Os Legados de Hogwarts - A Varinha do Poder escrita por Hannah Mila


Capítulo 10
O Natal que deu errado




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ALVO DORMIA PROFUNDAMENTE, mas foi acordado com gritos de “Acorde, acorde” de alguém especialmente animado. Seus olhos, sem os óculos, focalizaram apenas cabelos ruivos vivos e olhos azuis muito arregalados.

– Hugo – falou Alvo ao primo – O que aconteceu?

– O que aconteceu? – repetiu Hugo incrédulo enquanto Alvo esticava-se para pegar seus óculos na mesa de canto – É manhã de Natal, Alvo! E temos um monte, um monte, um monte de presentes!

Hugo saiu correndo, e voltou minutos depois, carregando mais presentes e uma Rosa cansada.

– Hugo! – disse Rosa – Sei que é Natal, mas me deixe dormir mais!

– Você também tem um monte de presentes, veja, Rosa – ele estendeu-lhe a pilha de presentes de Rosa, que, de fato, era grande.

– Vá contar os presentes de Lílian! – mandou Rosa irritada. Hugo, sem tomar nada como ofensa, foi embora acordar Lílian, que, Alvo sabia, estaria tão excitada quanto ele.

Rosa caiu na cama de Alvo e enterrou a cara nos travesseiros. Alvo sabia como ela era sonolenta de manhã, mas o garoto já estava bem acordado.

– Bom dia! – gritou Tiago irrompendo no quarto com Michael – E feliz Natal!

– Bateu a cabeça a caminho daqui? – perguntou Alvo ironicamente.

– Parem com o barulho – resmungou Rosa, a voz abafada pelos travesseiros.

– Ah, vamos lá, vocês, é manhã de Natal – Tiago deu seu sorrisinho irônico – Ah, e obrigado pelos cremes de canário. Mas acho que Michael deu o melhor presente.

Alvo levantou uma sobrancelha.

– Um kit super completo do Gemialidades Weasley – respondeu Michael dando de ombros – É muito incrível, modéstia à parte.

A porta se abriu novamente e Mary e Hannah entraram já vestidas e comendo os doces da cesta que Tiago havia dado a elas.

– Dia – Hannah sorriu.

– Ah, ótimo, meu quarto ficou ponto de encontro no Natal – Alvo revirou os olhos, mas também estava sorrindo.

– Obrigado pelo suéter, Rosa – disse Mary. Alvo então percebeu que ela e Hannah usavam suéteres com suas iniciais. A de Mary era azul e em torno de seu M havia uma majestosa águia. A de Hannah era verde-musgo e tinha um caldeirão que soltava uma fumaça em formato de H.

– Hum-hum – respondeu Rosa, com um tom de irritação na voz.

– Ei – repreendeu Hannah, cutucando a cabeça da amiga – Ela é sempre assim?

– Isso porque você ainda não a viu depois do Ano-Novo – respondeu Tiago.

Michael soltou um resmungo.

– Não ganhei nada dos meus pais esse ano – disse ele, desapontado – Acho que por causa daquela história de ter ido longe.

– Meus pais também não me mandaram nada – respondeu Mary, sentando-se em cima da escrivaninha de Alvo – Eles estão com medo que eu fique como Nicole.

Alvo forçou um pouco a memória e lembrou-se que Nicole era a irmã do meio dos Duprée, e pelo que Mary dizia, ela era a ovelha negra da família. Alguns dias atrás, Michael e Mary haviam recebido berradores avisando que tinham desapontado os pais e deviam ficar agradecidos por poder ficar com os Potter-Weasley pelo resto das férias. Alvo, Tiago e Rosa já haviam sido liberados de seus castigos, e Alvo sabia que isso era por influência do pai.

Com um sorriso, Alvo começou a abrir seus presentes. Ganhou um livro de piadas de Michael, um ioiô berrante de Tiago, uma cesta de doces sortidos de Rosa, um globo de neve com Hogwarts de Mary e um exemplar de Defesa Contra As Trevas: Um Livro Para Sobreviver de Hannah.

