Quando você estava em pé no meio da devastação

Quando você estava esperando na beira do desconhecido

E com o cataclisma desabando

Chorando por dentro: "Salve-me agora"

Você estava lá e possivelmente sozinho

Você sente frio e perdido em desespero

Você constrói a esperança, mas o fracasso é tudo que você conheceu

Lembre-se de toda a tristeza e frustração

E deixe-a ir

Deixe-a ir.

Linkin Park - Iridescent

Parte I

O dia amanheceu escuro em Konoha. Eu havia acordado ainda de madrugada e não tinha conseguido voltar a dormir. Saí de casa para tentar espairecer, esquecer e neutralizar todos os pensamentos desgostosos que invadia minha mente.

O oposto da morte é a destruição de si mesmo. Você está se destruindo Sasuke, deveria ter morrido, nunca ter voltado. Não há lugar para você...

Suspirei e comecei a treinar para tentar evitar a voz que continuava falando asneiras dentro da minha cabeça.

Já era uma rotina. Levantar de madrugada depois dos pesadelos e sair para treinar até que o céu começasse a clarear, indicando os sinais do amanhecer. Hoje havia sido diferente. Nuvens escuras de chuva estacionaram em Konoha e em questão de minutos iria derrubar toda sua fúria pelas ruas e casas da aldeia.

Tomei meu café lentamente, imerso em pensamentos. Mesmo chovendo eu teria que ir trabalhar. Era essa uma das minhas punições por ter traído Konoha. Além de ter sido preso por um ano, sou obrigado a usar uma tornozeleira que drena grande parte do meu chakra por três anos e devo cumprir serviços comunitários até que a Hokage esteja satisfeita.

Mais um animalzinho seguindo as ordens de uma mulher que não deveria estar no poder. Mate-a Sasuke, mate-a e ocupe seu lugar.

Enquanto estiver usando essa tornozeleira sou considerado apenas um civil. Um civil ajudando a reconstruir a aldeia e mês que vem quando finalmente estarei livre desse empecilho, poderei participar de missões como ninja.

Sem temer o céu escuro e sua fúria, comecei a andar pelas ruas da aldeia em direção ao meu destino. As ruas estavam vazias, com exceção de alguns civis e shinobis que não temiam a chuva que estava ameaçando despejar nas nossas cabeças.

Já haviam passado anos, mas as pessoas ainda me julgavam pelos meus atos. Todos os passos dados eram recebidos com olhares de desaprovação, revolta, medo. Por mais azarados que os humanos se julgassem no auge da calamidade, nenhuma desgraça que eles pudessem conhecer era pior do que aquela que se abatera sobre mim. E eles me julgavam.

Persistindo na minha caminhada, fixei meu olhar para frente e tentei ignorar os olhares dirigidos a mim. Então no meu estado de afastamento eu a escutei. Sua risada vibrou em meus ouvidos de uma maneira gostosa. Segui em direção ao som e a encontrei parada conversando com alguém. Um shinobi. Homem.

A fúria e a ânsia assassina possuíram minha sanidade. Avancei com passos curtos...

Vamos Sasuke. Mate-o e depois a possua até ficar cansado e ela começar a chorar.

Travei. As cenas do meu pesadelo voltaram e se repetiram até eu ficar enojado. Sangue por todos os lados, a voz dela dizendo que me odiava. Não. Isso eu não conseguiria suportar.

Sakura é uma mulher independente. Alguém que eu decidi deixar para trás e prometi a mim mesmo que nunca mais iria fazê-la chorar. O meio mais correto e fácil era simplesmente me afastar, continuar sendo o monstro que ela havia presenciado uns anos atrás. O monstro que tentou matá-la. Portanto nosso convívio era frio, tenso. Mal nos falávamos.

Eu decidi assim. Sakura não sabia dos segredos do clã Uchiha, ela não merecia receber todo o sofrimento incluso com a história. Ela não merecia se sujar com a podridão do meu clã. Eu não quero que ela volte a me olhar daquele jeito que adoraria ver de novo. Não mereço ser perdoado por ela... E é por isso que desisti de alcançar minha felicidade.

Ela sorriu novamente para mais alguma coisa que aquele idiota havia dito. Meus punhos se fecharam e eu desejei queimá-lo com meu amaterasu. Ela estava sorrindo, para ele. Estava feliz. Ciúmes. Inveja.

Eu queria estar no lugar dele. Queria fazê-la sorrir...

Porque ela iria sorrir? Você a destruiu. Sakura só sabe chorar por sua causa, nada irá mudar.

Fechei os olhos, respirei fundo e voltei a andar para o meu caminho anterior. Ignorei as risadas, as palavras, a felicidade. Eu iria parar de ser egoísta, iria ficar feliz por ela estar feliz e ter escolhido alguém que a proteja ao invés de tentar matá-la.

Duas vezes.

