The Blue Blood escrita por Mrs Granger


Capítulo 9
#9




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Lara simplesmente não poderia ter recebido melhor tratamento do que aquele. As fadas eram cuidadosas, hábeis e atenciosas, sempre fazendo o possível para deixá-la nova em folha o mais rápido possível. Lara apagou num sono pesado e tranquilo depois de ter tomado um ou dois copos – não lembrava mais – de um drinque amarelo forte e com cheiro de rosas.

– Como se sente? – Uma voz doce e fina, quase angelical, despertou-a de seu sono. Lara piscou os olhos pesados e inchados, engoliu algumas vezes e disse numa voz rouca:

– Estou bem – Fez um esforço para se levantar e se surpreendeu ao não sentir nenhuma dor na coxa. Aliás, ela não sentia dor nenhuma em parte alguma do corpo. Os arranhões haviam sumido, seus músculos, antes exaustos, estavam descansados e todo seu corpo estava relaxado. A fada azul brilhava ao lado dela numa luz suave e límpida. Tinha tamanho e aparência de uma mulher normal, o que Lara achou um pouco estranho, pois se lembrava das fadas como seres pequenos e quase humanos.

A fada exibiu um sorriso branco e apontou para a porta da sala, onde Janna e Lucas conversavam sentados num banquinho transparente.

_Ah, ela acordou – Lucas levantou e caminhou até a cama de Lara – Pronta? – Ele estendeu a mão.

– Claro – Ela sorriu e se levantou – Acho que me devem explicações.

Poderia ser impressão, mas Lara julgou ter visto o rosto da fada se contorcendo um pouco. Subitamente, uma pergunta piscou no cérebro dela.

– Por que disse a eles que não éramos humanos? Por que mentiu?

– Bem, eu não menti. Não totalmente. Seus pais são humanos normais. Você não é.

A naturalidade com que ele falou aquilo fez o estômago dela se revirar e a raiva subiu numa onda vermelha pelo seu pescoço, corando todo o seu rosto.

– Como assim não sou uma humana normal? – Ela retrucou um tanto alto demais. Algumas fadas se viraram para observar.

– Shh, fale mais baixo – Ele sussurrou enquanto puxava-a pelo cotovelo e saia da sala a passos largos.

– Pelo visto já adiantou o assunto, não? – Jana disse quando Lara e Lucas juntaram-se a ela na porta.

– É, segundo Lucas, não sou uma humana normal como meus pais – Lara franziu o cenho.

– E ele não está errado – o tom de Janna era bem sério e um tanto preocupado. – Previmos os ataques na sua casa porque sabíamos que as criaturas iam atrás de alguém como você. – Ela vez uma pausa e os três apertaram o passo para chegarem a uma sala bem iluminada à esquerda. – É aqui que dormimos – Janna gesticulou com a mão, mostrando o pequeno quarto com sete camas.

– Dormimos? – e expressão de Lara era confusa – Quem mais fica aqui? Você e Lucas? – Ela levantou as sobrancelhas e deu um sorriso malicioso – No mesmo quarto?

Lucas corou e Janna empurrou-a porta adentro.

_ Não força, Lara – A garota jogou os cabelos ruivos e encaracolados para trás do ombro e prendeu uma mecha rebelde atrás da orelha. – Esse quarto é para todos os Iniciados da Legião.

– Iniciados? Legião? – Ela estava gostando cada vez menos dessa história.

– Respira e senta, vamos explicar tudo. – Lucas fez sinal para uma das camas num canto do quarto. Estranhamente, não havia armários, mesas de cabeceira, fotos, diários ou objetos pessoais que indicassem que alguém dormia ali. O quarto estava cru, limpo e vazio, apenas com as sete camas dispostas em um semicírculo em forma de “U”. Curiosamente, as camas eram transparentes e pareciam duras; feitas de gelo. Lara passou a mão sobre a superfície lisa e, surpresa, percebeu que a cama era macia como qualquer outra em que já dormira, e não era, nem de longe, fria como gelo.