Além disso, também ganhara um Kit Mata-Aula de Rony (Hermione deu uma bronca no marido ao saber do presente), uma estranha agenda de escola de Hermione, que cada vez que aberta dizia coisas como: “Faça os deveres agora para ter tempo depois!” (“Jogue na lareira quando ela não estiver olhando, é realmente irritante” disse Tiago), um cartão bem-feito de Lílian e um malfeito (porém com muito amor) de Hugo, o costumeiro suéter de lã de Vovô e Vovó Weasley, mais doces de sua mãe, e (deixara o presente do pai por último) uma capa da invisibilidade.

Alvo congelou. Seu pai lhe dera de Natal uma capa da invisibilidade. O tecido era prateado, leve como água, macio como plumas. Então Alvo percebeu que os outros também observavam a capa. Até mesmo Rosa tirara o travesseiro da cara, embora continuasse deitada e sonolenta.

– Está brincando! – exclamou Tiago, pulando para o lado de Alvo – Papai nos contou sobre a capa! Era para o mais velho ganhá-la! O mais velho! – repetiu ele apontando para si mesmo, como se não tivesse certeza de que os outros o haviam entendido.

– Espera – disse Mary – Capa da invisibilidade? Como um feitiço desilusório?

– Não, é diferente – respondeu Rosa, franzindo as sobrancelhas – Bem diferente. É mesmo a capa de tio Harry?

– É, porque ele daria para você? – Tiago ainda estava ofendido. Alvo resolveu não brigar com ele naquele momento.

Alvo levantou e pôs a capa, hesitando. Quando a capa o cobriu por inteiro, bocas se escancararam, olhos se arregalaram e exclamações foram ouvidas.

–Você está completamente invisível! – exclamou Michael, com uma expressão de pura animação no rosto – Isso é tão irado! Onde você está? Você ainda está aqui?

–Estou aqui – assegurou-lhe Alvo.

– Venha se ver no espelho – disse Mary – Bem, venha não se ver no espelho...

Alvo seguiu para um espelho que havia na porta do armário de seu quarto. E ele viu, ou melhor, não viu. Não havia nada em frente ao espelho. Alvo botou a cabeça de fora da capa e viu apenas uma cabeça flutuante de um menino muito surpreso. Ele tirou a capa e ao virar-se, topou com os cinco amigos tão impressionados quanto ele.

– Por que papai deu pra mim? – perguntou-se Alvo – Tiago é o mais velho.

– O que eu estive tentando dizer! – reclamou novamente Tiago.

Mas neste momento Lílian e Hugo entraram no quarto sorrindo como nunca. Alvo escondeu rapidamente a capa atrás de si. Bastava a animação de Michael.

– Obrigada pelo livro, Alvo – disse Lílian levantando o exemplar de Quadribol Através Dos Séculos que Alvo havia lhe dado – E também obrigada pelo outro livro, Tiago – continuou ela, mostrando o livro Os Times de Quadribol da Irlanda e da Grã-Bretanha que Tiago lhe dera. Alvo e Tiago planejaram desde o ano anterior de dar dois livros de quadribol à irmã, que era fanática pelo esporte. Foi provavelmente a primeira vez que trabalharam juntos em algo por vontade própria.

– Adorei, Alvo, Tiago – disse Hugo mostrando aos outros um tabuleiro de xadrez bruxo numa das mãos e um saco de papel onde peças novinhas se remexiam para começar a guerrear. O presente de Hugo fora outro que Tiago e Alvo planejaram juntos – Vamos jogar um pouco depois?

– Claro – respondeu Alvo. Entre as poucas coisas que Alvo tinha em comum com Hugo, em primeiro lugar estava a paixão deles por xadrez de bruxo. Sendo que nenhum dos dois eram bons em quadribol, consolavam-se jogando xadrez.

– Ei! Feliz Natal! – eles ouviram Gina Potter dizer da porta – O café-da-manhã está pronto, venham logo. Inclusive você, Rosa – a ruiva resmungou e recolocou o travesseiro em cima da cara novamente.

Eles riram e começaram a arrumar os presentes. Alvo tinha muito que conversar com pai...

***

A cozinha cheirava a biscoitos, café e... Guisado de plóctons.

– Ah, não – soltou Tiago involuntariamente.

