Os Legados de Hogwarts - A Varinha do Poder escrita por Hannah Mila
– NÃO ACREDITO, VOU TER QUE cancelar o treino de quarta! – exclamou Scott Wood quando Michael e Tiago contaram a ele que não poderiam ir ao treino – Quatro jogadores a menos!
– Quatro? – repetiu Michael.
– Duplicamos e não estamos sabendo? – Tiago deu um sorriso torto.
– Vocês dois mais Fred e Roxy – disse Scott – Eles se meteram numa confusão envolvendo uma tesoura enfeitiçada, Argo Filch, e um ioiô berrante – os dois garotos apenas sorriram. Aquilo era a cara de Fred e Roxy – Bem, vou avisar a Luke e Jenny que o treino está cancelado. Até mais.
Ele se levantou e saiu da lotada sala comunal. Já era tarde e todos os alunos estavam matando tempo por lá.
– Foi fácil – comentou Tiago quando ele e Michael se juntaram aos outros – Achei que ele ia ficar enfurecido, quer dizer, Fred e Roxy já me contaram coisas... Vamos fazer o que agora?
– Já fizemos todos os deveres – respondeu Hannah antes que Rosa pudesse sugerir.
– Bem, então vamos visitar o Hagrid – disse Alvo – Não o vemos há semanas.
– Já está de noite, Al – lembrou Rosa – Não podemos sair a essa hora, não queremos mais detenções.
– Temos a capa da invisibilidade – disse Michael. Desde o Natal o garoto esperava uma oportunidade de usar a capa, mas ela nunca chegava.
– Somos seis, Mike, duvido que caibamos todos embaixo dela – argumentou Mary se jogando numa poltrona.
Michael insistiu com um sorriso:
– Bem, não custa tentar.
Eles discutiram um pouco sobre qual seria uma boa situação para usar a capa, até Jill Oxford aparecer, com uma cesta de pergaminhos enrolados em fita lilás familiares.
– Muita gente no Clube do Slugue esse ano, não? – comentou ela distribuindo os pergaminhos – Ele também me mandou dizer que dessa vez todo mundo vai ter que ir... Ele está cansado de ter que receber apenas a Samantha Davies.
– Não disse? – sussurrou Michael para os outros – Ninguém aguenta muito tempo de Sam Davies.
Enquanto isso, Tiago e Rosa haviam aberto os pergaminhos e abriram sorrisos.
– É na quarta feira, às seis horas – informou Rosa.
– Nós vamos escapar – disse Tiago – Nunca pensei que diria isso, mas detenção é o máximo.
– Acho melhor não ficarem tão confiantes – disse Alvo. Estava lendo o verso do bilhete com uma careta – Vejam o verso.
Michael virou o bilhete e leu em voz alta:
– “Conversei com o professor Flitwick e as suas detenções foram remarcadas para terça-feira, às seis horas” – Mike fez uma careta – Ah, não!
Hannah suspirou.
– Pelo jeito, o velho Slugue pensa em tudo.
– Droga – disse Tiago jogando a cabeça para trás num gesto de quem não gostou – Vamos dessa vez. Mas pela comida.
– Sempre pela comida – Mary revirou os olhos, mas sorria.
***
A terça-feira chegou mais rápido do que eles poderiam imaginar. Talvez porque as coisas chatas chegam mais rápido e as boas nunca chegam, talvez pelo fato de que eles não estavam prestando atenção no tempo, talvez porque eles não tivessem tempo para pensar na detenção e no jantar do Clube do Slugue, já que os professores os atolavam de deveres cada vez mais.
– Uma largatixa, aquela Delacroix, literalmente – resmungou Jason Finnegan na tarde de terça-feira, tempo que os primeiranistas aproveitaram para procurar a respeito de feitiços desilusórios em livros enormes pegos da biblioteca – Era para aprendermos isso daqui a três anos, mas nããão, a Delacroix acha que devemos aprender isso agora!
– Vocês estão melhores que nós! – disse Lola Martínez, que estava sentada com um grupo de segundanistas, que incluíam Tiago e Michael, num conjunto de poltronas ao lado deles – Ela nos deu nível de quinto ano. Ainda faltam três anos para os nossos N.O.M.s, mas ela quer nos “preparar” imediatamente.
