Rise Again escrita por Fanie_Writer


Capítulo 21
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Meus Mockingbirds!!! Desculpem a demora!!!

Eu pretendia postar esse capítulo no sábado passado e estava ansiosíssima para postar depois de tantos reviews que positivaram a recepção ao capítulo anterior, com aquele inesperado momento Galeniss, mas tive problemas com meu notebook. Eu costumo salvar no pen drive e copiar no note como backup, mas nas últimas semanas eu estive digitando no arquivo do note... enfim, fiquei loka da vida com esses dias sem poder escrever Rise Again!

Mas agora o note está bem, e aqui vai o cap pra vocês!

Gostaria de agradecer, mais uma vez, às leitoras adoráveis que me incentivam e me divertem com seus comentários e análises sobre essa fic!

É por vocês e para vocês que ela é escrita!

Tenham uma boa leitura e nos vemos nas notas finais



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O dia seguinte ao atentado contra Plutarch e ao prefeito Waveya foi um inferno. A imprensa montou acampamento na estação de trem porque sabia que era nossa opção principal de transporte.

Com isso, perdemos metade do dia até a chegada de um aerobarco que nos levaria até o Distrito 1 para dar assistência à família do prefeito e depois de volta ao Dois, enquanto a presidente preparava um anúncio televisivo à nação.

Os tributos ainda usavam as roupas do jantar quando chegaram ao Distrito 1 e foi preciso providenciar uniformes para eles. Tínhamos disponíveis e acessíveis no momento apenas uniformes de recrutas.

Ou seja, a ideia de combatentes que Paylor tanto queria passar à população não poderia ser bem empregada hoje.

Assim que desembarcamos, percebemos o clima de hostilidade no Distrito. Conforme caminhávamos sob escolta até a casa do prefeito Brick Waveya, as pessoas fechavam seus pontos comerciais, desviavam de nosso caminho ou fechavam a porta de suas casas.

A equipe de Cressida estava com as câmeras ligadas, mas, ao perceberem esse clima hostil dos moradores, os cameramans focaram as lentes apenas nos Mockingjays.

Quando chegamos na rua da casa do prefeito, percebemos uma aglomeração de pessoas que se juntaram na ostentosa casa branca, de telhado e persianas azuis e jardim bem cuidado, para oferecerem suas condolências.

De repente, o grupo que bloqueava a porta de entrada abriu passagem e um homem alto, com despenteados cabelos prateados e óculos de lentes grossas que destacavam a vermelhidão de seus olhos, avançou até nós.

Ele desarrochou o nó da gravata que já estava frouxa e a lançou para algum lugar no jardim.

- Saiam daqui! – apontou o dedo para a direção que viemos.

Dois soldados avançaram prontos para impedir que o homem se aproximasse mais de Katnisss, que ia mais à frente, mas eu fiz um sinal para que eles mantivessem suas posições.

- Senhor, lamentamos sua perda e viemos...

- Lamentam?! – o homem cortou Katniss. – Vocês deveriam ser presos, isso sim! Dizendo por aí que estamos todos seguros, garantindo que tudo está sob controle. Vocês ao menos sabem quem é o responsável pela morte de minhas filhas?

- Nós estamos investigando e em breve...

- Em breve... em breve... – ele riu sem humor - Quer ajudar? Então volte do lugar de onde você não deveria ter saído, Garota em Chamas, e fique longe do meu distrito.

- Senhor Waveya, nós só queremos garantir a segurança da sua família e oferecer nosso apoio.

- Que se dane o que a presidente Paylor obrigou vocês a decorarem para me dizer. Esse distrito é meu e se vocês voltarem a pisar aqui para continuar com esse circo que vocês têm feito, eu juro que vou esquecer o que você já fez por esse país e vou terminar de queimar o que sobrou de você, garota!

O homem abaixou o indicador e deu as costas para Katniss, mas não conseguiu avançar mais do que dois passos. Seu corpo cedeu sobre os joelhos e ele tentou se segurar na caixa de correio.