– Bom dia e feliz Natal, crianças! – disse a voz sonhadora de Luna Scamander. Ela vestia um vestido azul berrante e “ameixas dirigíveis” nas orelhas, como brincos – Espero que ninguém se incomode, pois viemos passar o Natal aqui!

Então Alvo percebeu que um homem de cabelos castanhos mais ou menos da idade de seu pai estava sentado à mesa conversando com tio Rony. Seu nome era Rolf Scamander, e era o marido de Luna. A mesa também acomodava Lorcan e Lysander, que discutiam acaloradamente sobre algo.

– Fiz biscoitos! – exclamou a Sra Scamander – Biscoitos de saliva de hipogrifo. Minha receita super especial!

Michael torceu o nariz ao ouvir isso, sendo logo repreendido por uma mal-humorada Rosa. Os outros sorriram educadamente. Enquanto isso, Tiago foi diretamente até o pai, que estava sentando no canto da longa mesa, vestindo um suéter que dizia “I’m Harry Freaking Potter”, presente dos filhos.

– Papai, por que foi Alvo que ganhou a capa da invisibilidade? – perguntou Tiago, com um expressão irritado – Eu sou o mais velho! Certo?

Ele havia chamado a atenção de todos. Rony perguntou “Você deu a capa a Alvo?” e recebeu em resposta um sorriso de Harry.

– Eu achei que Alvo que deveria ficar com a capa, uma vez que você pegou o Mapa do Maroto – ele disse enquanto pegava um biscoito da bandeja à sua frente.

Hermione fez uma expressão de repreensão e horror.

– Tiago! – exclamou ela – Não me diga que você realmente pegou o Mapa do Maroto da mesa do seu pai! Na verdade, furtou, não é?

– Calma, Mione – disse Harry – O Mapa tinha mesmo que sair daquela gaveta velha. Não tem mais utilidade pra mim, mesmo.

Hermione contorceu a cara (do mesmo modo que sua filha faz), mas voltou a atenção ao seu prato de ovos.

– Então é só por isso? – perguntou Tiago – Por que não posso ficar com os dois?

– Ei, isso é muito egoísta de você – Alvo reclamou. Tiago deu a língua para o irmão.

– Além do mais, não é como se Alvo não nos fosse emprestar a capa – lembrou Michael, jogando uma fatia de bacon na boca – Nós dividimos o mapa com todo mundo. O mínimo que você tem que fazer é dividir a capa também – ele lançou um olhar incisivo ao menino mais novo.

– É claro que vou – Alvo tranquilizou-o.

Rony deu uma risada e comentou:

– Alvo e Tiago, dividindo? É o fim do mundo.

Alvo e Tiago deram um sorrisinho cínico e disseram ao tempo:

– Deve ser mesmo.

– Eles realmente brigam muito? – perguntou Mary – Em Hogwarts, só vejo eles se implicando mesmo.

– Bom, para você ter uma ideia, Al já quebrou um prato na cabeça de Tiago – respondeu Gina, lançando um olhar divertido aos filhos – E mais de uma vez.

Michael engasgou com seu suco ao rir.

– Você tem mesmo uma cabeça dura – ele zombou de Tiago, que lhe deu a língua.

A conversa foi interrompida quando Luna apareceu e deixou na mesa uma fornada cheia de biscoitos vermelho-vinho.

– Sabe, sempre pedem a receita dos meus biscoitos de saliva de hipogrifo – ela estava tão animada que Alvo sentiu pena de recusar – Quer dizer, não precisam comer...

– Ah, eles vão sim – disse Hermione.

As oito crianças fizeram caretas, torceram os narizes e olharam com discretíssimo nojo para os biscoitos. Mas, por causa de muitos olhares feios e petelecos de suas mães, eles concordaram em comer um biscoito (“Mas só UM!” disse Tiago baixinho).

Alvo levou o biscoito duro lentamente à boca. Todos comeram um pedaço ao mesmo tempo, e para a surpresa de todos, era bom. Tinha, literalmente, sabor de aconchego. Cada um pegou mais um biscoito da fornada, deixando as mulheres orgulhosas.

