Eles escrita por ItS


Capítulo 6
Reluzentes


Notas iniciais do capítulo

Gente, estou sentindo falta de muitas pessoas... Vocês esqueceram da Fic? Tudo bem que eu demorei para postar, mas tive motivo u.u Tá, mas espero comentários de vocês, ok?
Ah, quem quiser recomendar, fará uma pessoa muito feliz. (Essa pessoa sou eu) ooo/
Não se preocupe se seu personagem não está aparecendo, é porque eu tenho muitos e preciso trabalhar com todos e cada um terá sua vez. ;D
Ps.: Coloquei um sistema de horários na Fic. (Também coloquei nos outros episódios.)



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1

Dia: 22 de março de 2047, às 9:43. Rua próxima ao mar.

Marina estava, naquela manhã, com a missão de buscar ovos para sua mãe. Ela algo que ela sempre tinha que fazer. A mãe estava fraca e constantemente precisava de ajuda para fazer as coisas. Na casa dela, quem cuidava de sua mãe era o irmão e seu pai. Eles eram uma família muito feliz. Talvez fosse esse o motivo para ela ser uma pessoa tão gentil, alegre. Era tímida, mas ainda assim tinha alguns amigos. Ela se dava muito bem com eles. Às vezes, alguns faziam gozações de que ela parecia ser pessoas de filme, onde sempre tinha aquela boazinha. Essa era ela.

Mas ela tinha, sim, seu lado negro. Não demonstrava. Mas tinha. Assim como todo mundo.

Ela estava numa rua, próxima ao mar. Era possível ouvir o shhh do mar. Ela amava isso. Amava sua cidade. Amava sua família, que por sinal era muito grande e divertida. Ela simplesmente amava os encontros familiares. Sempre rolava algumas perguntas indevidas sobre namorados, mas, na maioria, era algo extremamente divertido. Com eles, ela não era a garota sozinha e tímida. Era alguém importante. Era um membro crucial para sua família. Não que tivesse mais importância que os outros, mas somente que todos eram importantes. E ela amava isso.

Amava sua família. Amava sua vida.

Muitos jovens viviam reclamando do viver que levavam. Mas eles deviam ser coesos consigo mesmos. Todos que reclamavam eram pessoas que tinha uma renda boa, que não passava fome e que tinha uma saúde invejável. Ela fazia visitas a hospitais e sabia que vida ruim eram daqueles que tinham perdido algum membro e que tinham se tornando dependentes de alguém. A partir de dias como esses que ela passou a ver a vida como outra coisa. A sua era maravilhosa e a de vários também. Pena que as pessoas não conseguiam – ou não queriam – enxergar isso.

Cegos. – disse, e riu consigo mesma, enquanto caminhava numa calçada com rachaduras.

Ali, para seu divertimento, viu sua nova amiga, a pequena Maria. Acenou para ela. Mariazinha retribuiu gentilmente. Marina não entendeu como e por que ela estava ali, sozinha, andando para sei-lá-onde. Mas ela saberia. Correu para o lado dela. Mas a garota voltou para o beco de onde saíra. Por quê?

2

Dia: 22 de março de 2047, às 10:29. Hospital.

Quando Gustavo acordou, ele percebeu que aquela dor lancinante havia passado. Claro, ele poderia estar no céu, onde nada disso seria sentido. Mas, ao clarear de sua mente conturbada, descobriu que estava num local alvo. Alvo como o alvorecer genuíno numa manhã genuína. Além de branco, o recinto também tinha cheiro de gaze. Ah, claro, ele estava no hospital. Não estava conseguindo ligar os fatos direito; devia estar anestesiado. Isso era bom, certo?

Ele levantou o tronco e fez menção em levantar. Hesitou. O hospital estava plácido demais. E, normalmente, nenhum hospital público ficava assim. Todos eram superlotados e com falta de médicos. Mas ninguém achava isso uma surpresa. Já havia se tornado algo costumeiro em Lago das Montanhas. Por sinal, como deveria estar o bar depois da briga que acontecera ontem? Ontem? Já havia passado um dia desde que ele havia sido baleado? É, estava mesmo difícil para pensar.

