Os Legados de Hogwarts - A Varinha do Poder escrita por Hannah Mila


Capítulo 8
Largo Grimmauld 12




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– AH, QUE BOM QUE VIERAM! – exclamou Hagrid, prostrado na entrada de sua cabana. Ele abriu os braços e começou a empurrar gentilmente Alvo, Tiago, Mary, Hannah, Rosa e Michael – Entrem, estava fazendo um chá e uns biscoitos. Podem pegar alguns!

– Não peguem nenhum – alertou Alvo aos outros num sussurro, de modo que apenas eles ouvissem.

– A culinária de Hagrid é... Duvidosa – completou Tiago com um sorrisinho.

Eles aceitaram os biscoitos por educação, mas não chegaram a comê-los de verdade. Tiago e Michael colocaram os biscoitos de volta na bandeja discretamente, com a esperança de que Hagrid não percebesse. Alvo e Rosa jogaram os biscoitos pela janela. Hannah e Mary cometeram o erro de dar os biscoitos a Canino (o cão de caça de Hagrid), que começou a chorar por causa dos biscoitos duros. Hagrid, porém, atribuiu o choro à idade do cachorro.

– Está velho este Canino – dizia Hagrid – Agora só baba e não quer mais saber de passear pela floresta ou brincar com Grope.

– Grope continua na caverna? – perguntou Rosa.

– Sim, mas andei pensando em construir uma casa para ele com as árvores da Floresta.

– Perdão – chamou Mary, confusa – Quem é Grope?

– Meu meio-irmão – respondeu Hagrid.

– Sim, o meio-irmão de cinco metros de Hagrid – acrescentou Tiago.

– Cinco metros? – admirou-se Michael, com os olhos arregalados.

– Exatamente – respondeu Alvo – Hagrid cometeu o erro de levá-lo ao Largo Grimmauld 12, a casa dos Potter, quando eu tinha uns sete anos. Eu e Rosa fizemos Grope voar, enquanto ele babava e gritava “Ro” e “Al” – os outros riram. Hagrid sorriu.

– Papai nunca gostou muito de Grope – comentou Rosa – Ele não fez nada pra nos impedir naquele dia.

Hagrid serviu chá para eles, em velhas canecas desgastadas de latão.

– E como vai a escola? – perguntou ele.

– Em questões escolares, tudo legal – respondeu Alvo – Mas em questões sociais... Bem, não poderíamos odiar os sonserinos mais do que já odiamos.

– Staples andou me dizendo que você é incrível em Defesa Contra Artes das Trevas – disse Hagrid para Alvo – Nunca confiei muito nele, muito estabanado, mas enfim, é verdade?

– Ah, é sim – disse Tiago antes que Alvo pudesse responder. E dando seu sorrisinho para o irmão, completou: - Staples gosta muito dele... Espero ser o primeiro a saber a data do casamento deles!

Alvo teve de segurar o ímpeto de dar um peteleco no irmão.

– Ah, e sim, Tiago, ontem você foi incrível – falou Hagrid – Ouvi madame Hooch especulando dar um troféu de melhor jogador de Hogwarts para você.

Tiago deu seu sorriso orgulhoso e era óbvio que devaneava sobre isso em sua cabeça. Percebendo o transe de Tiago, Hagrid resolveu mudar de assunto.

– Hum, completamente influenciado pelos pais esse aí – comentou Hagrid gargalhando – Mas acho que Alvo não teve a mesma sorte.

– Se você quer chamar vício por quadribol de sorte... – murmurou Rosa – Ainda acho que Tiago devia focar mais nos estudos!

– Ei, não estrague! – exclamou Tiago irritado.

– Slughorn comentou que você anda muito mal em Poções – o olhar de Hagrid era divertido e repreendedor ao mesmo tempo.

– Exatamente! – Rosa sacudiu a cabeça vigorosamente – Não só de quadribol se vive!

– Meu pai discorda – sorriu Michael.

– Minha mãe também – Hannah levantou a mão.

