A Face Oculta Da Lua escrita por Lady Salieri, Nami Otohime


Capítulo 1
Capítulo 1: Noites nubladas


Notas iniciais do capítulo

Era como se um turbilhão de acontecimentos quisesse emergir de uma vez e ela apenas visse um caleidoscópio de infinitas cores e formas em sua cabeça. Andrew aproximou-se e cumprimentou-a, mas no estado em que estava nem ouviu. Tudo sumiu à sua volta, a única coisa que via era aquele sujeito alto, moreno e elegantemente vestido.



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Toda noite era o mesmo sonho:

“O lugar sabia ao paraíso, e, acima de tudo, era muito familiar. Lyene sabia que vivera diversas situações perto daquela fonte, às margens daquele rio, na praia e nos campos de areia branca que pareciam se estender infinitamente... Entretanto, tudo era apenas um misto de sensações confusas que sumiam assim que ela procurava entender algo.

Subitamente o sonho mudou de referência e ela se viu vestida com roupas de princesa, andando para longe do palácio que amava e odiava ao mesmo tempo (e isso lhe causava uma absurda repulsa porque não se interessava por nada dessas coisas).

E o cenário do sonho mudou bruscamente. Suas roupas de princesa foram substituídas por um uniforme de guerreira e ela estava no meio de uma guerra: soldados, monstros por todos os lados, lanças, espadas, feitiços, inimigos que não paravam de aparecer, ela lutando com um homem de longos cabelos violetas, o som da sua espada se chocando contra a dele, sua vontade de acabar com tudo aquilo, o pensamento no lugar e na Rainha ( e tão logo ela tentava entender o que se passava, se via ali lutando sem saber o porquê).

As lutas iam prosseguindo e, a cada amigo morto, a mente dela se embaçava de tristeza, sendo movida mais pela raiva e pelo ódio do que pela consciência.

Em um dado momento sentiu algo trespassando o lado direito do seu ventre. Sua vista escureceu e ela se viu cair no chão, derrotada...

Quando acordou, tudo terminara: as lutas, o sangue, os gritos, o desespero... Tudo. O que pairava no ar era o cheiro de sangue e o silêncio que se fazia irritantemente pesado diante de uma visão estarrecedora de mortos espalhados por todo lugar, como os grãos de areia daqueles campos. Restavam apenas ruínas do paraíso onde nascera...

Uma lágrima molhou seu rosto sujo de sangue e ela foi tomada por uma angústia absurda que a levou a correr o mais rápido que conseguia. Estava tão transtornada que não sentia a dor dos seus ferimentos. O que lhe importava era somente a Rainha, era por isso que corria.

Avistou-a logo. Estava deitada em uma pedra, sem forças, velada por dois gatos que Lyene sabia de quem se tratavam. Aproximou-se, ajoelhou-se e não conseguiu se conter, começando a chorar copiosamente. A Rainha acariciou-lhe os cabelos, disse alguma coisa que Lyene não conseguiu ouvir e ergueu seu cetro em direção à Terra . Deste cetro saiu uma luz ofuscante que envolveu a todos...”


Lyene acordou erguendo as costas bruscamente da cama. Estava suada e com a respiração ofegante. Passou a mão pelo rosto numa tentativa de secá-lo, pegou o cordão que pendia em seu pescoço, como por um reflexo, e olhou pelo relógio, jogando-o longe:

– Ai, que ódio! – Dizia para si mesma – Dez horas, não posso acreditar! O que anda acontecendo comigo?! Já é a centésima vez que sonho com essa droga... Pelo menos hoje é sábado... Inferno!

Foi direto para o banho e demorou-se por lá. Depois disso tomou rapidamente seu café da manhã, ansiosa por ir ao fliperama conversar com o Andrew. Mal tinha começado o dia, e ele já estava péssimo, tinha certeza de que se sentiria melhor se pelo menos visse seu melhor amigo.

Ao chegar lá, viu, sentada nos banquinhos perto do balcão, uma figura tremendamente familiar. Fixou seu olhar nele e sua mente começou a se revolver. Era como se um turbilhão de acontecimentos quisesse emergir de uma vez e ela apenas visse um caleidoscópio de infinitas cores e formas em sua cabeça. Andrew aproximou-se e cumprimentou-a, mas no estado em que estava nem ouviu. Tudo sumiu à sua volta, a única coisa que via era aquele sujeito alto, moreno e elegantemente vestido. Tentou colocar as idéias em ordem, contudo, todo seu esforço era inútil e fazia com que ela se sentisse mais nervosa e mais cansada.

