Os Legados de Hogwarts - A Varinha do Poder escrita por Hannah Mila


Capítulo 4
A coruja cor de mel




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– ALVO SEVERO POTTER, você é a pessoa mais ignorante que eu já conheci na vida – comentou Tiago, enquanto tomava a carta que Alvo escrevera para o pai deles – O negócio é perguntar discretamente, não falar na cara dura o que estamos pensando em fazer.

Eles estavam sentados nos jardins, embaixo de uma árvore, com penas, pergaminhos e potinhos de tinta espalhados por todo canto. Rosa escrevia uma tarefa de Astronomia para Tiago, que estava ocupado demais criticando a carta que Alvo escrevera.

– Realmente, Alvo – disse Mary – Sem ofensa, mas...

–... Está uma grande porcaria – completou Michael.

– Obrigado pela sensibilidade, Mike – respondeu Alvo, em um tom seco.

– Me dê isso aqui! – exclamou Tiago, pegou o pergaminho e escreveu algo rapidamente e deu para os outros lerem.

– Que idiotice, Tiago! – disse Hannah, sem a menor pena – “Se não der respostas mandaremos Edwiges bicar sua cabeça sem parar”? Acha que isso vai assustar a pessoa que derrotou Lord Voldemort?

– E eu sou o mais ignorante – falou Alvo revirando os olhos.

– Não pense que você não fez besteira, Al – replicou Rosa, deixando a tarefa de Tiago de lado e tomando a carta – “Queremos deter o Caliginem, e sabemos como: conhecendo–o”. Tem certeza de que ele não vai querer deter o Tal Caliginem sozinho? Talvez com papai? Eles são aurores, afinal! É o trabalho deles.

– Ah, por favor! – disse Mary com um pouco de impaciência – Alvo, me desculpe, mas acho que devemos ser um pouco mais, simplificando, mentirosos.

– Não vou mentir para o meu pai!

– E não precisa – respondeu Tiago – Você só precisa perguntar o que perguntou no corpo de outra pessoa.

– Por exemplo, o chefe da seção de aurores, Howard Owl – falou Michael – Não seria estranho vê–lo perguntando sobre isso.

– Melhor usar outra coruja – sugeriu Hannah – Pode pegar a minha se quiser.

Quando terminaram de escrever a carta, forçando uma caligrafia diferente, foram até o corujal e pegaram a coruja de Hannah, Melissa, que era grande e majestosa, cor de carvalho, com olhos roxos, pois Hannah, quando pequena, jogara nela uma magia acidental e deu naquilo.

– Agora é só esperar resposta – disse Alvo, observando a coruja escura que já voava longe.

***

– Ainda não chegou resposta – reclamou Alvo.

– Talvez esteja chegando – arriscou Mary.

– Ou quem sabe a coruja acabou levando a resposta ao verdadeiro Howard Owl – disse Tiago descontraído.

– Não diga isso! – falou Rosa – Não diga algo ruim que ele pode acontecer.

Já se passara uma semana desde que mandaram a carta. Alvo estava muito ansioso e estava começando a incomodar o resto do grupo.

– Não acho que isso aconteceria – disse Hannah – Melissa é esperta.

– Pode ser que alguém tenha interceptado ela... – tentou Michael.

– Vou repetir! – exclamou Rosa – Não diga algo ruim que isso pode acontecer!

– Bem, vamos ficar mais relaxados, não? – falou Mary, numa tentativa frustrada de acalmar a todos – Amanhã é Dia das Bruxas!

O Dia das Bruxas é a festa que todos no mundo bruxo adoram. Não existe pessoa, sangue–puro ou nascido–trouxa, que não goste de uma festa de Dia das Bruxas. As de Hogwarts, como já era de conhecimento geral, são as melhores festas de Dia das Bruxas, daquelas que tiram todas as suas preocupações. Infelizmente, daquela vez não fez muito efeito.

– Não podemos ficar relaxados imaginando se Melissa foi interceptada ou algo do tipo – respondeu Alvo, fazendo com que a alegria de Mary evaporasse – Argh, eu sei que estou soando chato. Desculpa, May.

No momento da conversa, eles estavam descendo para o Salão Principal – era sábado, e eles haviam acordado mais tarde, sendo que encontraram, ao chegarem ao Salão Principal, apenas uma coruja pequena e cor de mel com as penas arrepiadas; os olhos, porém, eram de um roxo bem vivo.

– Melissa! – gritou Hannah apavorada – Oh, meu Deus, que aconteceu com você?

Melissa estendeu a perna: nela estava amarrado um bilhete minúsculo.

– É de papai? – perguntou Tiago, com uma ansiedade repentina.

