Eles escrita por ItS


Capítulo 12
Suicidas


Notas iniciais do capítulo

Gente, estou muito triste. Que decepção. Ninguém mais comenta. Claro, tem alguns queridos leitores que ainda tentam me animar. Mas coitado de mim, né? Eu tinha pensado em desistir da Fic, mas isso seria injusto com o pessoal que acompanha. Portanto, irei continuá-la, mesmo que os episódio venham com menos frequência. Eu já me determinei que irei criar uma segunda temporada. Será tipo uma continuação.



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1

Dia: 22 de março de 2047, às 10:42. Rua da casa de Julia.

Fernanda tinha fugido. Tinha fugido no dia anterior. Ela sabia o que iria acontecer caso a polícia a achasse. Tinha deixado um bilhete para sua mãe e seu padrasto. Ela escrevera que voltaria hoje à tarde. Mas isso não parecia ser possível; a polícia continuava a invadir as casas a procura de mutantes para levá-los para aquele lugar. Aquelas ilhas que foram construídas para esse propósito. Fernanda sabia de tudo isso; claro, seu padrasto, Lúcio, tinha negócios com o prefeito da cidade e, assim, ficava sabendo de tudo muito antes da população.

Mas agora nada disso adiantava. Ela precisava voltar para casa para não deixar a mãe preocupada. Ela tinha que arranjar um jeito. Entretanto, tudo que conseguia pensar era sobre uma garota que vinha correndo em sua direção. Estava exasperada aparentemente. Contudo, podiam-se notar outros sentimentos: angústia, ansiedade, medo, pânico. Ela deveria estar correndo da polícia. Assim como Fernanda. Mas Fernanda tinha planejado sua fuga. A garota provavelmente não. E, se isso fosse verdade, era possível que a polícia ainda estivesse perseguindo-a. Ela estava vindo na direção de Fernanda. Isso não seria bom para ela. Precisava se afastar. Ela correu. Porém, algum tipo de barreira invisível bloqueou seu percurso. A garota alcançou Fernanda.

Ei, por favor, me ajude. – suplicou – A polícia está atrás de mim.

Eu também estou fugindo dela. – comentou – Não posso fazer nada senão fugir.

Mas não vai dar tempo. – contrapôs Julia, chorando – Eles irão bloquear todas as saídas próximas daqui.

Isso não estava ficando bom. Se Fernanda fosse presa, as consequências seriam gigantes. O que as pessoas iriam achar de Lúcio, o famoso empresário? Será que ele teria seu cargo cortado? E, se isso acontecesse, sua mãe também seria afetada. Sua mãe, na verdade, tinha se casado com Lúcio somente por dinheiro. Era uma alpinista social. Ela não tinha intenção de matá-lo ou qualquer coisa do tipo. Ela apenas queria uma vida melhor. E esse objetivo não seria alcançado se ela, Fernanda, fosse presa e levada para a ilha. Isso não podia acontecer.

Vamos voltar por aonde você veio. – afirmou, convicta.

O quê? Mas lá tem diversos policiais. Nós seremos presas com certeza.

E se formos para o outro lado, seremos também. – disse Fernanda – Eles não acham que você voltará por lá; logo, o melhor plano é ser imprevisível.

Mas e os policiais?

Julia estava fraca; tinha usado boa parte de seu poder para lutar contra alguns, e isso exigia muito. Seu poder era de energia cinética e, para isso, era necessária a própria força em troca de uma matéria invisível e cheia de ímpeto. Se bem que, se elas fossem para lá, Julia talvez conseguisse deixar essa garota se virar. Ela não ligava muito para os outros; tudo que seu instinto dizia era apenas para pensar em si própria, independentemente das ações que isso a levasse a fazer. Ela já tinha feito muitas coisas em prol de si mesma. Seu ego era bem grande, e constantemente se expandia.

Nós daremos um jeito.

E essa frase ficou pelo ar, enquanto Fernanda corria na direção de onde Julia viera. Percorreram um pequeno trecho até perceber que os policiais estavam procurando por algo. Eram 3. Julia podia facilmente lidar com eles, mas, nesse estado, tanto mental quanto físico, era difícil. O máximo que conseguiria fazer era jogar um jato invisível que empurraria quem se chegasse perto. Logicamente seriam os policiais que continuavam se aproximando, checando aqui e ali a procura da mutante que fugira. Quando eles chegaram a uma certa distância, Fernanda perguntou:

O que você pode fazer? – ao perceber que Julia não estava entendendo, formulou melhor: - Quero dizer, qual seu poder? O que você faz?