Ele chamou por alguém. Logo, uma enfermeira vestindo seu uniforme rotineiro apareceu. Parecia cansada; cansada de trabalhar; cansada de viver. Ela era bonita. Cachos caindo em seu rosto num tom ruivo, olhos cor de âmbar, supercílios claros e alaranjados. Ela assentiu. Ele podia ser liberado. Mas já? Quanto tempo havia passado? Bem, Gustavo não conhecia coisas sobre medicina, mas sabia que alguém que tivera uma bala alojada nas costas não deveria ser liberado tão rápido quanto fora.

Obrigado... – agradeceu, levantando-se.

A moça riu.

Eu não diria isso... – contradisse, pesarosa – Desculpa... – era um sussurro quase inaudível. Ele não entendeu.

Pelo menos, a princípio.

Mais médicos chegaram. Estavam com caras furiosas, como se ele tivesse feito algo ruim. Mas, ei, quem tinha feito não era ele, e, sim aquele homem que atirara nele. O que estava acontecendo?

Você é um deles. – bradou um deles, se aproximando vigorosamente.

Como ele havia descoberto? Será que Gustavo era sonâmbulo e tinha usado seu poder durante o tempo em que estava de coma? Bem, ele não fazia coisa de sonâmbulos desde que estava no orfanato, quando tinha 11 anos. Gustavo se lembrava que, numa noite, havia saído de sua própria cama e ido comer alguma coisa na lanchonete. Ele não percebeu e acabou caindo numa poça de lama. Ele voltou para o orfanato. Todos estavam preocupados e, quando menos esperava, começaram a tirar sarro de seu estado. A partir desse dia, ele começou a criar uma psique introvertida.

A mudança repentina de personalidade acabou criando uma barreira entre seus colegas de orfanato. Num ano seguinte, para piorar, descobriu ser um deles. Junto dele, alguns de seus colegas também viram e acabaram contando para os outros. Logo, todos daquele maldito lugar estavam discriminando o garoto somente por poder mudar sua própria densidade. Sim, era estranho, mas, às vezes, seu poder não se resumia somente a isso. O exemplo fora em outra noite que, quando estava jantando, foi alvo de piadinhas. Acabou se irritando e partindo pra cima do colega. Eles estavam em maioria, claro. Por isso, Gustavo apanhou muito. Mas, durante os socos e pontapés, eles parecia resistir a tudo, como se fosse indestrutível. Sangue escorria de suas costas, mas ele não se importava. Não estava sentindo nada. Estava forte.

A fúria somada ao excesso de problemas acarretou uma catástrofe. Ele acabou jogando um cara contra a quina da mesa. Primeiramente, ele caiu, inconsciente. Mas Gustavo não estava satisfeito. Aproximou-se do indefeso e metralhou-o com murros e golpes fortíssimos, coisa que ele jamais tinha imaginado que pudesse fazer. Quando deu por si, observou os olhares pasmos em sua direção. Ele tinha matado seu colega. Tudo bem que eles não eram amigos, mas chegar num ponto deste era vileza demais.

Ele fugiu. Nunca mais queria ver aquele orfanato. Ele mudou de cidade e começou a morar aqui. Lago das Montanhas não era um lugar perfeito, entretanto, pelo menos, ninguém sabia que ele tinha assassinado um colega de orfanato. Aqui ele tinha uma nova vida. Aqui ele era somente Gustavo, uma pessoa comum; e não Gustavo, o assassino.

O quê? Do que você está falando? – indagou. A voz estava embargada. Ele estava com medo. O que iria acontecer com ele?

O brilho. – apontou a enfermeira, como se tentasse ajudá-lo – Foi o brilho.

Ele olhou para sua roupa. Ela estava brilhando esverdeado. O que era isso? Sua roupa (que, por sinal, era uma espécie de vestido que os pacientes usavam) estava salpicada com pinguinhos verdes fluorescentes. Era como se alguém tivesse derramado gliter nele. Era algo sutil, mas perceptível a olho nu.

O que é isso? – perguntou, referindo-se aos rútilos em sua roupa.

Sua passagem para o inferno.

E os homens o agarraram.

3

Dia: 22 de março de 2047, às 9:15. Rua próxima ao mar.

Maria estava decidia quando saiu de casa. Era de manhã. Estava com uma mochilinha; havia algumas frutas, sua roupa de banho que ela usava para mergulhar na piscina, e alguns brinquedos. Ela saiu, escondida, esgueirando-se pelos corredores de sua casa. Ela sentia-se como uma assaltante que tinha roubado algo e estava tentando se safar ilesa. Mas ela não era nada disso. Era apenas uma criança aspirando ver aquela imensidão azul denominada mar.

