Os Legados de Hogwarts - A Varinha do Poder escrita por Hannah Mila


Capítulo 13
Boas e más surpresas


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por lerem, poucas pessoas que leem essa fic



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HOGWARTS AMANHECEU SEM NEVE e lindamente ensolarada no comecinho de fevereiro, um sábado em que, graças a Rosa, o grupo não teria de fazer deveres de casa.

Fazia um mês desde as terríveis cenas que Alvo, Hannah e Michael haviam presenciado na Floresta Proibida. Nada havia sido dito a respeito de Samantha para os professores ou qualquer outra pessoa. Eles nada haviam feito ainda para descobrir a verdade a respeito da irmã de Michael. Apenas tentaram fazer o que McGonagall, naquele momento presa em Azkaban e cercada de dementadores, dissera na noite de Halloween, depois da terceira aparição do Caliginem: viver normalmente. Fazer isso, porém, não estava livrando-os daquela sensação horrível de que eles estavam em perigo.

Mas o tempo passou rápido, e no dia do aniversário de Tiago os terrenos não tinham nenhum vestígio de neve e o tempo estava perfeito para reunir os amigos no jardim perto do lago e fazer o que quiserem.

Alvo acordou muito cedo naquele dia, apesar de ter ficado até tarde conversando com os outros. Ao descer as escadas em espiral, encontrou os amigos num conjunto de poltronas próximo, cercados de embrulhos e doces.

– Dia – cumprimentou Hannah – Nem vamos precisar descer para o café-da-manhã hoje – ela indicou uma pilha de comida de aparência muito boa – A avó de vocês mandou um verdadeiro banquete.

Tiago estava no meio de todos os embrulhos, sorrindo e rasgando papéis. Ao ver Alvo, ele alargou o sorriso.

– Não vai me dar um feliz aniversário, maninho? – perguntou Tiago.

– Muitos anos de vida, Tiago, parabéns – respondeu Alvo formalmente, no tipo de cumprimento que seu tio Percy falava quando dava um “Feliz Natal” ou “Feliz aniversário” a alguém. Tiago deu uma gargalhada.

– Obrigado pelo livro – disse o ruivo. Alvo havia dado a ele um livro sobre manutenção de vassouras que o irmão cobiçava há um tempo – Michael só me deu um sapo de chocolate, acredita nisso?

– Ei, eu te dei o presente mais incrível no Natal! – defendeu-se Michael, apontando para Tiago como que o acusando de algo.

– Não era muito difícil dar outro no aniversário então, não é? – respondeu Tiago levantando uma sobrancelha – Seu egoísta.

– Eu sou o egoísta? – repetiu Michael, gargalhando e jogando uma almofada no amigo.

Alvo e as garotas sentaram-se em um canto, comendo bolo e assistindo à discussão de Tiago e Michael. Eles não perceberam quanto barulho estavam fazendo até que Victoire colocou a cabeça toda descabelada para fora do dormitório das meninas e mandou-os fazer silêncio.

– Temos o dia só pra gente – disse Hannah – E o tempo está perfeito. A gente precisa ir lá fora. Voar, talvez?

– Hum, acho que não – Mary fez uma careta – Além do que você não pode voar, lembra?

Hannah torceu a cara.

– Não precisa me lembrar.

– Eu apoio – disse Tiago – Levem em conta a minha decisão, é o meu aniversário, afinal.

– Isso não lhe dá vantagem nenhuma, Sr. Tiago Sirius Potter – replicou Rosa tentando parecer séria, mas sorrindo.

– Então, vamos fazer o seguinte: - sugeriu Alvo rindo – Vamos para os jardins e Michael e Tiago podem voar, enquanto nós, que não sabemos, ou não podemos voar, ficamos à toa. E no fim da tarde podemos ir visitar o Hagrid ou algo assim.

– É um plano – sorriu Michael. Era o primeiro sorriso honesto que ele dava em semanas – E eu quero a Relâmpago!

***

Mary, Hannah, Alvo e Rosa estavam jogados na grama embaixo de uma árvore grande e frondosa que ficava à beira do lago, onde a lula gigante também aproveitava o dia tomando sol na parte rasa do lago.

Os segundanistas deram impulso nas vassouras e sobrevoaram a árvore onde o resto do grupo se encontrava.

– Exibidos – resmungou Hannah. Os outros riram.

Tiago e Michael deram loopings, curvas, ficaram a voar de ponta cabeça e irritaram a lula gigante bloqueando o sol da criatura, de forma que na segunda partida de Snap Explosivo dos outros a lula já havia ido embora. Por volta da quarta partida, Tiago empurrou Michael da vassoura e este caiu no lago com um splash! espalhafatoso.