Eu posso arremessar matérias invisíveis. Algo parecido com rajadas telecinéticas, mas, em vez disso, uso energia cinética. Tipo, do meu próprio corpo.

Ótimo. Me arremesse quando eu pedir.

Julia não entendeu. Ela iria perguntar o motivo disso; qual era o plano dela, mas, quando se deu conta, a garota gritou. Julia tinha que fazer isso agora. Juntando a força de seu próprio corpo nas mãos, infundiu uma carga de energia cinética que foi liberada pelas costas de Fernanda. Ela olhou a frente e percebeu que Fernanda estava no ar, girando e sentindo a resistência do vento. Os policiais não perceberam o que os atingira. Somente sentiram um aditivo pesadíssimo em cima deles. Bem, até antes de morrer. Fernanda havia se transformado numa imensa âncora em pleno ar e os acertara. Os três foram esmagados pelo metal. Os restos mortais ficaram lá, jazidos, esmigalhados, sem pena, sem condolência. Apenas lá, esperando alguém vir e ligar para os familiares avisando que eles estavam mortos.

Num átimo, Fernanda e Julia correram em direção a casa da última se, ao menos, olhar uma última vez para os cadáveres.

2

Dia: 23 de março de 2047, às 07:38. Ilha.

Joana e Gustavo tinham dormido debaixo de uma árvore. Ela era pequena e tinha galhos e folhas que permitiam um bom sigilo. Joana reclamara durante um bom tempo. Dizia que não conseguiria dormir; afinal, lá tinha bichos, insetos e coisas piores. Mas, quando Gustavo percebeu, a garota já estava em sono profundo. Ele ficou um tempo olhando vaziamente para uma penumbra que cobria o rosto frágil da garota. Ele não se importava muito com namoradas e amor, mas não podia deixar de negar que a garota era mesmo muito bonita. Claro, tinha lá muitos defeitos. Começando por achar que podia tudo na hora que quisesse. Mas, se isso fosse trabalhado, com o tempo ela podia se tornar alguém melhor. Gustavo estava acreditando nisso.

Pelo amor, como eu vou ficar andando com uma roupa dessas? – se perguntou, notando suas vestes. Estavam sujas e, em algumas partes, rasgadas – Claro, eu nunca iria usar isso na minha vida.

A garota falava pouco, assim como Gustavo; mas, quando falava, era um monte de besteiras fúteis que eram ditas desnecessariamente. Eles já estavam abarrotados de problemas e, em vez de tentar amenizar, a garota colocava mais lenha na fogueira e ficava dizendo coisas sem coerência alguma. Sim, teria alguma numa situação normal. Mas esta não era, sem dúvidas, uma situação normal. Gustavo cansou-se de ouvir tantas coisas. Vinha escutando os murmúrios desde um tempo. Vinha mantendo seu cenho liso e sem demonstrar nenhum sentimento. Estava tolerando tudo. Ele tinha esse dom de ser complacente e indulgente com quem merecia.

Olha, garota. Eu não tenho a ver com as suas roupas. – ele praticamente cuspiu as palavras; estava guardando há muito tempo para dizer isso – Eu não me importo se você não estaria vestido desse jeito. Você está me seguindo. Eu não pedi isso. Então, pelo menos faça algo que não me atrapalhe.

A garota não pareceu se importar.

Ei, sabe a diferença moda e a sua opinião? – vendo que ele não iria responder, ela continuou: - Eu ligo para a moda e para sua opinião, não.

Gustavo ignorou e continuou andando. Estava de saco cheio. Não queria se estressar mais do que já estava. Ele mirava algum tipo de clareira ou lugar alto para que pudesse enxergar com mais nitidez onde estava. Mas, em troca disso, viu três jovens. Eles estavam acordados, comendo alguma coisa. Tinha algumas frutas e, de longe, o cheiro de algo assando rescendia. Devia ser algum animal. Talvez gambá ou um tatu. Ele estava com muita fome. Tinha ficado um tempo sem comer. E, quando se estava com fome, qualquer coisa era bem vinda.

