Eles escrita por ItS


Capítulo 13
Parecidos


Notas iniciais do capítulo

Esse é um capítulo que colocará a Fic na sua reta final. (Na primeira temporada, pelo menos)
Postei ele hoje, pois amanhã eu vou viajar e não poderei postar nenhum durante uma semana e alguns dias.
Mas, quando eu vou voltar, farei de tudo para escrever o mais rápido possível.



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1

Dia: 22 de março de 2047, às 10:28. Calçadão; próximo da Loja dos Jovens.

Diego estava passando por ali. Na verdade, não era só aquele lugar por onde passara. Ele tinha andado por diversas ruas; procurava por informações, por novidades que pudessem ajudá-lo na sua luta contra o governo. Claro, a situação já estava alarmante, e, se isso continuasse acontecendo, não teria outra hora para ele agir. Ele precisava conseguir agrupar o máximo de mutantes que conseguisse. Ele não tinha um plano concreto em mente, mas logo teria; ele era mestre em formular coisas assim.

Quando estava em frente a Loja dos Jovens, que por sinal estava fechada, reparou um alvoroço. Uma multidão circundava a grade de segurança que flanqueava o calçadão. Dali, em frente, era possível ver que havia mais pessoas, porém estas estavam na parte debaixo, em cima, provavelmente, das pedras cinzentas que ladeavam parte do mar, onde muitas pessoas usavam para tomar sol e se bronzear. Diego não costumava fazer isso. Claro, tinha um corpo sarado até, fruto do exaustivo treinamento que realizara quando era mais jovem. Entretanto, ele tinha medo de que alguém pudesse encontrá-lo e prendê-lo.

O que está acontecendo aqui? – perguntou sem ninguém em mente, somente uma pergunta solta na maresia.

Parece que uma menina se suicidou. – Diego não ficou surpreso; já tinha visto muitos casos assim. Um dos piores fora o de um menino que se matara degolando-se com um cutelo – Disseram que ele subiu nas grades e se jogou de cabeça.

A maioria que estava ali, supôs Diego, eram curiosos. Não tinha sinal da ambulância e nem dos familiares da garota. O que, possivelmente, significaria dizer que, ou ela era órfã, ou que a família nem ao menos sabia onde estava. Mas, na mais provável das hipóteses, a garota estava fugindo da polícia e, assim, não receberia nenhuma ajuda médica. Mas talvez nem precisasse; a garota com certeza já estava morta. Era só reparar no ângulo impossível onde se encontrava seu pescoço e na quantidade de sangue que bordejavam a garota.

Diego estava fitando ali. Aquilo significava que logo a polícia estaria ali. Claro, era difícil de alguém reconhecê-lo. Ele tinha sido dado como morto, contudo, mesmo assim, pensava Diego que alguém poderia prendê-lo. Afinal, ele ainda era um mutante. No que olhava, observou duas garotas. Eram jovens. Elas olhavam para o cadáver, apreensivas e angustiadas. Era diferente o sentimento que elas emanavam. O da plebe ali era o de curiosidade, pavor, asco, raiva. Agora o delas parecia ser de pena, dor, aflição, indulgência. Elas deveriam ter alguma coisa com a garota.

Ei – chamou Diego para as garotas. Elas viraram-se sobressaltadas, com medo -. Calma. Por que o susto?

Porque essa sua cara é horrível. – rebateu a menor, obviamente com raiva – Não gosto de tomar sustos.

Vocês sabem o que aconteceu?

A maior parecia que iria responder, mas a de cabelos castanhos e curtos interveio, repreendendo-a antes que ela pudesse falar qualquer coisa.

Você já sabe. E, mesmo se não soubesse, é fácil identificar quando vemos uma garota com o pescoço quebrado.

Acho que estão escondendo alguma coisa... – Diego se aproximou – Sabe, acho que pode ter sido vocês que...

A gente, o quê? – perguntou a maior, agressiva.

Não deu tempo de continuar. O som da sirene foi alto, inteligível. Os três viraram o rosto na mesma hora. Diego percebeu o que isso significava: elas também eram fugitivas; elas também eram mutantes. Isso era bom. Diego já estava começando a encontrar pessoas para formar o seu tão sonhado grupo. Ele murmurou baixinho algo como “estamos no mesmo barco”, antes dos três saírem correndo. Ambos na mesma direção. Ambos com a mesma ideia. Ambos sendo a mesma coisa.

