A Face Oculta Da Lua escrita por Lady Salieri, Nami Otohime


Capítulo 10
Cap 8: A tarde dos esclarecimentos II (I)


Notas iniciais do capítulo

- Nada disso faz sentido, Takeo. Nosso tesouro mais valioso ainda é o cristal de prata... E é o que nossos inimigos buscaram desde os tempos mais remotos.
- Mas o cristal de prata está na Terra e não na Lua. E Kitty busca pelos nossos cordões... Não vejo outra utilidade para o cristal da passagem que não seja a entrada no Milênio de Prata.



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Três dias se passaram desde o último ataque de Kitty e não houve mais sinal dela. Nesse ínterim, Lyene e Takeo se aventuraram a listar, tal e qual propuseram, os inimigos e tesouro do Milênio. Ainda faltava saber quem alimentava a Negaforça com a energia que Kitty roubava dos humanos, enquanto perseguia o cristal da passagem. Lyene receava que o desaparecimento de Kitty assinalasse algo mais grave, como a semeadura da negaforça no coração dos terráqueos, ou o próprio despertar de Metallia, mas Takeo fazia questão de atentar para o fato de que a realização da primeira hipótese de Lyene necessitava dos sete demônios do Negaverso – e , pelo menos de onde se tinha noticias, se encontravam devidamente selados – e a segunda preocupação dela soava praticamente impossível porque estava tudo quieto demais para algo de semelhante porte.

Os dois discutiam exaustivamente, durante qualquer tempo livre de que dispunham, anotando todas as lendas que povoavam o imaginário dos selenitas, ao mesmo tempo em que enumeravam as importantes capturas, as denúncias sobre inimigos, e até mesmo a história de seres que faziam parte dos mitos fundadores cantados pelos rapsodos.

No entanto, ainda que tomassem o devido cuidado de anotar tudo para não se perderem em assuntos repetidos, Lyene sentia que ambos não faziam mais que andar em círculos. Neste terceiro dia, enquanto os dois continuavam com suas anotações, ela jogou a caneta longe. Takeo olhou em sua direção:

– Nada disso faz sentido, Takeo. Nosso tesouro mais valioso ainda é o cristal de prata... E é o que nossos inimigos buscaram desde os tempos mais remotos.

– Mas o cristal de prata está na Terra e não na Lua. E Kitty busca pelos nossos cordões... Não vejo outra utilidade para o cristal da passagem que não seja a entrada no Milênio de Prata.

Ela cruzou os braços, tensa:

– E chegamos outra vez neste limite. Daqui não passamos, Takeo, chegamos neste ponto e nos colocamos a volteá-lo... Estamos trabalhando inutilmente!

Dito isso se debruçou sobre a chabudai, bagunçando os papéis em um acesso de raiva, de modo a tirar tudo da sua vista, que estalava em fogo.

Takeo sorriu e se levantou, ajoelhando-se atrás dela, de modo a fazer-lhe uma massagem nos ombros. Ela assustou-se ao seu toque, enrijecendo todos os músculos, todavia, isso não durou mais que meio segundo, sentindo as carnes desmancharem ao toque de seus dedos, feito uma escultura de argila mal feita que necessitava novo molde. Sentia a pele eriçada pelas esperanças que voavam baixo sobre ela, suscitando os mais suaves planos aliados às mais valiosas lembranças... Daquele momento ou de antes, não importava... Tudo aquilo cantando harmoniosamente em um coro impossível, mais bonito ainda sendo por não ser... Não queria sequer mover-se para não esbarrar em nenhuma realidade.


Takeo inexplicavelmente sorria, entre surpreso e satisfeito, enquanto sentia nas pontas dos dedos as reações da pele dela. Não o havia feito de caso pensado, apenas a tinha visto retesada de raiva e quis distrair-lhe, pensando que ela ficaria brava com ele e correria de si como um bicho do mato. Entretanto, para sua surpresa ela deixou-se estar, ela deixava-se estar... Um brilho de orgulho brotou no seu semblante ao ver como a pele dela era atraída pelos movimentos das suas mãos... Sentia que era capaz de separar-lhe as moléculas, bastasse querê-lo. Instintivamente sentiu querer abraçá-la e beijá-la, mas esta sensação imediatamente desenhou o rosto de Mihara e ele jogou-se para trás, sentando-se assustado e afastando-se de Lyene como se fora pego em flagrante.

Lyene virou-se com calma, controlando até mesmo o rubor que ameaçava colorir-lhe o rosto, porém, ao se deparar com seus olhos, notou-o constrangido e triste. Ele, assim que se deu com os olhos dela, tentou sorrir despreocupadamente, mas já era tarde demais:

– Sente-se melhor, princesa?