– VOCÊ É LOUCO! – disse Michael em meio a risadas para o melhor amigo, que ria flutuando na vassoura a poucos metros da superfície do lago.

Michael, porém, revidou o golpe, puxando Tiago para o lago.

– Isso não foi justo! – exclamou Tiago – Minha guarda estava baixa!

Michael deu de ombros.

– E quem disse que a vida é justa? – disse ele mergulhando e reaparecendo do outro lado de Tiago, tempo que bastou para alguns alunos da Grifinória chegarem animados.

– Maneiro – comentou Fred Weasley e se adiantou para o lago, pulando com as vestes e tudo – É dia no lago!

Em meio a gritos de “É!” e “Woohoo!” Violeta, Roxy, e Gabriel pularam no lago, também com todas as vestes e imediatamente começaram a afogar Fred.

– Ok, parem, é sério, estou morrendo – disse Fred depois de ficar um tempo considerável embaixo d’água, empurrado por Gabriel. Ele se virou para Tiago – Feliz aniversário, cara – Tiago sorriu. Então Fred se dirigiu às meninas e Alvo – Vão ficar aí mesmo? Não sabem o que estão perdendo.

– Sim, acho que vamos, muito obrigada – respondeu Hannah.

Roxy nadou até a beira e com um puxão muito forte, levou a garota à água. Depois de se recuperar de um engasgado (“Juro, a lula gigante urinou ali” comentou Hannah mais tarde), Hannah mirou Roxy por um segundo e sem aviso, jogou-lhe água na cara (“Acho que a lula urinou mesmo lá...” disse Roxy), e começou uma guerra de água com a colega.

– Nós não entramos – disse Mary em uma voz resolutiva, apoiada firmemente por Rosa. Alvo por outro lado, levantou, deixou os óculos de lado e disse:

– Eu não teria tanta certeza – ele agarrou os pulsos das amigas e puxou-as até o lago, pulando e levando elas a reboque.

– Você é um homem morto, Sr. Alvo Severo Potter! – gritou Rosa enquanto levantava a cabeça da água e tentava arrumar os cabelos.

– Pode tentar, Srta. Rosa Jean Granger Weasley – replicou Alvo em tom de desafio.

Rosa fez uma cara irritada, mas Alvo a conhecia bem o suficiente para saber que, no fundo, estava se divertindo.

Enquanto isso, Mary tomava partido na guerra de água entre Hannah e Roxy, ajudando Hannah.

– Não vale! – disse Roxy tomando um caldo das colegas – Vi! Vem aqui me ajudar.

– Não, obrigada, não sou de tomar parte em conflitos – respondeu Violeta.

– Claro que é! – gritou Roxy – Deixe de ser lerda e vem logo!

Com um revirar de olhos e uma gargalhada, Violeta saiu do grupo onde os meninos estavam e foi ajudar a amiga, rindo-se e desviando-se da água atirada por Hannah e Mary com destreza.

Tiago e Michael estavam com os cotovelos apoiados na beira do lago, conversando com alguns alunos e tentando convencê-los a entrar também. Até Victoire chegar.

– Que é que vocês estão pensando, hein? – exclamou ela – Saiam daí agora mesmo! E se vocês pegarem um resfriado?

– E chegou a estraga-prazeres – Tiago revirou os olhos, parecendo verdadeiramente irritado. Ele trocou um olhar curioso com Michael, que apenas o garoto pareceu entender.

– Não olhem para mim assim! Vocês têm que me obedecer, eu sou monitora-chefe! Agora saiam logo, ou...

Mas o que poderia acontecer a eles, eles nunca chegaram a saber, pois nesse momento, Michael e Tiago pegaram os tornozelos da garota e a puxaram para o lago. Ela deu um berro.

– Relaxa, Vic – disse Dominique entrando no lago com Louis, Molly e Lucy – Quer saber? Teddy teria adorado ter um dia legal assim em Hogwarts. Ele vai gostar de saber que você está se divertindo.

Victoire corou, mas curtiu como nunca teria curtido a manhã no lago.

Às dez horas, começaram a chegar vários outros alunos e logo o lago estava cheio deles. Os Zabini, Malfoy e Charlotte Vogue apareceram por volta das onze e agiram arrogantemente como sempre. Malfoy trocou um rápido olhar com Alvo que parecia dizer “se eu pudesse me livrar deles...”. Alvo deu-lhe um olhar de pena, e os dois sorriram, sem ninguém perceber. Os quatro sonserinos acabaram voltando a enfurnarem-se dentro do castelo logo, sem dizer muito.