Várias pessoas avançaram para ampará-lo, mas quem estava mais perto e chegou primeiro foi Katniss.

Num primeiro momento, o prefeito a empurrou e bateu na sua mão para afastá-la, mas então ela o puxou para um abraço, sussurrando palavras de conforto.

Nem eu, nem ninguém sabia o que ela havia dito a ele, mas quando ele finalmente parou de chorar e acenou positivamente para Katniss, eu tive minha convicção renovada de que deveria fazer tudo para manter aquela mulher viva. Não apenas por mim, por Prim e Fin ou pelos outros tributos, mas por Panem.

Já estávamos acostumados a ela, acostumados a nos espelhar em sua força e em sua coragem, mesmo nos piores momentos que enfrentávamos. Especialmente nos piores momentos.

Quem quer que estivesse por trás de tudo isso estava disposto a afetar a todos, mas tinha como alvo final essa imagem poderosa que Katniss transmitia.

E o fato de ela ser assim sem nem ao menos se esforçar era o que fazia meu coração acelerar enquanto a via confortando o prefeito Waveya.

Fosse o que fosse que Katniss disse ao prefeito, ele permitiu que acompanhássemos o velório de suas filhas, mas sem a presença das câmeras.

Depois de uma hora, voltamos para a Noz ainda impactados pela imagem das duas garotas, uma de dezoito e outra de doze anos, que poderíamos dizer estarem dormindo se não fossem as marcas de enforcamento em seus pescoços. Aquilo dava uma estranha sensação de frustração misturada ao desejo de justiça, que nos impulsionou a trabalhar mais duro para descobrir o que estava acontecendo.

Enquanto a divisão de investigação estava focada em averiguar a veracidade das informações dos convidados do jantar de ontem, eu me foquei na lista de acessos aos arsenais distritais que Beetee me passou, além da lista de partidários de Snow que eu trouxe comigo.

Eu não sabia há quantas horas estava no Centro de Comando quando Katniss se aproximou de mim com dois sanduíches e duas canecas de suco de proteína.

- Que tal uma pausa? – ela me ofereceu.

Quando me movi, senti cada vértebra de minha coluna reclamando por ficar tanto tempo encurvado sobre a montanha de papeis.

- Obrigado. – peguei o lanche que ela me oferecia.

Ela meneou a cabeça cumprimentando Beetee antes de lhe entregar o lanche extra que trouxe para ele, que estava mais no canto da sala, empenhado nas suas próprias pesquisas.

- Precisa de ajuda em alguma coisa? Parece que ainda tem muito serviço por aqui.

- Tudo bem, estou conseguindo tomar conta de tudo.

- E já descobriu alguma coisa? – ela pegou uma das listas de partidários de Snow, agora com vários nomes eliminados conforme eu verificava a localização e o histórico social de cada um dos que estavam vivos desde a rebelião.

- Talvez... – tomei um gole do meu suco e reparei que consegui chamar sua atenção. Assim como de outras pessoas que estavam na sala – Mas não quero falar disso agora. Quero te mostrar uma coisa.

Depois de dar um longo gole, deixei a caneca na mesa onde trabalhava, juntei todo o meu material e carreguei comigo, enquanto segurava a mão de Katniss com uma mão e o restante do sanduíche com outra.

Conduzi ela até o estúdio preparado para a transmissão de Paylor, que seria mais à noite, durante a programação de telejornais.

No momento, por mais absurdo que pudesse parecer, aquele era o local mais seguro da Noz para se conversar sem qualquer interferência. De pessoas ou de aparelhos de rastreio.

Eu sabia, porque eu mesmo fiz questão de fazer os engenheiros checarem toda a rede de transmissão, criptografando e codificando os sinais e canais.

- Por que me trouxe aqui? – ela olhava para as câmeras em posição, enquanto eu pedia para que os soldados que guardavam o lugar por dentro esperassem lá fora.