Voltou a si quando Andrew disse:

– Lyene, está tudo bem com você?

– Ãhn? Oi pra você também, Andrew. – Tentou parecer sorridente, mas

ficou com um semblante ridículo.

Olhou em volta. Miraculosamente o balcão aparecera na sua frente:

– Como vim parar aqui???

Andrew estranhou:

– Eu fui até você, te trouxe.

Lyene deu um sorrisinho pálido, e não disse nada. Andrew recomeçou o discurso que contara na porta do Crown:

– Você lembra que te falei de um amigo meu esses dias atrás?

– Sim, me lembro. O nome dele era... Deixa eu me lembrar... Ai, ai, ai... Ah! Era Darien, não era?

– E continua sendo. Não morri ainda – disse o sujeito moreno e Lyene deu um pulo de onde estava, de susto por ele estar do seu lado sem que ela o percebesse.

Andrew sorriu:

– É ele.

Lyene só o olhava de olhos arregalados.

– Olá – disse Darien.

– Você vem aqui todo dia? – disse ela de sobrancelhas erguidas.

Darien se endireitou na cadeira e pigarreou:

– Nem todos os dias, mas na maioria deles... Andrew me falou muito

de você. É um prazer conhecê-la.

– Engraçado, devo ter vindo mais cedo hoje, nunca te vi por aqui... Ou vi?

Darien olhou-a de forma intensa. Ela teve a ligeira impressão de que ele sentira o mesmo que ela:

– Creio que nunca nos vimos, aqui...

– Andrew, depois eu gostaria de falar contigo. Mas só quando for possível, está bem?

Darien olhou para Andrew que fez-lhe um sinal interrogativo com o olhar, perguntando ao amigo se ele poderia voltar mais tarde. Darien percebeu a preocupação de Andrew e, colocando a mão no ombro de Lyene, disse:

– Não se preocupem comigo, podem ficar à vontade.



Serena vinha assobiando uma música ao acaso. Combinara de se encontrar com Darien no fliperama e estava mais de meia hora atrasada. Passando pelo vidro viu seu namorado abraçado a uma garota baixinha, de cabelos negros, lisos, presos em um rabo alto e vestida com um macacão jeans azul claro e uma blusa branca de meia manga. Apesar de familiar, não era, definitivamente, uma conhecida. O sangue subiu-lhe a cabeça, avermelhando-lhe as orelhas e ela disse para si mesma, diante daquela tragédia:

– Aquela garota está tentando roubar o meu namorado!!! Eu preciso salvá-lo das garras dela porque senão posso perdê-lo para sempre! Oh, meu Deus...


Antes que Lyene pudesse brigar com Darien pelo seu ato, a porta se abriu e ela viu surgir uma garota de... Odangos! Arregalou os olhos e ficou novamente imóvel: “É quase a mesma que vejo em meus sonhos!”

Subitamente o lugar deu um giro de trezentos e sessenta graus e seu corpo começou a tombar para trás, sentindo logo em seguida um braço amparando-a. Darien corou, Serena ficou ainda mais surpresa e apressou o passo.

– Tudo bem, Lyene?

Ela piscou rapidamente várias vezes. O lugar ainda rodava, rodava, rodava:

– Na verdade, não.

Serena chegou onde os três estavam e foi logo para perto de Darien, enlaçando seu braço, olhando para a outra de cenho fechado. A cena era ainda mais familiar, estranha e irritante para Lyene que mergulhou mais uma vez naquele caleidoscópio de acontecimentos que viera com mais força.

Andrew interrompeu:

– Lyene, esta é a Serena, namorada do Darien.

Antes que Serena pudesse despencar todo o falatório que julgava ser justo dizer, Lyene resolveu voltar mais tarde:

– Ah, não, gente, chega! Nossa, isso é demais pra minha cabeça! Andrew,até mais tarde, depois eu passo aqui e a gente se fala.

Serena contraiu as sobrancelhas numa expressão de incredulidade, mas não passou disso, se lembrou logo do que viu quando chegara. “Será que Darien está gostando dela?” Sabia que jamais iria suportar que ele a abandonasse, mas não podia obrigá-lo a estar com ela. Tinha que tirar esse peso das costas dele, mesmo às custas da sua felicidade. Disse seriamente:

– Darien, se por algum motivo você não me amar mais, pode me dizer. O mundo vai desabar sobre mim, mas vou entender.

Darien se engasgou com a soda e Andrew ficou com uma gota na cabeça.