Rosa bufou irritada, mas sem admitir derrota.

Hagrid pareceu querer dizer algo, mas parou. Abriu a boca uma segunda vez, mas reteve-se. Alvo percebeu que ele queria perguntar sobre a família de Hannah, e puxou a conversa para outro assunto rapidamente. Nos últimos dias, Hannah parecia estar à beira de um precipício sempre que o assunto dos Sothern era tocado.

– Hagrid, os biscoitos estão ótimos! – Alvo pegou mais um da bandeja e, contra todos os seus princípios, deu uma mordida. Foi como comer pedra, mas ele sorriu de qualquer jeito; e viu que Hannah sorriu agradecida para ele.

– Acha mesmo? – perguntou Hagrid, lisonjeado.

– Quer a verdade ou a mentira? – falou Michael na mesma hora, fazendo com que Rosa lhe desse uma cotovelada nas costelas e Hannah um cascudo no topo da cabeça – Ai – acrescentou Michael fazendo uma expressão ofendida, mas abrindo um sorriso logo depois.

***

Logo na primeira semana de dezembro Longbottom foi anotar os nomes dos alunos que ficariam em Hogwarts no Natal. Alvo e os outros não assinaram; tinham outros planos, que iam muito além de ir comemorar com a família.

Nessa mesma semana, vieram pomposos pergaminhos para os membros do Clube do Slugue convidando-os a uma festa de Natal, quatro dias antes das férias de Natal.

– Temos que ir? – perguntou Alvo relutante.

– Acho que não – falou Mary, lendo a carta com atenção – A festa exige vestes a rigor, e não temos isso.

– E vamos nos esforçar para nunca ter – disse Tiago com seu sorriso.

– Vamos para a Sala de Hogwarts? – pediu Rosa – Está muito cheio aqui.

Depois de descobrir a Sala de Hogwarts, um lugar completamente deles, a sala comunal parecia sempre lotada demais. Rosa descobriu que era muito mais produtivo fazer os deveres na quietude da Sala, e toda vez arrastava os outros junto com ela.

Por isso, naquele dia eles pegaram as mochilas e seguiram para o corredor do terceiro andar; riam, brincavam, Tiago provocava Alvo e Michael e Hannah discutiam sobre as melhores vassouras de corrida. Ao chegarem, gárgula explodiu como lhe era habitual.

A Sala já estava iluminada. As conversas morreram.

– Alguém está aqui – sussurrou Hannah, sem saber porque sussurrava.

– Provavelmente os professo... – começou a dizer Alvo, mas eles ouviram uma voz e pararam.

Os professores estava lá, de fato. Havia uma reunião acontecendo na porta de Slughorn. Os sete entreouviram a conversa, e embora no futuro diria que foi sem intenção, foi completamente intencional escutar aquele debate.

– Eu tentei fazer todo tipo de feitiço – dizia McGonagall – Mas simplesmente nada aconteceu.

– Como assim? – perguntou Flitwick – Nenhum feitiço?

– Apenas o Estuporante, mas saiu muito mais forte – respondeu McGonagall.

– Mas não se esqueçam que existem varinhas que funcionam para apenas um feitiço – lembrou a Profa Vector, diretora da Lufa-Lufa – E o Tal pode ter criado esse feitiço que tira os poderes e a varinha. Embora, bem, normalmente essas varinhas são usadas para pegadinhas. Já vi alunos aos montes com varinhas de feitiço único da Gemialidades Weasley.

– Falei com Hermione Weasley sobre isso – disse Longbottom aos outros – Ela disse a mesma coisa, e não me lembro de uma única vez em que ela esteve errada.

– Realmente – disse McGonagall – É provável que seja isso, mas como já disse, é inesperado. Nunca vi nada assim antes. E ainda não consigo entender como ele conseguiu vir aqui tantas vezes...

– O traidor, Minerva – falou Slughorn – Ele ajudou o Tal o tempo todo. E tenho desconfiado de pessoas mais avançadas em magia, e também ligadas à Grifinória de alguma forma. E devo dizer, por mais que não goste, que existem muitos alunos assim.

