Rise Again escrita por Fanie_Writer


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Olá Tributos!!!
Gostaria de mais uma vez deixar um muuuuito obrigada à loba Angel (Aloenne) que tem acompanhado a fic e deixado seus comentários.
Tenho estado beeeeeeem inspirada para essa história graças aos comentários de incentivo que vc deixou viu loba!!!
Aí está mais um cap para vocês...
Nos vemos nas notas finais....



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Dormir naquela noite foi impossível. Com os olhos abertos as memórias já eram insuportáveis, mas quando eu os fechava, parecia que eram reais.

Eu via a bola de fogo diante de meus olhos, ouvia o som seco e ensurdecedor da explosão e então assistia Katniss enjaulada dias em um quarto, tentando lutar para morrer em suas camadas de pele queimada.

Então, o sonho mudava. Eu me via de novo em frente ao prédio da Justiça e Katniss caminhava rumo ao palco após se voluntariar. Eu via Prim correr atrás dela e tentava alcançá-la, mas meus braços estavam presos por alguma coisa. E então a dor começava. Quarenta vezes eu a senti em minhas costas e então Prim explodiu de novo diante de meus olhos.

Na terceira vez que tentei dormir, as imagens me fizeram suar, mas de uma maneira diferente. Eu estava de novo na floresta, observando o lago à minha frente enquanto Katniss lentamente se despia.

Senti novamente tudo o que senti quando estava lá, cada batida frenética de meu coração, cada tremor em meu corpo, cada gota de suor que caía conforme eu senti meu corpo se aquecer apenas em observá-la.

Lentamente ela entrou na água escura do lago, se banhando também da luz prateada da lua sobre seu corpo. Mas então, ao invés de nadar com movimentos suaves, Katniss parecia forçar seus braços e pernas numa luta desigual contra o lago.

Contudo, não era o lago. Era a nuvem negra e densa do pod que foi ativado quando tentamos invadir o Capitol para matar Snow. Ela tragava Katniss para dentro, mas ela lutava.

Seu olhar cruzou com o meu, me identificando ao longe e então eu vi seus lábios se mexendo em gritos que eu não ouvia.

Atira em mim. Atira em mim, por favor.

Mas eu não pude. Nunca pude. Um minuto de hesitação e ela foi engolida. Quando dei por mim, tentei correr, mas braços de Pacificadores me detinham e apontavam uma arma na minha cabeça.

Fechei meus olhos com mais força, esperando pelo tiro e gritando por Katniss uma última e desesperada vez.

Quando abri os olhos exasperado com o som do tiro e do grito que cortou minha garganta, eu estava encharcado de suor de novo em minha cama na pousada.

Mas, apesar de saber que as imagens que ainda me atormentavam faziam parte de um pesadelo, o som do tiro parecia real demais.

Me sentei e olhei ao redor. A janela estava aberta e uma brisa mais amena entrava por ela, o que era bom, já que, mesmo sem estar vestindo nada, eu estava terrivelmente incomodado com o calor em meu corpo.

Levantei e caminhei em direção à janela para fechá-la e reparei que o vaso de flores que a pousada disponibilizava para seus hóspedes estava esfarelado no chão. Me abaixei para avaliá-lo melhor e, quando me ergui, um visitante me olhava atento da cama.

Seus grandes olhos amarelos me observavam e quando sorri, ele miou.

- É bom te ver também Buttercup.

O gato velho, cheio de pelos cinzas e que andava encurvado, ainda parecia esperto e disposto o suficiente para saltar a janela de um velho conhecido. Ou aquilo era mais um fantasma de Prim que apareceu para me julgar?

De qualquer maneira, suspirei antes de pegar os cacos de vidro do vaso quebrado. Aquele era o segundo objeto em cacos por causa da minha presença no Distrito 12. Se eu não fosse embora logo, talvez até o final de amanhã metade das casas do Seam estarão em ruínas e em dois dias não haverá mais Distrito 12 para contar história.

Depois de limpar a bagunça de Buttercup, me sentei na cama ao seu lado. Quando comecei a lhe fazer carinho entre as orelhas, ele ronronou.

- Talvez dessa vez Katniss finalmente te cozinhe, por ter me acordado desse jeito. – disse para ele, que chiou, como se estivesse ignorando a possibilidade de sua dona ficar com raiva dele.