Quando bateu o meio-dia, todos eles saíram do lago e correram para os banheiros para se secarem antes do almoço, já que se o Filch os visse daquele jeito ficaria tão agitado que morreria. “Não seria uma perda tão grande, na verdade” comentou Michael no banheiro, enquanto sacudia os cabelos encaracolados e espirrava mais água nos outros garotos.

Talvez fosse a fome, ou o clima ótimo, mas a comida parecia melhor do que o normal, e os alunos saíram do Salão Principal satisfeitos, seguindo direto para as salas comunais, cheios demais para irem nadar de novo. Alvo, Tiago, Michael, Mary, Rosa e Hannah, porém, saíram para visitar Hagrid.

– Vamos, sentem, puxa vida, antes eram três, agora são seis, daqui a alguns anos serão doze – comentou Hagrid quando Alvo, Rosa, Tiago, Michael, Hannah e Mary chegaram à cabana do amigo, sorridentes – Vi vocês no lago hoje, tive até vontade de entrar, mas achei que seria meio constrangedor. Então, como estão indo as coisas?

– Nada más – disse Alvo, tomando um gole minúsculo do chá que Hagrid havia oferecido – Tivemos que cumprir uma detenção umas duas semanas atrás, e Michael teve de cumprir detenção mais uma vez três dias atrás...

– Não pude evitar – justificou-se Michael – Era uma experiência muito importante para a aula de Transfiguração.

– Colocar furúnculos nas caras da Patrícia Zabini, da Charlotte Vogue e da Jasmine Leah? – perguntou Rosa, levantando uma sobrancelha.

– Elas estavam praticamente se voluntariando – Michael abriu um sorriso torto.

Hagrid lançou um olhar de repreensão, mas o sentimento não era real.

– E as aulas? – perguntou o meio-gigante, tomando um gole de seu balde de chá.

– Estamos completamente perdidos com as tarefas de Staples e da Delacroix, tirando Alvo, Rosa e Mary, é claro... – informou Hannah torcendo a cara.

– Staples é um bobão, mas a Delacroix é muito pior – disse Mary – Enquanto Staples tenta nos encorajar, a Delacroix acha que nós não temos chance nenhuma.

– Resumindo, as aulas estão a maior confusão – disse Tiago – E para coroar, semana que vem eu e Michael vamos ter que escolher as matérias opcionais que vamos fazer ano que vem. Tia Hermione está me enchendo o saco para que estude Aritmância. Mas tenho me interessado por Runas Antigas e Duelos.

– E a minha mãe quer que eu faça Runas Antigas – disse Michael – mas eu estou a fim de fazer aquelas matérias novas, que ensinam línguas de duendes, sereianos, cobras, essas coisas, ou Trato de Criaturas Mágicas.

O peito de Hagrid se estufou de orgulho.

– Eu ensino essa matéria, e acho que não poderia haver professor melhor – falou Hagrid – e Harry, Rony e Hermione também acham isso.

Alvo, Tiago e Rosa trocaram olhares. Não era bem assim, mas se era no Hagrid queria acreditar...

– Ah, e falando em Harry... – lembrou-se o professor.

Hagrid foi até um armário que estava espremido entre um fogão e uma bancada e tirou de lá um pano grande e prateado e entregou-o a Alvo.

– A capa! – exclamou o garoto sorrindo – Como é que você a achou?

– Eu estava na floresta, cuidando dos testrálios, e achei-a largada no chão – informou Hagrid, e assumiu uma expressão preocupada – Estava muito perto do centro da floresta, lá é um lugar perigoso, vocês não deviam entrar lá... Que estavam fazendo lá dentro?

Os seis se entreolharam de soslaio e se remexeram desconfortáveis. Sabiam que podiam confiar em Hagrid – tinham certeza disso. Mas...

– Os Zabini nos desafiaram – resmungou Tiago rapidamente – Nos chamaram de covardes, blá blá blá, aquela velha história...

Aquilo não havia convencido o guarda-caça, mas Hagrid obviamente deixou o assunto passar. A conversa, porém, não retomou, e alguns minutos depois, os seis saíam da cabana de Hagrid, com certo alívio.

Quando os seis chegaram à sala comunal da Grifinória, constataram que todos tinham voltado para fora, aproveitar o dia. O lugar estava vazio e eles pegaram seu conjunto de poltronas preferido perto da lareira.

– Então, que é que vocês... – começou Michael.

– Ei! – exclamou Rosa interrompendo o amigo – Não é o Pichitinho?

– Píchi o quê? – resmungou Hannah, olhando para onde

Uma corujinha minúscula e cinzenta piava animada na janela mais próxima à eles. A coruja de tio Rony era uma coisinha cômica de vez em quando.

