Rise Again escrita por Fanie_Writer


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Antes de tudo, dedico esse cap à linda e diva Aloenne (Angel), que fez uma recomendação maravilhosa dessa fic!!!
Loba, muito obrigada pelo carinho e apoio!!! Essa é a maior recompensa que um autor de fic pode ter, o retorno tão afetuoso quanto o seu!!!
E vamos ao capítulo...



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Conferi mais uma vez, pela milésima vez, a posição da espada. Ela teimava em girar em seu próprio eixo, numa estratégia doentia de querer me atrapalhar enquanto eu andava.

- Maldição! – sibilei entredentes enquanto marchava à frente do pelotão pelo corredor armado em um beco propositalmente escurecido.

As ruas ao redor da Cidade Circular estavam divididas em setores: um para a imprensa, outro para a multidão, camarotes para pessoas ilustres e, claro, militares. Faríamos nosso desfile tradicional à população do Capitol, sendo transmitidos simultaneamente a todos os distritos de Panem. Em seguida, os militares de patente se juntariam aos ministros na sacada presidencial, antiga mansão do presidente Snow, onde funcionava a sede do governo de Paylor.

E eu contava os segundos para sair dali e me livrar daquela maldita espada.

A súbita claridade e o barulho da multidão cegaram meus sentidos no breve relance de abertura da cortina, indicando o início do desfile.

Marchar, acenar e arrumar a espada. Marchar, acenar e arrumar a espada. Repeti essa sequência por toda a volta na Cidade Circular, tentando, como nos anos anteriores, olhar para as pessoas ao meu redor e não para o local como um todo. Se eu me permitisse olhar um segundo sequer em qualquer outra direção, não sabia por quanto tempo sustentaria meu café da manhã no estômago.

Assim que o desfile acabou, corri para a sacada no palácio do governo no Capitol.

Contei cinco segundos após o último ministro sumir na luz branca e então saí em direção aos festejos da Festa das Flores, com parte de meus soldados – os que mais se destacavam no ano e seriam homenageados – ao meu encalce.

Ainda não me acostumava com a aparência do Capitol, mais sóbria, controlada e humana que nas imagens que povoavam meus pesadelos. Nesses quinze anos, mesmo com a crescente prosperidade da nação, todo excesso foi cortado. Inclusive o excesso de cores.

Se eu não conhecesse pessoalmente a história por trás das celebrações, ficaria deslumbrado com toda a comemoração. Os redemoinhos de pétalas de rosas que caiam dos telhados como uma chuva, era lindo aos olhos, mas assustadoramente perturbador.

De cima, tudo parecia ainda mais forçadamente encenado. Mas eu não sabia ao certo se minha implicância tinha fundamento, porque me baseava na imagem do Capitol que eu tinha gravada em minha memória, de uma cidade coberta com uma nuvem negra e pastosa de uma armadilha acionada para acabar com o plano dos rebeldes invasores que pretendiam matar o presidente Snow.

- Respira, cara. – sussurrei para mim mesmo quando flashes do passado se misturavam às imagens que aconteciam naquele momento.

Cumprindo com o protocolo, fiquei na sacada presidencial assistindo à multidão celebrando cada momento da festividade, desde o desfile de 13 crianças pela praça do Capitol até as palavras de Paylor. A cada vez que ela mencionava a palavra paz ou que os novos aeroplanadores voavam baixo e atiravam munições no céu, havia uma pausa dramática e então a multidão aplaudia eufórica.

Tudo tão ensaiado e forçado que aumentou minha sensação de ânsia. Acredito que estava desenvolvendo algum tipo de aversão à multidão.

Não que eu não apreciasse a intenção inicial da Festa das Flores. O problema é que se passaram quinze anos desde a Grande Revolução e - agora que eu estava ali, em um uniforme de gala, coberto de medalhas e sendo banhado por uma chuva de flores – percebi que os propósitos foram distorcidos conforme o ato foi virando gradativamente um tipo de prestação de contas anual do governo.

Mas eu não tinha muita certeza se tudo o que eu estava pensando naquele momento, a maneira como via os festejos – quase com asco – era real. Afinal, há quinze anos, havia a culpa pela morte de Prim. Mas agora, havia o retorno de contato com Katniss. E nosso relacionamento baseado no constrangimento e na contenção de sentimentos.

Não éramos mais amigos. Disso eu tinha certeza.

Nem tampouco ela parecia apaixonada por mim. Ela teve uma vida com Peeta, teve filhos, não tinha motivos para nutrir sentimentos por tanto tempo por alguém que, nem ao menos, telefonou após matar sua irmã.

E duvido que estar ali naquela sacada, celebrando o décimo quinto aniversário da morte de Prim, pudesse ajudar a reconquistar sua confiança tampouco.

