Coloquei novamente o assoalho no chão depois de tirar as coisas para depois falar para Charlie consertar.
Desci e comecei com seu jantar.

Os pesadelos ainda me assombravam, a janela sempre aberta de manhã também, as coisas não estavam normais, como eu queria.
Mas James, Laurent e Victória já tinham sido mortos, então quem estava sempre vindo me ver? Investigar-me? 
Bom não sei bem se investigar é a palavra certa, pois nada sumiu, nada fica fora do lugar, e todos os dias me deixando viva depois de entrar, não é uma coisa muito normal de um vampiro fazer.
Mas então o que diabos está acontecendo aqui?

Depois de passar 1 mês, um mês de coisas sinistras eu comecei novamente a me restabelecer.
Comecei a agir normalmente, não como zumbi, Jacob nunca mais me ligou nem tentou se desculpar, isso é bom, não penso tanto nele.
A saudade de Edward e todos os Cullen aumenta a cada dia, como se fosse um peso nas costas enorme para mim carregar depois de acordar.
Voltei a trabalhar na loja dos Newtons, e a minha janela felizmente continua fechada.
Muitas vezes antes de dormir, eu queria cair, cair em um poço escuro e quando estivesse apavorada e gritando por socorro acordasse com Edward perguntando como eu estava.

Eu queria, eu necessitava, de outra vida. 
De uma vida normal, sem imprinting, sem lobisomens se apaixonando por ai e deixando as pessoas magoadas. Eu precisava de calor, de sol, de Renée.
Eu considerava todos os dias enquanto tomava banho, limpava a casa e ia dormir, voltar para Renée, para minha antiga vida, no calor, na ocupação de cuidar de minha mãe quase louca que fazia besteiras arriscando a vida.
Agora ela era feliz, estável com Phil, mas ainda assim louca por diversão ao extremo, e ele sempre deixava.
Bom, provavelmente essa era a hora da nova Bella ir e puxar as rédeas.
Continuar de onde parei, quando vim para Forks, continuar como se nunca , nem Jacob, nem Billy, nem nenhum lobisomen ou vampiro tivesse existido.
Como num sonho que a gente acorda e fica feliz por conseguir depois de minutos esquecê-los. Eu queria esquecer meu passado, meu pesadelo.

Bom, os minutos foram passando, as horas, os dias, as semanas, tudo estava normal.
Eu ainda continuava oca, claro. Mas eu sabia disfarçar, aprendi a mentir eu acho.
Charlie acreditava que eu estava feliz, sem ninguém no coração, livre leve e solta. Super solteira e sorridente como eu aparentava.
Mas claro que não era assim. Nunca foi, nunca irá ser.
Se ao menos meus amigos estivessem aqui.
Nenhuma faculdade recebe os alunos no meio do ano assim sem mais nem menos, nem tentei para dizer a verdade. Não sei o rumo que quero seguir.
Meus pais estavam me pressionando para quando eu puder, for e mandar minhas cartas para todas as universidades, Renée estava empolgadíssima com minha possibilidade de ir fazer uma na Florida. Mas eu, pra ser sincera, não estava.

Faculdade não era uma coisa fácil para mim, ainda mais no estado em que eu estava, eu queria continuar em meu quarto, com minha musica baixa quase inaudível, com meus pensamentos doloridos, com minhas forças sendo tiradas de dentro de mim. Eu estava péssima, mas não admitia.
A mãe de Mike disse que ele viria daqui uns dias no fim de semana para ver a família novamente, ele foi escolhido em varias universidades, mas escolheu uma na Califórnia.

-Bella? – a mãe de Mike me chamou.
Deixei o espanador que tanto Mike usava de lado, desci a pequena escada com muito cuidado e fui até o balcão.
-Sim?
-Pode ir ao banco para mim?
Assenti vendo-a pegar uns papeis e dinheiro no caixa.
-É pagar umas contas da loja. Rápido – ela me entregou tudo sorrindo.
-Então já volto – sorri de volta e fui para fora na chuva.
Forks como sempre chuvosa e nebulosa.
Esta semanada estava incrivelmente chata pela forte chuva de todos os dias. Não tinha um dia de apenas garoa. Sempre chuva forte.
Liguei a picape velha que roncou ruidosamente abafando todos os outros sons de carro e dirigi para o banco que não era tão longe.
Estacionei lentamente, e corri para dentro.
O banco estava quase vazio, a fila era de quatro pessoas: o senhor Green, a senhora Smith, a popular Lizzie e a senhora Scott.
O caixa estava lento, a mãe de Jessica, a senhora Stanley estava bocejando a cada segundo enquanto digitava vagarosamente os números dos papeis da loja dos Newton. Fazia tanto tempo desde o ultimo dia em que estive aqui.

Estava quase sol, estava muito cheio, e para dizer a verdade algumas pessoas eu nunca havia visto na cidade.
Eu estava vindo para colocar um dinheiro guardado para minha faculdade, ainda estava com Jacob. Ainda estava inteira. Soltei um suspiro alto e a senhora Stanley me olhou.
-Bom Bella, quando começará a faculdade?- ela sorriu se ajeitando na cadeira velha que rangeu.
Os seios estavam a mostra na blusa grudada que ela usava, o crachá pendurado fazia todos olharem diretamente quando chegassem. 
Estava quente dentro do banco, então por isso seu casaco de lã estava de fora.
- Bom, quando me derem sinal verde mandarei as cartas para todos os lugares – sorri forçado – mas quero mesmo é ir para a Florida – acrescentei para não precisar responder nada.
- Que ótimo querida. Jessica está tão feliz. Nunca a vi tão empolgada sabe. Está até namorando!
-É? Que ótimo.
-Sim o nome dele é Kevin. Kevin Drew. O nome é estranho, mas ela o ama tanto.
Sorri vendo que ela falaria até terminar de bater as teclas.
Fiquei feliz por saber que Jess estava bem, feliz, namorando de bem com a vida. Isso era ótimo, para ela.
De volta para casa depois de um dia inteiro na loja, tomei um banho, mandei um email à Renée e tirei o jantar de Charlie do forno.
Enquanto lia ‘Morro dos ventos uivantes’ pela milésima vez, Charlie triturava as batatas quentes.
-Pai? – eu disse deixando o livro de lado e olhando ele agora encostado na cadeira.
Ele me olhou.
-Eu vou para a Florida com a mamãe. – o que sempre esperei aconteceu.
Parecia o dia em que tive que mentir à ele por causa de James, apaguei rapidamente a memória e foquei em Charlie vermelho derrubando o talher em sua mão.
-O.Oque? P.Porque?

Quero fazer uma faculdade lá. Deixar o passado se é que me entende – rezei para ele entender – Quero deixar tudo, eu amo Forks, amos estar com você, mas as memórias me deixar tristes, me deixam sufocada.
Só de pensar em ... – decidi não terminar. Falar Jacob em voz alta doía muito mais que pensar.
-Mas Bells .. – levantei a mão para pará-lo.
-Eu já decidi.
Vi a dor em seus olhos, vi como isso o machucava, me vi com o rosto torturado por deixar meu pai para trás.
-Me desculpe. Mas é o melhor agora, irei daqui algumas semanas.
Ele assentiu sem dizer nada, e assim minha noite continuou, silenciosa, triste como todas, mas desta vez não só pela parte Jacob/Edward, e sim pela parte Pai. Charlie. Forks. Lembranças. Meu passado, meu colégio, estava sendo deixados como um livro chato e velho.