Nesse momento, uma coruja marrom entrou rapidamente e deixou um jornal na frente de Hermione, que a pagou com seis nuques.

Hermione abriu o jornal enquanto comia distraidamente seus ovos com salsichas. Ao chegar à segunda página, exclamou com a voz aguda:

– Ah, não acredito! Harry, Rony, venham ver isso! Logo no Natal...

Harry e Rony se apressaram para ver o que a amiga queria, e arregalaram os olhos e disseram baixinho coisas como:

– Como eles se atrevem?

– Não faz sentido...

– Temos que ir falar com o ministro.

Alvo, Tiago, Michael, Rosa, Mary e Hannah estranharam. Eles se entreolharam pensado a mesma coisa: o que tinha acontecido?

– Depois que eles terminarem de ler eu pego o Profeta pra gente ver – disse Tiago de modo que o pai e os tios não o ouvissem.

No momento em que Harry, Rony e Hermione abandonaram o jornal e chamaram Gina para um canto, Tiago aproveitou a oportunidade para pegar o Profeta Diário.

Ele estendeu-o na mesa diante dele e dos cinco amigos. Na primeira página estava uma entrevista com Kingsley Shackebolt a respeito do Caliginem, e na segunda uma manchete dizia:

Minerva McGonagall é levada a Azkaban por ser a traidora de Hogwarts e seguidora do Tal Caliginem.

– Como eles se atrevem? – sussurrou Rosa da mesmíssima maneira de sua mãe.

– McGonagall é uma das pessoas mais leais a Hogwarts que já existiu – falou Alvo baixinho.

– Que é que o ministro tem na cabeça? – murmurou Tiago – Aposto meus galeões que está dominado pela Maldição Imperius.

– Também – concordou Hannah – Isso tudo é tão bizarro...

Alvo leu a reportagem silenciosamente, e percebeu que os amigos faziam o mesmo.

Minerva McGonagall, diretora de Hogwarts, Ordem de Merlin, Segunda Classe, foi presa na véspera de Natal, acusada de ser uma seguidora do Tal Caliginem e a traidora de Hogwarts.

“Todas as pistas apontam para ela” diz um porta-voz do Ministério da Magia “Ela é poderosa, sábia, e ligada à Grifinória. Poderia estar dominada pela Maldição Imperius, não temos certeza. Mas por enquanto ela está em Azkaban esperando para ser interrogada”.

Quando a seu posto em Hogwarts como diretora e professora, nos disseram: “Na direção da escola, ela será substituída por Filio Flitwick, o vice-diretor. E Hogwarts terá uma nova professora de Transfiguração”.

“Eu não acho que McGonagall seja a traidora” diz Victoire Weasley, monitora-chefe e septimanista da Grifinória “Ela é muitíssimo leal a Hogwarts, em minha opinião; O Ministério está se rebaixando de novo”.

Todos querem que o palpite do Ministério esteja certo e que os ataques do Tal acabem, mas a maioria não acredita que McGonagall seja seguidora do Tal.

“Minerva é uma ótima pessoa, não se rebaixa nem para a Imperius” comenta Rúbeo Hagrid, guarda-caça e professor de Hogwarts “Não, definitivamente ela não é seguidora dele”.

Reportagem de Melissa Abercrombie.

Quando todos terminaram de ler a reportagem se encaram desconfiados. O Ministério teria sido tão burro a ponto de prender McGonagall? O que estava acontecendo? Estavam dominados pela Imperius ou sendo chantageados? Haviam dúvidas demais, mas nesse momento, os adultos voltaram à mesa. Tiago jogou o Profeta de volta ao outro lado da mesa e os seis se empertigaram nas cadeiras. Harry suspirou e disse:

– Eu, Gina, Rony e Hermione vamos ter que sair. Luna vai ficar aqui cuidando de vocês – ele abraçou rapidamente os filhos enquanto tio Rony e tia Hermione abraçavam Rosa e Hugo.

– Eu sei que é manhã de Natal, mas isso é muito urgente – disse Rony aos filhos.

– Voltamos logo. Comportem-se.