Quando a música de introdução do vídeo de retrospectiva começou, não contive o impulso de fechar os olhos com força. Que se danem as câmeras, que se danem as pessoas, que se dane a presidente e seu protocolo. Se eu abrisse os olhos para rever as imagens que estavam gravadas em minha memória, certamente iria manchar minhas medalhas e o polido paletó de algum ministro com o meu café da manhã.

Mais algumas palavras da presidente, mais aplausos após pausas dramáticas para enfatizar a palavra paz. E mais chuva de flores.

Quando ouvi meu nome, abri os olhos, bati continência e marchei em direção à presidente para pegar a bandeja de medalhas a serem distribuídas entre os soldados destaques.

Assim que os acordes finais do hino de Panem – a mesma melodia, mas com letra diferenciada, composta após a Grande Revolução – soaram, eu marchei, com os olhos novamente fechados, para longe daquela sacada.

Meu caminho para fora daquele lugar parecia um campo minado, com repórteres, prefeitos de distritos, pessoas consideradas ilustres pelo Capitol, alguns colegas de profissão e mulheres fanáticas por qualquer um que usasse uniforme. Os únicos que não consegui desviar foram meus irmãos, que também estavam no desfile militar, cada um em seu devido pelotão, com suas devidas patentes e medalhas, de acordo com os serviços prestados em cada distrito.

Mas não me demorei nos abraços saudosos, porque eu precisava sair dali. Eu queria fugir dali para o único lugar onde eu conseguiria me sentir melhor.

Pelo o que eu me lembrava, durante a Festa das Flores os horários dos trens eram especiais, mais espaçados, e o próximo transporte para o Distrito 12 partiria em dez minutos. Se eu o perdesse, só viajaria no próximo, apenas no dia seguinte. Mas se eu ficasse e tivesse que suportar os outros dois dias de festividades, com jantares, almoços e mais aparições públicas – além da exibição infindável do vídeo de homenagem – certamente enlouqueceria.

Me surpreendi pensando que, pela primeira vez em quinze anos, eu desejei ardentemente estar de volta ao Distrito 12 o quanto antes. Não por obrigação com a patente ou para cumprir a última vontade de um vitorioso dos Jogos Vorazes, mas porque eu sentia que precisava estar lá.

O que, naquele momento, me pareceu terrivelmente irônico.

Joguei a espada em um canto qualquer de meu armário, peguei a bolsa de viagem, procurei algumas peças de roupas civis perdidas em uniformes militares e enfiei tudo na mala. Quando estava deixando o alojamento E120, me lembrei de algo importantíssimo e voltei correndo para pegar.

Depois de ter em mãos minha mala de armamentos, corri para a estação de trem.

Passei por soldados que bateram continência bem diante de mim, impedindo minha passagem. Para ajudar, uma garota me abordou, tentando alisar-me sob as medalhas. Depois de lutar para tentar me lembrar seu nome – eu sentia que estava na ponta da língua, mas a luta contra o relógio me fez esquecer completamente -, me desvencilhei de suas mãos, quase bruscamente.

Entrei correndo no vagão e, uma fração de segundo depois, a porta se fechou e o trem entrou em movimento.

Assim que tive a oportunidade, me livrei de meu uniforme de gala e vesti roupas mais confortáveis. E então decidi abrir o compartimento secreto de minha mala de armas. Eu precisava organizar as cartas de Peeta em ordem cronológica para facilitar ao máximo a compreensão de Katniss.

O sol já começava a se pôr no horizonte quando o sistema de som no vagão anunciou nossa chegada ao Distrito 12. Em vinte minutos estaríamos na estação.

Depois de reler algumas das cartas de Peeta, coloquei a última que ele tinha me enviado na pilha e amarrei tudo com um pedaço de arame que achei enroscado no cabo de uma faca de caça.

Fui ao banheiro molhar meu rosto. Apesar de o clima estar mais frio nos últimos dias, meus poros estavam explodindo de calor. Não sabia ao certo se era consequência da minha raiva pela maneira como ocorreu a Festa das Flores ou ansiedade por estar a cada segundo mais perto de Katniss. Mais perto e ao mesmo tempo cada vez mais longe.

Reler as cartas de Peeta me fez relembrar o quanto ele a amava e como ela estava feliz com ele, apesar de tudo. Não era preciso ser médico para saber que, quando essas cartas chegassem às mãos dela, imediatamente seu estado mental e sentimental teria uma notável melhora. E a distância entre nós cresceria ainda mais.

Quando o trem parou, deixei o reflexo do cara cansado para trás e peguei minhas coisas. Como na última vez, recebi as continências dos soldados na estação e nas ruas do Doze até a pousada.

- Bem vindo de volta, comandante! – cumprimentou-me o senhor Ricks, o dono da pousada. O homem barrigudo, com um grosso bigode, segurava uma xícara com algum líquido fumegante enquanto mantinha sua velha tevê ligada na programação musical do Capitol.