– Por que está me dizendo uma coisa dessas? Isso jamais me passou pela cabeça – disse carinhosamente.

Por dentro ela respirou aliviada, mas tinha que saber:

– E aquela garota?

– Lyene? Andrew acabou de me apresentá-la.

– Mas ela estava dando em cima de você, eu vi.

Darien suspirou. Depois se virou para Andrew, que lavava uns copos, e disse:

– Falando nisso, Lyene me pareceu meio estranha.

– Ela não é estranha, Darien, sério, hoje ela estava estranha. Geralmente é muito alegre, sempre leva tudo na brincadeira, critica tudo. Não sei o que ela tem hoje, gostaria que voltasse para me contar.

Darien ficou com o pensamento distante:

– A conheço de algum lugar... De muito tempo – a agonia já era conhecida por ele –. Serena, não achou a Lyene um tanto familiar?

– Mais do que isso...

Darien ficou surpreso com esta resposta. Ficou ansioso pelo que viria. Serena continuou:

– Eu a vejo todo dia no colégio, ela entrou lá há um tempo, já... Um mês, mais ou menos.

– No colégio...

Não era bem o que ele queria ouvir, mas sabia que se tratava da Serena...

Andrew disse:

– Pra ser mais preciso, está aqui há dois meses. Me disse que morava em Hakone, com o pai. Veio sozinha, disse que para estudar... Mas, sinceramente, parece haver algo a mais nisso, não sei...

Darien consentiu, mas seu semblante ainda era reflexivo.

Serena rodou no banquinho uma vez e se levantou rapidamente:

– Darien, me espera aqui, vou ali e já volto. Não saia daí!

– Mas, o que você vai fazer?

– Já volto, já volto.

E saiu correndo.


Lyene estava encostada na parede, ao lado do Crown. Tentou colocar as idéias no lugar. No momento em que viu aqueles dois, a primeira coisa que lhe veio em mente foi as imagens do seu sonho. Podia ser que eles estivessem relacionados, alguma coisa lhe dizia que sim... Não. O mais provável era que o nervosismo a estivesse afetando de maneira bem significativa. Ia acabar pirando de vez, tinha certeza. Tudo culpa daquele maldito sonho!

Bateu os pés no chão, olhou-os pelo vidro, indo embora. Pouco depois percebeu que alguém a seguia. Prestou atenção e percebeu que não era ninguém com que devesse se preocupar, a coitadinha não tinha a mínima habilidade e, ainda, pelas pisadas, parecia estar com raiva. Lyene, então, antes de virar a esquina, parou e, sem olhar para trás, disse:

– Ok, fala o que você quer.

Embora fosse a própria Serena que a estivesse seguindo-a, ela se assustou, olhou para os dois lados, retomou a postura e disse:

– Quem você pensa que é para dar em cima do meu namorado???

– Como é que é??? – De todos os motivos do mundo, este era o que ela nunca imaginara pelo qual seria seguida um dia.

– É, eu vi tudo, ta? Você estava abraçando-o.

“Ai, meu Deus, que garota idiota... Eu não mereço isso...”

Continuou andando. Se ela ignorasse completamente a existência dessa menina, podia ser que ela deixasse de existir.

Serena correu até ela:

– E você não vai dizer nada?

Lyene olhou-a de cenho fechado:

– Olha aqui, garota, se enxerga. Não fui lá dar em cima do seu namoradinho, que, aliás, fiquei conhecendo naquela hora. Embora não te deva absolutamente nenhuma satisfação, fui lá para ver o Andrew, e por culpa sua, não consegui!

– E conversar sobre o quê? – Perguntou inocentemente.

– Ah, faz-me rir, Serena! Desde que dia você passou a ocupar o lugar da minha mãe que eu não estou sabendo? Simplesmente, claramente NÃO TE INTERESSA, certo? Mantenha-se no seu lugar. E me dá licença que até pra perder tempo eu tenho coisa mais interessante para fazer do que ficar aqui com você.

Virou-se sobre os calcanhares e saiu.


Serena ficou parada na esquina. “Garota insuportável! O que o Andrew viu nela?” De qualquer forma, Darien tinha razão, aquele jeito era muito familiar. Segurou o queixo e disse pra si:

– É como o Darien falou, e não é da escola que me lembro dela...

Suspirou e começou a caminhar de volta para o Crown.