Segundo a internet, o mar ficava mais ou menos perto de sua casa. Talvez uns 3 ou 4 quarteirões. Isso seria comum para alguém, mas não para ela; pernas pequenas não ajudavam em caminhadas longas. Mas ela foi. Estava motivada a ver pela primeira vez aquela água. Queria até, talvez, sentir o gosto da água na sua boca. Ela, logicamente, já conhecia o sal. Bem, era de cozinha, mas, mesmo assim, ainda era sal. Contudo, o sal do mar poderia ser mais legal. Mais natural. Ela gostava de coisas naturais.

Natureza. Uma palavra que ela adorava falar.

Tchau, mãe. Prometo chegar logo. – ela disse mais pra ela do que para alguém que pudesse ouvir. Queria, de algum modo, ter certeza que voltaria bem. Mas, julgando por essa cidade, essa missão poderia ser bem difícil.

Mas ela continuou andando. Ela era pequena, mas era muito madura para sua idade. Bem, nesse caso, não. Mas, pelo menos, tinha desconfiança. Não era algo exatamente bom, mas serviria – e muito – numa situação como essa. Ela não iria aceitar balas de estranhos; não iria conversar com eles; não deixaria levar-se por qualquer papo que parecesse sublime. Ela somente veria o mar. Sua mãe nunca a levaria. Ela sabia disso. Mas precisava conhecer o mar. Era algo que sempre sonhava em fazer.

Conhecer, não. Pular no mar. Mergulhar no mar. Nadar no mar. Sentir o mar.

Queria fazer tudo isso.

Maria estava num corredorzinho escuro, sórdido e com cheiro pungente. Mas estava feliz. Continuou andando, sem perceber que a mochila estava aberta e que seu biquíni havia caído. Saiu do corredor coberto por sombras. Viu Marina ali perto. Ela acenou. Maria repetiu o gesto. Mas, agora, sentiu que sua mochila estava aberta. Ela poderia ter perdido alguma coisa. Virou para trás, verificando se não tinha deixado nada cair. Para seu desespero, o biquíni tinha caído numa poça de água. Correu para pegá-lo. Agora como tomaria banho no mar?

Agachou. Pegou as peças de roupas. Sacudiu e torceu para retirar o excesso de água. Guardou na mochila. Pegou-a de volta e colocou-a sobre as costas. Ela olhou para frente e viu um homem grande sorrindo para ela. Ela conhecia aquele homem. Era o tio que cuidava da padaria perto da sua casa. Maria era amiga dele e pelo menos lá ela podia ir sozinha. Bem, sua mãe ficava vigiando-a e sua babá vinha atrás. Mas ela comprava o pão sozinha.

O que faz aqui sozinha, Maria? – perguntou, sorrindo e ajudando-a a levantar totalmente.

Se eu te contar, você promete não contar para minha mãe? – ele assentiu – Eu vou ver o mar. – os olhos da garotinha brilharam. – Eu ia. Agora, meu biquíni está sujo. – seus olhos marejaram-se.

Não seja por isso. – ele abriu um sorriso condescendente – Lá na minha casa tem alguns da minha filha. Ela é do seu tamanho. Aposto que cabe em você.

Ela sorriu e seguiu o homem. Segundo ele, sua casa ficava no trajeto até o mar. O homem se chamava Martinho. Bem, esse era o apelido. Maria não sabia como era o nome verdadeiro. Ela sabia que ele tinha uma filha. Ela era bem legal e, pelo menos umas pouquíssimas vezes, elas brincavam de casinha.

Todos esses “acontecimentos” fizeram-na esquecer de Marina. Mas ela estava indo pela mesma direção que ambos foram. Estava somente seguindo. Não tinha nada para fazer. Tinha de entregar os ovos para mãe, mas isso podia esperar uns dez minutinhos. Marina suspeitou do homem. Mas logo percebeu que ele poderia ser de boa índole. Ela o conhecia da padaria que ficava em frente à casa de Mariazinha. Às vezes, ela comprava brioches lá. Era o local com os melhores.