- Eu descobri uma coisa sim. Na verdade, duas. Mas não dava para falar com tanta gente em volta.

Puxei duas cadeiras para que pudéssemos nos sentar e peguei as listas que eu analisava antes de ela aparecer.

- Olha isso... – mostrei a lista de acesso ao arsenal da Noz – Tente contar quantas vezes o nome em destaque aparece nessa lista.

Katniss segurou o papel e acompanhou o nome que se repetia mais que o comum.

- Quer dizer que Blake... Ele matou Plutarch?

- Não tem como confirmar isso. Mas é estranho ele ter acessado tantas vezes o arsenal em tão pouco tempo. Mas tem mais.

- Mais?

Dei-lhe outra folha. Dessa vez, não havia um nome específico e sim um termo.

- O que significa Acesso Irrestrito?

- Significa que Peeta estava certo. Não podemos confiar em ninguém, Katniss.

- Não estou entendendo.

- Apenas funcionários do gabinete presidencial ou a própria presidente têm acesso irrestrito aos arsenais de todos os distritos. Nem mesmo eu posso retirar qualquer coisa de lá sem registrar minha digital e fazer uma leitura óptica.

Katniss ficou em silêncio, absorvendo essas informações e então estendeu as listas para mim, como se estivesse com nojo de tocar aqueles papéis.

- E esses outros papéis? – ela apontou o queixo para as listas de partidários de Snow – Observei por cima enquanto você lanchava, mas não entendi o padrão desses nomes.

Umedeci os lábios e mudei minha posição no assento antes de passar essas listas para ela.

Katniss voltou a ler cada nome, juntando as sobrancelhas em confusão e concentração de um jeito que a deixava charmosa.

- Esses são antigos assessores, secretários, amigos, familiares e partidários de Snow.

Ela imediatamente ergueu os olhos para encontrar os meus e então voltou a olhar para a lista, agora dedicando toda a sua atenção a cada nome.

- Alguma hipótese?

- Até agora nada. Muitos se refugiaram em outros distritos, a maioria até mudou de nome, mas mantém um bom histórico social. Mas já é algo melhor do que o que eu tinha antes...

Cocei a cabeça e apoiei os braços nos joelhos, sentindo a frustração de ter perdido o que Peeta tinha deixado para mim, além do material que eu tinha encontrado na biblioteca abandonada do Treze.

- Você está chateado. O que houve?

- Eu tive que recomeçar tudo do zero. – senti um pouco do peso deixando minhas costas ao finalmente poder dividir essa frustração com alguém – Antes de eu ser baleado, estava seguindo as pistas que Peeta havia deixado para mim. Mas tive que seguir outra linha de investigação depois que tudo o que descobri foi roubado.

- Roubado?! Quando?

- No dia que a presidente convocou todo mundo para anunciar sobre o maldito jantar de ontem. – esfreguei a mão na nuca.

- E não tem nenhuma pista de quem foi.

- Não. – apesar de ela não ter feito exatamente uma pergunta, respondi com uma arfada de ar.

- Isso significa que é alguém aqui de dentro e que aproveitou o anúncio de Paylor. Talvez até soubesse dele.

Concordei com a cabeça e então Katniss ficou em silêncio, talvez raciocinando sobre cada informação.

E então senti um toque suave em meu ombro. Mesmo por cima de todas as camadas de uniforme, o carinho reconfortante dela comichou minha pele, espalhando um calor por minha espinha que relaxou meus músculos tensos.

- E o que você tinha descoberto?

Me ajeitei na cadeira e segurei sua mão, sorrindo ao ver que ela não ofereceu resistência ao gesto. Descobri que me fazia bem ter os dedos dela entrelaçados aos meus enquanto eu tentava organizar o turbilhão de informações em minha cabeça.

- As pistas de Peeta me fizeram pensar na possibilidade de não estarmos sozinhos no planeta como pensávamos. E eu tinha encontrado mapas que poderiam provar essa teoria. Se não for alguém ligado a Snow, pode ser um país interessado em conquistar Panem.