– Transfiguração humana na teoria – murmurou Michael – Mal vejo a hora de McGonagall voltar. A Delacroix é tipo o Staples, só que a matéria é chata.
Eles deram risada. Alvo conferiu o relógio de pulso e suspirou.
– São quase seis – informou ele aos amigos – Temos que ir.
– Eu não acredito que vocês arranjaram detenção no primeiro dia de aula- bufou Victoire – Ainda mais você, Rosa...
– É, sim, é claro, Vic – respondeu Tiago guardando o material e fazendo um gesto de descaso para a prima.
Victoire acertou um rolo de pergaminho na cabeça do ruivo, e Tiago saiu correndo antes que a mais velha pudesse ralhar mais com ele. Os outros foram atrás, rindo.
Quando estava saindo, Alvo sentiu uma mão puxar seu braço.
– Al, você pode nos ajudar? – perguntou Trina, com Jill ao seu lado, ambas olhando esperançosas para o garoto – Eu juro que é rapidinho!
Alvo percebeu o dever de Defesa Contra as Artes das Trevas aberto na frente delas e sorriu.
– OK – respondeu, sentando-se com elas. Ele virou-se para os amigos: – Podem ir na frente, eu alcanço vocês.
Michael deu de ombros.
– Você é que sabe, Potter.
Alvo virou-se para as garotas e explicou rápida, mas claramente a matéria. Depois de conferir se elas entenderam, saiu da sala comunal da Grifinória. Estava apenas alguns minutos atrás dos outros. Começou a descer os andares para a sala de troféus.
Quando chegou no corredor do terceiro andar, ouviu vozes... Infelizmente, reconheceu-as, e se escondeu atrás de uma parede.
–... Colocaram nessa confusão? – ia dizendo a voz aguda de Patrícia Zabini – Eles são idiotas ou o quê?
– Eu estava irritado naquele dia – ouviu-se Escórpio Malfoy – Eles não têm culpa, só nos encontramos em mau momento.
– Mesmo assim – agora quem falava era uma voz aveludada, que Alvo demorou para descobrir a dona: Charlotte Vogue – Eles se acham os heróis da escola por causa do Dia das Bruxas... Mas tudo o que eles fazem é simplesmente impulsivo e imaturo. Não acha, Scor?
– É, talvez – respondeu o garoto – Mas ainda acho que eles foram corajosos.
– Eles foram estúpidos – Vincent se pronunciou pela primeira vez – É típico da Grifinória, não acham? Fazer estupidez achando que estão sendo aplaudidos.
– Como se vocês fossem muito superiores – havia deboche na voz de Escórpio – Vocês vivem arranjando confusão por aí. Não é como se tivessem moral. Além disso, a Grifinória certamente tem uma reputação melhor do que a gente.
– Ah, aí vem você de novo – apesar de não vê-los, Alvo sabia que Patrícia havia revirado os olhos – Honestamente, Scor, porque você não foi pra Grifinória?
– Humpf, agora bem que eu gostaria – murmurou o Malfoy.
– Que é que você disse?
– Bem, a companhia aqui não é das melhores, é? – Alvo podia quase tocar a tensão – E também, eu estava irritado naquele dia por causa de vocês.
– O que, aquela história dos livros de trouxa? Fomos legais demais com você. Devíamos ter mesmo jogado aquilo fora.
Alvo arregalou os olhos. Escórpio Malfoy tinha livros de trouxas?
– Vocês são uns idiotas – Alvo ouviu os passos de Escórpio se afastando – Eu tenho que ir.
Ouviu-se um suspiro.
– Acredita nisso? – Patrícia soava irritada – Como é que ele ainda anda com a gente? Como é que ele sequer está na Sonserina?
– Não é para tanto – respondeu Charlotte Vogue – Não é um problema tão grande assim. Deixe ele ler os livros de trouxa e fazer aquelas coisas com elásticos. Uma hora ele percebe que isso não vai levar ele a lugar nenhum no nosso mundo.
Houve um silêncio leve, e depois passos se distanciando. Alvo saiu de trás da parede onde se escondera com uma interrogação estampada na cara. Aquilo era o bastante. Ele precisava confrontar Escórpio Malfoy.