Rosa pegou e bilhete e correu os olhos por ele. Com uma expressão que misturava o medo, a ansiedade e a surpresa, respondeu:

– Não... – e leu em voz alta o bilhete:

– “Novamente, vocês, crianças, são grandes tolas! Se pensam que dessa maneira vão me vencer, fingindo ser outra pessoa e perguntando coisas sobre o meu antecessor, estão redondamente erradas.

– “Aravis, eu reconheci sua amada coruja voando no céu e a peguei imediatamente. Creio que deve estar se perguntando como ela ficou reduzida a tanto (ou pouco). Sei que sua coruja é esperta e que não enviaria a vocês a mensagem que dei a ela. Levou–se um certo tempo até que essa criatura ridícula concordasse.

– “E essa, crianças, é a minha mensagem: não se atrevam a se colocarem no meu caminho; não se atrevam a irem contra mim; o que aconteceu com a coruja pode facilmente acontecer com vocês.

– “Não sei quanto a você, mas eu estou satisfeito. Ah, e tomem cuidado, pois ainda me vingarei de vocês.

Em vez de assinatura, embaixo do bilhete uma enorme mancha negra – uma nuvem tempestuosa.

Eles estavam cansados de manter aquelas expressões aterrorizadas e aquelas olhadelas por cima do ombro, mas era impossível evitar: Rosa mantinha a expressão de medo e surpresa; Michael parecia ter um rosto grave pela primeira vez desde que o viram; Alvo e Tiago se entreolharam inquietos; Mary estava confusa e chateada; mas a pior expressão era a de Hannah, que segurava lágrimas por causa de Melissa, e observava a parte que o Caliginem citava o nome "Aravis".

– “Aravis”? – perguntou Mary incredulamente – Como é que ele sabia disso?

– Como assim? – perguntou Alvo – Quem é Aravis?

– Sou eu – respondeu Hannah e os outros a fitaram surpresos – Aravis é um tratamento familiar... Uma tradição da família Sothern. Não é meu nome realmente, não consta na minha certidão. É um apelido que eu mesma escolhi quando era menor. E apenas minha família e meus amigos próximos me chamam assim.

Ela lançou uma olhar horrível aos outros, um olhar que dizia com todas as palavras: “vocês sabem onde eu quero chegar”.

Silêncio. Um silêncio muito, mas muito irritante, depressivo, triste, raivoso; sem palavras existentes para descrever.

– Por Merlin, que tortura esse Caliginem usou em Melissa? – disse Michael, tentando cortar o clima tenso – Coitada, ela está parecendo minha tia–avó Ruth.

Alvo deu um bom tapa na cabeça de Mike, que recebeu o recado.

– Bem, podemos tentar não pensar muito nisso agora – disse Tiago, com seu conhecido sorrisinho – Afinal, amanhã é Dia das Bruxas.

***

Naquele dia, e no seguinte, eles ficaram o tempo inteiro na sala comunal, discutindo sobre os últimos acontecimentos, como sempre.

– Eu acho que se nós observamos bem o bilhete, podemos descobrir alguma coisa – disse Rosa – Quero dizer, pode ser um enigma, é, pode ser isso, acho que tem algum livro de códigos e enigmas na biblioteca, vou dar uma olhada depois.

– Claro, por que a biblioteca sempre tem a resposta de tudo – comentou Michael irônico – E esse cara não parece inteligente o suficiente para elaborar um enigma. Só dizendo.

– No final, nós nem conseguimos descobrir coisas sobre Voldemort – concluiu Alvo chateado – Tampouco do Caliginem.

– Ah, descobrimos sim – disse Mary – Descobrimos que, de alguma forma, ele sabe o apelido de Hannah, coisa que só a família conhece.

– Mas é inútil – disse Hannah, largada no chão em frente à lareira, os olhos sem foco – A não ser que esteja insinuando que o Tal é parente meu.

– Bom, é uma hipótese – disse Tiago sombrio – Uma hipótese triste, mas real.

A sala comunal estava mais vazia naquela tarde, já que os alunos do terceiro ano para cima estavam de passeio em Hogsmeade, a vila bruxa perto de Hogwarts. Por isso, os seis conversavam a alto e bom som, estando praticamente sozinhos na ampla sala da Grifinória.

– Não importa – falou Michael apreciando o tapete – Nós precisamos mesmo é de mais pistas.

– Professor Longbottom! – exclamou Rosa tão alto que assustou os outros – Ele é amigo de tio Harry, papai, mamãe, de todos! Ele sabe de coisas.

– Que coisas? – perguntou Mary completamente confusa – Afinal, que é que o professor de Herbologia tem haver com aquilo?

– As coisas que precisamos saber, é lógico!

– Claro! – disse Alvo – Ele também ajudou na morte de Voldemort!

– Não recebeu muito crédito por isso, coitado – falou Tiago – Mas é uma boa pedir informação pra ele!