– Horácio! – exclamou McGonagall – Nossos alunos não são tão ingênuos assim! Ainda menos os da Grifinória!

– É apenas uma possibilidade, Minerva – disse Slughorn.

– A todo caso – continuou a Prof.ª McGonagall –, não descobri como quebrá-la. Ainda não encontrei solução ao menos para devolver os poderes a quem os perdeu.

– Ninguém te culpa, Minerva – disse Staples – Não sabendo com o que se está lidando, é complicado criar algo contra ele.

– A propósito, achei que isso era impossível – falou a Profa Sinistra, de Astronomia – Lembro-me muito bem que o Ministério especulou que os nascidos-trouxa faziam isso, mas depois acabou sendo uma grande mentira. Agora, volta à tona a possibilidade.

– E com razão – disse Hagrid – Só que agora é uma coisa verdadeira, vimos com nossos próprios olhos. Que coisa horrível, horrível.

Alvo e os outros não conseguiram ouvir mais do que isso. Rosa fez sinal para irem embora, e eles foram sem discutir. O silêncio no caminho de volta para a sala comunal era deprimente, completamente diferente da animação da ida.

***

Era noite. Ou ao menos Alvo pensava que era. Estava sonhando algo muito bom, mas então acordou; ficou tenso e não abriu os olhos, pois sentia que alguém o observava. O alguém lhe deu um peteleco na testa e disse:

– Acorda, Al.

A voz era familiar o bastante para acalmar Alvo. Ele abriu os olhos e deu um grande bocejo. Tiago e Michael o observavam empoleirados na beira de sua cama.

– Que foi? – resmungou Alvo, sonolento.

– Temos que pegar o trem pra casa – explicou Tiago.

– Hã?

– Para o Natal, idiota – interrompeu o irmão impaciente.

Alvo sentou-se de repente e pegou seus óculos na mesinha de canto.

– Ah, bem – estava meio desnorteado – Esqueci.

Tiago e Michael continuaram sentados na beira da cama de Alvo enquanto este trocava de roupa. Assim que Alvo terminara de vestir suas roupas de trouxa, Hannah, Rosa e Mary Ann entraram no quarto.

– Bom dia – cumprimentou Mary, sentando na beira de cama de Alvo – Então, como é a casa de vocês?

– Nada de mais – respondeu Tiago – Meu pai herdou do padrinho dele, tem muito quartos, uma cozinha bem feia, e um elfo-doméstico velho e inútil, o Monstro.

– Não fale dele assim! – exclamou Rosa. Ela e a mãe tinham uma afeição um tanto exagerada por todo e qualquer elfo doméstico.

– Mas ele é muito, muito velho – argumentou Alvo – Isso você não pode negar, Rosa. Já não é muito forte nem para segurar um pano.

Rosa fez uma cara amargurada.

– Verdade que ele é velho. Mas isso não é motivo pra vocês falarem assim dele.

– Ainda se ele fosse útil... – começou Tiago, mas calou-se ao ver o olhar de Rosa.

– É espaçosa? A casa? – perguntou Michael – A minha não é, com certeza. E Samantha ainda rouba todo o oxigênio.

– Bom, se levar em conta que algumas vezes vão lá todos os Weasley, Potter, mais os Scamander, os Longbottom e Teddy Lupin eu diria que é espaçosa sim – respondeu Alvo, deixando os outros de queixo caído.

A porta se abriu e uma Victoire autoritária meteu a cabeça por ela.

– Caso vocês não saibam, temos que pegar um trem – disse ela, zangada – Não fiquem aí conversando, vamos! Não podemos nos dar ao luxo de perder o trem, não haverá outro, sabe... – e saiu resmungando.

Os seis pegaram suas coisas e foram imediatamente com Victoire.

– Nunca vou entender a Victoire – disse Tiago, puxando seu malão de um canto – Uma hora ela é chata, outra legal, às vezes faz piada, às vezes as repreende...