– Pode sentar, sem medo – Janna disse e sentou-se na beirada da cama. Lucas se acomodou ao lado dela e colocou a mão suavemente sobre o joelho de Janna. A atitude fez Lara sorrir e se distrair por um momento, apesar da situação meio confusa em que se encontrava. Uma visão repentina e não autorizada atravessou sua mente e ela se viu sentada ali, na mesma cama, com Alex ao seu lado, colocando a mão em seu joelho. Afastou o pensamento. “Não, isso não é possível. Nunca será assim tão fácil, simples e natural como é com estes dois.” Ela sorriu internamente. Segundos depois reparou que Lucas já havia começado a falar...

– ...As criaturas têm estado atrás dos Iniciados há meses... Está me ouvindo?

– Hã? – ela piscou – Ah, sim, as criaturas – Então a ficha caiu – espere, eu não sou uma Iniciada.

Os outros dois trocaram um olhar cúmplice e rápido.

Ainda. Não é uma Iniciada, ainda.

Lara não gostou nem um pouco da forma como Lucas deu ênfase na palavra “ainda”. Mesmo assim, esforçou-se para prestar atenção e manter um raciocínio coerente.

– E vocês... São Iniciados, certo? – Lara fitou as mãos em seu colo; flexionou os dedos, se lembrado da facada que dera na criatura monstruosa e sangrenta há alguns minutos, talvez horas. A pergunta que fizera tinha uma resposta óbvia, mas ela precisava ouvir tudo claramente para absorver os fatos. – Por isso sabiam que essas coisas iam me atacar? Por que já havia acontecido com vocês?

Janna assentiu e Lucas abraçou-a com um pouco mais de firmeza. Provavelmente e experiência havia sido ruim para os dois assim como fora para ela, mas Lara deixou-os com suas lembranças e não fez mais perguntas. Deixou que Janna falasse:

– Aquelas coisas... São inimigas... – ela fez uma pausa, pensando em como prosseguir – Hã, inimigas de Millions, de uma forma geral.

“Millions? E o que isso quer dizer?” Lara lembrou-se de Janna abrindo a porta luxuosa no meio do armazém escuro... “Em nome de Millions e das Sete Criaturas Mágicas...”, algo assim, mas Lara não conseguia lembrar muito bem. Tinha certeza de que Janna havia citado esse nome antes.

– O que é... – Ela fez uma pausa desconfortável – O que é Millions?

Janna suspirou e respondeu:

– É um planeta. Um planeta em outra galáxia distante... – Ela olhou para Lucas e ignorou a presença de Lara por alguns segundos – céus, ela não sabe nada!

– Ei, calminha, meu amor – Lucas afagou a mão de Janna.

– Oi, ainda estou aqui – Lara protestou. – Como um planeta distante, de outra galáxia, se encaixa nisso aqui? – Ela abriu os braços, mas não deu tempo para que seus amigos pudessem responder – Ah. – Ela fitou o chão – Essas criaturas... hum... mágicas –a palavra deixou um desconforto em suas garganta, como se ela soasse idiota e não acreditasse nas próprias palavras – Vêm desse planeta? Desse planeta distante, é isso?

Ela não acreditava no que estava dizendo. “Ótimo, fadas alienígenas. Era só o que faltava.” Sentindo-se envergonhada e ridícula, Lara nem notou o sorriso no rosto de Lucas.

– É isso mesmo – Ele começou a dizer – essas criaturas da Sede vieram desse planeta distante... De Millions.

– Sensacional – Lara murmurou. – Espere aí, como é? Essas coisas são alienígenas, é isso? Vocês conhecem... Sabiam disso?

– Claro – Janna falou no tom mais paciente que pôde. – Estamos com eles. Estamos ajudando-os.

– Ajudando em que, exatamente? – A cabeça de Lara doía e latejava. Nada fazia sentido. – Achei que podia confiar em vocês, sabe – ela disparou – pensei que amigos cuidassem uns dos outros. Tudo o que fizeram foi mentir para mim.

Janna parecia ter levado um tapa.

– Espera aí – ela retrucou – Protegemos você. Nos arriscamos para salvar sua vida...

– Para me trazer até criaturas de outro planeta e me dizer que não sou normal? –Lara disparou. Ela soltou o ar com força e fechou as mãos em punho. Teve que se controlar para não levantar e sair correndo daquele lugar.