– Não pode ser tão fácil – disse Hannah – Quer dizer, não dá pra chegar e dizer: “Professor, como é amigo de Harry Potter, pode nos dizer o que ele sabe de Lord Voldemort?”.

– É claro que não podemos fazer isso – respondeu Alvo – Ninguém é tão bobo pra responder. Mas eu posso tentar, quero dizer, ele é meu padrinho...

– Sim, sim – concordou Tiago – Alvo consegue amolecer o coração dele para nós – ele recebeu um peteleco do irmão pelo comentário.

–– Ei – chamou Mary com certa timidez na voz – Tenho pensado... Acho que estamos exagerando.

Rosa, Michael, Alvo, Tiago e Hannah olharam incrédulos para Mary. Exagerando? Como exagerando? Eles queriam deter um bruxo das trevas, e Mary achava que eles estavam exagerando...

– Quero dizer – continuou Mary Ann, após ver a expressão dos amigos – Pra começar, por que estamos fazendo isso? Digo, existem tantos bruxos e bruxas que querem deter o Caliginem... Por Merlin, existe toda uma legião de aurores que recebe galões para se pôr em perigo. Por que exatamente nós nos metemos nisso?

Aquilo os atingiu. Por que eles estavam tomando aquilo tão pessoalmente. Se metendo em um assunto que seria muito facilmente resolvido por outras pessoas – mais experientes e certamente mais motivadas do que eles.

Por que justo eles? Por que eles acharam que tinham que deter Caliginem? Que era seu dever, sua obrigação? Eles ficaram em silêncio por um bom tempo, evitando os olhares uns dos outros. O único barulho era a pequena agitação que um grupo de alunos fazia no corredor. Por fim, Rosa veio com a resposta:

– Tem razão Mary – disse quebrando o silêncio – Exageramos um pouco sim. Eu... Não sei por quê.

– Somos suicidas naturais, talvez? – arriscou Michael, trazendo pequenos sorrisos ao grupo.

– Papai nos falou uma vez – começou Alvo – que, quando tinham a nossa idade, ele passou o ano tentando descobrir sobre a... Hum, Pedra Filosofal, acho que era isso. A Pedra era um artefato que Voldemort queria. Eles se meteram no meio de algo que podia até ser resolvido por outras pessoas. Mas eles não conseguiram ficar parados diante de tanto mistério. Por instinto, eles queriam descobrir tudo, derrubar o plano.

– Esse instinto agora é nosso – continuou Tiago, lembrando-se do que o pai contara a ele, e os irmãos:

“Tive seis anos bem complicados em Hogwarts, nos quais me esforçava pra manter boas notas e, ao mesmo tempo, salvar a comunidade bruxa. Vocês são meus filhos, e sei que, se algo suspeito estiver rondando a escola, vocês irão tentar descobrir o que é, e talvez, deter essa coisa. Sei disso porque herdaram essa “mania” de mim, da sua mãe, do seu tio e de sua tia”.

– E acho que acabamos passando–o para vocês – disse Rosa.

Outro longo silêncio. O silêncio parecia tão constante atualmente. Mas dessa vez não era um silêncio tenso – era uma reflexão em conjunto, e seis crianças se compreendendo mutuamente sem dizer uma palavra.

– É um bom instinto – disse Hannah, por fim – Se seus pais não tivessem esse instinto, talvez estejamos ainda sob o reinado de Voldemort.

– Talvez – falou Michael, naquelas raras vezes que não havia um sorriso em seu rosto – seja a nossa vez. De derrotar um bruxo das trevas. Mas se isso é hereditário, nem quero saber o que os nossos filhos vão ter que enfrentar.

O grupo riu. Era bom rir. Numa situação como aquela, senso de humor era uma coisa necessária. E Michael tinha senso de humor para o resto da vida de todos os bruxos e trouxas do planeta.

– Instinto – refletiu Mary – Sinto que isso não vai terminar bem. Estou com medo.

– Seria mais estranho se não estivesse – respondeu Hannah num tom irônico – Mas e então? Vamos em frente com isso? Ou deixamos para trás – ela fitou os outros com um olhar penetrante.

– Definitivamente devemos nos meter – a resposta veio de Tiago – Até por que, talvez, sejamos “Os Eleitos”? Merecemos nossa chance de brilhar.

Apesar de tudo, havia um sorriso no rosto de cada um. Sim. Talvez eles sejam os escolhidos, como Harry Potter fora, dezenove anos atrás.

Os Escolhidos para derrotar, ao longo de seus anos em Hogwarts, o bruxo das trevas que resolveu aparecer justo agora, justo ali, naquela famosa escola de magia.

O bruxo que formara seis novos inimigos, armados de algo que não era nada mais do puro instinto.


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