– Ela está nervosa – respondeu Rosa – Faz tempo que ela não o Teddy...

– Ah, nem me fale desse traíra – Tiago emburrou.

– Alguém está com ciúmes? – provocou Alvo.

– Cale a boca.

***

Foi uma sorte acharem um compartimento vazio no trem. Apesar disso, não puderam evitar trombar com Malfoy e os Zabini, que zombaram e provocaram eles. E, é claro, Alvo e Rosa aproveitaram seus últimos momentos em que podiam usar magia para desarmá-los e fazê-los vomitar lesmas.

– Fala sério – comentou Hannah enquanto eles seguiam caminho – Parece que nunca aprendem.

Mas Alvo, novamente, percebeu que Escórpio Malfoy não tinha feito nada; ficou ao lado, olhando entediado, e ao irem embora, Alvo pôde ouvi-lo debochando dos Zabini. O sonserino continuava a intriga-lo. Assume-se que ele devia ser maldoso também, mas por que não era...? E por que não fazia nada para impedir os gêmeos, no mínimo?

Eles acabaram ficando em um compartimento mais ou menos no meio do trem, e assim que se sentaram começaram a planejar o que fariam nas férias.

– Eu acho que não devemos contar nada para nossos pais – falou Rosa – Quer dizer, tio Harry pode ter deixado, mas minha mãe provavelmente teria um troço se soubesse.

– Tia Hermione não aceitaria mesmo... – disse Tiago – Papai só não nos repreende porque ele sabe que nós desobedeceríamos de qualquer jeito.

– E provavelmente vamos passar a última semana na sua casa, Rosa – disse Alvo – Então temos que aproveitar as primeiras duas semanas para encontrar os Sothern, se é que eles estão mesmo lá.

– Soa como um plano – Hannah sorriu para eles. Estava tão grata pelo que eles estavam fazendo.

– Ei, quem topa uma partida? – perguntou Michael, tirando um baralho de Snap Explosivo do bolso. O jogo consistia em fazer o maior castelo de cartas antes que ele explodisse, o que poderia acontecer a qualquer momento – Mas sabem, eu sou muito bom nisso... Aposto galeões que ganho!

– Então, se você ganhar – sugeriu Tiago sorrindo malicioso – nós compramos doces pra você do carrinho.

– Caso contrário, você é que paga pra gente – completou Mary.

– Fechado!

Michael perdeu todas as quatro partidas que eles jogaram para Mary. A cada vez que o seu castelo explodia e o de Mary continuava intacto, ele praguejava e dizia que Mary estava trapaceando, fazendo todos rirem. Durante a quinta partida, ouviu-se uma batida na porta e uma velhinha simpática disse:

– Alguém aí quer uns doces?

Tiago deu um sorriso maldoso a Michael, que desembolsou os galeões do bolso e foi pegar as tortinhas, sapos de chocolate e outras guloseimas.

– Eu me sinto estúpido – comentou Michael espalhando os doces pela mesinha do compartimento.

– Você é estúpido – respondeu Hannah – Não se aposta nada em Snap Explosivo se Mary estiver jogando.

– Ainda acho que ela trapaceou – resmungou o garoto, amargurado.

– Quer jogar mais um pouco? – Mary sorria zombeteira.

ocupado – respondeu Michael, tentando não parecer medroso. Não funcionou.

***

– É bom ver você também, mãe – disse Tiago, tentando se livrar do abraço da mãe, que recebera assim que saíra do trem – Mas tá machucando.

– Eu estava tão preocupada! – exclamou Gina Potter, deixando Tiago livre para abraçar Alvo – Vocês estão bem?

– Estamos bem, tia Gina – respondeu Rosa.

– E você sabe disso – continuou Alvo – Mandamos cartas...

– Ainda assim – Gina disse enquanto tentava arrumar os incorrigíveis cabelos bagunçados do filho.