Alvo começou a andar em direção à sala de troféus, a velocidade aumentando a cada passo. Ele irrompeu na sala fazendo barulho, e corou quando percebeu o estardalhaço.
– Ah, por isso você quis ficar pra trás – Michael tinha um sorriso torto e um esfregão na mão – Isso que é entrada!
– Cale a boca – resmungou Alvo.
– Fizemos grupos para limpar a sala, Al – informou-lhe Rosa – Você, bem...
– Sobrou comigo – completou Escórpio Malfoy, que segurava uma vassoura.
“Perfeito” pensou Alvo, mas tentou agir desapontado. Desvendar Escórpio Malfoy era algo dele, não precisava envolver os outros.
– Hum – murmurou ele em voz alta – Tudo bem.
– Vamos acabar logo com isso, então – Tiago bateu as mãos e levou Michael e um balde de água para o outro lado da sala.
As garotas foram limpar as prateleiras de troféus com velhos espanadores, e Alvo e Escórpio se entreolharam no meio da sala e começaram a varrer. Alvo não conseguia distinguir os sussurros das conversas dos amigos, então achou que era um bom momento para falar com Malfoy.
– Ei – chamou ele. Escórpio olhou-o e levantou uma sobrancelha.
– O que um Potter quer com um Malfoy? – murmurou o garoto.
– Desvendá-lo – Alvo resolveu que era melhor não fazer rodeios – Eu ouvi você conversando com os Zabini e a Vogue...
Escórpio parou de varrer.
– Isso não é da sua conta – ele disse. Alvo pôde ver suas mãos agarrando o cabo mais fortemente – Vocês são sempre intrometidos assim?
Alvo suspirou e ajeitou os óculos. Aquilo seria mais complicado do que pensava. Os dois voltaram a varrer, sem se olhar.
– Por que você tem livros de trouxa? – perguntou baixinho.
– De novo, Potter – disse Escórpio – O que isso importa pra você.
– Importa porque você devia ser um idiota por andar com eles – respondeu Alvo rispidamente – Mas você não é.
– Ah, por favor – havia um tom cínico na voz do sonserino – Não é como se eu tivesse defendido você deles. Além disso, o fato de eu não ser idiota – bem, não tanto – não tem nada a ver com o fato de eu ter livros de trouxa.
– Seu pai te deixa ler esses livros?
– É claro que não. O seu por acaso te deixa se meter em confusões com o Caliginem?
Alvo deu um sorrisinho ao lembrar que o pai nunca os repreendera.
– Sim – Escórpio levantou as sobrancelhas com as resposta – Mas não é como se as decisões dele fossem boas. Ele colocou em mim o nome de Alvo Severo.
Os dois suprimiram risadinhas.
– Pelo menos não é Escórpio Hyperion – respondeu o sonserino e tom de piada – Quer dizer, sério? Escórpio?
– Pelo menos é original – rebateu Alvo – Ele só reciclou meus nomes de outras pessoas.
Os dois riram alto e se entreolharam pela primeira vez.
– Você não é ruim, Malfoy – disse Alvo – Só anda com as pessoas erradas.
Escórpio pareceu surpreso.
– É – respondeu, abaixando a cabeça novamente. Ele estava varrendo mais rápido que o normal – Acho que sim.
Alvo resolveu não insistir no assunto dos livros de trouxa. O momento estava bom e ele estragaria tudo se falasse de novo.
– Você também não é ruim, Potter – disse Escórpio alguns segundos depois – Só tem um nome muito feio.
– Não é pior que Escórpio! – provocou Alvo, e os dois riram novamente.
No fundo da sala, Mary Ann, a única que percebera as risadas, os encarava com uma expressão de curiosidade.
***
– Creio que conhecem Kingsley Shackebolt, não? – perguntou Slughorn para os Potter/Weasley – É um grande amigo de seus pais, não é?
– Ah, fem, aço que bé – respondeu Tiago com a boca cheia de pastel. Rosa lhe deu um chute por baixo da mesa – Ai!
– Engula antes de falar, Potter – disse Roxy. Tiago sorriu sarcasticamente para ela.
