais animado, enquanto deixava a poltrona de Warwick – Fui ao bar clandestino com Thomas. Fiz algumas interrogações de modo casual. As senhoritas Morgan e Becker mentiram em seus depoimentos em pontos importantes.

– Como? – Warwick perguntou em tom cético.

– Não vai acreditar na minha descoberta medonha. A história fica ainda mais sinistra – Lucchesi disse, satisfeito consigo mesmo, zombando do artigo do jornal – Pois Daniel e David realmente se encontraram no bar clandestino e deixaram o local às 21h30. Já reduzimos, então, as horas de sumiço de David. Interessante é, Warwick, que a senhorita Morgan foi vista conversando com Daniel Smith por volta das 22h15. Já a senhorita Becker simplesmente some entre as 22 horas e a meia noite, talvez um pouco mais que isso até. Só chegou ao bar clandestino nesse horário, não menos. Não tem um álibi e mentiu sobre o que fez durante o tempo. E, olha, poderia ter usado mentiras mais leves que dizer que foi ao bar ilegal. Imagina, então, o que queria encobrir.

Warwick olhou incrédulo para Lucchesi, que aproveitava para se aquecer nos raios de sol que invadiam a sala.

– O testemunho é de quem? De pessoas que já devem à lei simplesmente por freqüentarem tais lugares? – Warwick perguntou, relutante.

– Um rapaz de Unionville, chamado John, afirma ter visto a senhorita Morgan em uma discussão com o marido, em seu caminho para a casa. Warwick, eu sei detectar uma mentira e ele não disse uma. Já a chegada da senhorita Becker do bar é algo unânime. As pessoas com quem falei lembram de tê-la visto após a meia-noite, apenas. Não é a palavra de apenas uma pessoa – Lucchesi disse, olhando para o relógio no alto da parede.

– Lucchesi, eu devo lhe dar algum crédito. Você trabalhou duro, de verdade. Foi num lugar onde eu confesso ter pensado em ir, o bar clandestino. Era de se esperar que algumas coisas novas surgissem a partir daí – dizia como quem oferecesse um prêmio de consolação a alguém que fracassou terrivelmente – Mas apenas me fez um grande favor, até então. Graças a você, já é certo que David estava junto de Daniel pouco tempo antes de sua morte. Ambos caminharam do bar até, pelo menos, a casa de David, que é a apenas algumas centenas de metros de onde o corpo do senhor Smith foi encontrado. David Becker jamais retornou à sua própria casa. A equação é muito simples – Warwick concluiu.

Benissimo. Os depoimentos que não colaboram com sua teoria serão, então, ignorados? – Lucchesi perguntou, em voz controlada, ao andar em direção ao delegado.

– Nada será ignorado, Lucchesi. Certamente a senhorita Becker deverá dar explicações sobre sua falsa declaração. Já deve ter tido tempo para se recompor e se resignar em dizer a verdade, afinal, foi ela mesma quem deu o endereço do bar clandestino. Foi um caminho sem saída para ela. – Warwick disse em tom baixo – Bom, nisso eu posso acreditar. Afinal, são várias pessoas que testemunharam isso, e nenhuma delas teriam, a princípio, um motivo para dizer o contrário. Lucchesi, entenda, eu não vou basear minha investigação toda no que certo bêbado viu ou deixou de ver.

– Está tomando como falso o depoimento de John em sua investigação? É isso? – Lucchesi perguntou, encostando as mãos na mesa.

– Não penso que o rapaz, seja quem for, tenha algum motivo para mentir. Contudo, não foi uma declaração em juízo. O rapaz não entendia a gravidade e o peso do que ele disse. Mencionou isso casualmente, sem saber das reais circunstâncias do caso. Se soubesse, com certeza, o tal John repensaria se realmente viu quem ele diz ter visto. Parece-me um erro honesto, visto que era uma noite chuvosa e escura. Isso não prova nada, você sabe – Warwick disse com sobriedade, como se fosse um orador experiente.

Lucchesi olhou pra baixo, desencorajado, por um momento. Lançou, então, um novo olhar para Warwick. O delegado acariciou o bigode.

Maledizione! – Lucchesi esbravejou e, num rápido movimento, cerrou o punho e deu um soco na mesa. Warwick estremeceu – Você só pode estar brincando! Onde Thomas está?

O sotaque italiano de Lucchesi ficava ainda mais acentuado com sua agitação. Warwick preferiu não se abalar. Ignorou o detetive e recostou-se na poltrona.

