Capítulo 18 – Fogo que queima na memória (PARTE 2)

Com toda a minha pressa em arrumar a minha mala, não tinha notado que eu acabado de receber um email da minha mãe.

De: Renné.

Para: Bella.

Oi, meu amor!

Como estão as coisas por ai? Eu realmente espero que bem.

Querida, você não sabe como está sendo ótima essa viagem, eu e Phil estamos aproveitando muito, mas o que interessa agora é você, sempre é você. Tenho que te contar que hoje à tarde, tive uma estranha sensação de que você estivesse precisando de mim... Não sei por quê. Sabe como é instinto de mãe, nunca falha. Está tudo bem?

Eu não iria pagar para mexer no computador do hotel para lhe mandar emails, mas, como eu disse, senti que precisava falar com você. É lógico que não vou poder ler o seu email, assim que mandá-lo, mas mexerei nesta geringonça em breve, assim espero.

Beijos da sua maravilhosa e amada mãe, Renné.

PS: Phil lhe manda outro.

Certo. Como mandar um email para a sua mãe, morrendo de vontade de lhe contar tudo, quando você não pode? Tentei fazer o melhor possível, isto é, quase sem informações e, mentindo.

De: Bella.

Para: Renné.

Oi, querida, maravilhosa e amada mãe. (Sabia que ela nunca iria desconfiar disso)

Está tudo ótimo. Não sei por que teve essa sensação. Sério, mãe, não se preocupe tanto comigo, estou bem. Vá curtir essa viagem com Phil e divirtam-se, acho que no seu lugar faria isso.

Não tenho nada de novo para lhe contar, sinto muito.

Beijos, Bella.

PS: Pare de ter essas sensações estranhas, antes elas funcionavam, mas hoje, não mais.

Acho que isso bastava.

Tomei meu banho, após arrumar tudo, troquei para uma roupa de sair e me joguei na cama a fim de tirar um cochilo antes do vôo, pois ainda eram nove e pouco da noite e o meu vôo era apenas à meia noite. Logo depois de um certo tempo dormindo, senti alguém mexendo em meu cabelo.

Abri os olhos lentamente, encontrando quem eu exatamente achei quem fosse, Esme.

-Está na hora, querida.

Sentei-me e dei uma pequena olhada para o relógio, eram vinte para as onze.

-Obrigada. – Levantei-me e fui pegar a minha mala que não se encontrava mais no meu, no meu ex, quarto.

Esme percebeu a minha careta de confusão.

-Carlisle decidiu ajudá-la com a mala e a já colocou no carro.

Dei-lhe um sorriso fraco e descemos juntas ao andar de baixo. Estavam todos lá, com exceção de uma pessoa, a qual eu nem ao menos preciso comentar.

Parei de andar ao chegar no grupinho que se encontrava perto da porta e virei-me para Carlisle e Esme, que tinha parado ao lado do marido.

-Obrigada por tudo, só o que tenho a dizer, são agradecimentos. Por tudo, pela hospedagem, pelo carinho, pela paciência – Dei um riso fraco e envergonhado. -, pelo amor, por tudo. Vou sempre guardar, no fundo do meu coração, tudo o que fizeram por mim.

Esme apertou as próprias mãos com força e seus olhos se encheram de lágrimas. Carlisle passou o braço por cima de seus ombros.

-Obrigada, Esme. – Abracei-a quando ela se libertou de Carlisle. – Carlisle. – Dei um nele.

-Sentiremos sua falta, Bella. E obrigada você, por ter participado de nossa família. – disse-me ele.

Eu realmente não queria chorar, mas o momento não estava me favorecendo.

-Bella... – Jasper me abraçou com força. – Vou sentir sua falta, maninha. – Sorriu angelicalmente a mim.

Não sabia que Jasper gostava tanto de mim, sempre tão reservado e isso me pegou de surpresa. Uma lágrima correu pelo meu rosto, seguida por várias logo após.

-Sério, - Funguei. – Obrigada por tudo, amo vocês.

Eles todos me abraçaram de uma só vez, quando Esme me abraçou de novo, só que mais forte.

Virei-me em direção a porta quando me lembrei.

-Um... Digam adeus a Edward. – disse-lhes.

Esme abraçou Carlisle, enfiando a cabeça em seu peito.

-Iremos. – disseram Jasper e Carlisle, juntos.

Dei uma última olhada a aquela casa que morei por três meses e lhes dei um último sorriso.