Ele deteve-se por um momento, levantando-a a mão, sinalizando para que Joana parasse. Ela chegou mais perto e se agachou próxima do rapaz. Ela viu que tinha mais pessoas ali, mas, para sua alegria, ela conhecia um deles. Era Daniel, o rapaz de sua escola que lhe dera um toco.

Danieeeeel!!! – gritou e saiu correndo sem um pingo de discrição.

Gustavo não entendeu a princípio, mas logo descobriu que ela conhecia aquele menino em quem ela dera um tremendo avanço. Gustavo não gostou de como eles ficaram abraçados durante um tempo. Ele não estava gostando dela, claro; mas achava que ela não podia sair abraçando qualquer pessoa que encontrasse pela selva.

Pelo visto, você também é um deles... – informou Daniel, referindo-se a Joana.

Como você sabe?

É mais fácil perguntar o que ele não sabe. – interveio Anne, intrometida.

Quem é aquele? – perguntou Luke, apontando com queixo para Gustavo.

Gustavo. Ele está comigo.

Tipo namorando? – perguntou Anne.

Joana ruborizou.

Não...

Ele não quis, né? – perguntou Daniel – Não importa. Vem – chamou –, junte-se a nós e refestele-se com este banquete.

Gustavo não pensou duas vezes. Quando deu por si, já estava comendo um pedaço de carne junto de seu novo grupo.

3

Dia: 22 de março de 2047, às 10:09. Rua próxima a Loja dos Jovens.

Ana estava andando. Estava calma, percebeu e se surpreendeu. Como ficara tão calma numa situação dessas? Bem, ela não soube a resposta, mas não se importou com isso. Era bom que ela ficasse assim. Manter a cabeça fria em horas difíceis ajudava muito. Ela tinha lido isso em algum lugar e agora sabia, nitidamente, que isso era veraz. O que poderia ter acontecido com ela, caso ela tivesse ficado louca e pirado enquanto os homens estavam em sua casa? Será que eles teriam conseguido pegá-la? Pensar em sua casa em chamas lembrou-a de seus pais. Como eles reagiriam ao saber que sua filha era uma fugitiva da lei? Será que eles a tolerariam?

De repente, uma distorção da luz pairou em suas vistas. Era na frente de um coqueiro, este tendo visão para o mar. Logo ela soube que Marina estava ali. Ela acenou e correu para perto dela. Agora ela estava com a única pessoa com quem poderia contar. E, dali para frente, qual seria o objetivo delas? Fugir eternamente da polícia, esperando que algo mudasse? Não, não era isso. A mudança não acontecia do nada. Algo tinha que forçar para que as coisas mudassem. E esse algo seria ela. Ela e as pessoas que formariam sua equipe de mutantes e super heróis.

E seus pais?

Marina balançou a cabeça, visivelmente abatida.

Elas continuaram a andar. A Loja dos Jovens estavam bem em frente, entretanto isso não ajudaria em nada. Tudo bem que a maioria deles fosse jovem, mas, a julgar pelas pessoas que frequentavam aquilo, ninguém gostaria de ter um conflito direto com o governo. Eles com certeza prefeririam ficar escondidos, bebendo e usando drogas, enquanto esperavam por serem presos. Ana não era um desses jovens. Ela era pré-adolescente, mas, mesmo assim, tinha uma cabeça muito mais formada e madura do que a maioria. Ela se lembrava de quando sua mãe a comparava com outros, elogiando-a por ser daquele jeito.

Não se preocupe, mamãe, eu irei honrar o nome de nossa família.

Elas detiveram-se por um momento. Ali, num baquinho, sentada, estava Daniela. Não a conheciam muito bem, mas sabiam que ela tinha sido alvo dos assassinos da lanchonete. Ela tinha sido estuprada. Ana ficara sabendo tudo pela internet. Marina idem. Dani estava lá. Sentada, tristonha, apática. Ana pensou se ela seria um deles. E, se fosse, ela poderia juntar-se a elas. Três garotas contra o governo. Com certeza elas tinham uma chance mais do que enorme. As duas se aproximaram da garota. Atrás dela estava o mar. O barulho enchia os ouvidos. O cheiro salino inundava o ambiente. Os grãos de areia flutuavam e se esbarravam aqui e ali com os cenhos de turistas que ainda pegavam sol.

Ei, Dani. – chamou Marina, aproximando-se como quem que não queria nada.