Lyene resolveu ir ao karatê. Quando chegou a Tóquio, a primeira coisa que fez foi matricular-se em uma escola de artes marciais, era o que mais gostava e fazia com que descarregasse todo o nervosismo e ansiedade. Atividade ideal para aquele mau dia. A academia ficava aberta de domingo a domingo, foi. Não sabia se poderia fazer a aula, estava fora do seu dia e horário. Mas, contando o fato de que havia ido a todos os lugares errados nas horas erradas, mais um ou menos um, não faria diferença (pelo menos acreditava).

Quando entrou na academia, o professor estranhou sua presença:

– Lyene?

– Estou parecendo outra pessoa? – Disse ingenuamente.

O professor sorriu. Já estava acostumado com o jeito dela:

– Não, acontece que você nunca apareceu por aqui neste dia, mas é bom que tenha vindo. Quanto mais treinar, melhor vai ser seu desempenho no campeonato.

Ela bateu palmas nervosas:

– Sim, sim, sim, o campeonato.

O professor ficou com uma gota na cabeça:

– Então vá se trocar, você já perdeu vinte minutos de aula.

Ela foi correndo, e quando saiu do vestiário se chocou com uma garota de cabelos castanhos, que possuía o dobro do seu tamanho, e despertou aquela mesma sensação de familiaridade novamente. Entretanto, sentia algo agradável em relação a ela, e isso era novo.

– Foi mal aí – disse Lyene.

– Não, que isso, fui eu, sou muito lerda.

– Você que está dizendo – disse sorrindo.

O professor foi até as duas:

– Vão para o tatame, estão atrasadas, já. Lutem as duas. Vai ser bom pra avaliar vocês.

– Ah, ta – disse a menina pra Lyene –, mas espero que você seja mais forte que o pessoal daqui. Espero não te bater muito.

Lyene riu alto:

– Eu ia dizer a mesma coisa pra você!

Começaram a lutar. A garota era muito boa mas, como seu jeito era familiar demais, Lyene praticamente podia prever os golpes dela. E o mais engraçado ainda era que acontecia o mesmo por parte da garota, e isso deixou a luta equilibrada, fazendo com que elas continuassem a lutar mesmo depois de todos terem parado e a aula ter acabado. Quando as duas perceberam que aquilo se prolongaria por muito mais tempo ainda, pararam. E ela disse o que Lyene já sentia:

– Em quais lugares costuma ir? Te conheço de algum lugar, certeza que te conheço... Não nos vimos aqui mesmo? Você costuma vir às terças e quintas?

– Não sei, eu sinto a mesma coisa, não é daqui, não venho destes dias, mas acho que é alguma coisa de muito tempo, é estranho explicar...

– Eu entendo o que você quer dizer, sério. Qual é o seu nome?

– Lyene, e o seu?

– Lita. E você está me devendo uma luta. Agora preciso ir, combinei de encontrar umas amigas depois da aula. Gostaria de vir comigo?

Ficou tentada a aceitar, mas estava sem cabeça pra tudo:

– Valeu pelo convite, mas fica pra outro dia.

– Ah, tudo bem, sem problemas.

– Mas vou cobrar a luta.

– Tudo bem. Até breve.

– Até.

O professor foi até Lyene que calçava os sapatos:

– Muito boa luta, Lyene. Lita é nossa melhor aluna, e você, com um mês de aula, conseguiu equilibrar uma luta com ela. Muito bom mesmo.

– Na verdade, professor, vou te confiar um segredo. Fiquei com medo de bater demais nela, então fui obrigada a me conter.

– Só cuidado com a autoconfiança, às vezes é perigoso.

– Autoconfiança? Há uma grande diferença entre acreditar que pode e poder, não é, professor, por favor!

Ele sorriu:

– Tudo bem, Lyene, tudo bem...

– Até a próxima aula.

– Fica bem.

E saiu.

– Que dia o meu hoje, que dia! – Dirigiu-se a um senhor que olhava-a extremamente assustado – Sabe, senhor, hoje, quase todas as pessoas que vi, tinha certeza de que conhecia de algum lugar. E o lugar que me vinha em mente, era um paraíso encantado – o senhor andou mais depressa pra ver se distanciava dela - , pode uma coisa dessas??? Droga de dia! Droga de sonho! E nem consegui falar com o Andrew. Que ódio!

E foi para casa.


(FIM DO CAPÍTULO I)





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Notas finais do capítulo

Sailor moon pertence à Naoko Takeuchi. Esta história, assim como o gênero sugere, se trata de uma fanficção. Os personagens que aparecem e não fazem parte do enredo original, estes, sim, me pertencem, mas podem usar à vontade, desde que me avisem... Pra eu ler, lógico, afinal, que honra que seria, meu Deus.