Coisa que eu fazia antigamente quando nós brigávamos. Eu sempre sabia que Katniss no fundo não ficava com raiva de mim, assim como eu não ficava com raiva dela. Mas isso foi antes de eu matar Prim.

Me levantei, sob protestos de Buttercup por eu ter interrompido o cafuné, e vesti a roupa que eu tinha deixado em rastros no chão depois que cheguei exausto do jantar na casa de Katniss.

Ter que voltar lá não me agradava muito, mas a ideia de passar a noite com o bichinho de estimação de Prim também não era empolgante. Afinal, faltavam poucas horas para amanhecer e eu não iria voltar a dormir mesmo, então não me custava devolvê-lo.

Abracei o gato contra meu peito e caminhei pelas ruas vazias do distrito enquanto fazia cafunés no bichano para que ele não miasse tanto. De vez em quando, ele lambia o curativo que fiz em minha mão, sobre o corte que ganhei de lembrança do jantar com Katniss e seus filhos.

Quando entrei na Vila dos Vitoriosos novamente, relembrei os últimos momentos na casa de Katniss.

Depois de acalmá-la o suficiente para lavarmos a louça, finalmente eu me despedi para ir embora. Mas antes deixei a recomendação de que ela me ligasse, caso precisasse de alguma coisa.

Quebrando os longos minutos de silêncio desde seu ataque na cozinha, ela simplesmente disse antes de eu tomar meu rumo de volta à pousada.

- Senti sua falta.

Mesmo sendo soadas com sua voz contida, era quase como ouvir a minha Katniss de novo. Aquela que não tinha medo de mostrar o que sentia e não precisava se conter com medo das memórias que a assombrava virem à tona.

Apesar de minha vontade ser de beijá-la, apenas sorri e acenei com a cabeça antes de voltar para a pousada. E aqui estava eu de novo.

Parei em frente à sua casa verde. As luzes apagadas e a escuridão da rua deixavam as Primroses abaixo da janela ainda mais aterrorizantes. Ter o gato em meus braços piorava tudo.

Mas antes que eu pudesse enfrentar meus medos e finalmente bater à porta de Katniss, uma voz chamou minha atenção.

- Olha só quem voltou! O garoto apaixonado número dois! O primo perdido! Pensei que você estivesse ocupado brincando com aerobarcos e armas por aí.

Haymitch Abernathy disse.

Apesar de estar mais magro, bastante abatido, com rugas a mais e cabelos a menos, o mentor de Katniss permanecia o mesmo. E conforme ele se aproximava, percebia que seu odor também não mudara.

- Então, mal o artista de glacês esfriou na cova e aí está você, forte e viril, pronto para consolá-la. Até que não demorou tanto quanto eu esperava para ela te chamar. Oh, oi bichano. – o estado de embriaguez de Haymitch parecia ter passado do nível gravemente alcoolizado para o nível visivelmente afogado em álcool.

Decidi ignorar sua provocação e não responder como ele merecia: com um soco no nariz por ofender Katniss da maneira como ele fizera.

- Vá para casa Haymitch, antes que você se machuque.

Sem se importar em avaliar o quanto eu o desprezava e estava louco para surrá-lo, o homem bêbado tocou em meu ombro. Primeiro eu pensei que era para se apoiar, mas então ele estendeu o dedo indicador para mim numa tentativa ridícula de me intimidar.b

- Quer um conselho garoto? Vá embora. – ele cambaleou e tossiu seu bafo de licor em meu rosto - Mas se quer ficar, te dou outro conselho: arrume tampões de ouvido e bons sedativos para conseguir dormir, porque ela anda bem barulhenta nos últimos anos. Ou talvez os sedativos sirvam melhor para ela, tanto faz...

Contendo minha vontade de esmurrá-lo, eu simplesmente o empurrei para longe de mim, deixando que ele se afogasse em seu próprio vômito no cascalho.

Comecei a caminhar em direção à porta da frente da casa de Katniss, mas contive minha mão antes que ela tocasse a campainha e acordasse as crianças. Ao invés disso, dei a volta, contornando a casa para despachar o gato pela entrada dos fundos.