Ambos mutantes.

2

Dia: 22 de março de 2047, às 20:14. Ruas quaisquer da cidade.

Isabelle estava até bem. Não se imaginava vivendo sozinha, mas sabia que, no próximo dia, ela iria voltar para sua casa. Ela estava num beco escuro, escondida atrás de um contêiner de lixo. Estava com sua mochila e temia a hora que iria dormir. O que poderia acontecer enquanto estivesse em seu mais profundo sono? Será que os policiais iriam achá-la? Ela não sabia a resposta, mas podia procurá-la. Ela estava com seu celular. Um evoluído com seu próprio mérito. Seria bem fácil. Num átimo, a tela do celular se expandiu, como efeitos de hologramas. Ela começou a tocar na tela projetada. Acionou um mapa da cidade e, por meio dele, foi capaz de verificar a localização exata de cada policial. Todos tinham conta no Warrisa e, por ter, ela podia burlar os sistemas e atingir a posição deles por meio dos satélites que, usando muito poder para alcançá-los, eram modificados a bel prazer de Isabelle.

As contas no Warrisa funcionavam de um modo que, quando Isabelle criou, ela pensou em tudo para que pudesse se beneficiar quando fosse necessário. O sistema tecnológico de todas as cidades já estava muito evoluído e abrangia até as pessoas mais carentes. Assim, para criar uma conta, era necessário passar dados inerentes e específicos do portador. A princípio, muitos ficaram hesitantes com medo de que pudesse acontecer algo, mas, quando o tempo passou e o autor da rede não se mostrou, o governo assumiu o controle. Eles tinham conseguido acesso a alguns compartimentos da rede, o que os permitiam fazer poucas coisas. Isabelle tinha tudo isso em mente e deixou que o governo assumisse. Muitos até fingiram ser o criador, mas logo, com comprovações, ficaram como fakes.

Isabelle viu que alguns poucos inimigos rondavam por ali. Mas, se ela continuasse escondida ali até amanhecer, ela poderia voltar para sua casa sã e salva. Ela acabou cochilando, o celular sobre sua barriga e a mochila ao seu lado. No meio da noite, Isabelle começou a ouvir passos por ali. Ela não tinha uma audição muito aguçada devido ao seu problema, por isso só fora perceber com mais precisão pouco depois. Ela carregou suas mãos com energia e, assim, alastrou a obtenção de seu aparelho, fazendo-o captar a uma distância maior. Ela conseguiu ouvir conversas. As vozes estavam emboladas, e, quando sentiu as pessoas se aproximando, percebeu que o cheiro era pútrido, provavelmente parecido com cigarro. Ela levantou a cabeça e, por meio de um buraquinho localizado entre um prego e uma parte rasgada do metal, viu que alguns homens vinham em sua direção. Alguns, não. Muitos. Eram muitos.

Ninguém vai me achar caso eu fique escondida aqui, pensou ela, tremendo de medo. Ao contrário do que aparentava, Isabelle gostava de ter algumas pessoas por perto. Bem, pessoas não era a palavra certa. O correto seria robô. E, agora, estava sentindo falta do seu. Como será que ele estava? Será que sua mãe estava cuidando bem de Bob, o seu robô? Isabelle ficou absorta em seus próprios devaneios, tentando reprimir a vontade de chorar. Dado esse evento, a garota esquecera-se da presença inoportuna dos homens drogados que estavam por ali. E, durante uma brincadeira de empurra-empurra dos homens, um deles caíra em cima do contêiner. Um deles deu a volta procurando algo que tinha caído, notando, assim, a presença sigilosa de Isabelle.

3

Dia: 23 de março de 2047, às 14:24. Ilha; arredores do mar.

Daniel e os outros estavam debaixo de uma árvore. Segundo os conhecimentos do Daniel, a árvore emitia constantemente umidade superior ao que as outras faziam, deixando-a melhor para se ficar. Ninguém contestou. Apenas chegaram lá e se jogaram na terra arenosa. Todos estavam fartos do calor e, devido a falta de água, a maioria estava com uma sede descomunal. Daniel tinha dado a ideia para que eles tirassem o sal a água do mar, mas, para isso, seria necessário um esforço muito grande, o que não compensaria, visto que a quantidade deles ali era muita. Então, percebendo que a situação dos companheiros era crítica, Luke expôs:

Talvez eu possa conseguir água.

