Eles escrita por ItS


Capítulo 14
Clandestinos


Notas iniciais do capítulo

Gente, sinto muitíssimo pela demora. Eu estava viajando e lá não tinha internet ;/
Mas eu não desisti.
Bem, esse é o penúltimo episódio da Fic, mas fiquem tranquilos: haverá uma segunda temporada.
Quero agradecer muito a recomendação do Tomoyo Dayjou. Fico feliz em saber que tenho leitores que não tem personagens da Fic ^^
Portanto, everybody, já vão pensando nas fichas. Eu adicionarei algumas categorias à ficha, mas será praticamente igual.
No mais, até o próximo e último episódio desta primeira parte da Fic.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/444544/chapter/14

1

Dia: 22 de março de 2047, às 19:59. Casa de Julia.

Julia e Fernanda tinham ficado ali desde a manhã. Tinham enfrentado alguns tiras, mas, no fim, conseguiram manter-se em sigilo e despistar os homens que as perseguiam. Elas ficaram vendo filmes, mexendo no celular e, quando os pais de Julia chegaram – muito eufóricos por sinal –, elas contaram tudo. Eles ficaram boquiabertos devido à repercussão que mutantes x normais estavam causando. Claro, eles não gostaram de saber que a filha era um deles, mas tiveram que aceitar. Gostaram menos ainda em saber que Fernanda, a filha de Lúcio, um famoso empresário, estava ali. Julia, por outro lado, pensou que poderia se aproveitar disso. Poderia ficar amiga da garota e, assim, chegar a seu padrasto e, quem sabe, seduzi-lo até conseguir tudo o que queria.

Vocês não podem ficar aqui. – disse o pai. Ele aspirava à saída de Fernanda, que poderia causar muitos problemas caso fosse pega. E, de brinde, expulsaria a outra menina de casa. Ele não era muito fã dela. Agora ainda mais; visto que, descobrira que ela é uma aberração. Sim, uma aberração e não um “deles”.

Por que, pai?

Eles podem voltar aqui. – interveio a mãe, complacente.

As duas assentiram. Elas iriam fugir dali. Arrumaram uma mochila, abarrotando-a de roupas e comidas não perecíveis. Elas levariam um celular para caso precisassem ligar para pedir alguma coisa. Fernanda pegou algumas roupas. Não era muito a cara dela, mas ela não queria ser chata. Principalmente num momento onde não necessitava de nada sobre moda ou futilidade. Ela pensava em voltar para sua casa. Mas, dada as circunstâncias, era melhor ela esperar mais um pouco. Ela já ligara para os pais – ouvira uma bronca nada agradável – e disser que, mesmo contra a vontade da mãe, ficaria mais tempo na casa de sua “amiga”. Bem, pelo menos isso estava sendo uma verdade. Em partes.

Elas andaram na penumbra. O pai de Julia nem se importou com o fato de deixar uma garota andar pelas ruas perigosas de Lago das Montanhas, a capital de Bágeli. Ele pensava que, se o governo a queria longe devido seus poderes, ela poderia se cuidar sozinha. Poderia usar aquela merda de dom para fritar ou sei-lá-o-quê com as pessoas que tentassem fazer algum mal a elas. Elas ficariam bem. E, se não ficassem, que seja. Ele poderia fazer outra filha rapidamente. Não gostava mesmo dela. Era uma puta que não conseguia arranjar alguém rico para se casar. Nem para isso ela servia. Puta e burra. Que ótimo. Uma filha assim. Puta, burra e fora da lei.

Enquanto as garotas palmilhavam a esmo – Fernanda ainda pensava na possibilidade de alugar algum tipo de hotel para que elas ficassem por um tempo –, elas ouviam gritos. Eram femininos, depois, após algumas explosões e barulhos do crepitar de fogo, passaram a ser masculinos. Ali, bem em frente a elas, num beco que flanqueava dois grandes prédios com apartamentos ralés para se alugar, coisas estavam acontecendo. Fernanda ficou tentada a ir lá e ver. Porém, com Julia como um empecilho dizendo deliberadamente para que ela não fosse, Fernanda hesitou. Realmente poderia acontecer alguma coisa.

Foi então que elas viram policias correndo em sua direção.

2

Dia: 22 de março de 2047, às 14:49. Ilha.