Minha ideia era soltar o gato seguramente dentro da cozinha e sair de lá antes que fosse possível notar minha presença. Mas meu plano foi por água abaixo quando eu abri a porta dos fundos e encontrei Katniss na escuridão, sentada à mesa da cozinha, com uma garrafa de licor na mão e remédios à sua frente.

- Oh... Katniss, me desculpe pela invasão. Mas eu tive um visitante inesperado. – soltei o gato no chão - Imaginei que ele estivesse perdido e vim devolver.

Ela olhou com desdém para Buttercup e ouvi algo como “Gato idiota”, antes de um gole na garrafa.

- Não conseguiu dormir também não foi? – ela disse tomando mais um gole após um instante de silêncio.

Ela não parecia alterada ainda pelo álcool – ao menos não como Haymitch -, mas seus olhos estavam penosamente caídos. A marca ao redor da gola da blusa sobre sua camisola indicava o quanto ela havia suado. Também.

- Não. Dificilmente consigo.

- Bem vindo ao clube. – disse com sarcasmo. Acho que isso sim indicava um crescente nível de alteração pela bebida.

- Será que posso...? – indiquei o lugar vago ao seu lado.

Ela não respondeu, mas estendeu a garrafa, colocando-a em frente à cadeira que eu tinha indicado.

Pensei em recusar, mas acho que isso faria com que ela me expulsasse de sua casa. Então, mesmo não gostando de beber, virei um gole do licor garganta abaixo.

- Minha cabeça está estourando... – ela resmungou apoiando os cotovelos na mesa e seu rosto sobre as mãos.

- Pelo o que sei, licor não ajuda a melhorar tampouco.

Ela saiu de sua posição e me olhou com uma expressão selvagem, tomando sua garrafa de minhas mãos.

- Obrigada por trazer o gato. E desculpe se ele te acordou ou algo parecido.

- Não tem problema... eu já estava acordado de qualquer maneira.

- Prim adora ele... – ela sussurrou, mas eu ouvi. Só não soube distinguir em que ano estávamos. Pelo gole que Katniss deu no licor, vi que ela também havia se perdido no tempo por causa de seu espontâneo comentário.

Um longo silêncio pairou no cômodo, quebrado apenas pelas nossas respirações pesadas, estalos do aquecedor elétrico e a garrafa de licor rodando sobre a madeira da mesa, conforme Katniss mexia nela.

- E desculpe por Haymitch também... conforme ele está ficando velho, mais ele bebe e mais insuportável está ficando.

Então ela tinha ouvido todo o alvoroço entre seu mentor e eu.

- Peeta me falou sobre seus pesadelos... – comecei, ainda incerto se deveria ter falado isso.

- Com certeza ele falou. – ela bebeu mais um pouco.

- Você não é a única a sofrer com isso Katniss.

- Diz isso porque nunca viu meus ataques noturnos.

- Mas Peeta viu.

A garrafa parou de rodar. O próximo estalo do aquecedor pareceu mais alto que os outros.

- O quanto Peeta falou para você de nossa vida? Aposto que todo mundo em Panem já deve saber o quanto Katniss, a garota em chamas, aterroriza o Distrito 12 com seus gritos. – sua íris cinza havia assumido um tom flamejante de raiva.

- Afinal de contas, por que você está me tratando assim? Eu não falei para ninguém sobre o conteúdo das cartas e também não é como se Peeta estivesse publicando Propos sobre vocês. Era só um pouco de informações sobre você para mim.

- Você não tinha esse direito. Nenhum de vocês dois tinha. É a minha vida.

Ela se levantou com raiva e saiu do cômodo arrastando os pés e a garrafa de licor.

Fiquei um tempo na cozinha, sozinho com os estalos do aquecedor. Minha vontade era de ir embora e deixar Katniss com sua raiva e suas memórias.

Mas me lembrei de quando Peeta foi assaltado pelo veneno de Tracker Jackers e ela fazia exatamente isso. Fugia dele, pensando que essa era a melhor solução.

Ao invés de voltar para a pousada e pegar o trem de volta ao Distrito 2, segui o caminho que Katniss fizera. Em uma janela do corredor, vi o horizonte ser riscado por uma luz dourada, antes do sol aparecer.

Parei à soleira da porta que separava a sala dos outros cômodos e fiquei observando Katniss com o rosto afundado na palma das mãos. Os espasmos estavam de volta.