– Deve ser de nossos pais – disse Tiago – dando conselhos para as aulas que vamos escolher.

– É... – concordou Alvo – mas aquela ali é do Profeta Diário – ele apontou para uma coruja que era extremamente grande se em comparação a Pichitinho, que acabara de chegar à janela, e a coruja trazia um exemplar do Profeta para Rosa.

Rosa deu um salto.

– Minha nossa! – exclamou ela – Eu tinha esquecido! Não fui para o café-da-manhã hoje e não peguei o jornal. Aqui, aqui – disse ela impaciente quando a coruja pediu o dinheiro.

– Aaarre, Píchi! – gritou Tiago quando Pichitinho entrou voando na sala comunal e começou a bicar os cabelos do garoto – Dê logo o que veio dar e caia fora!

Pichitinho piou indignado e lançando olhares de censura ao sobrinho de seu dono, saiu.

– De papai e mamãe – informou Tiago, e abriu a carta, enquanto Rosa arregalava os olhos lendo a primeira página do Profeta.

– Pelas barbas de Merlin – exclamou Rosa perturbada. Ela lançou um rápido olhar a Mary Ann.

– O que é, Rosa? – perguntou Mary, seus olhos de águia não deixando nada passar.

Rosa hesitou por um segundo e começou:

– “Na noite de ontem os Duprée, família muito famosa e influente no Ministério, tiveram a casa invadida por um vulto alto e magro, de acordo com a filha do meio, Nicole Duprée, que era a única presente na casa.

– “Pelo que se sabe, Demetria, Paul e Amelie Duprée, estavam em um evento do Ministério do qual Nicole não fora convidada. A intenção do vulto era, provavelmente, sequestrar a família inteira dos Duprée, mas não conseguiu. ‘Eu havia me escondido no guarda-roupa, mas o vulto me achou lá’ conta Nicole, que foi acabar no St. Mungus, vítima da Maldição Cruciatus. Nicole está muito perturbada e perdeu parte da memória, e os curandeiros do St. Mungus fazem de tudo para a Duprée do meio recuperar a memória, mas, talvez, sem resultado.

– “Este acontecimento só demonstra como o chamado Tal Caliginem está obcecado em atrair a pequena Hannah Sothern para suas garras. Sabe-se que Mary Ann Duprée, a adorável caçula da família Duprée, é a melhor amiga de Hannah, e que a captura da família de Mary Ann poderia atrair Hannah para o Tal.

– “Isto também mostra como Harry Potter tem feito um trabalho débil como chefe da Seção de Aurores, sendo que Potter ainda não descobriu o paradeiro misterioso do Tal.”.

Alvo, depois de levantar uma sobrancelha para o último parágrafo da reportagem, jogou a cabeça para trás num gesto de cansaço.

– Sabia que o dia estava bom demais para ser verdade – comentou.

– “Reportagem de...” – continuou Rosa com uma careta – Ah, só podia ser. Rita Skeeter.

– Mentirosa de carteirinha – disse Tiago, repetindo a fala de seu tio Rony.

Rosa não respondeu, e escondeu a cabeça por trás do Profeta e só reapareceu quando os outros haviam acabado de sair de um grande debate da notícia que haviam lido, quando Michael já estava aos berros.

– Não poderia ser a Samantha! – gritava ele – Ela não consegue nem matar uma mosca. Quanto mais usar a MALDITA CRUCIATUS.

– Michael, pode, por favor, parar de gritar? – disse Mary Ann com impaciência – É só uma hipótese, uma muito estúpida, aliás – ela lançou um olhar irritado a Tiago, que tinha trazido a ideia à tona – A Samantha é uma estudante, não tem como ela ter saído de Hogwarts. Temos que pensar em tudo.

Michael corou e pareceu sentir remorso.

– Desculpe, Mary – disse ele, com um suspiro – É tão...

– Eu sei – respondeu Mary – Mas perder a cabeça não vai nos ajudar.

– Alguma outra coisa interessante? – perguntou Hannah para Rosa, querendo desviar o assunto.

Rosa sorriu.

– Bem, como a sua mãe está sumida – disse Rosa escolhendo as palavras cuidadosamente – Teddy Lupin vai jogar como apanhador reserva no Tornados de Tutshill.

– Teddy Lupin? – gritou Tiago impressionado – Teddy Lupin, ex-monitor e monitor-chefe, capitão da equipe de quadribol da Grifinória e todo o resto?