Eles andaram até chegar numa casinha. Era simples, mas bonita. Marina não queria que Maria a visse. O que a garotinha pensaria dela? “Nossa, tenho uma ‘amiga’ que fica me espionando. Que feia.” Eles entraram na casa. Ela correu e ficou olhou por baixo do portão. Queria ver o que aconteceria. Eles passaram a garagem e adentraram a sala. Estavam fora do alcance de visão de Marina. Mas isso não seria problema. Ela tinha um dom. Tudo bem que ele não era o de visão de raio-x, mas serviria. Ela sabia usar seus próprios dons. Não costumava, mas sabia.

Ela retornou o tempo até a hora em que a porta ainda estava aberta. O tempo somente modificou-se naquele espaço de uns 10 m². Ela não mexia com o tempo ao redor de toda cidade. O alcance de seu poder era pouco. Tudo parecia rebobinar, como numa fita de vídeo cassete. Era legal sentir a brisa de trás pra frente e o canto dos pássaros ao contrário. Além disso, o melhor era ver pessoas andando para trás como se tivessem num vídeo do Youtube.

Agora os dois estavam entrando novamente, a porta do portão arreganhado e prestes a ser fechada. Ela teria de usar seus poderes novamente. Agora, porém, iria parar o tempo, como fizera quando estivera com Maria. Ah, é, claro, Maria também era um deles. O tempo cessou. O pause fora ligado. Agora ela podia esgueirar-se e entrar na casa para ver o que iria acontecer. Se, por algum acaso, o homem a visse, ela só era retornar o tempo. O homem teria suas memórias retrocedidas. Esse era um dos prós de seus poderes.

Ela não sabia por que estava fazendo isso. Parecia que algo dentro dela dizia para que ela fizesse. E ela estava fazendo.

Colocou o saco com os ovos na parte de terra que havia na garagem e, agora, seguiu os dois até dentro. Enquanto caminhava, viu uma gaiola com alguns pássaros. Tinha uma calopsita muito fofa, e ela acabou ficando para fitá-la. Estava escutando o cantar dos pássaros. Era muito bom. Era reconfortante. Ela podia quase dormir ali mesmo. Somente ouvindo a melodia etérea daquela criatura de penas.

4

Dia: 21 de março de 2047, às 19:05. Em frente à lanchonete.

Anne estava na multidão que assistia todos os acontecimentos envolvendo a lanchonete. O estupro, a troca de tiros, os assassinatos mútuos e, agora, a prisão daquela garota que virara uma cascavel. Que massa, pensou Anne, assistindo ao atacar da garota. E ela estava com um pouco de inveja, talvez. Ela tinha poderes também, mas ela queria algo mais determinado, explícito. O dela era com coisas que mexia com a cabeça. Coisas parecidas com ilusões. Talvez pudessem ser. Mas eram coisas limitadas. Não podia simplesmente fazer a pessoa imaginar que estava num cruzeiro de luxo. Eram coisas mais contidas. Talvez não quando se referia as suas sombras.

Esse, sim, era um poder bom.

Ela podia tanto mesclar-s parcialmente a elas, como controlá-las. Não podia usá-las como telecinese ou criar monstros feitos de “nada”. Mas podia estender a escuridão, aumentar, cortar, criar feixes, atrapalhar a visão, esconder-se. Isso era no sentido mais físico. Ela também podia trazer as sombras num sentido mais psicológico. Sombras, pesadelos, sonhos. Tudo na cabeça de uma pessoa. Fazendo-o ficar confuso, enxergar uma maré de penumbra, engolindo-o, digerindo-o, matando. Ou mesmo, mergulhar nos sonhos e pesadelos alheios. Fazê-los piores ou somente vê-los.

Ela gostava de fazer coisas assim. Já tivera feito com seu próprio pai e com seu ex-namorado que acabara sendo atropelado por uma moto. Ele tinha terminado com ela. Ela odiava que caras terminassem com elas. Afinal, ela era bonita. Era um roqueira desejada por muitos. Porém muito explosiva; imediatista. E, quando, soube que tudo havia acabado entre ela e o garanhão do colégio, não bastou muito para a mente do rapaz ser enevoada por pensamentos cruéis. Ele gritava, segurando as têmporas, massageando-as. Falava coisas sem sentido. Enquanto isso, Anne ria. Era engraçado aquilo. E ele foi atropelado por uma moto. Não morreu, só tivera um braço quebrado e ganhado medo daquela garota medonha.