– Lara... – Lucas começou a falar, mas Janna se levantou bruscamente da cama e o interrompeu.

_Lara, seja razoável. Estamos tentando ajudar. Nós somos... Nós também somos do mundo deles. Bem, em partes.

Lara não acreditava no que estava ouvindo. “Será possível que meus dois melhores amigos de repente acham que são, em partes, seres de outro planeta? Isso é loucura, loucura total.” Lara também se levantara, e ela e Janna se encaravam como animais se estudando.

Vendo a expressão confusa no rosto de Lara, Janna se apressou em explicar:

–Escute, nós temos, hum, espécies de poderes... Dons, na verdade, e... você também tem.

“Dons. Poderes. Criaturas mágicas. Seres do outro planeta. Essa conversa só piora.”

– Como... Como as minhas visões? Capacidade de mover os objetos, essas coisas? – Lara falava quase mecanicamente, imersa em pensamentos e nas lembranças de todas as coisas estranhas e inexplicáveis que haviam acontecido com ela. “Esta pode ser uma explicação razoável...Talvez até faça sentido...”

– Isso, cada iniciado tem um poder e um guardião. Infelizmente, ao longo dos anos, muitos guardiões foram mortos e deixaram os iniciados sozinhos. São sete, sete Iniciados, ao todo – Lucas abriu os braços e indicou as sete camas no quarto – Até agora reunimos quatro do grupo, sem contar... – pausa – sem contar com você.

Ele olhou para Lara e um silêncio desconfortável caiu sobre o quarto. Seria possível que depois de anos Lara descobrisse que era uma Iniciada com poderes vindos de seres de outro planeta? Confuso, confuso e muito assustador.

– Como... – Ela sentou-se na cama. Temia que, se ficasse em pé, suas pernas fossem desabar. Toda a vida que conhecera estava mudando drasticamente, se metamorfoseando diante dos seus olhos. – Vocês nascem com esses poderes?

– Sim – Janna disse – Mas a manifestação varia de pessoa para pessoa... Às vezes vem logo nos primeiros anos de vida, o que pode ser muito perigoso, já que as crianças não podem controlar seu poder. Ou às vezes vem na adolescência, o que é mais comum. Por isso precisamos dos guardiões, eles nos auxiliam e explicam como devemos treinar, desenvolver nossas habilidades e lidar com elas.

Lara se perguntava onde estaria seu guardião – se é que ela era uma Iniciada.

– E o que... – ela fez uma pausa, medindo as palavras. Enrolou os braços em torno do corpo. – O que houve com o meu guardião?

_ Como dissemos – Lucas começou – Muitos foram perseguidos e mortos quando os Iniciados ainda eram bebês. Provavelmente foi o que aconteceu com o seu Protetor.

Lara sentiu-se mal com isso. Ela não conhecera o guardião, nem sabia se tivera um, mas alguém já havia morrido para salvá-la. Isso não era boa coisa, não mesmo.

– Acham que foram as criaturas que mataram os guardiões? Sabem, aquelas que atacaram minha casa? – as perguntas agora fluíam pela mente de Lara e formavam uma teia confusa em seu cérebro. Havia tanta coisa que não se encaixava...

– Talvez – Janna deu de ombros – Não temos resposta para tudo.

– E quanto as minhas visões? – Lara disparou. Sua mente estava a mil. – Acha que isso tem algo a ver com as criaturas? Com... Com os inimigos?

– Isso é bem provável. – Lucas estreitou os olhos – O que, exatamente, você viu?

A visão fora ruim, escura e fria, e Lara não gostava nem um pouquinho de falar sobre ela. Parava no hospital sempre que acontecia, e só de pensar em ver aquele castelo no meio do fogo, nos gigantes e no cavaleiro cinzento enfiando a espada no coração de Alex... Ela estremeceu e balançou a cabeça.

– Você está bem? – Janna tocou o ombro da amiga e se ajoelhou ao lado dela. – Está pálida...

– Eu estou bem – Lara murmurou. Fechou os olhos.

A dor começou na nuca e foi se espalhando cabeça a cima, penetrando em cada canto do seu cérebro, em cada neurônio, mergulhando seu mundo numa escuridão densa e confusa.

“Está acontecendo de novo...”

Apagou.


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