Eles estavam na sala do Prof. Slughorn, reunidos ao redor de uma enorme mesa redonda, com os mais variados tipos de comido à sua frente. Tiago e Michael aproveitaram a chance para comer a melhor parte da refeição, feita especialmente para a festinha. Os outros eram um pouco mais discretos – mas ninguém agia como se estivessem lá unicamente por boa vontade ao professor.
– Então, Alvo! – começou Slughorn. Alvo limpou a garganta com um gole de suco de abóbora – Ouvi do Prof. Staples que você anda indo muito bem em Defesa! Também gostava bastante dessa matéria quando eu próprio estudava... Tem algum assunto preferido.
– Hum – murmurou Alvo – Não sei, acho que gosto de bichos-papões. E duelar. Não sou tão bom na teoria, na verdade.
– Ah, que modéstia! – exclamou Slughorn, dando tapinhas nas costas do garoto, que estava sentado ao seu lado – Ah, Mary Ann, eu mandei aquele livro de quimeras para sua irmã, acho que ela gostou, apesar de não me conhecer – informou o professor, sorrindo para Mary.
– Bem, ela achou útil sim – respondeu Mary educadamente – mas ela prefere aprender na prática, sabe? Também não gosta tanto da teoria.
Slughorn sorriu novamente para a menina, dessa vez ligeiramente frio, e virou-se para Hannah.
– Hannah, aquela Poção Winggenweld que você fez na aula passada estava realmente boa, mas ainda não entendi porque você adicionou valeriana...
A garota começou a falar com o professor, e os outros aproveitaram o debate acalorado dos dois para comer sem serem perturbados pelas irritantes perguntas de Slughorn.
Algumas horas depois, todos saíram da festa cheios de tanto comer e aliviados das perguntas terem acabado.
– Não foi tão ruim – comentou Tiago, acariciando sua barriga.
– Sempre a comida, não é? – provocou Alvo.
– É claro!
– Olha, uma Delacroix – Hannah apontou para uma lagartixa parada na parede. Ela olhou diretamente para as crianças antes de sair rastejando rapidamente.
– Odeio largatixas – Mary Ann fez uma cara de nojo.
– Bem, o castelo está cheio delas ultimamente – murmurou Rosa, logo antes de ser empurrada por Samantha, que passou correndo por eles olhando o relógio de pulso – Ai!
– Desculpe!
– Ei, Sam, por que a pressa? – perguntou Michael levantando as sobrancelhas.
– Não é nada, tenho umas tarefas para fazer – respondeu ela antes de sair correndo de novo, deixando cair um papelzinho da bolsa.
– Espera, Sam, você deixou cair... – começou Michael, mas interrompeu-se de repente.
– Que foi? – perguntou Alvo.
Michael estava olhando de olhos arregalados para o papel, e estendeu-o para os outros o lerem.
Encontre-me no centro da Floresta Proibida às. Leve o que conseguiu. Não se atrase.
A marca abaixo do bilhete era inconfundível.
Ninguém acreditou. Samantha Davies, a seguidora do Caliginem? Mas por outro lado, poderia ser qualquer um. Os seis ficaram congelados ali, contemplando o bilhete. Até Mary Ann lançar aos outros um olhar que dizia com todas as palavras: “Sala de Hogwarts. Agora. Precisamos conversar”.
Os seis foram para a Sala de Hogwarts ainda estupefatos.
– Lumus – ordenou Hannah.
– Minha irmã? A traidora de Hogwarts? – disse Michael sem rodeios.
– Bom, temos que confirmar, não é? – falou Tiago, e apontou com o polegar para atrás de si, insinuando que saíssem.
– Não podemos sair à noite, ainda mais para a Floresta – lembrou Rosa.
– Como se isso fosse nos impedir – murmurou Alvo.
– Mas temos uma capa da invisibilidade – disse Mary para a felicidade de Michael – Cabem uns três de nós embaixo dela, no máximo.
– Eu vou! – gritou Michael – Não tenho medo dos centauros nem das acromântulas...
– Eu vou também – ofereceu-se Alvo – Se tiver um duelo, é bom eu estar lá.
– E eu – falou Tiago.
– Só meninos? – debochou Hannah – Isso não vai dar certo.
– Mas eu quero ir – rebateu Tiago.