– Exatamente – disse Rosa – Foi tia Gina que escreveu a reportagem – ela pegou o Profeta e abriu em uma página, e entregou-o a Tiago rapidamente.

– Falando na sua mãe – disse Michael – que é que tinha na carta?

– Acabamos nem lendo – respondeu Alvo, pegando a carta novamente – É para todos nós...! “Crianças, a esta altura talvez vocês já saibam que a irmã de Mary está no St Mungus. Queremos que vocês saibam que está tudo bem com ela e que Audrey está ajudando-a a recuperar a memória cada vez mais. Por favor, não se preocupem e vivam normalmente. Se vocês sabem de qualquer coisa, mande-nos uma coruja. Com amor, mamãe, papai, tio Rony e tia Hermione.”

– Rápida, não? – comentou Rosa, querendo quebrar o silêncio incômodo que havia recaído sobre os seis.

– Contamos sobre Samantha – perguntou Hannah, sempre sem rodeios.

– Não – a resposta de Michael foi igualmente rápida – Quer dizer, não temos certeza... – mas havia uma grande indecisão em sua voz.

– Estive pensando – murmurou Alvo. Todos o fitaram – Naquele dia, na floresta... O Caliginem falava o nome Samantha demais. Quer dizer, sabemos que ele levou os Sothern para lá porque sabia que estaríamos espiando. E se ele fingiu que estava falando com a Sam para nos enganar também?

– É uma hipótese – murmurou Mary – E faz sentido. Não é difícil plantar um bilhete escondido na bolsa de alguém, também.

– Não podemos apontar dedos agora – concluiu Tiago – Podemos estar errados e piorar tudo.

Eles se entreolharam com assombrosa compreensão. E as palavras pareceram ser proferidas, apesar de não terem sido: “Isso fica entre nós, e nós estamos juntos nisso”.

***

– Sabe, tia Hermione não morreria se não mandasse sugestões por um dia só – comentou Tiago impedindo Pichitinho de cair na jarra de suco de abóbora – Não estou falando mal nem nada... Só acho que é possível sobreviver sem me sugerir Aritmância todo santíssimo e amado dia.

– Relaxa – disse Rosa enquanto desviava seu prato de torradas da coruja que lhe trazia o Profeta – Você é sobrinho dela. Vocês vão ver, ano que vem eu vou receber o triplo do que Tiago está recebendo.

Um dia depois da notícia de que a casa dos Duprée havia sido invadida, quase todo o grupo estava no Salão Principal, no café-da-manhã, recebendo algumas toneladas de cartas de tia Hermione.

– Bom dia – cumprimentou Mary com um bocejo para os outros cinco, que já se encontravam à mesa – Mamãe me mandou uma carta enorme ontem bem tarde da noite. Não dormi direito.

– Sorte sua, hoje vamos ter História da Magia – comentou Alvo com um gesto de falsa animação.

– Depois de Defesa Contra Artes das Trevas? – falou Hannah pegando uma xícara de chá – Se Staples não nos matar, Mary vai desmaiar no corredor.

Nesse momento, sem aviso nem pausa para respirar, Fred e Gabriel passaram correndo pelo Salão Principal, gritando sem cerimônias:

– A McGonagall voltou! Ela está no portão! A professora Minerva McGonagall voltoooooou! Gabe, não me empurre.

E os dois saíram correndo de novo, decididos a contar a cada canto da escola que a professor McGonagall estava de volta.

Passado o momento chocante e ligeiramente cômico, houve um alvoroço, alunos de praticamente todas as Casas saíram correndo para fora, competindo quem ia passar primeiro pela porta do Salão Principal, correndo para o portão de Hogwarts, comprovando se o que Fred e Gabriel haviam dito era verdade. Era.

A Prof.ª McGonagall ia correndo para a escola, parecendo um pouco mal-cuidada, mas bem. Trajava as vestes de sempre, a longa capa verde e o chapéu, e trazia uma mala e uma carta de aspecto oficial. Os alunos a avistaram e soltaram gritos de alegria, e Alvo pode ver alguns alunos que passeavam pelos corredores meterem as cabeças pelas janelas do castelo, e soltando gritos logo em seguida.

Os professores também apareceram, parecendo tão animados quanto os alunos, embora mais discretos. O professor Longbottom, porém, deu tantos gritos de alegria quanto as crianças.

A única pessoa que não pareceu feliz foi a professora Raquel Delacroix. Alvo a viu em uma das janelas do castelo, fazendo uma careta de quem não gosta e não acredita. Os olhares dos dois se encontraram e a professora sumiu no castelo. Quando Alvo voltou-se para os amigos, eles estavam com grandes sorrisos abertos.