Além deles seis, Gina, Harry e Hermione e Rony Weasley, estava lá também um rapaz de 18 anos mais ou menos, com cabelos verdes-água claros e olhos castanhos naquele dia. O metamorfomago Teddy Lupin procurava alguém entre os muitos alunos de Hogwarts, que Alvo sabia muito bem que era Victoire.

– Ei, idiota! – chamou Tiago. Teddy virou-se e deu um sorriso de deboche ao garoto.

– Eu sou o idiota? – respondeu – Não foi você que resolveu que lutar contra um bruxo das Trevas era uma boa ideia?

– Talvez, mas você é um idiota apaixonado.

Teddy corou fortemente, mas deu uma risada. Tiago e Teddy eram muito unidos, quase irmãos, já que Teddy foi praticamente criado pelos Potter. Depois que Teddy começou a namorar Victoire, as coisas ficaram estranhas, mas a relação dos dois parecia continuar a mesma: uma implicância de irmãos.

Enquanto isso, Hermione adiantou-se para Michael, Hannah e Mary Ann.

– E vocês devem ser Michael, Hannah e Mary, estou certa?

Os três assentiram e sorriram.

– É um prazer – falou Hermione sorrindo e tocando os ombros de cada um de forma maternal. Sua mão demorou um pouco a mais no ombro de Hannah.

– Por Merlin, Gina – disse tio Rony – Está sufocando os rapazes, solte-os se os quiser vivos.

Lançado olhares tortos para o irmão, a ruiva largou Alvo, enquanto uma avalanche de alunos saía do trem, alguns dizendo:

– Nos vemos por aí, Potter!

– Se cuida, Sothern!

– Continuem voando aí!

– Ganharam o primeiro jogo, eh? – comentou Harry – Neville nos contou. Nunca duvidei de vocês! – sorrindo, ele bagunçou os cabelos ruivos de Tiago.

Sorrindo, o garoto começou a conversar longamente com o pai, enquanto Rony disse a Hannah:

– É verdade que você tem uma Relâmpago? – perguntou ele, interessado.

– Ronald! – repreendeu-lhe a mulher, olhando feio para ele.

Os outros riram.

– Ah, vamos lá, Mione, nem fui rude! – reclamou Rony.

– É verdade sim – respondeu Hannah, ainda rindo – Minha mãe me que me deu... – sua voz foi morrendo, ao se lembrar da mãe. Hermione pôs a mão no ombro dela novamente.

– Vamos indo, antes que sejamos atropelados por alunos, não? – sugeriu Harry – Teddy, que tal você ir embora com a Victoire, já que a procura tanto?

O rapaz virou o rosto para ele, surpreso.

– Posso mesmo? – admirou-se ele – Obrigado, Harry.

E nesse momento, Victoire apareceu, nem um pouco parecida com a monitora-chefe mal-humorada que era alguns minutos atrás.

– Teddy! – exclamou ela, jogando-se em Teddy, agora com os cabelos mudando de verde para roxo, de roxo para azul, de azul para vermelho, por causa da vergonha.

– Acho – disse Gina, agarrando a trás das vestes de Tiago, impedindo-o de interromper Teddy e Victoire – que é melhor irmos logo.

***

As crianças e os pais seguiram para fora, levando seis malões e quatro gaiolas onde piavam corujas de todos os tipos: cinzentas e grandes, brancas e majestosas, cor de mel e minúsculas, castanhas comuns. Um trouxa que passava ali, devia estar se perguntando “Quem são essas pessoas? Completamente doidas!” ou talvez “Devem estar de mudança. Mas corujas de estimação?”.

Ao chegarem a dois carros, um azul e um vermelho, estacionados lado a lado, dividiram-se.

– Vamos todos para o Largo, não é? – perguntou Rony. Harry assentiu.

– Somos dez, podemos colocar cinco em cada carro – sugeriu Hermione, e ficaram os Potter, Alvo, Mary e Hannah em um carro e os Weasley, Michael, Tiago e Rosa em outro carro.