Alice me acompanhou, em silêncio, até o carro, ligando-o e partindo em direção ao aeroporto. Ela nada falava, imagino que ela estivesse se segurando firme para não chorar. E quanto a mim? Já tinha me entregado ao choro, porém agora o tentava controlar.

O caminho foi silencioso a não ser pelo o barulho leve do motor. Descemos e fomos ao balcão fazer o check-in, não demorou muito, mas como ainda faltava alguns minutos, talvez dez, para eu entrar no portão de embarque, nos sentamos em um dos bancos.

-Alice? Não vai falar comigo?

Ela que antes encarava o chão ou as mãos, enfim, me olhou nos olhos.

-Bella, sabe que está fazendo a maior besteira que já fez em toda a sua vida, não é mesmo?

Suspirei.

-Não.

-Bella! – Franziu o cenho, mas depois relaxou e se encostou pesadamente no banco. Puxou a bolsa e pegou um envelope. – Vou lê-lo assim que você entrar ali. – Apontou para o portão principal.

Sorri para a minha melhor amiga.

-Senhores passageiros do vôo 14402, com destino a Phoenix, Estados Unidos. O vôo partirá em alguns minutos. – Soou a voz em todo o aeroporto.

Olhamo-nos.

-Bem, acho que é a minha deixa. – Dei um sorriso envergonhado, enquanto pegava a minha mochila.

Alice pulou em cima de mim e me abraçou mais fortemente do que as últimas vezes. Senti que ela havia começado a chorar. Agora seria a última vez que a veria, aquela que fora a minha segunda melhor amiga. A primeira sempre foi e sempre será a minha mãe.

Não podia me dar ao luxo de chorar, não queria mostrar a Alice a minha tristeza de partir, por isso, teria que segurar o choro até estar longe o suficiente dela.

Afastamo-nos, sem ao menos trocar uma palavra. Ela abaixou a cabeça, quando percebi que era a hora de eu ir. Virei meu tronco em direção ao portão de embarque e segui.

As lágrimas que começavam a surgir estavam deixando a minha visão embaçada. Bati as pálpebras, fazendo-as cair sobre o meu rosto e ao me aproximar da mulher que conferia as passagens, as sequei com a manga do casaco.

Entrei indo direto ao portão do meu vôo, agora eu queria apenas me sentar e ficar sozinha, algo que eu sabia que seria impossível em um avião, porém ao menos não conheceria ninguém. Entreguei a minha passagem a moça e fui a procura da minha poltrona.

Sentei-me. Nem ao menos deu tempo de eu respirar, tudo veio à tona, exatamente como fleches; minha partida de Phoenix, minha chegada em Londres, conhecendo Alice e toda a família Cullen, eu e Edward brigando, nossa aposta, todas as provocações, sua declaração e a minha..., nós dois juntos, a aparição de Jacob, o desmoronar de todo o meu sonho e o resto da desgraça que me ocorreu nos últimos dias, tirando o nosso último beijo.

Droga!

Queria gritar, berrar ao mundo inteiro para dizer o quanto sou burra e idiota! Como eu fui fazer isso?

Lágrimas idiotas, que não paravam de rolar pelo meu rosto, até a aeromoça me perguntou se estava tudo bem, disse-lhe que sim, mas não estava e eu não podia mais esconder isso.

Merda!

Depois de um longo tempo tentando me controlar, o avião chegou ao destino. Sequei aquilo que sobrava das lágrimas e me levantei indo até a esteira para pegar a minha mala. Demorou um pouco, mas eu fiquei encostada esperando ela passar. Peguei-a e fui pensando se acharia facilmente um taxi e, para a minha sorte, consegui o de um senhor muito simpático que tentava puxar conversa comigo, mas eu não queria, por isso só assentia, enquanto ele notava que eu nada ia falar.

-Sua casa, senhorita. – Abri os olhos ao perceber que já estava na minha rua, mais precisamente, em frente a minha casa.

-Obrigada. – Paguei-lhe e ele me ajudou a retirar a mala do porta-malas.

Ele partiu e eu carreguei-a para dentro de casa. Estava tudo no mesmo lugar, exatamente do mesmo jeito.

Sim, eu estava em casa.

Alice's POV.

Droga!

Minha melhor amiga foi embora e eu não consigo parar de chorar. Quando Bella entrou no portão de embarque, voltei a me sentar e a encarar a carta que eu ia ler. Minhas mãos não estavam colaborando, estavam trêmulas. Tinha medo do que eu lesse me fizesse me sentir pior ainda por não ter feito nada, por eu ter concordado com as escolhas dela e por permitir a sua partida.