- Faz sentido... Afinal, vivemos tanto tempo acreditando que o Distrito 13 não existia. Mas por que essa tortura psicológica toda? Por que simplesmente não invadem, bombardeiam tudo e acabam logo com isso?

- Não sei. É apenas uma das hipóteses. E estou tentando analisar quantas forem possíveis.

Katniss ficou mais uma vez em silêncio, me deixando brincar com seus dedos enquanto pensávamos em tudo isso.

- Tem certeza de que é seguro falarmos sobre tudo isso aqui? – ela olhou mais uma vez para as câmeras e monitores à frente da área com fundo verde e púlpito de cristal. Estávamos sentados aonde a equipe de direção e produção ficaria, e com minha mão livre abri um dos vários bolsos do casaco do meu uniforme e mostrei o dispositivo embaralhador de sinal. Ela sorriu compreendendo.

Em seguida, Katniss deslizou seus dedos por minha nuca, embrenhando seus dedos no meu cabelo curto e fazendo um carinho que era parecido demais com aquele que só minha mãe sabia fazer em mim.

Fechei os olhos aproveitando o carinho, mas travando uma batalha interna com esse gesto dela. Uma parte de mim queria que ela não parasse nunca, enquanto a outra estava quase implorando para ela parar antes que eu começasse a ronronar igual um gato de rua quando recebe um pouco de atenção.

- Obrigada por compartilhar isso comigo.

- Você é a única pessoa em quem confio, Catnip. – ergui sua mão, levando aos meus lábios. Minha vontade era poder sentir os lábios dela nos meus, já que o breve toque de ontem à noite não me permitiu matar completamente a saudade do beijo dela. Mas eu precisava agir com calma. Até agora não havíamos mencionado o que aconteceu ontem e eu não seria o primeiro a levantar o assunto – É melhor voltarmos.

- Sim, é melhor. – ela respondeu, logo se levantando e ajeitando o uniforme enquanto eu juntava meu material de pesquisa. – As crianças já estão para chegar da aula experimental que a escolta providenciou para entretê-los hoje e ainda tem esse anúncio da presidente.

- E como Prim e Fin estão?

- Estão bem. Minha mãe deixou eles assistirem apenas à minha entrada, então eles não viram o que aconteceu depois. E falando em mãe preocupada, Hazelle estava reclamando hoje de manhã enquanto ia com eles para essa aula sobre o quanto os filhos dela são ingratos.

Acompanhei a risada de Katniss e rolei os olhos antes de chamar os soldados de volta aos seus postos dentro do estúdio.

- Minha mãe exagera. Eu falei com ela antes de ir para o Capitol.

- Procura por ela depois só para acalmá-la. – ela deu de ombros e a olhei com curiosidade – É coisa de mãe. Talvez quando você for pai, entenda um pouco. Mas algo me diz que você vai ser tão preocupado quanto nós.

Mordi o lábio inferior quando as palavras dela afundaram em mim. Katniss acompanhou minha passada visivelmente mais lenta, mas não disse mais nada a respeito.

Até poucos dias atrás eu sequer sabia mais se seríamos amigos após mais uma manifestação das mágoas e acusações que nos separou e então ontem ela reagiu de uma maneira totalmente inesperada quando eu disse que a amaria sempre, independentemente do que ela dissesse a respeito.

Sim, ela sabia que eu a amava. Sim, ela me considerava alguém especial. E até o momento que ela disse isso eu estava determinado a aceitar apenas isso dela.

Mas quando ela selou seus lábios nos meus, mesmo que tão superficialmente, tudo mudou. Ela me beijou.

Então talvez ela estivesse pelo menos pensando na possibilidade de haver um nós, não estava?

Se não estava, então porque acendeu essa doentia esperança com aquele gesto tão simples, mas que fez um estrago tão grande em mim?

