The Blue Blood escrita por Mrs Granger


Capítulo 10
#10




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A mulher que estava sentada no trono de aço parecia alta, imponente e, acima de tudo, ameaçadora. Usava um vestido negro decotado que deixava as clavículas salientes aparecendo e destacava a curva dos seios. Era esguia, pálida e tinha os olhos azuis mais frios que Lara já tinha visto. Os lábios eram de um vermelho sangue assustador e o cabelo ondulado era longo e preto como piche. Em suma, a mulher era linda. Linda e perigosa. Lara podia sentir sua pele formigando e o perigo se aproximando... Uma energia pesada, forte e horrível pairava no lugar. “Uma energia maligna”, compreendeu.

Ajoelhado à frente da mulher estava um cavaleiro encapuzado e todo coberto por um manto preto. Apenas as mãos, cinzas e enrugadas, estavam aparentes.

– Minha senhora... – a voz fria e grossa dele ecoou pelo salão imenso. Lara tentou virar a cabeça para observar o lugar em que se encontrava, mas foi inútil. Era como se seu pescoço tivesse congelado e ficado rígido como pedra, só era possível ver o que estava à sua frente: duas colunas enormes com centenas de desenhos ricamente entalhados na pedra negra cercavam o trono enorme feito de um metal – parecia aço – no qual a mulher estava sentada.

_ O garoto vai falhar... – A mulher murmurou com uma voz calma e sinistra. – Faça-o você mesmo.

– Não posso, minha Senhora. – O cavaleiro titubeou. Pelo que Lara pôde perceber, não estava acostumado a negar obediência à Senhora.

– Sim – a voz da mulher era mais firme – Você pode sim, meu Servo. Servo leal, não? – Ela fez uma pausa, piscou e inclinou levemente a cabeça. Um sorriso discreto e frio se formou em seus lábios de sangue – Prove seu valor. – Ela sussurrou numa voz chiada, como um fantasma de filme de terror.

– M-mas... – o cavaleiro cinzento gaguejou. – O Senhor Lion não vai concordar, ele protegerá a criança...

–Não é mais uma criança... – A voz da mulher ficou mais enérgica. Ela estreitou os olhos – A quem serve, meu servo? A mim ou a Lion?

– E-eu... – O homem ousou levantar o rosto e encará-la. Lara não podia vê-lo pois ele estava de costas, porém conseguiu observar vagamente as feições do cavaleiro pelo reflexo nos olhos azuis da mulher: o cavaleiro cinzento não tinha rosto. Apenas uma pele cinzenta cobria todo o e crânio. “Como ele consegue falar?” Lara pensou com uma rajada de terror e pânico a invadindo. Aquela visão de uma pessoa sem rosto era simplesmente horrível e perturbadora. Piscou algumas vezes e voltou a se concentrar nas palavras do homem. Parecia que o som saía direto da garganta:

– Sirvo a você, minha nobre Senhora de Pollions. – a voz dele agora era mais firme.

– Ótimo – a mulher sorriu e se levantou do trono. Toda a sala tremeu e a pressão do ar deve ter aumentado vários pontos. Lara sentiu os ouvidos estalando e a pressão aumentando dentro da cabeça, como se seu sangue estivesse sendo comprimido contra o crânio para quebrá-lo. O nariz dela começou a sangrar e seus joelhos viraram gelatina. A pressão aumentava, fazendo o ar ficar mais denso e difícil de respirar. Se mover era quase impossível. Em pânico, Lara sentiu que seus olhos estavam inchando, prestes a estourar. Ela caiu de joelhos, apoiando-se nas mãos. “Preciso voltar...” Ela sentia que estava sendo esmagada. Seus órgãos seriam esmagados. Sua cabeça. Cada junta de seu corpo doía.

“Não falhe, meu nobre servo...” – A voz pairava no ar, enchendo toda a sala, mas a mulher não tinha aberto um centímetro de sua boca para falar. “Você a encontrará pelo sangue... Corte-a e confira se é azul...” Então ocorreu um estalo e todo o ar zumbiu como um som de microfonia. Lara teria tampado os ouvidos se conseguisse mexer as mãos.

