Eles escrita por ItS


Capítulo 5
Vítimas


Notas iniciais do capítulo

Gente, desculpe a demora. Tive alguns problemas aqui. O episódio mesmo já estava feito há um tempão, eu só não tinha como postar.
No mais, espero por comentários, ok? E, se possível, recomendações! oo/
Ps.: Modifiquei a sinopse e a capa.



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1

Dia: 21 de março de 2047, às 10:07. Casa de Maria.

Por favor, mãe, me leva pra ver o mar! – insistiu a pequena Maria. Ela começara a insistir nisso após a sua nova amiga, Marina, acabar comentando de como ele era bonito. Marina não queria atiçar a garota, falara isso somente na inocência; sem saber nos resultados que isso estava causando na família de Maria – Por que eu não posso ir?

Maria já sabia a resposta, mas mesmo assim insistia. Ela não concordava com isso. Humanos podiam ir ao mar e eles, não? Por que o mundo era tão injusto assim? Maria não tinha culpa de ter nascido podendo cristalizar/congelar, seja o que fosse aquele material. Ela apenas podia. Às vezes, sonhava que estava num mundo criado por ela. O local era luzidio; repleto de pessoas que brincavam umas comas as outras. Mas pena que era somente sonho.

Você sabe, Maria. As pessoas podem descobrir que você é um deles. – contrapôs sua mãe, que, teoricamente, havia encerrado o assunto. Não para Maria.

Tudo bem...

Ela foi para o quarto. Era só uma criança. Sim, entendia que não deveria fazer o que ia fazer, mas ela ia; disso tinha certeza. Afinal, as crianças normais desobedeciam aos pais. E ela era uma criança normal.

Bem, até certo ponto.

2

Dia: 02 de março de 2047, às 08:20. Clínica.

Alguns cientistas da grande cidade de Lago das Montanhas trabalhavam com a ajuda de especialistas em diversas áreas. O projeto que aspiravam era algo muito, muito revolucionário. A princípio, segundo eles, isso seria o primeiro passo para o programa que arrecadaria a maior quantidade de dinheiro em menos tempo. Eles trabalhavam para o governo, assim como em todas as outras cidades, estados e países. Todos – somente os normais – estavam mirando esse novo projeto. A ilha para isso já fora construída. Agora só precisava dos peões daquele jogo de xadrez.

3

Dia: 20 de março de 2047, às 21:14. Casa de Isaac.

Essa ideia é muito radical, Isaac. – reagiu com rispidez Barbara, a mulher do prefeito de Lago das Montanhas – Isso pode acarretar consequências avassaladoras. – argumentou.

Eu sei que pode. Mas isso não é um tiro no escuro, como você se refere. Os governos de todo o mundo estão levando esse projeto a sério. – contrapôs – Os resultados serão lucros incomensuráveis.

Você achar isso. Mas já parou para pensar se a população gostará de ver isso? – indagou, nervosa; as mãos alisando o cabelo constantemente – Além do mais, não sabemos se isso irá funcionar.

O funcionamento já está fora de questão. Houve alguns testes e todos seguiram perfeitamente bem. Agora, sobre a outra indagação, somente saiba que todos, inclusive eu, odeiam eles. E esses “eles” não podem fazer nada contra um exército e tecnologia de ponta, correto? – perguntou, retoricamente. Barbara não iria responder; não estava gostando dessa ideia – O projeto já está em andamento e, segundo meu secretário, não demorará mais que uma semana para sair do papel. – os olhos deles brilharam de júbilo; Barbara revirou os seus – É, não vejo a hora de isso começar.

4

Dia: 21 de março de 2047, às 18:52. Em frente à lanchonete.

A polícia de Lago das Montanhas estava ocupada demais naquela tarde. Parte dela tivera de resolver um caso de um garota que presenciara uma invasão em sua própria casa e, o pior deles, reféns numa lanchonete no centro da cidade. Ainda tinha outros casos maiores, como o morticínio devido uma briga entre normais e aberrações; e também os incêndios, roubos, assaltos, seqüestros e qualquer coisa que constantemente acontecia naquela cidade que, um dia, fora ótima para se morar.

Nesse dia ainda não tinha o conhecimento sobre eles, as aberrações.

Uma massa se concentrava na frente da lanchonete. Os famosos curiosos. Eles sempre atrapalhavam o andamento de questões assim. Mas isso não fora um problema: os policias logo interditaram o local. Um dos que fizeram fora Luke. Era aquele policial desejado por todas. Corpo atlético, barba por fazer, cabelos bagunçados, mas que, mesmo assim, trazia um ar imponente para o jovem de vinte e poucos anos.