Eles subiram as escadas para o hall e eles ouviram o barulho de uma porta batendo. No mesmo momento eles se levantaram e disseram a Luna que iam abrir o resto dos presentes. Lílian, Hugo e os gêmeos Scamander quiseram ir junto, mas Alvo conseguiu deixá-los jogando xadrez na sala de visitas.

Eles subiram para o quarto de Alvo e trancaram a porta, desejando que Luna não fosse boa com o Alohomora como Hermione era.

– Que é que vocês acham? – começou Rosa – O ministro ou McGonagall que está dominado pela Imperius?

– Acho que o Ministro – opinou Tiago – A gente teria percebido os efeitos da Imperius na McGonagall. Vocês sabem, amnésia, dores, fraqueza.

– Como é que você sabe disso? – perguntou Alvo.

– O Staples só passa coisa adiantada pra gente – respondeu Tiago – Maldições Imperdoáveis. A única aula que eu prestei atenção.

– O caso é que a McGonagall continua forte como uma rocha – concluiu Michael.

– Poderia ser também... Que o ministro está só tentando tranquilizar a comunidade bruxa – disse Mary – Ele não pode achar realmente que McGonagall trairia a Hogwarts.

– Será que tem chantagem envolvida também? – perguntou Hannah – Quer dizer, o Caliginem está com a minha família... Vai saber quais outras também?

Eles foram interrompidos por uma voz do lado de fora.

– Alohomora – ouviram alguém ordenar, e segundos depois a Luna irrompia pelo quarto – Crianças, que ideia é essa de trancar a porta?

– Desculpe – disse Alvo distraidamente.

– Sabem, vocês já não estão com uma imagem muito boa com os seus pais – continuou a mulher, com o ar distraído de sempre – Mas bem, é Natal, então vou deixar isso passar.

Ela os arrastou para a sala de visitas onde Hugo ganhava epicamente de Lorcan numa partida de xadrez de bruxo. Lílian e Lysander conversavam absortos, enquanto o Sr. Scamander debatia a respeito da metamorfomagia com o recém-chegado Teddy Lupin.

– Desisto – falou Lorcan para Hugo – Você é bom demais, e eu só aprendi a jogar há uma semana.

Hugo sorriu.

– É de família – disse ele, e depois avistou Alvo parado na porta com os outros – Ei, Alvo! Você sabe jogar, vamos...!

Alvo já se dirigia à mesinha de centro onde as peças se reorganizavam felizes por outra batalha. Precisava de uma boa partida de xadrez de bruxo para clarear sua mente.

***

Na última semana das férias de Natal, todos viajaram até Ottery St. Catchpole, uma aldeia bruxa, para passar o ano-novo n’O Castelo.

Alvo repartiu o carro com os pais, Rosa, Hugo e Lílian. Passou um bom tempo jogando xadrez de bruxo com Hugo, pouco se importando com os frequentes solavancos, que faziam um bispo ferido na véspera sair do lugar em que fora deixado.

Rosa e Lílian tagarelavam alegremente sobre a escola, Lílian torcendo o nariz por ter de esperar ainda dois anos para começar a estudar:

–... História da Magia é ótima... – dizia Rosa.

–... Pra quem não conseguiu dormir à noite – completou Alvo sorrindo – Jason Finnegan desmaiou quando começamos a aprender a história do anão Gimli, o Bravo.

Harry e Gina riram dos assentos da frente.

– Na nossa época, só Hermione que aguentava as aulas do Binns – disse Harry – Eu e Rony copiávamos as anotações dela e conseguíamos passar raspando nos testes.

Rosa amarrou a cara.

– Mas eu acho realmente interessante – disse ela retorcendo a cara.

– É claro, você é a filha de Mione, não é? – respondeu Gina com um sorriso.

– Nem acredito que ainda tenho que esperar um ano e meio para pegar o Expresso de Hogwarts pela primeira vez – comentou Lílian. Hugo sacudiu a cabeça com fervor.

– Alvo, será que você pode me levar escondido no seu malão quando vocês forem voltar? – sugeriu Hugo esperançoso. Todos riram.