A visão se desfez numa névoa.

* * *

– Ela está muito, muito fria – a voz de Janna transbordava de angústia. – Ai, Lara, você está me ouvindo? – Ela colocou a mão na testa de Lara. – Por favor, diga alguma coisa!

– Ai – Lara murmurou. Sua cabeça ainda doía e a nuca latejava como se tivesse sido espancada com uma pedra. – Estou... – ela se esforçou para engolir, apesar da garganta seca e da língua inchada – estou bem.

–Ah! – Lucas suspirou de alívio e caiu na cama. – Que susto. Você desmaiou do nada e começou a falar coisas sem sentido... Teve outra visão, não foi? – Ele se endireitou e chegou mais perto dela.

– Deixe-a descansar um pouco. – Janna apertou a mão da amiga. – Você está bem? – levantou as sobrancelhas – Bem mesmo?

Não, Lara não estava nada bem. Alguma coisa naquela mulher a perturbara muito e a visão do cavaleiro sem rosto deixava sua mente envolta em pânico. Sem falar, é claro, na sensação horrível de estar sendo esmagada por toneladas de ar numa pressão altíssima.

Mesmo assim, ela assentiu. Não tinha um significado para suas visões- se e que tinham um significado. O fato é que, durante a visão, Lara sentia que correra um perigo real. Não era como um sonho comum onde coisas sem sentido acontecem e não se sente nada. Lara podia sentir a dor, o medo, a angústia e o perigo espreitando-a, como se tudo fosse real. Uma parte dela parecia sair do corpo e realmente ir para o lugar da visão, fazendo todas a sensações e imagens serem assustadoramente reais. “Mesmo que fosse real, não faço ideia de quem seja aquela mulher, o que ela está tramando e menos ainda o que quer dizer Pollions.”

– Janna – Lara falou, lutando contra a secura na boca. – O que é... O que é Pollions? Que lugar é esse?

Janna e Lucas trocaram um olhar rápido e preocupado.

– Ah, Pollions é um outro planeta. Inimigo de Millions. Também de uma galáxia distante... – a garota estreitou os olhos – Por que quer saber? Sua visão dizia alguma coisa sobre o lugar?

– Minha visão era sobre a Senhora desse lugar. E um cavaleiro cinza sem rosto.

Lucas pareceu que ia desmaiar. Janna empalideceu.

– Ah, céus. Isso não é nada bom. – Janna inclinou-se para frente. – Pode me contar o que mais você viu?

Lara piscou algumas vezes, ainda tentando se livrar das sensações horríveis que experimentara naquele lugar, e começou a falar:

– O cavaleiro estava falando com uma mulher... A Senhora de Pollions, segundo ele. – parecia que Lara estava engolindo uma bola de golfe. – E... – ela fez um esforço para se lembrar dos detalhes mais importantes. – Ele, o cavaleiro sem rosto, disse alguma coisa sobre um tal de Lion. E a mulher quer que o cavaleiro faça alguma coisa... Alguma coisa que um garoto deveria fazer, mas este vai falhar.

Lucas piscou várias vezes. Um silêncio tenso caiu sobre a sala.

– Não faz o menor sentido – Ele disse num tom amargurado. – Teve mais visões, Lara? Mais alguma coisa que não contou? Tente se lembrar, pode estar se esquecendo de algum detalhe importante...

– Calminha aí – Janna olhou para a amiga – tem certeza de que se sente bem para falar sobre isso?

– Qual é, Janna – Lucas parecia muito agitado, se mexendo na borda da cama e batendo os pés no chão de gelo. – Não temos tempo! Podem ser pistas do inimigo!

– Sim, sim – Lara concordou; queria fazer o máximo que pudesse para se sentir útil. Já que ela não entendia absolutamente nada do que estava acontecendo, pelo menos podia ajudar os amigos que sabiam o que estava acontecendo. - Tive outra visão - ela começou. – antes da fuga lá de casa...

Sua garganta estava se fechando. Ela fechou os olhos com força e tentou se concentrar na visão anterior, antes de ver a mulher no trono, mas as lembranças eram vagas e assustadoras. Pareciam cair sobre ela como uma lâmina negra, cortando-a e envolvendo-a em escuridão.