– E eu preciso ir – respondeu a garota, colocando as mãos na cintura – E se a minha família estiver lá?
Isso encerrou a discussão.
Mary se levantou decidida.
– Então está tudo combinado – disse ela como se estivessem planejando uma festa na sala comunal.
– Vou subir e pegar a capa – disse Alvo, e saiu correndo para a sala comunal da Grifinória, voltando minutos depois com a longa capa prateada nos braços.
Alvo, Tiago, Hannah e Michael se cobriram com a capa enquanto Rosa e Mary Ann diziam:
– Certo...
– Posso ver o seu pé, Michael, arrume aí...
– Cuidado para não trombarem com alguém...
– Já são quase onze – disse Hannah checando o relógio de pulso – Não me surpreende que Samantha estivesse com pressa.
– Samantha pode não ser... – começou Michael.
– Da mesma forma que pode ser – interrompeu-o Alvo.
Michael fez uma careta.
– Talvez – disse ele por fim, sacudindo a cabeça – Mas minha irmã é tão... Tão normal...
– Certo – disse Mary em tom de quem encerra o assunto – Vão logo, e depois voltem direto para a sala comunal, vamos estar lá.
– Cuidado com o Filch e com o Pirraça – aconselhou Rosa – Agora vão!
Os quatro saíram da Sala de Hogwarts e, tomando um cuidado exagerado, seguiram direto para a orla da Floresta, logo atrás da cabana de Hagrid.
– Muito bem – suspirou Hannah. Sem perceber, eles estavam prendendo e soltando a respiração enquanto andavam. – E agora?
– Ali! – sussurrou Alvo apontando para o outro lado.
Um vulto magro e alto ia em direção à floresta. Após olhar para os lados, o vulto entrou na floresta. Sem falar nada, Alvo, Hannah e Michael o seguiram.
Como eles conseguiram acompanhar o vulto pela floresta era um mistério, já que não conseguiam enxergar um metro à frente por causa da escuridão. Mas o fato era que quando eles já estavam chegando ao centro da Floresta, a capa prendeu-se em um galho, e em meio à absoluta escuridão, eles não conseguiram achá-la.
– E agora? – sussurrou Hannah.
– Vamos continuar – disse Alvo em voz baixa – Está muito escuro para alguém nos ver.
– Nós ainda conseguimos ouvir ele andando – acrescentou Michael – Mas não façam barulho.
Eles continuaram a seguir o vulto silenciosamente, com os passos leves e cautelosos. Quando chegaram a uma clareira fracamente iluminada, os quatro se esconderam atrás de uma árvore e escutaram.
– Ah, finalmente – disse uma voz suavemente – Espere, não diga nada, podemos estar sendo... Observados.
Alvo prendeu a respiração ao ver a ponta do manto do Caliginem arrastando-se pelo chão.
– Conseguiu o que lhe pedi? – perguntou o Caliginem – Ah, claro... Muito obrigado, Samantha, eu não teria tempo de fabricar outra... Creio que sua relação com o diretor tenha ajudado? Sim, claro...
Alvo ouviu Michael engolir em seco ao seu lado. “Samantha”...
– Muito bem – disse uma outra voz, que Alvo não conhecia. Era uma voz de menino, e havia a mais pura impertinência nela – Tem sua varinha estúpida! Pode nos soltar agora?
– Leon! – sussurrou outra voz desconhecida em tom repreensivo.
Michael abafou um grito de Hannah. Os Sothern estavam ali.
– Não seja tolo, rapazinho – respondeu o Caliginem – Vocês ficarão comigo até a sua irmã aparecer, isto se ela conseguir desvendar o enigma, não a acho tão inteligente para tanto...
Ouviram um homem suspirar. Quando falou, sua voz era melodiosa como a de Hannah:
– Por favor... Nossa filha não é idiota. Por que fazer esses joguinhos...?
– Porque ele é um psicopata – eles ouviram o irmão de Hannah cuspir.
– Silêncio! – retrucou o Caliginem bruscamente.
Um silêncio profundo dominou o ambiente. Alvo podia ouvir perfeitamente um mosquito zumbindo a metros dali. Por fim, o Caliginem continuou:
– Samantha, vá. Não fale, não fale, como já disse, devemos estar sendo observados.