Abri cuidadosamente a carta.

Alice, querida amiga,

Nunca, nem ao menos em sonhos, imaginei que fosse encontrar em Londres a minha melhor amiga, sendo que ela sempre esteve aqui, ao não sabia onde. E o que dizer a ela em um momento de partida? Acho que só agradecimentos.

Obrigada por tudo, por seu jeito doce, por sua amizade, pelo seu ombro, quando eu não passava por bons momentos e, principalmente, por existir.

Não importa se algo, por conseqüência do destino, nos separar, pois saiba que você foi uma das melhores coisas que já apareceram na minha vida. Amo-te, amiga, e nunca irei te esquecer.

Serei eternamente grata, por tudo.

Beijos e obrigada, Bella Swan.

PS: Não se esqueça que você tem o meu número de Phoenix, é só me ligar sempre que precisar.

Oh Bella! Por que foi embora, amiga?

Voltei a chorar. Posei o meu rosto em minhas mãos e deixei que as lágrimas saíssem. Queria a minha melhor amiga de volta, mas agora era tarde de fazer alguma coisa. Como fazer com que ela voltasse? Sabia que as minhas opções eram péssimas, nenhuma a faria voltar, anão ser... EDWARD!

Sim! Ele a faria voltar!

Agora como eu faria isso, eu não tinha a mínima idéia. Talvez se ele fosse um pouco menos cabeça-dura seria mais fácil. Pensa, Alice pensa!

Ok, a primeira coisa era entregar a carta dele, mas não agora, pois já se passaram da meia-noite e eu estava morta de cansaço, tanto físico quanto psicológico, por isso voltei para a casa de Rosalie.

Ela era a única que não estava dormindo, fui direto para o meu quarto, mas ela veio atrás de mim.

-E ai? – Parou no batente da porta, cruzando os braços. Ela usava uma camisola de seda azul-clara. – Como foi na despedida da Bella?

Suspirei olhando para as minhas mãos, enquanto eu sentava na minha cama.

-Péssima. Vou sentir falta dela.

Rosalie sentou-se perto de mim e pegou as minhas mãos.

-Está tudo bem, Alice. Não fiquei assim...

Não pude deixar de choramingar.

-Sabe, eu nunca entendi do por que dela partir, nem ao menos esperou o ano letivo acabar... - Levantei-me e fui até a gaveta em que estava guardando as cartas de Bella, peguei os pacotes dela e de Emmett e lhe entreguei. – O que é isso? – perguntou, analisando as cartas.

-Bella mandou entregar assim que ela fosse embora, imagino que as respostas para as suas perguntas estejam ai.

E eu estava certa, era fácil interpretar Bella. Tinha escrito toda a história, tanto na carta de Rosalie, quanto na de Emmett, que ela fez questão de ler também. Agora ela entendia o lado de Bella, e agora havia parado de julgá-la por seus comportamentos estranhos. Eu sabia que Rosalie estava se sentindo péssima por ter ficado com raiva de Bella antes.

-Vai entregar o resto amanhã? – Assenti. – Temos que fazer alguma coisa quanto a isso...

-E você não acha que eu já não pensei? Edward é a nossa única opção, só ele a fará voltar, mas ele diz não a querer mais.

-Que mentira! Quando ele nos contou, estava na cara que ele a amava mais que tudo. Para falar a verdade o conheço há tanto tempo e nunca o vi assim, tão... Apaixonado, tão louco por alguém.

-Viu? Por isso que quero fazer alguma coisa. Sei que Bella deve lhe ter contado tudo na carta que ela me pediu para entregar, vamos ver a reação dele e se ele nada fizer, vamos ter que ter uma conversa séria.

No outro dia...

Sai correndo, juntamente com Rosalie, para irmos à escola, pois, para variar, estávamos atrasadas. Dormimos muito à noite e agora correndo contra o tempo. Chegamos no segundo horário.

Era a minha aula de História, a única que eu tinha junto do meu amor. Sentei-me ao seu lado e ele me olhou com uma interrogação.

-Por que está ofegante?

-Porque eu estava atrasada e vim correndo. – disse jogando a minha bolsa sobre a mesa e sentando-me.

Ele se ajeitou e me deu um beijo rápido, um beijo de bom dia. Abri a minha bolsa e já lhe entreguei a carta de Bella.