– Só preciso me concentrar... – Tinha dificuldade de se lembrar das visões. As imagens mudavam em sua mente.

– Lara, na última vez que tentou fazer isso, há alguns minutos, você desmaiou. - Janna disse – acho melhor relaxar, talvez se lembre de alguma coisa...

– Isso! – a lembrança veio súbita como uma bofetada no estômago – Me esqueci de dizer. A mulher mencionou algo sobre uma criança, sobre capturá-la e... – pausa – cortá-la. Disse que o cavaleiro ia encontrá-la pelo sangue, e pediu para que ele verificasse se era azul... Sangue azul? Isso mesmo?

– Ah. Meu. Deus – Os olhos de Lucas se arregalaram. – Janna – Ele se dirigiu à namorada – Acha mesmo que Kith pode encontrar a criança de sangue azul? – ele parecia perturbado.

– Pessoal – Lara se esforçou para levantar a voz – Sangue azul quer dizer que a criança é, tipo, uma princesa? Rainha ou rei? Sangue azul representa sangue real, não é?

– Nesse caso, não – a boca de Janna praticamente não se movia e seus olhos estavam vidrados. – Sangue azul quer dizer, literalmente, sangue azul. Não é uma metáfora.

– Como uma pessoa pode ter o sangue azul? – Então Lara lembrou que acabara de ter uma visão sobre uma rainha perversa e um cavaleiro sem rosto, enquanto jazia numa cama na Sede de criaturas mágicas vindas de outro planeta. Sangue azul até seria... Aceitável.

Janna franziu as sobrancelhas.

– Existe uma lenda antiga sobre sangues-azuis. Dizem que são raríssimas as pessoas que nascem com esse tipo de sangue, uma a cada cinco milênios, por aí. As pessoas de sangue azul têm poderes extraordinários, desde força extrema, velocidade e invisibilidade até poderes curativos e capacidade de controlar as mentes alheias. Toda vez que um sangue azul nasce, o mundo quase é destruído. Pelo visto, Kith acha que pode usar um sangue azul na guerra contra Millions... – Janna agora não se dirigia mais à Lara. Falava sozinha, cabeça baixa, e logo começou a andar de um lado para o outro do quarto.

– Talvez Kith pense que um dos Iniciados tenha esse tipo de sangue. – Lucas sugeriu.

Lara se perguntava se poderia estar mais confusa. Era muita, muita informação para um dia só. Mas uma coisa ela ainda precisava saber.

– Quem é Kith? – a pergunta soou meio vazia, talvez até idiota para os dois amigos que discutiam sobre pessoas com poderes lendários e estratégias de guerra.

– É a rainha de Pollions. A mulher que você viu na sua visão.

A rainha do inimigo. Isso não podia ser bom presságio. Lara sentiu-se meio enjoada.

– Acho melhor darmos um tempo por hoje... – Janna comentou num tom cansado. – Você poderá ver os seus pais daqui a pouco, mas não poderão voltar para casa. Pelo menos não por enquanto.

Lara assentiu. É claro que ela queria estar na paz do seu quarto lendo seu livro favorito, mas ela sabia que não poderia voltar. Não enquanto aquelas coisas que a atacaram estivessem caçando, a solta.

– Você pode tomar um banho, se quiser, e passar a noite aqui. Estará segura, e seus pais também.

Seguro parece muito, muito bom.”

– Sim, obrigada – Ela sorriu para os amigos. Apoiou-se nas mãos para ficar de pé e dirigiu-se a Janna – Onde fica o banheiro?

A menina riu alto.

– Banheiro? Deve estar brincando, não? – Janna levantou as sobrancelhas e segurou Lara pelo pulso - É muuuito mais legal que um banheiro. Venha, eu te mostro.

Janna dirigiu um olhar rápido a Lucas e disse:

– Tenta não morrer de saudades enquanto eu estiver fora, ok?

– Pode deixar – ele respondeu em tom bem humorado – Divirtam-se.

E assim as duas saíram pelo corredor.

– É só um banho... – Lara sorriu – como pode ser tão empolgante assim?

– Você verá.


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