- Obrigado. É bom voltar.

- Vai querer o mesmo da última vez?

Ele diminuiu o volume e largou a alça da caneca para alcançar a chave do quarto.

- O que o senhor tiver disponível para mim será ótimo.

Esfreguei a camada de suor da testa com as costas de uma mão e assinei o livro de registro enquanto o dono da pousada tagarelava sobre a Festa das Flores, ou pelo menos os detalhes que sua tevê velha conseguiu captar.

Depois de concordar com um sorriso forçado, agradeci pelo atendimento e peguei minhas malas, me preparando para subir. Mas o senhor Ricks me deteve.

- Espere... tem uma mensagem para o senhor. Aqui em algum lugar... – o homem começou a revirar vários papéis que estavam em prateleiras sob o balcão de madeira envelhecida e também sobre o móvel, embaixo de abajures, livros, panfletos e de uma sineta.

O ponteiro do relógio de vidro na parede da pequena e modesta sala de recepção já tinha se arrastado longos três minutos quando o homem me estendeu um pequeno envelope.

Agradeci, observando que o envelope não estava lacrado. Seria possível o dono da pousada ter tido a deselegância de abrir minha correspondência?

Pouco provável, porque não haviam indícios de que cola ou selo tivessem passado no papel.

Me dirigi até o quarto, jogando minhas malas em cima da cama e me sentando na beirada do colchão.

Abri o envelope em minhas mãos e dentro havia um pequeno pedaço de papel, que ficou ainda menor por ter sido dobrado ao meio.

Estou esperando por você.

K.

Apenas essas palavras.

Apenas isso e meu coração idiota pulsou quente em meu peito, mandando em minha corrente sanguínea uma mistura de sensações que fizeram minhas mãos formigarem, meu estômago gelar, meus músculos aquecerem, minha espinha estremecer e meus lábios sorrirem.

Mas nada daquilo era real. Eram apenas resquícios do sentimento que eu, inutilmente, continuava nutrindo por Katniss e que vinha tentando matar dia a dia há 15 anos. E eu precisava voltar a me conter, caso quisesse continuar com minha mente sã.

Respirei fundo. Duas vezes.

Mandei para as profundezas todas aquelas sensações, uma a uma, trancando-as em um local aonde pudessem ficar seguras e secretas. Silenciadas.

Peguei o bolo de cartas e, antes de sair, decidi pegar uma faca de caça. Coloquei ela na alça externa da minha bota e saí da pousada, acenando brevemente para o homem que continuava com sua barriga e sua xícara atrás do balcão da recepção.

Inicialmente tomei a direção da Vila dos Vencedores, mas, conforme fui me aproximando, percebi que a única casa com luzes acesas era a de Haymitch.

Se Katniss estava me esperando, só havia mais um lugar para onde ir.

Virei meus pés, caminhando rumo ao Meadow, lutando a cada passo contra as emoções que ameaçavam escapar do cofre que tinha criado dentro de mim para guardá-las.

Assim que passei os campos de plantação, senti todo o peso da patente, das responsabilidades e do protocolo caírem de meus ombros. Era como se o vento levasse tudo para bem longe de mim.

Ali, era como se eu voltasse no tempo e pudesse ser eu mesmo.

Me arrependi por não ter trazido meu arco e flecha para tentar caçar um pouco, reviver essa coisa boa do meu passado, antes de reencontrar Katniss novamente. Mas continuei caminhando.

Conforme eu pisava, me ressenti também de não ter colocado minhas velhas botas de caça, porque meus pés estavam mais pesados que o usual por causa das botas militares.

A poucos metros da nossa pedra, eu parei. Um sinal de alerta apitou dentro de mim quando eu ouvi o silêncio ao meu redor. Nem mesmo as árvores à minha frente, onde iniciava a floresta, farfalhavam umas com as outras.

Olhos me observavam, mas eu não sabia de qual direção.

Dei um passo atrás, mas naquele silêncio e com aqueles sapatos o som saiu mais alto do que eu gostaria.

Creck.

Algo se chocando contra uma árvore à minha direita me fez abaixar para uma posição defensiva para alcançar minha faca. Ou pelo menos era isso que eu pretendia, se meu pé de apoio não tivesse se movido e caído na armadilha estrategicamente feita para me capturar.


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Notas finais do capítulo

"0.0"
Estão todos vivos aí?!?!!? Pq se alguém tiver algum enfarto não vai descobrir de quem é a armadilha na qual Gale caiu!!! =)
E o bilhete de Katniss?! Era real ou falso? Se fosse real, por que ela queria encontrá-lo? E se ela queria encontrá-lo, onde foi que ela se meteu?!!?!??!?!!
Mais uma vez, obrigada à linda loba Angel, pelos reviews e pela linda recomendação!!!