– Thomas! – Lucchesi bradou. Instantaneamente, uma figura masculina entrou desajeitada na sala, com olhar sonolento. As sardas de Thomas pareciam ainda mais evidentes com o clarão proporcionado pelo sol.

– O que houve?! – Thomas perguntou, rapidamente. Lucchesi respirou fundo.

– Vamos interrogar a senhorita Becker novamente – respondeu Lucchesi.

Thomas olhou para Warwick como se buscasse por instruções.

– Vá! O que está esperando? – o delegado ordenou, com um olhar apreensivo.

– Sim, senhor, com licença – Thomas respondeu, deixando a sala do delegado apressadamente.

8h23

Lucchesi bateu a porta da viatura com violência desnecessária.

– Irá falar com a senhorita Morgan? – Thomas perguntou, seguindo-o.

– Não... Não por enquanto. Warwick praticamente disse que a palavra de John de nada vale. E, de fato, não temos muito contra ela – caminhava pela propriedade mal conservada dos Becker – Se apenas James, de Washington, pudesse descobrir algo útil. Há algo de errado com a senhorita Morgan, eu tenho certeza, Thomas. Ela está mentindo. Cada um deles está.

– Quem é "cada um deles"? – Thomas perguntou, tentando acompanhar Lucchesi, que se aproximava do casarão.

– Ruby Morgan, Megan Becker, Rose Becker e Ryan Adams. Todos tem algo a esconder – Lucchesi afirmou.

– O que? Está maluco? Rose Becker e Ryan A... – as repetidas batidas da aldrava contra a porta de madeira cortaram o discurso de Thomas.

– Nem que seja em um pequeno ponto, como quando Ryan Adams escondeu seu interesse pela senhorita Morgan. Cada um deles está escondendo algo, Thomas, lembre-se disso – Lucchesi disse com clareza.

Mal Lucchesi terminou sua frase, a senhora Becker abriu a porta. Rose Becker estava pálida e com um semblante triste. Parecia que iria começar a chorar, tão logo reconheceu Lucchesi e Thomas. – Ah, meu Deus! Notícias do David? Vocês... Encontraram-no?– disse a senhora Becker, enquanto lutava para se controlar.

– Sentimos muito, mas não há nada por enquanto – Lucchesi disse secamente – Na realidade, desejamos conversar imediatamente com a senhorita Becker. A sós.

– Eu... Eu vou chamá-la. Por favor, entrem – disse Rose Becker. Enquanto ela subia as escadas o mais rápido que seu corpo lento permitia, Lucchesi e Thomas tomavam os mesmos lugares do interrogatório anterior na sala de estar.

Dessa vez, a senhorita Becker desceu mais rapidamente para o interrogatório. Parecia estar acordada há algum tempo. Trajava tons escuros e tinha uma aparência carregada. Unido isso a sala escura, o clima era lúgubre e carregado. Como se reproduzisse os eventos do dia anterior, ela se sentou numa poltrona bem em frente a Lucchesi. Seus modos eram contidos e forçados.

– Temos nos visto bastante ultimamente. Em que posso ajudá-los dessa vez? – Megan Becker perguntou secamente, fitando Lucchesi e ignorando a presença de Thomas. O jovem ruivo começava a tomar notas em seu caderno.

– Não perderei tempo, nem o meu, nem o seu, com rodeios. Não está lidando com idiotas, senhorita Becker – ela demonstrou choque, recostando-se na poltrona – O que estava fazendo entre as 22 horas de ontem e as 0 hora e 30 minutos de hoje?

– Ora! Eu já lhe disse! É claro que eu esta...

– Já lhe disse, senhorita Becker. Isso é uma investigação policial. Não está depondo em juízo, mas a menos que tenha razões para encobrir algo, não deveria estar dizendo mentiras – Lucchesi disse incisivamente, movendo-se para frente, ainda sentado na poltrona, conforme discursava.

– Não aceito ser chamada de mentirosa! – Megan Becker, disse, parecendo mais recomposta e segura – Eu realmente fui ao bar clandestino. Estive lá hoje, após a meia noite... Não estava lá no horário em que apontei anteriormente – ela suspirou.

– Novamente, onde você estava no horário do assassinato do senhor Smith? – Lucchesi pressionou-a.