E esse assunto sobre filhos e sobre quando eu for pai? De onde isso surgiu?

Não vou dizer que nunca tinha pensando nisso, porque eu pensei. Muito mais do que deveria. E numa idade e numa época em que esse deveria ser o último dos meus pensamentos.

E por que eu não conseguia mais parar de pensar nessa possibilidade agora?

Filhos. Com Katniss.

Será que um dia seria possível ou eu estava entrando na famosa crise de meia idade naquele instante?

Droga, essas coisas de relógio biológico não deveriam existir apenas para as mulheres?

- Te vejo mais tarde. – ela disse quase num sussurro e então percebi que havíamos chegado de volta ao Centro de Comando.

Sorri para ela e ela retribuiu, antes de se afastar.

Depois que sua silhueta virou a curva que a levaria para o elevador, entrei na sala e senti vários olhares curiosos em mim. Beetee estava com um sorriso sugestivo no rosto.

- A não ser que tenham parado por algum motivo muito importante, recomendo que voltem ao trabalho.

Tentei falar o mais firme que consegui, mas o sorriso que Katniss me fez abrir para ela ainda estava lá no meu rosto enquanto eu ordenava. Aquilo fez alguns soldados rirem o mesmo riso sugestivo de Beetee enquanto voltavam às suas funções.

Conforme as horas avançavam e o momento da transmissão ao vivo chegava, as prioridades de todos mudaram e não tinha como não ser contagiado com a tensão que estava deixando a Noz sob pressão.

Depois de me assegurar de que todo o meu material de investigação estava em segurança novamente, tratei de cuidar para que nada desse errado nessa transmissão.

Pelo comunicador ficava mais fácil orientar a posição de cada equipe de segurança, pedir para testarem novamente todos os dispositivos de segurança e acompanhar passo a passo da equipe que escoltaria a presidente e sua comitiva até a Noz.

Quando o momento chegou, todos estavam em seus lugares e tudo funcionava exatamente como prevíamos. Mas todos os outros eventos também foram assim e, mesmo assim, aconteceram invasões de transmissões e atentados.

Permaneci no estúdio junto com os soldados que já estavam lá enquanto os últimos detalhes eram ajustados pela equipe de diretores, produtores e técnicos.

Um sinal tocou, todos os que estavam diante das câmeras saíram e deixaram apenas a presidente. O fundo verde se transformou diante dos nossos olhos em uma gigantesca bandeira de Panem, graças aos equipamentos holográficos, e uma produtora fez contagem regressiva.

Quando o sinal foi dado, a introdução do hino de Panem soou alta e então foi diminuindo de volume até se tornar uma melodia de fundo.

- Boa noite cidadãos e cidadãs de Panem. Essa noite venho até vocês para esclarecer os acontecimentos recentes que têm aterrorizado nossa nação. Apesar dos nossos esforços e investimentos, sofremos com essas ameaças que unicamente têm como objetivo assustar-nos e provocar a desunião. Eu poderia muito bem nesse exato momento ter continuado a trabalhar para que os responsáveis por esses crimes fossem presos e punidos. Mas ao invés disso, eu, como presidente, tinha o dever de vir prestar esclarecimento a vocês. Vidas foram perdidas de maneiras brutais e desumanas. E eu garanto a vocês que isso não ficará impune.

Paylor deu uma deixa para que as imagens dos treinamentos dos Mockingjays e das ações que eles realizaram nos distritos, assim como a visita ao prefeito Brick Waveya, fossem exibidas enquanto ela continuava discursando.

Olhei para Katniss, mas ela estava atenta ao monitor que exibia esse vídeo, especificamente naquele momento de suas aulas de arco e flecha aos outros tributos e, logo em seguida, do consolo que ela deu ao prefeito do Distrito 1.

O discurso continuou por mais oito minutos, com Paylor detalhando cada ação que vinha sendo tomada e aquelas que seriam tomadas a partir daquele momento para garantir a paz à população.