Enquanto retirava as pessoas de perto, ele acabou reparando numa garota de cabelos loiros, que, do mesmo modo, o olhou, tímida. Eles sorriram um para o outro. O garoto menor que estava ao lado da menina pareceu não gostar. Um furor proveniente do olhar furioso do garoto acertou Luke. Ele não se importou. Não se importava muito com garotos que tinham suas garotas fisgadas por aquele seu corpo viril. É, isso era bem comum na vida dele. Sua atenção ínfima foi trazida para o interior da lanchonete.

Tiros ocorreram.

5

Dia: 21 de março de 2047, às 18:53. Dentro da lanchonete.

Bruno e Daniela estavam absortos em seus próprios pesadelos. Um possível SEPT poderia estar acontecendo com eles. Estavam nus, somente enrolados nos panos das mesas. Os olhares focalizavam neles dois, os mais novos não-namorados-estuprados-numa-orgia. Daniela riu com esse pensamento. Estava procurando algo para rir, mesmo que isso fosse resultado de sua própria humilhação. Porém, aqueles risos forçados cessaram. Um tiro ecoou na sala abafada pela tensão e alaranjada à luz agonizante do sol que se esgueirava pelos vidros embaçados por mãos.

O estampido fora ensurdecedor. E assassino para um dos reféns. Ele, agora, jazia, morto; olhos estourados. Daniela recobrou a consciência e chorou. Chorou alto, assim como muitos dali. A metralhadora continuou a disparar.

Pou. Pou. Pou. Pou. Pou.

Um, dois, três, quatro, cinco mortos.

O acontecimento deixou os policias aturdidos. Daniela pensava – e tinha que acreditar – assim. Eles estavam parados, armas a postos, mas sem serem usadas. O homem virou para ela. Sussurrou algo entre: “Vamos matar todos; afinal, esses policias vão nos prender ou fazer qualquer coisa pior.” Ela se viu entre a vida e a morte. Bruno, que, agora, jazia ao seu lado, fora uma das vítimas dali. Ela estava pasma com tudo. Mas ela tinha que fazer algo. Não poderia simplesmente morrer ali. Então, concentrou naqueles átimos que pareciam uma eternidade e tentou usar os poderes.

O alvo fora modificado.

Não, ela não o fez errar. Somente mudou o foco. Agora ela seria a última a ser assassinada a sangue frio. Esperava isso. Ela não estava invisível para os homens, mas eles não estavam focando mais a garota. O poder dela era basicamente isso. Inútil, ela sabia, mas pelo menos estendeu sua vida. Ela aproveitou para repassar toda sua vida. Ela não teria muito tempo. Talvez, se aqueles malditos policias agissem mais rapidamente, ela poderia ter sido salva.

E ela foi.

Os policiais chegaram atirando. A maioria era jovem, reparou Daniela. Talvez fosse esse o motivo para a demora em agir. É, estagiários eram horríveis. Ela mesma fora uma péssima. Trabalhava numa loja, atendendo clientes chatas e de nariz em pé. Tinha que ficar sorrindo mesmo quando elas diziam que só tinha coisa feia e que a atendente – ela – era feia e que não sabia nada de moda.

Você está bem? – perguntou um jovem policial. Ele era muito lindo e agora, a ajudava a levantar, apoiando seus braços nos ombros fortes dele.

Ela não conseguiu responder. Somente ficou fitando os últimos sobreviventes daquele tiroteio: ela, uma garota jovem, um adulto e dois idosos. A garota jovem parecia estar convicta e saíra sozinha. Estava até com um sorriso no rosto. Gabava-se por ter lutado um deles. Mas como? Daniela não tinha visto nada. Mas, reparando bem, ela conseguia enxergar um homem caído. Ele estava balbuciando, babando, falando coisas desconexas. Estava tudo normal, fora a mão inchada. Ela estava arroxeada e parecia inflamada. Como se tivesse sido picada por algum tipo de cobra. Mas ali não tinha nenhuma cobra. Ou tinha?

Prendam-na. – ordenou o que devia ser o chefe – Ela é uma aberração. Ela matou um homem.

O homem se referia àquela garota. Mas Daniela não entendia o que estava acontecendo. Os policias tinham matado os outros caras. Mas um deles não poderia ter feito isso? Era isso mesmo que ela estava entendendo? A garota tentou reagir, chutando os homens. Ela ameaçou se transformar em algum tipo de felino e atacar, mas fora interrompida por uma pistola de choque e, posteriormente, por uma espécie de bracelete.

Isso, meu povo, é um dos novos meios de se combater essas aberrações. – disse em tom elevado, para que todos pudessem ouvir – A partir de agora, qualquer aberração que for pega usando seus poderes para o mal, será presa. – A frase rendeu muitos aplausos e perguntas.