O carro em que Alvo estava lhe era muito familiar. Tinha um feitiço de Extensão Indetectável, e uma mancha de vômito causada por uma pegadinha de Tiago com Alvo (uma longa história).

A viagem foi rápida, já que os cinco conversaram bastante; Alvo percebeu que sua mãe gostou muito de Hannah.

– Chegamos – anunciou Harry, parando o carro em frente a um condomínio muito bem conhecido por Alvo.

Todos os dez saíram dos carros e pararam em frente aos prédios, entre o número 11 e o 13.

– A sua casa não era Largo Grimmauld 12? – perguntou Michael a Tiago, levantando uma sobrancelha.

O ruivo apenas sorriu. Antes que pudessem piscar, o número 12 apareceu, como que por... Bem, mágica. Tiago foi correndo para a porta, rindo da expressão estupefata de Michael, Mary e Hannah.

– Bem-vindos ao Largo Grimmauld 12 – disse o Harry Potter para os três visitantes.

Depois que Potter herdou a casa e formou sua família lá, mudanças foram feitas. Não era mais a chata morada de uma família de puros-sangues esnobes, envelhecida pela falta de uso e cheia de criaturas como fadas mordentes e um bicho-papão. Era alegre e divertida, com papéis de parede claros e lustres bem polidos no teto.

O hall de entrada era um cômodo grande, com um papel de parede simples, azul claro, e um tapete também simples, candeeiros a gás e um lustre de cristal, que fora presente dos Delacour para os Potter. Uma escadaria conduzia ao andar de cima. O hall estava decorado de quadros, fotos, e alguns vasos e espelhos.

Do primeiro andar vieram correndo duas crianças de 9 ou 10 anos: ruivos, pequenos, sorridentes e ligeiramente sardentos: Lílian e Hugo. Apesar de serem primos, e não irmãos, era incrível como se pareciam.

– Vocês estão de volta! – gritou Lílian abraçando os irmãos – Como é Hogwarts? É demais? É incrível? Não acredito que ainda faltam dois anos para eu ir...!

E enquanto Lílian continuava falando, Hugo acenou sorrindo para os recém-chegados. Tiago costumava dizer que Lílian falava o bastante pelos dois.

Logo depois deles vinha uma mulher de cabelos longos e louros sujos, pele clara, olhos cinzentos e estranhamente saltados, e usava um colar de rolhas de cerveja amanteigada. Era a madrinha de Lílian, Luna Scamander, que provavelmente estava ali para cuidar das crianças.

E ainda mais atrás, vinham dois meninos de olhos azuis claros, saltados também, cabelos lisos e castanhos, que pareciam pouco mais velhos que Lílian e Hugo. Eram os filhos de Luna, Lorcan e Lysander, gêmeos. Lysander sorriu e acenou vigorosamente para os seis; já Lorcan os cumprimentou com a cabeça, olhando curioso para Michael, Hannah e Mary.

– Luna! – exclamou Gina logo que a mulher desceu a escada – Obrigada por cuidar das crianças! Quer ficar para o jantar?

– Ah, claro – respondeu Luna, com um ar distraído que lhe era natural – Posso ajudar a fazê-lo se quiser.

Rony murmurou alguma coisa que fez sua mulher dar-lhe uma cotovelada nas costelas. Gina e Luna desceram para o porão, onde ficava a cozinha, para fazer o jantar.

– Vamos para cima? – convidou Hermione, calando os resmungos do marido. Ela conduziu todos para a sala de visitas no primeiro andar.

A sala de visitas era um lugar espaçoso, com um piso de madeira escura, um tapete com um desenho abstrato, alguns sofás e poltronas, e uma mesinha de centro de um material transparente que Alvo nunca descobrira o que era, que fora presente dos Scamander, que era uma família bem excêntrica.