Quando ela encaminhou sua fala para o desfecho, destacando o quanto todos se sentiam em luto pela perda de Plutarch Havensbee – com um vídeo em sua homenagem enquanto ela falava –, o hino de Panem voltou a soar em volume mais alto, até que ela desejou boa noite e a produtora deu o sinal que indicava que estávamos fora do ar.

Várias pessoas suspiraram aliviadas ao mesmo tempo, enquanto que outros se cumprimentavam ou iam cumprimentar a presidente.

Mas antes que Paylor pudesse se mover para longe do púlpito de cristal, os monitores chiaram, ficaram com a tela de ajuste de cores e então a antiga letra do hino de Panem voltou a soar. Logo em seguida a imagem da bandeira ensanguentada apareceu, com o símbolo do leão alado se sobrepondo a ela.

Ordenei para que o sinal de transmissão fosse rastreado e que a Central de Comando tentasse identificar o hacker que conseguiu descodificar e descriptografar os canais para aquela invasão.

E então, mais um chiado antes de imagens de um tipo de câmara ou cela aparecerem nos monitores.

- Diga olá para a câmera, Plutarch. – a voz que parecia segurar a câmera que se aproximava cada vez mais do homem encapuzado e acorrentado em uma cadeira, estava embaralhada, numa mistura de vozes masculina e feminina difícil de identificar.

Duas outras pessoas apareceram na cena e se posicionaram um de cada lado da cadeira. Não dava para saber também se eram homens ou mulheres porque estavam com muitas sobreposições de roupas pretas, além de mantos e máscaras igualmente pretas.

- Não seja tímido. Você sempre foi tão aparecido. Vamos, mostre seu rosto para que o país o veja.

Um dos encapuzados retirou o pano que escondia o rosto de Plutarch, revelando a extensão de seus ferimentos.

Mas, apesar de estar com metade do rosto inchado, o olho roxo e um corte na boca, ele não tinha os sinais de tortura que existiam quando seu corpo apareceu no salão do jantar presidencial.

Porcaria... Esse vídeo tinha que sair do ar o quanto antes!

Corri para o Centro de Comando, fazendo de tudo para ajudar a retirar a transmissão pirata do ar. Chegou ao ponto de eu gritar com um dos soldados ordenando que ele arrancasse a antena se fosse preciso, mas logo em seguida me forcei a pedir desculpas.

- Diga a eles qual foi o seu crime, Plutarch.

- Por favor, me solte. Eu já disse que eu não fiz nada! Eu não sei do que vocês estão falando!

- Não sabe? Bem, então eu vou te ajudar a lembrar o que foi que você fez de tão errado.

O outro encapuzado puxou uma mesa com vários itens que se assemelhavam a ferramentas cirúrgicas. Ele foi erguendo um por um e mostrando para a câmera, pedindo a aprovação de quem estava coordenando aquele show de horrores.

Quando ele pegou um alicate grande e visivelmente afiado, a pessoa por trás da câmera manifestou sua aprovação.

Num movimento rápido e certeiro, o encapuzado cortou os três dedos médios da mão esquerda de Plutarch antes mesmo que ele tivesse a oportunidade de entender o que seu carrasco pretendia fazer.

Por longos dois minutos, os gritos de dor de Plutarch ecoaram por toda a Noz e eu sentia como se estivessem moendo meus ossos.

O sentimento de revolta me dominou e me fez retomar o controle da situação, obrigando todo mundo a voltar ao trabalho após os minutos que deixaram todos paralisados de choque.

O vídeo continuou rolando, com aquelas pessoas fazendo acusações a Plutarch exatamente sobre o que Katniss tinha concluído no dia anterior. Para eles, ele era um traidor por ter ajudado os rebeldes há quinze anos, mas estava nítido que aquela punição toda e sua morte foi por ele ter ajudado a resgatar Katniss da arena do Quarter Quell.