Todos se entreolharam, felizes. Joana, mesmo estando muito mal, reparava a magnanimidade do rapaz. Como aquilo era possível? Como conseguira juntar em uma só pessoa beleza, simpatia, inteligência, eficiência? Claro, para algumas ele não seria ideal, visto que era desejado por muitas, mas, para uma piriguete, ele era mais que perfeito.

Como assim? – perguntou Anne e Daniel em uníssono.

Sabe, eu posso controlar a água. – ele estava meio desconcertado ao falar – Mas eu nunca testei. Sei que posso mover algumas gotas, levantar algum tipo de jorro. Coisa assim.

Os pensamentos de Daniel falaram mais alto. Ele estava tendo uma ideia.

Talvez, se você se concentrasse, conseguisse erguer uma quantidade de água. Mas somente água. Sabe, sem o sal. Claro, seria muito difícil de conseguir fazer essa proeza com total perfeição, mas o pouco que conseguir pode nos ajudar a fazer o método tradicional.

Luke pensou no caso. Ponderou alguns instantes, imaginando para ver se conseguiria.

Eu não sei se você vai fazer isso, mas eu acho que seria bom você ir tomar um banho no mar. Sabe, para se refrescar. – disse Joana, maliciosa – E, de preferência sem camisa e sem calça.

Anne não tinha gostado da garota desde o primeiro átimo em que a vira. Ela não era fã de pessoas patricinhas. Anne era, algumas vezes, arrogante, mas nem se comparava a tamanha luxúria e vaidade da garota que, enquanto andavam, vinha falando sobre assuntos superficiais e que não tinha a menor importância naquele lugar. Agora que ela estava se jogando no seu “namorado” – entre aspas porque eles ainda não tinham nada conciso –, Anne passou a odiá-la mais ainda.

Eu tenho uma ideia melhor. – interveio Gustavo, assustando a todos, pois ele tinha um jeito fechado e quase nunca abria a boca – Talvez o Luke consiga retirar a água das plantas.

A mente de Daniel rebrilhou. Como ele não tinha pensado nisso? Isso seria perfeito. Principalmente sob uma árvore dessas. Daniel concordou, dando algumas instruções que provavelmente não iria servir para Luke. Mas, pelo bem de todos, ele concentrou-se e tentou fazer o que queria. A princípio, poucas gotas saíram, mas com o decorrer do tempo, a água foi ficando mais abrangente. Era pura e limpa. Talvez ainda tivessem algumas partículas, mas todos estavam com muita sede para pensar nisso. Eles apenas se agacharam e começaram a tomar a água que flutuava próxima da árvore que acabara de salvar suas vidas.

4

Dia: 23 de março de 2047, às 14:36. Ilha; arredores do mar.

Alexei estava com sede. Ele tinha tentado beber a água do mar. Mas foi uma tentativa em vão. Ele apenas ficou com mais sede ao sentir o gosto salubre daquilo. Ele precisava desnecessariamente de um gole de água. Precisava se não iria desmaiar. Além da sede, ele ainda estava precisando comer alguma coisa. Ele tinha tentando os cocos, mas eles estavam escassos ali. Não tinha nada comestível ou bebível. Ele só tinha areia e água salgada. Só isso.

Alexei decidiu adentrar a mata. A chance de haver pessoas perigosas escondidas era alta. Mas, se continuasse na costa, ele morreria ou de insolação ou de sede. Por isso a melhor opção ainda era ficar na proteção das folhas verdes. E, enquanto ele se sentia “protegido, ele andava. Andava sem caminho, sem direção, sem objetivo. Andava ao acaso; a esmo. Como um peregrino, pensou ele, enquanto se sentava para descansar. Fora uma caminhada curta, mas ainda sim exaustiva. Porém, naquele momento, o cansaço se tornou vontade. Vontade de saber o que estava acontecendo. Ele estava ouvindo barulho. Ouvindo barulho de água em movimento. Não o barulho do quebrar das ondas, mas o barulho parecido com o de uma cachoeira.