Na parede, antigamente houvera uma tapeçaria com a árvore genealógica dos Black, como contara Harry. Agora, as paredes estavam enfeitadas com uma bela pintura dos terrenos de Hogwarts, feita quando Alvo era bem pequeno. A pintura estendia-se pelas paredes, mostrando o castelo, os jardins, o campo de quadribol, a Floresta, a entrada e a cabana de Hagrid. Alvo, Rosa e Tiago entraram e ficaram a vontade na sala de visitas, enquanto Hannah, Michael e Mary pararam boquiabertos na porta.

– Que incrível – Michael deixou escapar.

– É só uma sala, Mike – respondeu Tiago.

– Uma sala incrível – retrucou Michael.

– Meninas – chamou Rosa lançando olhares tortos a Michael – Acho que vocês podem ficar no quarto de visitas comigo.

– Mas eu já estou lá! – exclamou Hugo.

– Pois fique com mamãe e papai ou com algum dos meninos! – retrucou Rosa.

– Não – disse Hugo com impertinência.

– Pode dividir o quarto comigo, Hugo – propôs Alvo. Hugo torceu o nariz – Ei, eu não sou um colega de quarto ruim!

As crianças começaram a discutir, até que Hermione os interrompeu:

– Vamos fazer assim – disse a mulher, autoritária – Hugo e Alvo ficam no quarto de Alvo, Tiago e Michael no de Tiago, Rosa divide o quarto com Lílian, e Mary Ann e Hannah ficam no quarto de visitas. Que tal?

Hugo torceu a cara, mas concordou. Ele não achava uma boa ideia discutir com a mãe.

– Então vão arrumar suas coisas nos quartos – disse Harry – Amanhã vamos decorar a casa para o Natal.

– Ah, estou tão animada! – exclamou Lílian, dando pulinhos para fora da sala de visitas.

– E quando você não está, tampinha? – respondeu Tiago, passando um braço pelo ombro da irmã.

Eles saíram rindo, com os olhares de pais preocupados e orgulhosos em suas costas.

***

O quarto de Alvo era muito aconchegante: tinha um papel de parede marrom claro e grande o bastante para reunir Alvo, Hannah, Michael, Tiago, Rosa e Mary em seu interior.

– Gostei dos seus pais – disse Mary, nas raras ocasiões em que ela começava uma conversa.

– Acho que as experiências de quase morte deles os fizeram ser mais bondosos – opinou Tiago, recebendo um beliscão de Rosa.

– Minha mãe também quase morreu, ela lutou em Hogwarts – lembrou Hannah – Mas às vezes é um trasgo. Coisa de mãe, acho.

– Hannah – falou Alvo indeciso – Acha que seus pais estão aqui em Londres?

Hannah deu de ombros.

– Talvez. Não sei ao certo. Posso estar errada, mas foi o primeiro lugar que me veio à cabeça, e ele disse “que eu saberia” – a garota contraiu as feições – Gostaria de saber é como ele sabe tanta coisa sobre mim.

– Talvez ele ficasse te observando – sugeriu Michael – Porque, eu não sei.

Nesse momento Lílian meteu a cabeça pela porta e disse:

– Mamãe mandou chamar vocês para o jantar... E papai falou que semana que vem vamos para O Castelo voar de vassoura!

– Certo – disse Alvo, assentindo – Daqui a pouco nós descemos.

Lílian deu as costas e desceu saltitante.

– O Castelo é...? – perguntou Michael.

– Minha casa – respondeu Rosa – Fica em Ottery St. Catchpole. Lá tem um quintal enorme, e um pomar. É lá que nós vamos quando queremos voar de vassoura e fazer outras coisas potencialmente perigosas – ela sorriu para Alvo e Tiago.

– O quê? – soltou Hannah com um sorriso torto.

– Nós costumávamos nos meter em algumas confusões básicas quando estávamos lá – respondeu Tiago devolvendo o sorriso cúmplice à Rosa – Certa vez, saímos correndo pelo pomar e eu irritei tanto Alvo que ele cortou uma árvore no meio com magia acidental.

– Era uma macieira – lembrou-se Alvo – Gigante. Quase morremos.

– Mamãe ficou furiosa – Rosa deu uma risada – Eu também na hora. Hoje eu só lembro de ter sido engraçado.