Medonha, mas legal. Essa sou eu. Tenebrosa e divertida.

Mas agora, ver aquilo tudo... Era extremamente triste. Tristeza era uma palavra que definia exatamente aquilo tudo. Não devia, mas acabou gritando com os policias quando prendeu a garota-transmorfa. O policial a repreendeu. Quase algemou-a, se não fosse um garoto bonito de cabelos brancos – obviamente tingidos, era nítido – e com um piercing no lábio inferior. Ele estava do lado de uma garota loira, cabelos desgrenhados devido à movimentação das pessoas.

Obrigada por me salvar... – agradeceu. Daniel, esse era o nome do garoto, tinha dito que ela não tinha nada a ver. Que aquilo fora motivado por reações psicológicas de cérebros que ainda estão tentando decodificar as imagens que viram. E que, por isso, ela tinha dito aquilo. Algo sem pensar, sem ponderar. Não devia, mas aconteceu.

Era um papo nerd. Ela não gostava muito de nerds, mas ele a salvara. E era bonitinho. Bonitinho, não. Estilo e gato. Mas a garota que estava do lado dele poderia ser sua namorada. Talvez o início de um relacionamento. Ela perguntou.

Não, somos só amigos... – a garota respondeu, apelido: Lucy. É, aquela era uma frase inoportuna. Mas isso era comum na vida de Anne. Ela era muito direta e tinha sinceridade demais. Vivia deixando pessoas sem graça e em maus lençóis.

Caso você queira, eu estou só. – disse, brincando, mas, como se deve imaginar, com um fundo bem grande de verdade.

Ele não respondeu. Estava olhando deliberadamente para o alto. Algo parecia cair. Algo que brilhava. Como estrelas menores e bem mais brilhantes do que vistas lá do céu. “Estrelas cadentes” seria o certo; afinal, os brilhos caiam. Caíam e caíam. Em algumas pessoas o brilho não reluziu na roupa, porém, em outras, o brilho resplandecia pungentemente. Ela, Daniel e Lucy eram uma das pessoas que estavam com roupas brilhando. Roupas de um baile macabro.

Roupas cintilantes.

Brilho.

5

Dia: 22 de março de 2047, às 9:57. Casa de Martinho.

Estavam no quarto da garotinha quando tudo aconteceu. Martinho agarrou Maria e começou a rasgar seu vestido de seda com um lacinho na parte superior. Ela tentou usar seus poderes para, sei lá, congelá-lo. Mas não funcionava. Ela estava tocando o homem, o que era suficiente para ativar sua habilidade de cristalizar as coisas. Ela podia deixá-lo brilhante e frio, como o material que criava, mas algo estava impedindo-a. E, como se o homem lesse seus pensamentos, ele disse:

Não adianta tentar fazer o que você pretende. Eu também sou um deles. E o meu poder é justamente o de cancelar os dos outros. – ele mantinha um sorriso sarcástico e malicioso. Deleitava-se com as lambidas que fazia no corpo branquinho da pequena Maria.

Ela nem tentou gritar. Somente deixou tudo acontecer. Ninguém iria escutá-la, percebeu logo de cara, pois as paredes eram grossas demais e eram afastadas das outras casas. Ali, na casa, a filha não estava. Ele não tinha esposa. Era divorciado. Maria tinha ouvido sua mãe conversar com a vizinha. Mas a filha dele morava lá. Será que...? Não. Tadinha dela. Ela devia ser estuprada constantemente. Maria não gostava disso. Estava odiando. Estava sentindo a raiva tomar conta dela. Ela começou a gritar. Não de medo, asco ou apreensão. Mas de raiva. Raiva por ele manter a própria filha somente para ser estuprada. Isso com certeza devia ser verdade.

Agora mais do que tudo ela queria matá-lo. E tentaria. Assim que tivesse a chance.

Reze, Tio Martinho, reze para continuar vivo caso você me solte daqui.

Mas a pergunta era essa: ele soltaria a garota? E se não, será que ele a mataria?

Maria torcia que não. Ainda queria matá-lo e, acima de tudo, ver o mar.


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Notas finais do capítulo

Espero comentários. As vagas ainda estão abertas e, volto a dizer, quem quiser recomendar, por favor u.u