Daniela estremeceu. Quem eram aquelas garotas? Com certeza elas queriam fazer mal a ela. Deviam ser lésbicas e, com toda sorte da qual ela não tinha, iriam levá-la para uma lanchonete fedida e estuprá-la com um pênis de borracha. Agora Daniela via todas as pessoas que não conheciam desse jeito: com desconfiança e achando que sempre queriam fazer algo de ruim a ela; seja emitir palavrões, seja inundá-la com verdades que ela não queria ouvir. Mas o que mais temia era um sequestro e, novamente, ser estuprada. Daniela olhou em volta a procura de refúgio. Concentrou toda sua mente na cabeça das garotas que vinham palmilhando vagarosamente em sua direção. De repente, elas pararam e começaram a fitar o mar, como se tivesse esquecido que Daniela existia.

Isso fora o suficiente para a garota levantar-se e sair correndo. Entretanto, seu poder não funcionava a mais de 10 metros. Ela precisava ficar perto para fazer uma espécie de conexão empática com as mentes dela e do alvo de sua habilidade. Mas ela esquecera disso. E, quando Ana e Marina se deram conta, voltaram a andar. Ninguém se lembrava de quando perdia a concentração em determinada coisa. Eles apenas voltavam a agir como estavam a alguns segundos atrás, com seu foco imposto em determinada coisa. Nesse caso era Daniela.

Marina percebeu que a garota estava fugindo, contudo, ainda não sabia o motivo. Usou seu poder para aparecer próxima a ela. Ana vinha atrás, andando, olhando o mar e as pedras que estavam lá em baixo. Bem ali, na sua frente, tinha um emaranhado de pedras, algumas pontiagudas e escorregadias, mas todas, sem dúvidas, duras e maciçamente preenchidas. Algumas pessoas estavam na água. Deviam não saber do que estava acontecendo. Porém, Marina sabia e queria falar com a garota que corria em sua frente. Ela estava mais atrás, chamando por Daniela. Elas estudavam na mesma escola, mas em anos diferentes, por isso quase não se falavam.

Daniela continuava a correr. Estava com medo de que a garota a alcançasse e a levasse para longe; com medo de que a levassem para um quarto ou lanchonete pútrida onde iriam fazer tudo que quisessem. Ela não podia deixar isso acontecer; já tinha sofrido o bastante. Tinha perdido várias pessoas de quem gostava e sido estuprada na frente de vários. E agora ainda tinha que ser uma fugitiva. Não. De sofrimento bastava. Ela percebeu que Marina estava muito perto dela. Percebeu que ela iria alcançá-la. Merda, o que seria dela se aquela garota lasciva a pegasse? Ela teria de sofrer de novo. Porém agora não teria mais a mãe para consolá-la depois de uma tarde debilitante. Não teria mais seus irmãos para dizer que tudo ficaria bem. Não teria mais seu pai para prometer que acharia os culpados e que os socaria até a morte.

Não teria nada disso.

Ela olhou para o lado. O mar estava bem ali e, antes dele, um monte de pedras. Era uma queda de aproximadamente uns 10 metros. Para descer lá era necessário usar as escadas que serpenteavam ao longo do calçadão. Ela poderia acabar com tudo aquilo. Poderia evitar que mais pessoas fizessem coisas ruins. Poderia deixar de sofrer. Ela poderia simplesmente pular dali e morrer. Claro, talvez ninguém morresse de uma queda daquelas. Claro, teria fraturas muito sérias. Mas, se pulasse de cabeça, com certeza diria adeus para a aclamada vida. Pular de cabeça representava o fim de seus tormentos. Isso. Pular. Somente subir a gradezinha e se jogar dali. Como se fosse pular de ponta num a piscina. Mas agora seria pular de ponta para a morte. Daniela pensou em tudo isso em um átimo. E, noutro, já estava em cima da grade; braços abertos, cabelos oscilando pelo vento. Ela pulou. Imaginou-se caindo numa piscina de água limpinhas. Mas o líquido no qual ela iria mergulhar era outro.

Marina fitou a queda da garota sem poder fazer nada. Quando se deu conta da realidade, viu que Daniela estava lá em baixo. Estava mergulhada num líquido vermelho.

Mergulhada no seu próprio líquido vermelho.


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Notas finais do capítulo

Espero pelos reviews e, quem sabe, recomendações.
Até,