João E Maria escrita por Manuzíssima, Babi Lemos


Capítulo 2
Agora eu era o rei, era o bedel, era também juiz




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/375149/chapter/2

Um dia ele respirou fundo e olhou lá em cima a janela do quarto dela com a luz acesa. Por que acordada até agora? O que ela estaria fazendo? Não que pensasse nela constantemente, mas naquele segundo queria muito ser o alvo da insônia dela. Tocou a campainha e ela desceu de roupa de dormir, cara amassada e cabelo emaranhado. Ele não sabia o que queria mesmo, se discutir, esfregar na cara dela alguma verdade que tinha ficado por dizer, mas quando a viu daquele jeito, ela lhe pareceu indefesa demais para que ele não aproveitasse. Dava para ver pelo tecido transpassado pela luz que ela não usava roupa íntima e aquilo despertou os hormônios de Léo.

Claro que ela não estava entendendo o que ele fazia ali àquela hora da noite. Abriu a porta apenas porque o conhecia e ele podia estar precisando de alguma coisa. Ela ainda viu quando ele abriu a boca para falar qualquer coisa, mas fechou e contornou com o olhar o pijama de flores minúsculas que ela estava usando. Mas quando ela ia perguntar o que ele estava olhando, teve as palavras arrancadas da boca com um beijo mais que indiscreto, mais que obsceno, nada parecido com os que os livros que ela lia e relia contavam como era o primeiro beijo. Primeiro beijo dela; os dele não davam mais para contar.

E foi um beijo acompanhado de mãos e braços. Ela não sabia o que fazer com tanta língua, nem sabia direito onde estava a dela e onde estava a dele. E quando estava quase aproveitando a sensação, entendendo o que era para fazer, ele largou e olhou-a fixamente dando um braço de distância:

- Você nunca foi beijada?

Na cara de espanto dela, a resposta mais que óbvia. Passariam décadas antes que ela não ficasse mais vermelha quando encontrasse com ele.

Não respondeu, apenas fixou o olhar frio nele, aquele olhar que ele detestava e ficou em silêncio. Virou-se e quando ainda estava fechando o portão, ouviu que ele disse um palavrão, maior que qualquer outro que ela nunca tinha dito.

Além disso, havia algo pior. Pior que a vergonha que ela sentia pelo beijo, uma lembrança amarga que veio depois, logo que voltou para a cama: ele tinha namorada.

Léo voltou para casa xingando cada poste e cachorro vira-lata que encontrou, não podia ter agarrado a Bárbara daquele jeito, não foi para isso que tocou a campainha. Mas para quê tinha sido mesmo? Ah, ele não sabia, só tinha seguido o impulso! E quando percebeu que ela estava usando apenas aquele pijaminha sem nenhuma consideração pelo corpinho tentador dela, não foi forte o suficiente.

E agora, Léo? Como vai ser com a Marcinha?

Não ia ser nada, aliás, ia ser como sempre, Marcinha era sua namorada, nada precisava mudar por causa de um simples amasso num portão com uma menina que nem sabia beijar. Mas se ela tivesse uma segunda chance, será que aprenderia? Será que teria uma segunda chance?

Com Bárbara a situação era um tanto diferente. Ela voltou para o quarto ainda meio atônita com o beijo, um beijo roubado, por um cara que ela definitivamente não gostava e que ainda por cima virou-lhe as costas quando descobriu que aquela havia sido sua primeira vez. Como Léo podia ter feito aquilo? Sentou-se na cama e ficou olhando para a janela, por onde podia ver um pouco do céu que naquela noite estava fechado, sem estrelas. A cabeça da menina dava algumas voltas que estavam deixando-a tonta, então ela deitou. Demorou a cair no sono e cada vez que fechava os olhos via a cara de Léo quando perguntava se aquele era seu primeiro beijo. Tinha sido tão ruim assim? Rolou na cama pelo que pareceram horas, mas provavelmente não havia passado mais do que alguns minutos. E agora, o que iria fazer? Sabia que com Léo não daria em nada, na verdade, nem sabia se queria que desse em alguma coisa, mas...

Havia na faculdade um carinha que dava em cima de Bárbara insistentemente: Victor. Ela nunca tinha dado nenhuma chance para ele, mas depois do que tinha acontecido com Léo, aquela cena estranha, sem sentido algum, pensou que se Victor se aproximasse mais uma vez, ela daria a ele a chance que ele quisesse. A sensação de violação que Léo tinha lhe causado era dolorida demais.

Passara dias e dias imaginando a cara de vitória dele em ter lhe arrancado o primeiro beijo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "João E Maria" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.