Fiquei lutando internamente com minhas próprias aflições antes de caminhar na direção dela e puxá-la para um abraço desajeitado.

A principio ela se assustou ao me ver, provavelmente pensando que eu realmente tinha deixado ela lidar com seus problemas sozinha, mas então se rendeu aos meus braços.

Me sentei no sofá ao seu lado e ela se aninhou em mim, chorando copiosamente até depois que a luz do sol iluminou todo o cômodo.

- Ele morreu. Ele não vai voltar. – ela sussurrava repetidas vezes. Isso me fez entender que aquela era a primeira vez que ela compreendia por completo a realidade ao seu redor e admitia a si mesma o quanto a morte de Peeta era real.

Quando os intervalos entre uma frase e outra passaram a ser maiores e os espasmos mais controlados, respondi.

- Mas eu estou aqui, querida. E eu não pretendo te deixar sozinha.

Depois disso, os espasmos se foram de vez. O silêncio voltou, mas dessa vez era leve.

Não sei precisar quanto tempo ficamos na mesma posição, mas quando ouvimos os sons no andar de cima que indicavam que as crianças haviam acordado, depositei um beijo no topo da cabeça de Katniss.

- É melhor eu ir, antes que elas me vejam aqui.

Me levantei do sofá, num movimento novamente desajeitado, hesitante. Minha mente me dizia para partir, mas meu corpo queria voltar a ter o corpo de Katniss tão perto.

- Quando você volta? – ela apertou os dedos, nervosa, como se as palavras tivessem saído sem sua permissão. Sorri surpreso com sua ansiedade, mesmo que seus olhos estivessem indicando uma forte luta interna apenas por me fazer aquela pergunta.

Coloquei minha mão em seu rosto. A ponta de meus dedos tocando o início de suas cicatrizes no pescoço.

- Assim que der, volto logo para te ver. – ela descansou o rosto em minha mão e meu coração bateu mais acelerado do que eu pensei ser possível – Mas eu prometo ligar ainda hoje para saber como você está.

- Obrigada. – ela ofegou com um sorriso.

Quando me soltei dela, senti como se estivesse deixando uma parte de mim para trás. Mas eu precisava deixá-la com a segurança de que seu melhor amigo estava de volta para protegê-la. E precisava partir antes que o homem que a amava emergisse sobre todos os meus esforços e me fizesse fazer uma loucura. Não era dele que ela precisava.

Acenei com a cabeça quando ficamos parados na porta, dando um último olhar. A palavra de despedida estava travada em minha garganta.

E então, com um sorriso, ela fechou a porta e me deixou sozinho de novo com o exército de Primroses, ainda mais visíveis e ameaçadores sob a luz do sol.

Balancei a cabeça para os lados, ignorando a ameaça das rosas amarelas e caminhei de volta para a pousada. De volta para minhas responsabilidades, mas não de volta à minha solidão.


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Notas finais do capítulo

Só eu senti inveja do Buttercup por acordar um Gale calorento no meio da madrugada e do jeito que veio ao mundo??? Aaaaah gato velho danado!!! =P
Mas deixando o gato pra lá de velho de lado, já de para perceber que as marcas da guerra vão além de cicatrizes na pele não é? Não foi apenas Katniss que saiu ferida disso tudo... Gostaria que Suzanne Collins tivesse mantido pelo menos o Finnick vivo para eu poder mostrar como eu imaginei que ele ficaria mentalmente após tudo o que passou...
Mas as coisas ainda não param por aí......
Outra coisa que deu para perceber é que Haymitch continua o mesmo, exceto pela birra que ele desenvolveu por Gale... mais para frente vou deixar isso mais claro.
Já adianto que ainda vamos ter muitas provas do quanto Katniss e Gale estão emocionalmente instáveis, mas sem deixar de lado também o que Peeta sentia. Siiiim meu povo, Peeta não morreu totalmente!!!
Ele vai ser essencial para a ação principal da fic, que ainda não aconteceu, já que estou desenrolando as confusões mentais de nosso casal... que pode ou não vir um casal de fato...
Bom, vou parar por aqui antes que alguém decida me mandar a conta do Psiquiatra por colocar taaantas questões confusas em uma só nota final!!!
Aguardo os comentários e recomendações ok?
Beijuuuuuuuuuuuuuuuuux