A raiva se apossou de mim e uma inocente árvore foi a vitima e sem pestanejar meu punho encontrou o tronco duro. Estava ficando louco. Aquela voz tentava de todas as formas fazer-me voltar ao que eu era antes. Novamente respirei fundo, massageei minhas têmporas e tranqüilizei meu interior. Não iria perder o controle.

Simplesmente andei até meu destino, encontrei as casas em construção e iniciei o trabalho.

–xXx-

Fazia muito tempo desde a última vez que eu havia sentado nos gramados da aldeia e esperava o tempo passar observando a vida cotidiana dos aldeões. O tempo acabava sendo minha prisão. Não podia ser controlado ou esquecido.

Olhei para a tornozeleira e tentei inutilmente retirá-la. Já sabia que não iria conseguir, mas essas tentativas acabaram se tornando um hobby. Todos os dias eu tentava.

Bufei resignado. Deitei com força e fechei meus olhos, sentindo o vento lamber meu rosto. A suave brisa trazendo o cheiro de terra molhada.

– Você está com uma cara de merda.

Abri os olhos e a primeira coisa que vi foram os olhos azuis de Naruto me fitando. Perto demais.

– Afaste-se. – ordenei irritado. A última coisa que eu queria era Naruto interromper o único momento que eu estava tranquilo.

– Sabe Teme, você já possuí uma cara feia, mas agora está pior. O que houve? TPM?

– Dobe...

Naruto se sentou ao meu lado e continuou murmurando idiotices e ignorando meus protestos e olhares emburrados. Poderia ameaçá-lo de qualquer forma possível, ele continuaria me importunando.

– É a primeira vez que te vejo aqui.

Continuei em silêncio. Naruto poderia ser o ninja mais idiota da aldeia, mas era meu melhor amigo. Aquele que nunca desistiu de mim, mesmo eu me tornando um monstro. Ele entendia o que se passava na minha cabeça, entendia minha situação.

– Hinata-chan também não consegue entender porque você não conversa com a Sakura-chan. – ele comentou – Os dois estão sofrendo e não fazem nada sobre isso. Se você contasse o que houve com seu clã, Sakura-chan iria parar de te odiar.

– Eu não quero isso Naruto. Não quero o perdão dela, quero que ela viva longe de mim.

– Está sendo tolo. – suspirou – Ela ainda te ama.

– Pare.

– Quando estávamos lutando, chegando ao limite e você decidiu voltar, Sakura-chan correu e te abraçou. Chorou e depois te deu um soco. – sorriu – Foi uma situação engraçada, eu achava que tudo iria ficar bem depois daquilo. Mas ela mudou. Se fechou...

– Dobe, o que está tentando fazer?

– No dia do seu julgamento, Sakura agüentou até o fim, e quando deram a sentença ela saiu do tribunal e chorou em um canto distante. Ela me abraçou e continuou a chorar Teme. – Naruto cruzou as pernas e franziu a testa – Tudo o que eu queria era contar sobre o que realmente aconteceu sobre o seu clã, mas não era meu direito, você que tem que fazer isso. Por mais que a veja sofrer, é você que deve consertar as coisas.

“Vocês sempre combinavam. Eram inteligentes, mantinham segredos e eram muito habilidosos. Achava que a amava, mas não. Sakura-chan é como uma irmã e você um irmão. E detesto ver duas pessoas que amo sofrerem por motivos egoístas.”

– Eu tentei matá-la Naruto, duas vezes.

– Também tentou me matar, e foi muito mais longe do que com a Sakura. E hoje estou aqui do seu lado conversando sobre uma coisa séria. Próximo argumento.

– O que você quer de verdade?

– Está meio óbvio Teme. – sorriu – Quero que você e a Sakura-chan compartilhem a mesma felicidade que estou tendo com a Hinata-chan.

– Hunf

Era totalmente visível a felicidade dele. Desde que havia voltado para Konoha, Naruto e Hinata tinham começado um relacionamento e estavam juntos até hoje. Inexplicavelmente. É claro que eu tinha inveja, queria ter algo igual ao que ele estava vivendo. Mas eu não poderia. Não poderia submeter à pessoa que desejo a infelicidade e a maldição que carrego. Sou um defeito.

Portanto eu ficaria feliz por Naruto, somente.

E irá morrer sozinho. Oh não, sozinho não Sasuke... Você tem a mim, por toda sua vida.

Balancei a cabeça para espantar meu tormento mental. Naruto havia se levantado e me olhava confuso.

– Qual o seu problema?

– Não enche Dobe.

– Levante-se. Temos um compromisso.

– Estou ocupado.

– Baa-chan nos quer no escritório dela tipo agora. Eu vim te avisar, mas acabamos conversando e estamos muito atrasados. Prepare-se para uma boa dose de mau humor.

–xXx-

O clima na sala estava tenso. Quando Naruto e eu entramos no escritório da Hokage fomos recebidos com olhares fulminantes dela e de Sakura. Encostei-me ao canto mais distante das duas enquanto Naruto se aproximava sorridente da mesa de Tsunade. Estava louco para morrer.

– Porque demoraram? – Tsunade perguntou olhando-nos com raiva.