-O que é isso? – Observou o papel.

-Uma carta de Bella para você. – Continuei a olhá-lo enquanto ele abria. – Antes eu queria perguntar uma coisa. – Olhou-me esperando pela pergunta. – Como foi ontem depois da partida dela?

Ele suspirou.

-Tirando o fato de que todos lá em casa estão como zumbis... Normal. – Ergui a sobrancelha. – Minha mãe deve ter chorado a noite inteira, meu pai ficou triste e tentando consolá-la e Edward... – Calou-se.

-O que tem ele?

Jasper deu um sorriso sem humor.

-Ele finge estar ótimo, como se tivesse acabado de ganhar um prêmio de um milhão de libras, mas todos sabem que ele está péssimo.

-Por que diz isso? – Não conseguia entender, como ele estaria agindo como se estivesse feliz?

-Porque eu o peguei, hoje de manhã na cozinha, antes de partimos a escola, de cabeça baixa e apertando as mãos com força... Não sei, mas me pareceu que ele estava pensando em tudo, tudo que aconteceu com eles, melhor dizendo, em Bella.

-Será? – Pensei por um instante.

-Conheço meu irmão, isso é fato. Ele estava pensando nela, ele a ama. – Jasper suspirou.

Como o professor estava atrasado, Jasper leu sua carta, nela Bella falava tudo a ele e dizia que sentiria falta do seu irmãozinho. Eu realmente fiquei surpresa, mas ele ficou emocionado, como se ela fosse mesmo sua irmã. Abracei-o forte, e ele o retribuiu.

Afastei-me um pouco e segurei seu rosto com as duas mãos. Eu realmente fazia força para não chorar novamente, mas vê-lo com os olhos vermelhos e acumulados de lágrimas não me ajudava.

-Ela realmente faz falta. – sussurrei e o puxei para um beijo. Não ligava se estávamos no meio da sala de aula.

Não foi um beijo urgente, só gentil, como se estivéssemos compartilhando do mesmo sentimento e, estávamos.

Ele retribuiu, logo depois passando as mãos no rosto a fim de "acordar".

O professor enfim chegou à sala e começou sua aula. O dia seguiu, eu estava muito ansiosa para o recreio, queria encontrar Edward, observá-lo e entregar a carta. Quando bateu o sinal, saltei para fora da mesa, encontrando no meio do caminho, no corredor, Jasper. Fomos de mãos dadas ao refeitório e tratamos logo de pegar nossas comidas.

Dei uma pequena olhada a mesa e lá já se encontravam Emmett, Rosalie e Edward, que mais parecia brincar com a comida. Apressei-me e fomos até a mesa.

-Oi. – disse ao me sentar.

-Oi. – todos responderam em uníssono.

O clima de enterro era claro, ao que me parecia Rosalie já havia entregado a carta de Bella a Emmett, pois o mesmo também se encontrava triste. Olhei os três; Rosalie, Emmet e Jasper, e eles assentiram. Agora era a hora de entregar a carta a Edward.

Mexi na minha bolsa, pegando o último pacote de carta. A dele.

Estendi-lhe.

Ele estava olhando para o colo, mas logo notou que eu lhe estendi algo.

-O que é isso? – perguntou ao notar que todos, da mesa, o olhavam.

-Uma carta. Para você. – Ele a pegou. Um bom sinal.

-Carta? De quem? – Examinou o envelope e eu não precisei responder. Franziu o cenho e se levantou, jogando o pacote a mesa. – Pode ficar com isso, não o quero.

Ele estava saindo.

-Edward! Espere! – Gritei e fui atrás dele, com a carta nas mãos.

Ele havia saído corredor adentro, mas do mesmo jeito o segui e fiquei chamando-o tanto que ele resolveu, enfim, parar, quase a sair do colégio.

Ofeguei por estar quase correndo. Parei a um metro dele e lhe estendi, novamente, a carta.

-Por favor, ao menos leia. Não precisa falar nada, só... Leia. – disse ainda tentando recuperar o meu fôlego. Ele olhou o pacote estendido para ele, depois me olhou com olhos tristes e o pegou. Suspirei de alívio. Consegui o mais importante por agora, ele ler. – Obrigada. Vou indo, qualquer coisa, estamos no refeitório.

Dei uma última olhada a ele, que continuava a encarar o pacote, antes de voltar. Acho que ele leria, ao menos, eu esperava isso...