Lyene arqueou as sobrancelhas, seu semblante passando de preocupada a entediada por sua brincadeira estúpida:

– Sim, mas agora a pergunta é: Você se sente bem?

Takeo levantou-se em um pulo e riu alto, com a mão atrás da cabeça:

– Sim, claro! E, olha, não pensa que essa massagem vai sair de graça, não. A senhorita fica me devendo uma! Agora vou dar uma volta e comprar umas coisas pra preparar o jantar de hoje, porque tenho uma receita nova.

Lyene assentiu somente e ele saiu depois de acenar “tchau” da porta.

Ela passou a mão atrás da nuca e respirou profundamente, como que querendo inspirar a sensatez que por um momento havia perdido. Obviamente ele havia pensando em Mihara, e ela deveria fazer a mesma coisa. Sentia-se algo humilhada, e ainda bem que Takeo saíra porque de repente ficou difícil lidar com o que sentia e pensava e concluía e a fazia voltar a pensar a sentir e concluir. Quis tomar um banho, de maneira a apagar qualquer vestígio da força daquele toque, mas desistiu no meio do caminho, por medo de que o banho apagasse qualquer vestígio da força daquele toque.

Levantou-se e saiu. Foi para o fliperama.

Quando lá chegou, Andrew já havia saído. Ela o sabia, mas só queria poder sair de casa e distrair-se com qualquer coisa, antes de decidir o próximo passo. Sentia-se dividida entre buscar a amiga e o maldito esconderijo do Negaverso, porque era daí que tinha que começar. Tirou umas fichas do bolso da calça e colocou na máquina. No mesmo momento acendeu a animação da Sailor V que a deixou desconcertada. Havia colocado a ficha na máquina errada. Já sabia da fama de Mina como Sailor V, fama esta que, por muito tempo, antes do seu suposto desaparecimento, deu nos noticiários, contudo era engraçado ver a menina em 2D dentro de uma máquina. Ela não pegou nos controles e os monstrinhos destruíram o avatar da Sailor em segundos. Colocou outra ficha, e a mesma coisa. E depois outra e mais outra e mais outra. Parecia divertido, em um momento fez como 300 pontos sem sequer tocar nos botões. Começou a rir diante daquilo, inevitavelmente, imaginando que poderia se tratar de Sailor Moon, sua versão 2D tão desengonçada quanto a própria, cujas atitudes na Terra em muito pouco lembravam a princesa Serenity da Lua. No entanto ambas continuavam igualmente irritantes em pólos opostos, rejeitando a mesma coisa, rejeitando aquilo que lhes pertencia. Serena nem sequer se lembrava de tudo com clareza, pelo que parecia tinha uma tênue impressão do que se passou no Milênio e que não a estorvava em nada nem sua vida nem sua personalidade na Terra. Mexeu no direcionador, e a bonequinha correu de lá pra cá até ser atingida por mais um monstro, sacudindo-se eletrocutada, de maneira idêntica aos ataques histéricos de Serena.

Mergulhada nesta brincadeira, finalmente distraída como queria, não notou Darien aproximar-se. Ele ficou um tempo detrás dela, observando-a, sem entender:

– O que exatamente você está fazendo?

Lyene virou-se para trás num susto, se desequilibrando da cadeira, sendo amparada por ele que segurou seu braço, num reflexo. Ficaram olhando-se um tempo. Darien a notava bem diferente: Ela vestia uma blusa de meia manga, branca, com um pequeno colete preto e uma calça de cós bem alto, também preta, diferente dos macacões ou calças-balão com camisetas cavadas que costumava usar. Além disso, sua postura mudara, estava bem mais adulta, com um brilho no olhar que remetia naturalmente à Lyene que ele conhecera no Milênio, com quem tivera tanto atritos...

Ela puxou o braço fazendo com que ele voltasse a si. Viu-a de pé em sua frente:

– Desculpa, Lyene, não quis te assustar.

– Tudo bem. Igual, posso dizer que estava bem concentrada aqui e me assustaria com qualquer coisa, o que me alerta para que eu trabalhe melhor isso, imagina se se trata de um inimigo...

Ele sorriu, melancólico:

– Eu caberia bem nesta lista em outro tempo, certo, alteza?



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Notas finais do capítulo

(Próximo capítulo) Lyene tinha mil coisas na cabeça, todas diferentes e inomináveis. Tentou várias vezes iniciar qualquer frase de modo a expor seus pensamentos, mas não conseguia ligar as palavras. Olhava-o e tudo com o que se deparava era um constante olhar sereno que a fazia sentir-se ainda mais desconcertada e ansiosa...