Enquanto a sessão de espancamento recomeçava antes de marcarem o peito dele com o letreiro “Traidor” de ferro aquecido no fogo, continuei a tentar ajudar a rastrear o sinal de transmissão. Em um determinado momento, tive que parar para socorrer uma soldada que desmaiou bem ao meu lado ao não suportar mais ver aquelas cenas.

- Plutarch, Plutarch, Plutarch... Você decepcionou muita gente. Muita gente que confiou em você. E eu esperava mais de você. Agora, o que você acha que eu vou fazer, hein?

Num último gesto de força, Plutarch aproveitou a aproximação da câmera, que estava sobre o seu rosto e cuspiu uma mistura de saliva e sangue contra a lente.

- Vá para o inferno! – ele disse.

- Já fui. Fui mandada para lá pelas pessoas que você ajudou a proteger. E agora? Onde eles estão, hein? Cadê toda aquela união? Sabe, Plutarch, eu gostaria de manter você vivo só para que você pudesse ver tudo o que você ajudou a levantar, ruir pouco a pouco. Mas eu não posso te deixar vivo. As pessoas têm que perceber que o discursinho de paz que a presidente e os passarinhos dela piam por aí não passa de pura ilusão. Alguém precisa alertar os cidadãos de Panem! E acredite, quando eu colocar a cabeça de cada um de vocês em uma bandeja, Panem vai ficar tão grata a mim que vão me eleger como presidente na mesma hora. Mas chega de falar de mim... Quer dizer alguma coisa? Aproveita, porque serão suas últimas palavras.

- Nada jamais vencerá a justiça, especialmente a justiça vinda do povo. O povo de Panem já se levantou outras vezes contra a tirania e eu acredito que...

- Ah, cala a boca, velho tolo e resmungão! – dizendo isso, a pessoa que segurava a câmera cortou a garganta de Plutarch.

Por causa da proximidade, a artéria esguichou sangue na lente e Plutarch agonizando foi a última imagem da sessão de tortura antes dos monitores voltarem a transmitir a programação normal da noite. No caso, era o terror estampado nas expressões dos âncoras e apresentadores de telejornais que não sabiam o que dizer após as cenas assistidas.

- Conseguiram alguma coisa? – perguntei desesperado.

- Não, senhor. – um soldado respondeu. Olhei para outro e outro, e outro, mas todos tinham a mesma resposta.

- Ou estamos lidando com alguém muito capacitado ou é uma tecnologia de transmissão de dados muito mais avançada do que a que temos. – Beetee disse num murmúrio chocado.


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Notas finais do capítulo

Vamos por partes pq esse cap teve muita coisa né?

Perceberam que nem Gale e nem Katniss tocaram no assunto sobre o breve climinha que rolou na noite anterior? Apesar de eles terem um momento íntimo, onde Gale pode dividir suas preocupações, a falta de coragem o impediu de falar sobre o que aconteceu. Acham que isso vai ser bom para ele, por se preservar, ou que isso vai prejudicar a relação dos dois diante de tanta tensão?

E a transmissão da morte de Plutarch??? Houve muito sangue, muito grito e muito sofrimento!!! #SouMaldosa
No finalzinho de tudo tem mais uma pista para a resolução desse mistério todo, hein!

E preparem seus coraçõezinhos porque vem fortes emoções por aí... Lembram-se do que falei nas notas do cap anterior, sobre o atentado contra Gale? A partir do capítulo 22 as coisas vão ficar cheeeias de ação!
Só porque vocês são leitores incríveis, adianto que esse atentado vai motivá-lo a agir para conseguir mais informações sobre esse mistério, mas isso fará com que os responsáveis contra-ataquem. Nisso teremos uma grande perda que vai abalar Gale imensamente.

Façam suas apostas (e aos cardíacos, peço que não esqueça de tomar seus remédios, hein??? =P), porque a coisa está afunilando para os dois lados dessa trama!!!

Tenham uma ótima semana e nos vemos no próximo capítulo (que eu pretendo postar até quinta-feira, no máximo, ok?)!



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