Algum tempo depois eles paravam numa casa que lembrava uma torre. Tinha três andares e um teto octogonal. As imitavam tijolos cinzas, como os de Hogwarts. Um caminho de pedras levava à porta da frente, que era de madeira escura e tinha um W entalhado. As janelas eram amplas e por elas podiam-se ver quartos bonitos e aconchegantes. A casa ficava logo em frente à um belíssimo jardim com um laguinho, e um campo simples de quadribol. O inverno cobria as flores vermelhas que geralmente ficavam ali. A neve cobria cada centímetro da grama que na primavera era verde-viva.

– Bem vindos ao Castelo – Rosa abriu um grande sorriso aos amigos.

– Entrem crianças, está congelando – convidou tia Hermione.

Empurrando seis malões e peças de xadrez indignadas por não estarem mais guerreando, as oito crianças e os quatro adultos entraram.

A sala de estar d’O Castelo também era bonita. As poltronas e os sofás não eram em tanta quantidade quanto no Largo Grimmauld 12, mas eram extremamente confortáveis. A sala também abrigava uma mesinha de centro presenteada por Luna, e um tapete de tricô estampado com um enorme brasão de Hogwarts.

– Bem, nós não temos tantos quartos quanto o Largo, mas acho que podemos sobreviver – disse Rony – Acho que as meninas podem ficar com Rosa, e os meninos com Hugo, e é claro, o quarto de visitas para Harry e Gina.

– Muito bem, Rony – disse Gina ironicamente.

– Vai ficar um pouco apertado, mas vai dar certo – continuou Rony lançando um olhar irritado à irmã.

As crianças subiram para os quartos. O quarto de Hugo, no segundo andar, não era nem grande nem pequeno, tinha vários pôsteres de bruxos de vestes laranja voando desastradamente em vassouras. O Chudley Cannons era o time preferido de Rony e Hugo, o que realmente não fazia sentido, uma vez que os Cannons não ganhavam uma única partida há bem mais que trinta anos.

Assim que espremeram os malões entre as quatro camas que haviam sido arrumadas lá, eles desceram para o quarto de Rosa no primeiro andar.

O quarto de Rosa era ligeiramente maior que o de Hugo, com uma enorme estante de livros numa das paredes amarelas. As quatro meninas tagarelavam sobre a escola, sobre o natal, e sobre a relâmpago de Hannah.

–... Tem três tipos de sensores diferentes, só para a segurança, e é tão rápida que nem parece que você está voando – ia dizendo Hannah a uma Lílian estupefata.

– Incrível – murmurou Lílian – Acha que pode me emprestar? Por hoje, só?

– Claro que sim – respondeu Hannah dirigindo-se ao seu malão e pegando a vassoura, que fez os queixos de Lílian e Hugo se escancararem.

Lílian pegou a vassoura de olhos arregalados e dali a uns minutos eles estavam do lado de fora da casa e podiam vê-la voando espetacularmente acima do laguinho congelado d’O Castelo, e depois Hugo caindo espetacularmente na neve.

– Vocês tinham razão, se ela entrasse no time agora a taça seria nossa sem sombra de dúvida – comentou Michael admirando a mais jovem Potter fazer um looping duplo no céu nublado – Mas torço para Hugo não acabar entrando – acrescentou ele ao ver Hugo tentar subir na vassoura e cair.

Rosa lançou um olhar feio a Michael.

– Não fale dele assim... – começou a ruiva.

– Porque pelo menos ele se esforça, não é mesmo? – respondeu o garoto em tom de ironia.

A discussão iria continuar, mas eles foram interrompidos por um grito vindo de dentro de casa.

– Não, ele não pode ter feito isso, não pode ter feito, não faz sentido! – gritava tia Hermione com a vez trêmula e aguda.

Hugo e Lílian continuavam voando, sem notar o entreolhar nervoso dos seis mais velhos. Silenciosamente, Tiago abriu a porta dos fundos e eles entraram na ponta dos pés. Pararam atrás do arco da sala de estar para a cozinha, de onde puderam ver os adultos sentados nas poltronas, tia Hermione segurando uma carta de aparência oficial.

– Mione, calma, não grite – Rony tentava acalmá-la, obviamente sem resultados.