Alvo franziu a testa. Ele estava mencionando aquilo demais.
Ouviu-se o som de alguém andando em folhas secas e fez sinal aos outros para saírem de lá. Hannah fez sinal de abrir a boca, mas Michael a impediu. Havia uma expressão horrível em seu rosto, mas ela assentiu. Não era boa ideia tentar fazer algo agora. Eles saíram quase correndo de lá, sem falar e sem parar para procurar a capa da invisibilidade, tamanha a perplexidade.
***
– Onde é que vocês estavam? – perguntou a Mulher Gorda lançando a eles um olhar de azedar leite.
– Não importa – disse Tiago ligeiramente cansado – Pufoso amarelo, pufoso amarelo.
A Mulher Gorda, ainda de cara feia, os admitiu na sala comunal, onde no conjunto de poltronas mais próximo, Rosa e Mary Ann os esperavam lendo um enorme livro intitulado Teoria da Animagia. Ao avistá-los, Mary e Rosa levantaram as cabeças do livro e o fecharam, perguntando ao mesmo tempo:
– Como foi?
Os olhos de Hannah marejaram e Michael desabou no chão. Mary compreendeu imediatamente.
– Aravis... Eles... Eles estavam... Eles estavam lá? – gaguejou Mary Ann numa expressão preocupada.
Hannah assentiu ainda com lágrimas rolando em seu rosto. Tiago, Rosa e Alvo sentaram-se e procuraram alguma coisa para consolar Hannah, mas era impossível. Pior que quando alguém querido morre é quando você sabe que ele está sofrendo e não pode fazer nada para ajudar. Novamente, Alvo sentiu uma pontada de culpa ao perceber que estava aliviado por não estar no lugar da amiga.
– Mas, como foi? – perguntou Tiago.
Alvo contou tudo que ouviram, tudo que ele achava e como haviam perdido a capa e não conseguido ver coisa alguma.
– E sabe o que eu acho? – murmurou Alvo depois de tudo contado – O plano dele era que nós seguíssemos o traidor. O jeito que ele falava que “estavam sendo observados”... Ele sabia. Tenho certeza. Era a intenção dele. É por isso que os Sothern estavam lá também.
– Ele não pode ficar o tempo todo na floresta, nem os Sothern – murmurou Mary – Sim, faz sentido. Ele só levou os Sothern lá porque sabia que Hannah estaria espiando.
– Por que ele faria algo assim? – perguntou Rosa com a voz falhando.
– Porque ele é um maldito psicopata – havia uma expressão de fúria no rosto de Hannah ao dizer isso.
– Mike, diga alguma coisa – perguntou Tiago hesitante.
Michael não respondeu. Olhava fixo para as chamas na lareira, seus olhos com um estranho brilho que mesclava incredulidade, ânsia de vomito e surpresa.
– Samantha... – murmurou ele por fim, com a voz abafada e confusa.
– Não temos certeza – assegurou-lhe Alvo – Ela pode não ser... Sabe...
Mas isso era uma esperança muito pequena. O Caliginem só a chamava de Samantha, e disse que a relação dela com o diretor havia ajudado... Ora, Samantha era da Corvinal, a Casa de Flitwick, que tinha a varinha do Caliginem em sua guarda, tudo se encaixava, o vulto tinha o físico de Samantha...
Michael suspirou longamente. Alvo não conseguiu entender a expressão em seu rosto. Quando não estava com seu sorriso costumeiro e seu senso de humor descarado, Michael era indecifrável. Exceto para uma pessoa.
– Tem algo errado, não é? – Tiago olhou para o amigo incisivamente – Você não só não quer acreditar em nada disso. Você simplesmente não acredita.
– Eu já falei – disse ele – Samantha é muito normal. Ela segue regras, é digna. Ela simplesmente não se encaixa com esse negócio de traidora. Tem coisa aí. Sei que tem.
– Vamos descobrir tudo – disse Rosa, os lábios tremendo – vamos desvendar. Juntos.
– Juntos – concordaram Alvo e Tiago em uníssono.
– Juntos – disseram Mary e Hannah com firmeza.
Michael hesitou por um segundo, mas disse abrindo um meio sorriso:
– Juntos.
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