Olhe ao seu redor. O que consegue ver além de sorrisos quebrados? Ela prometeu que ficaria quieta e

não olharia para os lados, seguindo sempre pelo túnel escuro. Mas, a saída era apenas um buraco branco e isso a assustava.
Naquele castelo, trancada todos os dias, ela podia ouvir os rios cantarem e os pássaros fazendo desejos que nunca se realizarão. Com agulhas e alfinetes, ela tecia sonhos coloridos para se distrair. Mas uma vez, essas agulhas perfuraram o seu dedo, e ela sentiu o sangue. Os sonhos não são tão bonitos quanto costumavam ser.
No silêncio perturbador da noite, ela pode ouvir o seu coração batendo. Lenta e continuadamente. Era isso que garantia que ela estava viva. Que aquilo não era um pesadelo. Nunca é um sonho, é sempre um pesadelo. Quando ela fecha os olhos, tem medo de que eles não se abram novamente. Tem medo de que não ouvir mais o coração bater.
Ela não tinha medo de morrer. Ela tinha medo de não aguentar e acabar se entragando a neve. Ao branco. Ao vazio. Varias vezes, ela tinha a sensação de estar desaparecendo. Então, com uma pequena faca, ela fazia um corte no corpo para ver o vermelho invadi-la. Só assim sabia que não estava quebrada, nem desaparecendo. Ela queria viver.

A Vida não é tão bonita quanto costumava ser.