– Rony, eu acho que ele enlouqueceu, realmente enlouqueceu – Hermione já estava à beira das lágrimas.

– Mione, as crianças vão ouvir – disse Gina levando o dedo aos lábios pedindo silêncio.

Hermione levou as mãos à boca como se quisesse sufocar um grito de agonia. Alvo teve um pressentimento do que a carta significava e trocou um olhar desconfiado com os amigos: talvez McGonagall tenha sido julgada culpada e mandada para Azkaban por certo tempo.

Silenciosamente, eles começaram a voltar para fora, mas...

CREC!

Se Rosa os tivessem avisado a respeito da tábua de madeira frouxa que ficava logo no fundo da cozinha, talvez eles não tivessem de enfrentar Hermione meio chateada, meio brava dali a alguns minutos.

– Por que vocês estavam nos ouvindo? – perguntou ela de braços cruzados enquanto os seis se espremiam no sofá dos Weasley.

– McGonagall é nossa diretora – disse Tiago num tom de desafio – Você não gostaria de saber exatamente o que aconteceu a ela?

– Mione, eles já estão bastante encrencados, não vamos piorar as coisas – disse Harry lentamente.

– É, e não vamos negar que nós não ficávamos fazendo o mesmo que eles quando tínhamos essa idade – falou Rony.

Hermione olhou feio para o marido.

– Ah, sim – murmurou Alvo – É o faça o que eu digo, não faça o que eu faço.

– Ei – repreendeu Gina – Que atitude é essa? Você tem andado muito com Tiago – ela olhou feio também para o filho mais velho.

Tiago suspirou e deu um sorrisinho.

– Tudo, eu! – exclamou ele, puxando uma risada dos adultos.

Por fim, Hermione fez um gesto dispensando-os. Quando eles começaram a sair para o quintal novamente, Harry chamou:

– Vocês podem se meter – os seis arregalaram os olhos para o homem, que recebeu um tapa na cabeça de Hermione. Harry riu e deu uma piscada para as crianças: - Só não podem ser pegos.

Todos eles sorriram.

– Vamos tentar – respondeu Alvo, e eles saíram antes que Hermione pudesse brigar novamente.

***

No dia seguinte, A Toca foi o ponto de encontro dos Weasley, dos Potter, dos Scamander, dos Longbottom e de Teddy Lupin para passar o ano-novo. Os Potter/Weasley, para começar, já formariam uma pequena cidade. Com mais Teddy, os Longbottom e os Scamander, ao todo eles eram trinta e dois bruxos e bruxas reunidos. Era realmente muita gente, mas o quintal era grande e comida de Vovó Weasley era farta.

Haviam uma enorme mesa no quintal, decorado para o ano-novo com lanternas de papel e serpentinas. As crianças se divertiram fazendo guerras de bolas de neve, em que até alguns adultos se envolveram.

É claro que foi uma surpresa para Michael, Hannah e Mary encontrar o Prof. Longbottom e a Sra. Longbottom lá. O professor, porém, apenas sorriu e desapareceu em meio às pessoas com a mulher.

Lá pelo meio da noite, os adultos fizeram uma coisa que fez as crianças quase desmaiarem de encantamento: com magia, foi construído um forte de neve enorme, tão bem feita que tinha dois andares, cômodos, salas e escadas em espiral que eram sustentadas por magia. As crianças imediatamente infiltraram o forte, e acharam uma sala com sofás e mesinhas de neve onde eles se acomodaram sem nenhuma cerimônia.

– Você estava falando a verdade, o Prof. Longbottom é mesmo amigo dos seus pais! – exclamou Michael se jogando num sofá de neve.

– É claro que eu estava falando sério – disse Tiago com um ar falsamente ofendido – Não sou de mentir.

– Vamos fingir que acreditamos – respondeu Alvo cinicamente.

– Ele faz vista grossa pras notas de vocês em Herbologia? – perguntou Michael.

– É claro que não! – Rosa retrucou irritada – Honestamente, Michael...!

A discussão foi interrompida por Molly, Lucy, Dominique e Louis, que entraram pelo arco da sala e se sentaram em um dos vários sofás.