Mas para onde serão levados?

Por que tomaram essa decisão somente agora?

Por quanto tempo eles ainda vão acabar com nossas vidas?

Como vocês acharão os outros. Isto é, os que ainda estão escondidos na sociedade?

Vocês verão, meu caro povo. E em breve. – respondeu a última pergunta.

6

Dia: 22 de março de 2047, às 17:44. Casa de Joana.

Joana parecia calma, mas estava apreensiva e ansiosa. Estava com medo de tudo que tinha acontecido, mas, por sorte, a polícia havia encontrado sua casa e já estava com ela, amenizando os ânimos exaltado da garota que tivera de enfrentar um homem mal encarado e que podia transformar paredes em pó somente com o toque. Agora, porém, os policias revistavam a casa inteira. Nada do homem troncudo, segundo a descrição da garota de psique mimada. Os policiais não encontraram o homem, mas, em troca, acharam algo que era útil naquele momento para o governo. Um imenso buraco na parede. Ninguém conseguiria fazer aquilo.

A não ser que fosse um deles.

Você é um deles, não é? – perguntou, o bracelete na mão pronto para ser posto na garota.

Ãn? Do que você está falando? – indagou, temerosa.

Não se faça de boba... – e socou a cara da garota. Ela caiu, desnorteada. – Usem o pó. – mandou. Logo, outros estavam jogando um pó no corpo da garota. Ela começou a brilhar. Aquilo era a prova de que ela era um deles. – Não se preocupe, pequena garota – continuou, colocando o bracelete na garota –, tenho certeza de que esse acessório combinará perfeitamente com sua nova roupa.

7

Dia: 21 de março de 2047, às 18:32. Arredores da pensão onde Gustavo mora.

Gustavo morava perto de um barzinho onde a maioria que frequentava eram as famosas aberrações “assumidas”. Por este motivo, o bar não tinha uma fama muito boa; pelo contrário, era ameaçada constantemente e, em algumas vezes, fora vítima de assaltos e pichações. Algumas destas diziam: “Fora, bando de aberrações.”; “Deixem-nos viver em paz.” Algumas tinham palavrões e, é claro, muitos erros ortográficos. “Vão para o inferno, bando de infelises.”; “Voçês não meressem viver. São mostros.”

E, naquela tardezinha até então plácida, o estopim de uma briga maior começou.

Tiros vieram do lado de fora. Gustavo, que morava numa pensão de dois andares, fitou todo o acontecimento. Era um bando de jovens normais que portavam armas, tanto brancas quanto de fogo. No bar, os mutantes começaram a se abaixar. Alguns fugiram, mas alguns reagiram. Os que tinham poder de ataque atacaram, os que tinham defesa defenderam. Foi uma briga de fagulhas, tiros, xingamentos, calúnias e outras coisas.

O garoto estava vendo tudo aquilo. Não estava com medo. Não estava participando da briga mesmo. Porém uma bala perdida veio em sua direção. Ele percebeu isso, pois, antes mesmo de atirar, o homem mirava ele, como se quisesse atrair mais confusão para o que já acontecia. Afinal, isso não parecia ser bem uma bala perdida.

Dado o momento, o garoto tivera de ativar seus poderes. Não gostava de usar. Os motivos estavam explícitos, mas aquilo era estritamente necessário. E ele fez. A densidade do seu corpo começou a alterar. Ele ainda não sabia controlar muito bem suas habilidades, mas sabia que, se concentrasse bem, poderia se tornar intangível e, assim, deixar a bala atravessar seu corpo. Ele ainda não tinha testado isso antes, contudo, essa fora a hora em que ele faria.

A bala percorreu o trajeto, cortando o ar. Ela atingiu o corpo do garoto e atravessou. Bem, pelo menos parte dele. A bala ficara alojada nas costas, pois, como poderia – e aconteceu – ter acontecido. Ele não sabia controlar o tempo em que se mantinham assim, e isso fora a consequência. Ele deixara de ser intangível com a bala ainda dentro de seu corpo.

Ele agora chorava.

Chorava e gritava. Chorava e gritava.

Alguém da pensão o ouviu. Correu até o garoto e o viu ali, na sacada, deitado, inerte, chorando, gemendo. O homem fora chamar uma ambulância. Gustavo ouviu ele ligando e conversando com alguém. Agradeceu pelo gesto que salvaria sua vida. Mas o agradecimento seria somente do momento. As consequências que viriam faria Gustavo ter pedido para ficar ali, sozinho e ser deixado para morrer.


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Notas finais do capítulo

A partir desse episódio, começaremos a "verdadeira" trama central da primeira temporada.