Alvo foi abraçado subitamente por Hagrid, tal qual quando a Grifinória venceu.

– Hagrid, me solte, está me enforcando – pediu Tiago que fora abraçado junto com Alvo e mais uma porção de alunos – Está pior que mamãe.

Hagrid os soltou com uma risada, e foi receber a diretora com o resto dos professores.

– Alunos, voltem para o castelo, hoje não haverá aula! – guinchou o professor Flitwick se apressando para conversar com McGonagall.

Os alunos, conversando freneticamente e dando socos no ar de felicidade, voltaram para o castelo.

– Beleza – comentou Michael relaxadamente – Um dia a mais para fazer o dever de Transfiguração. Se bem que... Agora que a McGonagall voltou...

– Estamos livres da Delagartixa – disse Tiago usando um apelido que ele mesmo dera à Delacroix – Mal posso acreditar.

– Vocês sabem o que isso significa? – perguntou Mary excitada, e sem esperar resposta, continuou: - Significa que eu vou ter aulas de animagia com a McGonagall no próximo ano! Eu vou poder virar animaga! Com registro no Ministério, é óbvio – acrescentou quando Rosa abriu a boca.

Os seis voltaram para o Salão Principal, uma vez que, por causa da chegada repentina de Fred e Gabriel, eles não haviam conseguido comer seu café-da-manhã.

Em todo o salão achavam-se apenas algumas pessoas, um ou outro sonserino, alguns quintanistas e septimanistas de todas as Casas e uma coruja grande e cinzenta de olhos pequenos.

– Ei, Hannah, não é a coruja de Cody? – perguntou Mary apontando para a corujinha empoleirada na mesa da Grifinória.

– Cherry? – murmurou Hannah. A coruja trazia um pacote de papel pardo não muito grande. Hannah foi até a coruja e lhe desamarrou o pacote das pernas, olhando confusa para os amigos.

– Que é que a coruja do seu irmão estava fazendo aqui? – perguntou Rosa com a testa franzida.

Hannah olhou para o pacote e pegou um pequeno bilhete.

– “Hannah, desculpe a demora, mas conseguimos enviar seus presentes de Natal quando o Caliginem não estava olhando” – leu ela – “Você vai adorar e talvez sejam até úteis. Assinado, mamãe, papai e Cody” – ela olhou para os amigos meio alarmada – Que é que vocês acham?

– Não abra – disse Rosa.

– É uma armadilha – falou Alvo.

– Mas podem ser os presentes de natal de Hannah também – replicou Mary com sensatez – Hannah, você podia pegar os presentes com luvas, para não ser amaldiçoada ou algo assim.

– Boa ideia, Mary – concordou Hannah e meteu a mão dentro do bolso à procura de suas luvas de couro de dragão. Ela as colocou e abriu o pacote com cautela.

Dentro do pacote pardo havia três coisas: um livro preto e liso, uma fitinha de música que Alvo reconheceu por sua irmã ter montes daquelas, e um cinto de couro de dragão verde-escuro com as iniciais H e S gravadas em dourado. O cinto tinha alguns pingentes em formatos bastante peculiares: um minúsculo caldeirão, uma minúscula balança e minúsculos potes com o que pareciam ser minúsculos ingredientes de poções. Hannah arregalou os olhos em êxtase.

– Um cinto de utilidades para poções – murmurou Hannah – Eu amo a minha mãe.

– E o que são essas outras coisas? – perguntou Tiago pegando apontando para o livro.

Hannah pegou o livro e o abriu.

– Um diário – disse ela, com um certo desprezo na voz. Porém, a expressão em seu rosto era de gratidão – Lindo. Meu pai conhece mais o Cody.

– E que é que Cody lhe deu? – perguntou Michael – Que diabos é isso?

Hannah pegou a pequena fitinha e sorriu para Michael, que obviamente não sabia o que era aquilo como os outros. A fitinha era preta, de aspecto antigo, mas com cinco botõezinhos brancos. A garota apertou o do meio e o som de um violão tocando encheu o Salão Principal.

– O irmão de Hannah – explicou Mary – toca guitarra e violão desde os sete anos. Nós adoramos ouvi-lo tocar. Pelo visto ele se lembrou disso, e gravou algumas músicas – ela sorriu para a amiga.

– Cody é impertinente e irritante na maior parte do tempo – disse Hannah – mas é melhor que papai em questões de presentes.

Rosa olhou para os presentes de testa franzida, como fazia toda vez que pensava com empenho. Então, sem ao menos colocar luvas, ela pegou o cinto de utilidades para poções de Hannah.

– Rosa! – exclamou Alvo assustado.