Alexei andou mais um pouco. Entre as folhagens, fitou água sendo retirada de uma árvore e alguns jovens bebendo-a. Seu corpo desejou fazer o mesmo. Ele estava com sede. Ele estava pronto para sair e implorar por água. Mas então viu quem estava fazendo aquilo. Era Luke. Luke, aquele maldito garoto que tentara roubar Patrícia dele. Talvez Luke tivesse participado da morte dela. Talvez, não. Com certeza. Luke tinha participado. No mínimo, tinha a estuprado antes. Estuprado porque não a conseguiria do jeito comum. Precisava ser algo forçado.

E, claro, Alexei decidiu vingar novamente sua namorada. Mas ele esperaria o momento perfeito. Ele iria aguentar a sua sede insuportável em nome de seu querido amor, Patrícia.

5

Dia: 23 de março de 2047, às 15:49. Casa de Barbara.

Barbara tinha esperado até o outro dia. Estava decidindo sobre o que iria fazer. Claro, durante a noite ela não pregara os olhos nem um pouco. Estavam ocupados dimanando lágrimas. Ela nem sequer ligou para uma funerária ou coisa do tipo para remover o corpo. Ela queria passar uma última noite de amor. Mesmo que seu marido tivesse morto. Ele não era muito bonito, mas era ótimo na cama. Claro que era. Fora assim que ele conseguira Barbara. Afinal, quando eles começaram a namorar, Isaac ainda não era presidente do país. Ele era muito mais amoroso naquele tempo. Talvez devido ao trabalho em excesso, o homem parara de dar tanto carinho. Ela acreditava nisso.

E, mesmo que ele tivesse estado muito distante dela nesses últimos anos, a mulher tinha que realizar uma última noite de amor com ele. Ela fizera sexo oral, como ele sempre amava e tentara “quicar” como sempre Isaac dizia. Mas agora o membro do homem não estava mais ficando ereto. Devia ser por causa que estava morto, pensou ela, em profunda depressão. Claro que este era o motivo; afinal, se ele estivesse vivo, ele ficaria tão excitado que tudo ocorreria bem. Certo, não é mesmo? Ele faria isso, não é? Claro que sim. Isaac amava ela. E ela também o amava.

Quando se deu conta que o dia amanheceu, percebeu que os empregados já estavam chegando. Ela se arrumou rapidamente e, quando alguns deles chegaram, contou o que tinha acontecido. Imediatamente, os funcionários ligaram para que removessem o corpo. Barbara fitou, triste, enquanto levavam o corpo baleado do marido. Ela estava completamente frustrada. Angustiada. Horrorizada. Aquelas aberrações. Aquelas malditas aberrações. Foram elas quem acabaram com a vida do seu homem. E, não só por isso, mas por tudo que vinham causando, mereciam morrer. Todos tinham que morrer. Todas as malditas aberrações. Por que ser chamados de “eles” se, na verdade, não passavam de um monte de aberrações?

Barbara gritou. Gritou furiosamente. E decidiu o que iria fazer. Ligou para todos os policiais que conhecia. Pediu para que informasse o exército sobre a manobra. Avisou também para a delegacia local. Agora as coisas iam andar. Ela iria acabar com todas as aberrações. Ela ordenou, com todas as letras, para que exterminassem toda e qualquer aberração. E, assim, tanques foram enviados pelas ruas, carros e policias a pé. Todas as ruas deveriam ser checadas. Todas as pessoas tinham que ser verificadas com o Pó. Todas. Não podia deixar ninguém passar. A nova presidente do país tinha ordenado.

Ela transmitiu ao vivo tudo que acontecera. Contou em detalhes vivos a morte de seu marido. Ela fez com que a população se revoltasse contra as aberrações. Todos eram maus. Sem exceção. Não tinha exceção para o mau. E todos concordavam com ela. Todos, agora, passariam a viver numa espécie de ditadura. As ordens seriam mais rigorosas. Nenhuma aberração que fosse encontrada ficaria viva. Todas tinham de ser mortas. Quer dizer, todas iriam ser mortas.

Começando pelos que estavam na ilha; afinal, eles eram um alvo bem mais fácil.


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Notas finais do capítulo

Espero pelos seus reviews e, quem sabe, algumas recomendações.
Até,