Alexei percebeu que os outros estavam dormindo. Luke, não. Ele provavelmente estava de guarda. Fingindo, pelo menos – Alexei não acreditava que ele fosse capaz de fazer algo assim, mesmo que ele fosse da polícia –. Agora com certeza era o ensejo perfeito. Seria agora que ele tocaria em algo duro para, então, assumir a composição e, assim, esmigalhar aquela cabeça pútrida. Seria bem fácil. Ele olhou em volta a procura de algo que pudesse servir. Tinha uma pedra. Parecia ser dura o suficiente para esmagar a cabeça de alguém. Ele a pegou. Sopesou-a. É, servia. Ele passou seus dedos sobre ela. Alisou-a, até sentir suas células serem trocados por alguma coisa intensa. Elas estavam se petrificando. Como uma vítima ao olhar para os olhos da medusa. Mas, nesse caso, a petrificação significava coisas boas. Significava morte.

Ele decidiu avançar. Iria matá-lo e, antes que seus amigos pudessem acordar, fugiria para longe. E dane-se a água. Ele arranjaria em outro lugar. Com seu corpo adornado em pedra, ele correu como um touro. Esmagou os gravetos e folhas que se postavam sob ele. Corre na direção do rapaz que tinha aspecto completamente exaurido. Ele era um alvo muito fácil. Quando estava alguns centímetros de dar um chute ou jogar sue punho contra o rosto dele, teve a sensação de que estava flutuando. Flutuando, não. Caindo. O chão não estava mais embaixo dele. Agora ele estava caindo. Caindo para a boca de um abismo. Tudo que o rodeava era sombras e escuridão. Só existia isso. Ele iria morrer.

O que está acontecendo? – perguntou Joana, sonolenta.

Esse cara tentou atacar o Luke – informou Anne, com as sobrancelhas franzidas –. Mas eu parei ele. – contou, com ar de quem gaba-se – Ele está sob o efeito das minhas alucinações.

Daniel estava tentando entender a situação. Por que aquele garoto queria atacar Luke? Poda ser um canibal, um psicopata com sede de sangue, ou algum tipo de tentativa de vingança. Talvez os dois se conhecessem.

Você conhece ele, Luke?

Luke o fitou bem. Era um rosto familiar. Estava difícil de identificar devido a magreza, as olheiras, as roupas imundas, a pele queimada e os arranhões. Mas ele ainda reconhecia. Só podia ser Alexei. Aquele maldito cara que arranjara briga com ele muitas vezes, motivado por ciúmes de sua namorada, Patrícia.

Sim. – respondeu – Alexei.

Anne avisou que iria deixá-lo. As alucinações cessaram. Alexei já estava com o corpo normal, pois tinha perdido o domínio sobre seu cérebro e, assim, deixara escapar seu poder. Agora estava fraco e vulnerável, sendo observado por cinco pessoas. Mas, ei, o que Alexei estava tentando fazer ali? Ele estava com a cabeça muito bagunçada. As coisas pareciam que tinham perdido o sentido por um instante. Então se lembrou. Ele tinha tentado matar Alexei. Mas por que não terminara? O que tinha acontecido com o chão? Por que ele desaparecera?

Foi você quem matou a Patrícia?

An? Como assim? Do que está falando?

Não se faça de desentendido, Luke. Estou perguntando se você matou a Paty. A minha Paty. – as mãos sobre o peito indicando posse.

Não, cara. Eu não fiz nada. – defendeu-se, confuso – Nem sabia que ela estava aqui.

Alexei não estava acreditando muito. Mas não podia fazer nada. Eram muitos contra ele. Alexei era forte, mas não seria páreo para cinco.

Ela está morta.

Joana pensou consigo mesmo: “Claro que está. Você acusou ele de assassino.” Mas dizer isso em voz alta seria mais um estopim para qualquer tipo de confusão. Era melhor ela guardar para si mesma.

Sinto muito. – disse Luke, seguido por condolências dos outros, com ênfase para Daniel e Gustavo, que faltaram fazer um discurso sobre o lugar onde estava e que ele era realmente bom e coisa parecida. Daniel não acreditava muito nisso, mas sabia que isso apaziguava os nervos. E coisas assim eram necessárias, mesmo que ele acreditasse veementemente na ciência e discordasse de tudo ligado a religião.

Vocês têm água?

Luke assentiu e entregou algumas gotas aéreas para ele. Viu o estado em que o rapaz se encontrava e depois observou aos outros. Todos estavam fracos, com aparência frágil, cabelos quebradiços e pele débil. Isso tudo em questão de um ou dois dias. Recordou-se do sorriso encantador de Patrícia. Aquela ilha era realmente um inferno. Será que um dia eles conseguiriam sair disso? Será que as coisas ainda iriam piorar?

Luke não sabia, mas, pelo céu, alguns helicópteros viriam em busca da morte deles.

3

Dia: 22 de março de 2047, às 20:15. Ruas quaisquer da cidade.