Michael, Hannah e Mary os olhavam sorrindo.

– Parece divertido – concordou Mary.

– Coisas potencialmente perigosas são definitivamente a nossa praia, não é? – Michael deu um sorriso de quem pensava qual seria sua próxima travessura.

Ouviu-se uma batida na porta

– Ei, vocês não vem? – Hugo gritou – Mamãe está ficando brava!

– Então – Rosa levantou-se num pulo – Devemos realmente ir.

***

– Hã, que mal lhe pergunte, mas o que é isso? – foi a primeira coisa que Michael disse quando se sentaram a mesa. Rosa chutou sua canela por baixo da longa mesa de madeira – Ai!

Ele se referia a uma estranha comida verde-musgo que estava numa panela próxima a ele. Tinha uma consistência cremosa, e pedaços de algo que lembrava rabanetes azuis. Exceto os Scamander, todos na mesa fizeram uma careta ao sentir o cheiro da coisa.

– Isso – respondeu Luna com certo orgulho – é guisado de plóctons e ameixas dirigíveis. Digo as novas ameixas dirigíveis, porque as antigas são alaranjadas.

Michael subiu a cabeça do guisado para a mulher, de forma estranhamente cômica. Por fim, disse:

– Ah, certo. Como não pensei nisso?

Alvo se perguntou se Luna tinha qualquer consciência de que ninguém mais ali sabia o que eram plóctons, tampouco ameixas dirigíveis, nem as antigas, nem as novas.

A respeito do guisado, Hannah e Mary foram mais discretas. Mas ninguém podia escapar de comer a gororoba. Gina e Hermione faziam todas as crianças comerem o guisado, por questão de educação.

Alvo já havia experimentado as diversas aventuras culinárias de Luna, mas nunca aquela. Teve de reprimir uma careta quando lhe serviram a “coisa”.

– Bem, já comemos aquele bolo de vômito – sussurrou Tiago para ele, fazendo Alvo torcer a cara ao lembrar-se da experiência – Não pode ser pior, certo?

Alvo assentiu de leve, e com relutância, levou a colher com a comida à boca. Tinha gosto de alguma carne sem tempero nem cozimento, e a consistência fazia parecer que se tomava um molho de carne crua. Era pior que a comida de Hagrid. Engoliu o caldo de má vontade, mas pelo menos a mãe ficou satisfeita com ele.

Michael e Tiago encaravam o guisado com um sorriso afetado. Hannah, Mary e Rosa tentavam levar a comida à boca, mas recuavam. Lílian e Hugo brincavam com a comida, tentando não olharem para as mães. Além de Alvo, apenas os gêmeos Scamander haviam comido guisado. Mas havia certa diferença: enquanto Lysander comia feliz e a toda vontade, Lorcan levava a colher lentamente à boca e engolia rapidamente.

– Que maneira de começar as férias de Natal – comentou Rony sem tocar em seu próprio guisado – Fazendo as crianças desmaiarem de nojo logo no jantar!

Gina não resistiu e deu um cascudo no alto da cabeça do irmão.

– Ah, não, tudo bem! – falou Luna – Devíamos comer as coisas mais clássicas mesmo – olhares aliviados das crianças subiram para a mulher – Gina, vamos pegar ali as comidas normais. Tenho certeza que as crianças vão gostar mais.

A fala fez as crianças sentirem-se um pouco culpadas por rejeitar a comida. Mas Luna não tinha nenhuma intenção de fazê-los se sentirem mal. Ela apenas soltava frases como aquela, sem maldade nem rancor, apenas pura honestidade.

– Mas mãe...! – Lysander começou a falar.

– Você pode comer, Lys – Luna disse amavelmente ao filho.

– É, você – disse Lorcan secamente. O irmão deu-lhe a língua.

Aquilo desencadeou algumas risadas e o clima na mesa de jantar aliviou-se. Especialmente porque ninguém teria mais que comer o guisado de plóctons.


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