– Não está amaldiçoado – disse ela – Os Sothern realmente mandaram estes presentes – ela sorriu para os outros – E tenho certeza de que serão úteis – ela entregou o cinto para Hannah, que o colocou na cintura, sorrindo. Havia, porém, uma melancolia em sua expressão.

– Não se sinta mal – Mary pôs a mão no ombro da amiga.

– Eu não posso sequer agradecer – as palavras saíram rapidamente de Hannah, como se fossem pesadas demais.

Eles se entreolharam. Alvo pousou a mão na nuca, refletindo.

– Isso me faz pensar... – começou ele, com cuidado – Se os seus pais puderam mandar esses presentes, o Caliginem não deve estar olhando-os o tempo todo.

– E mais! – Tiago arregalou os olhos – Supondo que os Sothern já tinham os seus presentes comprados antes de serem sequestrados, eles estariam guardados na sua casa...

– ...Então eles provavelmente estão por lá – conclui Rosa com a mão no queixo – Sim, faz sentido!

Tiago empertigou-se, orgulhoso.

– Ele fica nos fazendo dar voltas – murmurou Michael – Por que será?

– Já temos a resposta pra isso há um bom tempo – a voz de Hannah estava incrivelmente baixa – Ele é um maldito psicopata.

O clima estava tenso, mas eles não podiam deixa aquilo transparecer. Estavam no meio do Salão Principal, apenas se encarando. Quando algumas garotas da Sonserina passaram por eles e os fuzilaram com os olhos, eles perceberam que deviam sair. Com Alvo encabeçando o grupo, eles saíram sem nem se importar em desviar das sonserinas paradas sussurrando na frente da porta.

***

– Escolham o que vocês quiserem, e não o que os seus pais dizem – disse Mary para Michael e Tiago.

Havia se passado uma semana. Os seis estavam nas melhores poltronas em frente à lareira da sala comunal. Tiago e Michael olhavam indecisos para a lista de matérias opcionais para o terceiro ano. Eles podiam escolher duas ou três das matérias Aritmância, Runas Antigas, Estudo dos Trouxas, Adivinhação, Trato de Criaturas Mágicas, Idioma Sereiano, Idioma dos Duendes, Ofidioglossia e Duelos.

– Vamos logo com isso – disse Hannah impaciente, deixando sua pena e diário de lado e apontando para a lista – Tiago, você quer fazer Runas Antigas e Duelos, certo?

– Mas e Aritmância? – perguntou Tiago confuso. Mesmo desprezando as sugestões da tia, não parecia querer desapontá-la.

– Nem pense em se inscrever nisso – aconselhou Fred que estava ali por perto ouvindo a conversa, com Violeta, Roxy e Gabriel – É muito complicado. Número pra cá, número pra lá, número, número, número...

– E mamãe não vai ficar chateada – comentou Rosa – Quer dizer, não tanto. E provavelmente vai implicar muito mais conosco ano que vem.

– Beleza – falou Alvo – Então, você, maninho, vai fazer Duelos e Runas Antigas.

Tiago mirou a lista.

– E Trato de Criaturas Mágicas – acrescentou ele, e marcou as matérias que havia escolhido.

– E você Mike – disse Rosa para Michael, assustando-o – quer fazer alguma matéria que ensina outra língua, Trato de Criaturas Mágicas e sua mãe quer que você faça Runas Antigas. Fred, Violeta, Gabriel, qual o veredicto?

– Runas é fácil – disse Violeta.

– Fica mais difícil no quinto ano, mas a gente aprende um monte de palavras... Hã... Interessantes – concluiu Gabriel olhando Rosa de relance, e mudando a frase de última hora, embora todos soubessem que tipo de palavras que eram.

– E aí Mike? – perguntou Hannah mirando o amigo.

Michael suspirou e disse:

– Ok. Então é Trato de Criaturas, Runas e... Qual idioma?

– Aí que está o dilema – falou Roxy – Eu escolhi Ofidioglossia, não gosto de duendes nem de sereianos, então falar com cobras é a melhor opção. Posso chutar a bunda de alguns sonserinos também.

– Nós não sabemos – disse Gabriel – Essas matérias foram incluídas na época que a Roxy entrou no terceiro ano.

– Mas, acho que seria melhor Ofidioglossia mesmo – continuou Fred – Quer dizer, você certamente não vai trabalhar no Gringotes pra aprender duendes. E que tipo de perdedor quer falar com sereianos?

– Certo, então – disse Michael com uma risada, e firme, marcou as matérias escolhidas.