– Oi, bom Natal? – cumprimentou Molly e sem esperar resposta, continuou: - Vocês souberam do que aconteceu a McGonagall?

– Soubemos – disseram Alvo e Mary em uníssono.

– Souberam que o ministro a pôs numa câmara de Azkaban cheia de dementadores? – perguntou Lucy.

– COMO É? – exclamaram Tiago e Michael ao mesmo tempo.

Dominique assentiu, reforçando o que Lucy havia acabado de dizer.

– Papai nos contou ontem à noite – falou Dominique – E tio Percy contou a Lucy e Molly dias atrás.

– Parece que McGonagall já está lá há uma semana – falou Louis – Estão a torturando para ela contar sobre o Tal.

– Mas ela não é seguidora do Caliginem! – esganiçou-se Rosa.

– Sabemos disso – disse Molly – Só ninguém no Ministério parece saber.

– Parece que nossos pais só ficaram sabendo disso ontem – disse Alvo – Tia Hermione recebeu uma carta...

– Isso é suspeito – comentou Molly – Eu nunca imaginaria que o Ministério agiria assim.

– Pode ser só notícia – disse Mary – Podem estar apenas tentando tranquilizar as pessoas – mas, diferente de quando dissera essa possibilidade antes, agora a garota tinha a voz insegura.

– Acho improvável – respondeu Dominique – Quer dizer, a história da cela com dementadores já é demais. Me deixa mais nervosa do que já estava.

Todos suspiraram longamente. Logo, Louis quebrou o silêncio:

– Ao menos Flitwick é bom para substituí-la – comentou – Mas não faço ideia de quem ensinará Transfiguração tão bem quanto ela.

– Ei – chamou alguém atrás deles. Fred e Roxy não estavam sorrindo, para a surpresa de todos – Acabamos de topar com o Longbottom.

– Ele nos disse que a nova professora de Transfiguração ainda não está confirmada – falou Roxy – Mas se estiver, ninguém vai ficar muito feliz.

– Parece que ela é rabugenta – explicou Fred.

– Qual o nome dela? – perguntou Louis.

– Não fazemos ideia – disse Fred – Longbottom não quis nos contar.

– Achamos que ele se esqueceu do nome – disse Roxy, retomando o costumeiro sorriso e se jogando no macio chão de neve da sala.

– Onde é que está a Victoire, hein? – perguntou Molly para Dominique e Louis.

– Bem, quando chegamos, ela se encontrou com o Teddy e desapareceu – falou Louis.

– Supondo que eles não tenham fugido para se casarem, eu diria que ela está lá dentro se agarrando com ele – disse Dominique. Tiago assumiu um ar hostil.

–Teddy nunca foi do tipo que namoraria a Victoire – comentou ele –, não se ele visse ela na escola com aquele distintivo estúpido de monitora-chefe.

– Não começa – falou Lucy, com uma expressão de deboche – Você só está assim porque o Teddy te ajudava em pregar peças nos outros quando Fred e Roxy não estavam por perto, e agora você está achando que a Victoire está roubando o tempo que ele podia passar fazendo pegadinhas com você.

– E não é isso? – disse Tiago num tom de “o que é que você quer dizer?”.

– Deixe de ser obtuso – aconselhou-o Fred – Quando Teddy não estiver, nós vamos estar. E lá em Hogwarts ainda tem a Violeta e o Gabriel.

– E eu, cargas d’água! – exclamou Michael.

– Parem de falar de Hogwarts – disse Hugo entrando na sala, seguido de uma Lílian que olhava de olhos estreitos para Tiago – Estão nos deixando com inveja.

– E por que em nome de Merlin você odeia tanto o namoro de Victoire e Teddy? – disse Lílian – Eu acho maravilhoso. Principalmente se eles se casassem, o que, acho, não vai demorar a acontecer. Você não gostaria que Teddy fizesse mesmo parte da nossa família?

Alvo se acomodou na macia poltrona de neve e ouviu a conversa leve, fechando os olhos e vendo frases como “Qual a relação do Caliginem com Hannah?” e “Por que o ministro enlouqueceu e resolveu prender McGonagall?” dispararem à sua frente. Perguntas sem respostas que talvez nunca sejam respondidas.


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