– Tivemos um contratempo baa-chan. Uma velha caiu no lago e...

– Cale-se Naruto!

– Naruto estava me esperando terminar, por isso atrasamos. – falei na tentativa de impedir um homicídio.

Tsunade não gostava de mim e deixava isso explicito. Gostava menos ainda quando eu decidia falar na presença dela, e claro, deixava isso explicito.

– Bom saber que está dedicado ao trabalho Uchiha, mas não deve interromper seus serviços conversando com seus colegas.

Olhei para os olhos irônicos da Hokage e apenas dei de ombros. Sabia que era loucura, mas já estava cansado de todas às vezes ela ganhar a batalha pelo meu pescoço. Ela bufou, se ajeitou na cadeira e assumiu uma posição séria. A posição de Hokage.

– A missão de vocês será de escolta e proteção. – ela continuou ao ver Naruto e Sakura prestarem atenção. Não estava ligando para essa missão, estava encostado na parede com os braços cruzados alheio a tudo aquilo. – Recebemos uma quantia grande de doações para a recuperação de Konoha. O senhor feudal mandou a caravana vir, mas foram interceptados por alguns ladrões no caminho, perderam muitos guardas, mas conseguiram sair ilesos e estão em uma vila esperando vocês chegarem para trazê-los aqui em segurança.

Partes da missão eu havia escutado. Ridícula e completamente fácil. Os dois iriam completar com êxito.

Espero que morram no caminho, não acha? Você não merece ter um amigo e se Sakura já lhe odeia... que mal tem?

– Uchiha, – Tsunade me despertou da minha maldição. – você participará da missão. Um teste para saber se você já está apto para voltar a ser um ninja da folha.

– Isso é sério baa-chan? Sasuke-teme vai poder ir na missão? O time 7 se reunirá novamente?

– Como eu falei Naruto. É uma missão teste, se as coisas se saírem do jeito que me agrada Sasuke poderá voltar a ser um ninja antes do tempo.

– Mas ele é inútil com essa tornozeleira Tsunade-sama.

Não sei o que mais me deixou irritado. Se foi o tom de voz de Sakura ou se foi o inútil que ela proferiu na frase. Que ótimo. Essa missão iria ser um desastre.

– Posso muito bem exercer minhas tarefas usando essa coleira. – proferi no mesmo tom de voz que ela havia usado, frio. Distante. Sakura se virou para me olhar e seus olhos estavam furiosos. Ela olhou para a tornozeleira e depois se virou para Tsunade.

– Inútil. – disse aquela palavra mais uma vez. Rangi os dentes controlando uma explosão.

Viver é perigoso. O mundo é veloz, cruel, e cheio de arestas. Só está a salvo quem está morto. Mate-a! Faça-a sofrer, mostre quem é inútil.

– Reconheço a utilidade da tornozeleira e para vermos se o Uchiha está apto para voltar a ser um ninja da folha, precisamos dele inteiro. Ele vai precisar do chakra completo, portanto irei retirá-la antes do prazo.

O suspiro de desgosto de Sakura, o grito de felicidade de Naruto e meu olhar desconfiado, fizeram Tsunade se recostar novamente na cadeira e sorrir.

– Sakura será a líder da missão. Vocês deverão obedecer às ordens dela.

– O que? – Naruto gritou contrariado – Porque Sakura-chan?

– Acha que não sou capaz Naruto?

– Não é essa a questão, só que... – ele olhou para ela e tremeu ao vê-la disparar um olhar de fúria. Eu já havia visto o que Sakura era capaz de fazer, e era justamente por isso que eu não a deixava tão furiosa a ponto de usar seus punhos na minha cara. Pelo menos ela me ignorando eu evitava esse tipo de coisa. – Claro que você é capaz Sakura-chan. É a perfeita para essa missão. Só que eu deveria ser o líder, o futuro Hokage deve comandar essa missão!

– Não Naruto. Você ainda é um gennin, igual ao Sasuke. Mês que vem haverão os testes específicos para vocês e se passarem se tornarão chuunins. – Tsunade se recostou na cadeira – Depois de cinco meses sendo chuunins vocês passarão por outro teste e se passarem serão considerados jounnins. O sistema de admissão de vocês é mais rápido, pois já eliminaram grandes empecilhos para Konoha.

– Tsunade-sama, nós três devemos ir para a missão? – Sakura perguntou e tanto eu quanto Naruto estranhamos sua pergunta. Éramos ainda uma equipe. – E o Kakashi-sensei? Iremos sem ele?

– Kakashi está ocupado tendo outras tarefas para a aldeia. Vocês ainda constam como o time 7, portanto irão participar da missão juntos. Sakura, como você é a única jounnin da equipe irá ser a capitã e me passar os relatórios. Vocês dois deverão obedecê-la e como ela também é a médica da equipe deverão protegê-la.

– Eu não preciso de proteção. – falou friamente

– Deixe seu orgulho de lado. Se a médica da equipe morrer, os outros também morrerão.