Os outros segundanistas, depois de muito debate, terminaram de escolher suas matérias e levaram as listas com os nomes para a sala do professor Longbottom. Alvo havia notado que nenhum deles havia escolhido Estudo dos Trouxas, pela simples razão de que, agora que a professora McGonagall estava de volta, Delacroix havia assumido essa matéria. Poucos haviam optado por escolher Adivinhação também, e Aritmância, com sua complicação, não ficara muito atrás.

– Agora, vamos fazer aqueles deveres – disse Rosa abrindo a agenda escolar que sua mãe havia lhe dado de Natal, fazendo uma voz dizer “Faça agora e tenha o fim de semana para você!”.

– Ross, temos uma semana e meia para fazer isso – reclamou Hannah.

– E a cota de deveres de casa realmente diminuiu agora que a Minerva voltou – argumentou Alvo – Um dia. Por favor? – pediu ele.

– E nós temos o segundo jogo da temporada amanhã, e treino hoje – falou Michael – Grifinória e Corvinal, lembra?

Rosa olhou para os amigos irritada, mas concordou com a cabeça como que vencida.

– Perfeito – disse Tiago, e olhou o relógio de pulso – Hora do treino.

***

Tiago estava quase lá. O pomo estava a apenas dois metros dele, que se desviava sagaz dos balaços que passavam. Alvo ficou ansioso, apesar de aquele ser apenas o treino. Era o último treino antes do grande jogo contra Lufa-Lufa, sim, então havia mais pressão – mas era só um treino.

– Quase lá, T – murmurou Alvo para si mesmo – Quase lá...

Sua mão estava a milímetros de distância da bolinha dourada...

TUM.

Um balaço atingira a cabeça de Tiago com um baque surdo. Os torcedores nas arquibancadas e os jogadores, no alto das vassouras, congelaram. Tiago caiu de sua Firebolt, inconsciente. Estava a poucos metros do chão quando Michael mergulhou com a vassoura e pegou o amigo, descendo numa fração de segundo.

Quando Alvo, Mary, Hannah e Rosa chegaram ao meio do campo, Michael havia pousado Tiago no chão e estava sacudindo o ombro e dando tapinhas na cara do garoto.

– Vamos lá... – dizia Michael – Tiago, acorde. Por favor, por favor, acorde...

– Temos de levá-lo para a ala hospitalar – sugeriu Mary. Seus lábios estavam tremendo.

Tiago mexeu a cabeça de um lado para outro, e logo gemeu de dor. Tentou levantar, mas caiu novamente.

– Pare de ser estúpido – murmurou Alvo, adiantando-se e segurando os ombros do irmão – Fique quieto. Você vai piorar tudo.

Tiago deu uma risadinha. Horrorizado, Alvo viu algumas gotas de sangue saírem de sua boca.

Enquanto isso, Hannah procurava freneticamente algo em seu cinto de utilidades de poções – ela o levava para todo canto agora, dizendo enigmaticamente que seria útil para certos momentos. Aquele era um desses momentos.

– Aqui! Achei – ela disse vitoriosa enquanto tirava um frasquinho transparente com uma poção púrpura, pendurado no cinto como um pingente – Era para ser uma amostra para o Slughorn, mas este é um caso importante – ela desarrolhou o frasco e virou o conteúdo na boca semiaberta de Tiago.

– Que é isso – perguntou Alvo com desconfiança.

– Uma poção para dormir sem sonhar nem sentir dor – respondeu Hannah e viu a expressão no rosto de Alvo – Fala sério, achou que eu o ia envenenar?

– É claro que não! – replicou Alvo indignado.

– Psiu, vocês dois – disse Rosa – A poção fez efeito. Wingardium Leviosa! – o corpo de Tiago começou a flutuar.

– Ah, meu Merlin – disse Scott com os olhos arregalados – O melhor apanhador do século! E o jogo é amanhã! – ele bufou de raiva, agitou os braços, suspirou fundo e olhou para Hannah, que observava o capitão com uma expressão de divertimento – Certo. Certo. Sothern, você está dentro. Foi um balaço e tanto, e não tenho certeza de que ele sairá ainda hoje. Beleza. Ok. Tudo legal.

E saiu, ainda resmungando e mexendo o corpo desconfortavelmente. Michael pareceu fazer esforço para não rir.

Rosa fez uma careta reprovadora para Scott.

– Ele vai ficar bem, certo? – murmurou ela, mordendo os lábios.

– É claro – a resposta de Alvo foi rápida, mas pouco firme.

– Quer dizer... – Michael levantou uma sobrancelha e sorriu – Um balaço é o menor dos nossos problemas, não é?

Melancólicos, as crianças concluíram que sim, e saíram correndo para a ala hospitalar.


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