Isabelle não podia fazer nada. Aquele era seu fim. Provavelmente. Afinal, o que uma garotinha surda e frágil poderia fazer contra uns 6 homens encorpados e com a mente enevoada com drogas? Ela, no máximo, poderia correr e desligar a energia que circundava a mesma. Os poderes dela nunca foram bons para combate. Serviam mais numa parte teórica. Mas, ali, com homens provocando-a, zombando dela, isso não seria de utilidade alguma. Não que criar uma rede social que viciara todos fosse algo de extremo grado quando poderia ser o dom da sobrevivência ou da cura.

É, cara, acho que hoje a gente não vai precisar fazer troca-troca... – disse um deles. Uh, que nojo, pensou Isabelle, serei estuprada por homens que ficam trocando. – Temos uma boceta a nossa espera.

Eles avançaram. Desesperada, a garota levantou as pressas, deixando sua mochila de lado e, cambaleando, correu para o lado do beco na direção oposta a qual eles vieram. A escuridão era límpida, isenta de luz e esperanças. Alguns fios frígidos de luz ainda rasgavam a penumbra, mas, naquele dia, a lua parecia não se importar em brilhar com todo seu resplendor de costume. Mas Isabelle não estava ligando para isso. Corria sem direção alguma; corria em busca de alguma proteção efêmera. Algo que pudesse dar os segundos preciosos para que ela conseguisse algum tipo de ajuda. Entretanto, diante do frenesi de seus pés e da corrida veemente dos homens, a garota caiu. Temerosa em quantidade gigante, bradou por ajuda. Seus pés pareciam entorpecidos e seus músculos, estuporados.

Merda!

Ela recuou, a bunda arrastando no chão frio e sujo. Os homens vinham aproximando, assim como um leão faz antes de abater suas vítimas. Todos mantinham olhares maliciosos, desejosos. Queriam porque queriam aquela garota. Queriam deleitar-se com o corpo em desenvolvimento da jovem. Queriam senti-la. Tocá-la. Beijá-la. Queriam fazer tudo que faziam com eles mesmos. Na verdade, aqueles seis homens tinham saído de uma clínica de reabilitação. A fuga acontecera devido a um incêndio provocado por alguns mutantes e, aproveitando a situação, os seis fugiram. Estavam lá por que eram viciados em drogas, mas, acima de tudo, em sexo.

Por favor, não façam nada comigo – implorou, gemendo. – Se vocês quiserem, meus pais podem pagar um resgate. – Ela já estava chorando, soluçando de medo.

Vendo que não iriam aceitar a proposta, a garota reergueu-se e tentou correr, porém, para seu azar, um dos caras já havia chegado próximo o bastante para agarrar-lhe. E, feito isso, ela começou novamente a gritar. Em pânico, pedia socorro e tentava rezar enquanto isso. Por favor, pediu ela, não deixe que eu fique nas mãos desses canalhas. Ela já estava convicta de seu destino, quando, por algum tipo de milagre, uma garota apareceu. Aparentemente, ela era tão inofensiva quanto Isabelle. Tinhas cabelos curtos e castanhos. Era possível distinguir isso sob o tênue fulgor emitido pelo globo lunar. Ela gritou para que parassem e, após alguns segundos, outra garota – esta sendo maior que a primeira – e um garoto – muito bonito, diga-se de passagem – emergiram em meio às sombras que lambiam a cena hedionda.

Larga ela – repetiu o garoto. – Não ouviu a garota? – perguntou, sarcástico.

Como se fossemos ouvir uma criança e um adolescente que se acha polícia. – escarneceu o que segurava Isabelle – Dêem o fora antes que sobrem pra vocês.

Eles refutaram ao pedido quase generoso. Isabelle não estava entendo a situação. Por que dois adolescentes e uma criança tentariam salvá-la? Era mais fácil eles correrem, ou mesmo serem pegos como ela. Mas, de qualquer maneira, a garota estava com a fé um pouco mais expandida, quase como uma beata que insiste em aparecer todo dia na igreja. Isabelle olhou os três. Seus inimigos tinham o dobro de número e, sem querer subestimá-los, deveriam ser mais algozes e destruidores do que os adolescentes. Logo, a chance deles vencerem uma possível batalha era homeopática. Quase nula, ela diria. Todavia, Isabelle não tinha reparado se os homens portavam armas. E, para seu medo, tinham. Não eram de fogo; eram facas e canivetes.

Não queremos ferir ninguém – riu-se um dos homens, lambendo o canivete. – Mas eu não me importaria de fazer um assado de vocês. – Seus olhos fervilharam.

Assado – refletiu a menor dos jovens. – Eu posso ajudá-los a preparar.