– Eu não assassinei o senhor Smith, como o senhor detetive quase sugere. E eu também não vou lhe dizer onde eu estava no horário em que ele morreu – ela deslizou alguns dedos pela testa – Eu não posso fazê-lo. Terá que acreditar em minha palavra! Não havia motivo algum para eu assassinar Daniel Smith. É apenas uma infeliz coincidência.

– A senhorita entende o quanto está complicando as coisas, não entende? Seria muito melhor se cooperasse – Lucchesi disse, mais calmo. Estava desapontado.

– Algumas questões, senhor detetive, precisam ser deixadas de lado. Onde eu estava em tal horário é algo estritamente pessoal e, eu garanto-lhe, em nada será útil para esclarecer o assassinato de Daniel Smith – disse Megan Becker em voz clara e convincente. Lucchesi fitou-a por alguns segundos, mas ela não desviou o olhar.

– Estou inclinado a acreditar na senhorita... Embora me incomode o fato de ter mentido – Lucchesi a repreendeu – Entenda, porém, senhorita Becker, que eu procuro a verdade, e a verdade eu irei encontrar. Sua omissão pode lhe parecer inofensiva, mas cria diversos obstáculos na elucidação de alguns detalhes.

– Bom... Eu sinto muito – Megan Becker disse choramingando – Há mais alguma coisa em que eu talvez possa ser útil? Por acaso, descobriram algo sobre o meu irmão? Li no jornal que a polícia estava próxima de desvendar tudo, isso é mesmo verdade?

– Sobre isso, sim... Eu provavelmente não deveria revelar tais informações, mas não vejo outra forma de proceder sem fazê-lo – Lucchesi respondeu e Thomas o olhou curioso – A polícia está considerando o senhor Becker como um suspeito em potencial. Ninguém o viu pelas últimas vinte e quatro horas. E levando em conta as circunstâncias, seu desaparecimento é muito peculiar.

Lucchesi dissecava as feições de Megan Becker enquanto discursava. Ela movia a cabeça de um lado para o outro e fazia uma careta, como se a idéia fosse absurda.

– Não, não faz nenhum sentido... David... – ela expirou profundamente, como se tentasse organizar os pensamentos – Meu irmão não possui o sangue-frio para tal coisa. Jamais faria tal coisa e nem tinha algum motivo para matar Daniel Smith. Pelo amor de Deus, Daniel era seu único amigo. Isso é um contra-senso.

– Isso é tudo, senhorita Becker – Lucchesi cortou-a, colocando seu chapéu. Levantou-se, seguido por Thomas e pela própria jovem com quem discutia.

– Eu realmente espero que isso não seja levado a diante, minha mãe ficaria insana. Odeio ser tão direta, mas é mais lógico que David tenha sido assassinado pela mesma pessoa que matou o senhor Smith – ela continuou, enquanto andavam até a porta que dava para a varanda.

– Suas observações, senhorita Becker, são bastante apreciadas – Lucchesi disse – Eu espero confirmar o que você me disse, senhorita. E por causa disso mesmo, não há tempo a perder – ele abriu a porta – Passar bem.

Com a despedida, deixou o casarão, seguido por Thomas, que tentava alcançá-lo.

– Lucchesi, aquela informação era confidencial! Warwick irá me cortar a garganta se souber! – Thomas grunhiu.

– Thomas, não se preocupe. Todo o estado da Geórgia já considerará David Becker como um criminoso hediondo em algumas horas. Você está a salvo – Lucchesi disse, assumindo um andar mais lento.

– Bom... Vejo que você está tomando as palavras de Megan Becker como verdadeiras – Thomas observou a contragosto – A senhorita Becker já mentiu uma vez. É estupidez depositar tamanha confiança no que ela diz. E é claro que diria tais coisas do único irmão!

– Ela foi sincera, Thomas. Realmente ela acha um disparate que as suspeitas de um assassinato caiam em seu irmão. Eu tenho certeza que o homem errado será acusado – Lucchesi disse, firmemente.

– Estamos voltando à delegacia, certo? – Thomas perguntou quando se aproximavam da viatura – Preciso resolver algumas coisas e estou morrendo de fome.

– Receio que não. Eu posso te deixar por lá, mas estou indo para Unionville – Lucchesi disse, entrando na viatura policial junto de Thomas – Se divirta aturando o Warwick. Mas continue informado. E tente pensar em algo. Lembre-se, é tudo uma questão de consciência.


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Notas finais do capítulo

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