Isabelle vislumbrou tudo. Desprevenida claramente, a garotinha correu sem suporte algum. Contava apenas com as sapatilhas de cor indefinida que faziam um barulho quase confortável. Atrás, o garoto mais velho riu-se consigo, e, sob a luz da lua, seus olhos pareciam fazer o mesmo, um sorriso brincando em seu rosto, irônico e mordaz. A garota maior, por sua vez, parecia ansiosa, angustiada. Com medo, talvez. Parecia ser a mais prudente dentre os três. Revirando os olhos para a cena principal, Isabelle entreviu, primeiramente, uma luz ofuscante insurgindo da mão direita da garota. Logo, a luz transformara em um foco ígneo, que fora disparado contra um dos homens que projetava-se contra ela. A camisa ficara chamuscada e, com certeza, o homem perdera a vida. Afinal, não é nada explícito descobrir que, com uma bola de fogo atravessando sua barriga, você viesse a morrer.

Porra! O que foi isso? – indagou o que segurava a garota, mostrando os dentes e pingando de medo.

Ela deve ser um deles – informou outro. – Temos que...

A frase foi decepada. Assim como sua cabeça. O sangue jorrou aos pés de Isabelle quando uma espada, surgindo do nada, tracejara uma linha no ar e degolara o alvo. Após ela absorver os acontecimentos, descobriu que a arma viera de um vórtice que pairava em pleno ar. Não era nada tecnológico ou um holograma, percebeu ela. Devia ser real. E era real, confirmou ela após ver uma outra espada saindo de lá e caindo exatamente na mão do garoto mais alto. A garota que estava ao seu lado estava apreensiva e, quando o jovem pediu, ela desapareceu. Simplesmente desaparecera precedida de uma distorção de luz, que poderia até fazer analogia a alguns programas editores de imagens que mexiam com a pixelagem.

Do nada, a garota reaparecera. Só que, agora, estava ao lado de Isabelle e, com uma faca que tinha sido dada pelo seu parceiro, cortou a mão do homem que a segurava. Ele gritou e, como estava totalmente vulnerável, correu. Como ele, os outros três fizeram o mesmo. Isabelle desabou no chão, mas fora acudida pela garota que teleportava. Ela emitia alguns sussurros e, rapidamente, os outros dois apareceram. Isabelle levantou-se, a cabeça latejando devido a todo o acontecido.

Minha mochila – apontou ela na direção do contêiner onde estava escondida. – Preciso dela. – A garota que se telelportava o fez e, em questões de átimos de segundo, ela já estava lá, segurando a bolsa de Isabelle. – Obrigada – agradeceu, calma. – Mas por que vocês me ajudaram?

Antes que qualquer um pudesse responder, uma sequência de gritos soaram, assim como estampidos. Altos e claros, os barulhos seguiram-nos até ali, naquele beco sujo e espurco. Na frente, duas garotas corriam. Medrosas e temerosas, gritavam e pediam socorro. Uma parecia estar mancando, e, daquela perna, um líquido vermelho e viscoso dimanava profusamente. Diego pensou que, se aquela garota não fosse imediatamente para o hospital, ela corria o risco de morrer. Mas, afinal, quem eram elas duas? E por que estavam gritando feito loucas? A pergunta foi respondida quando, em meio ao caos, os policiais porejaram da escuridão. Todos tinham armas potentes, reparou Diego, que conhecia muito bem todos os tipos de armas de fogo, visto que ele fora treinado durante um bom tempo no exército.

Ajudem a gente. – suplicou a garota que mancava e sangrava. Ela tinha sido acertada por uma bala lançada pelos policiais.

Vamos – disse Diego, sinalizando com a mão –, precisamos fugir daqui se quisermos não ser presos.

E, com ajuda dele e de Marina, Julia foi carregada até algum local afastado. Durante a caminhada dos clandestinos, todos ficaram sabendo o que era necessário naqueles tempos: eram mutantes, e, por isso, precisavam ficar escondidos do Estado. Assim, todos decidiram se esconder aonde Diego vinha morando. Era numa casinha alugada que ficava dentro da floresta, próxima a casa de Maria. Era um lugar remoto e livre da poluição do centro. Livre também do barulho e das preocupações diárias que se baseavam, em sua maioria, no trabalho. Ali, durante as últimas horas daquele dia conturbado, os seis jovens dormiram lá. Dormir não parecia ser a palavra correta; afinal, quem conseguiria dormir sabendo da calamidade que Lago das Montanhas, a capital do grande país de Bageli, vinha enfrentando?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Antes que eu me esqueça, quero avisar que na outra parte da Fic, não será necessário ler a primeira parte, pois eu irei fazer uma recapitulação geral.
Mas, espero os comentários.
Até,