— Sonho de uma noite de verão, mira, mira – cantava irritantemente Alice – Sonho de uma noite, de verão, uô uô. - Ela pulava e rodopiava ao meu redor, cantarolando seguidas vezes o mesmo trecho da música Sonho de uma Noite de Verão, do Skank.

          — Cala sua boca, baixinha! - disse tacando um travesseiro em sua direção – Imbecil! Estamos no inverno... - resmunguei.

          — Ah, qual é, Bella! Eu vi a sua cara de boba enquanto conversava com aquele moreno hoje à tarde. E que moreno, hein? - falou Rose de dentro do banheiro tentando deixar sua voz subrepor o som do secador de cabelo.

          Corei. Não era mentira. Eu e Jacob tinhamos passado boa parte daquela tarde conversando. Ele era americano (ta aí o por que de falar inglês, dã), mas tinha se mudado para o México com 12 anos e posteriormente para Bariloche há 3 anos. Em partes, conhecia relativamente bem a cidade e me convidou para um passeio em uma daquelas tardes. Disse-me que muita coisa eu ia gostar de conhecer.

          Como era a nossa primeira noite em Bariloche, coincidentemente posterior a uma tarde agitada, escolhemos um programa mais calmo para fechar o dia. A cidade, de tão pequena e aconchegante, nos permitia caminhar a pé durante a noite por sua rua principal. A Rua Mitre era circundada por pequenas lojinhas, casas e construções em estilo arquitetônico rústico, tendo sua totalidade sendo construída em pedra e madeira. Caminhamos poucos quarteirões e optamos por um restaurante que parecia um pouco mais descontraído do que grande maioria que tínhamos visto no caminho. Sua placa exterior tinha o dizer “Friends”.

          O interior do estabelecimento era todo decorado com brinquedos antigos, peões e bonecos de corda, que iam e vinham de um lado à outro do local pelo teto, brincando sobre nossas cabeça. Estávamos cansadas, então não demoramos muito para pedir - arranhando no nosso melhor Espanglês - comer e deixar o local com a intenção de dormir em breve.

          O frio, por incrível que pareça, não nos incentivava a voltar para o Hotel. Era gostoso caminhar pela rua pouco iluminada, nos aquecendo umas nas outras.

          — Fica aí! - disse Alice – Vou tirar uma foto!

          De todas nós, Alice era a que mais queria guardar recordações daquela semana. Tipo de baixinha irritante.

          — Ah, não. Deixa só a Rose – disse empurrando a loira, que me retribuiu com um olhar de ódio.

          — Não, Bella! Pode vir também!

          Minha feição devia ser de puro, e completo, tédio. Era gostoso, sim. Mas eu já estava enfarada daquilo.

          — Querem que eu tire uma de vocês três? - perguntou uma voz grossa por trás de nós.

          Viramos-nos rapidamente e fomos recebidas por três belos sorrisos tortos.

          — Oi, Jacob! - me apressei em falar - Nos deu um susto.

          — Essa era a intenção - disse, olhando dentro de meus olhos e tomando a câmera da mão de Alice – Sorriam! - Ser assustada antes de sair em uma fotografia não é a melhor coisa da vida. Enfim... Cada hora eu concluía que a cidade era menor do que parecia.

          — Estes são meus irmãos, Seth e Quil – apressou-se em apresentar os amigos.

          — Irmãos? - questionei notoriamente curiosa. Eles não se pareciam tanto, apenas pelo belo tom avermelhado de suas peles e os olhos levemente puxados nos cantos.

          — Sim. - desse o mais novo – Nós moramos juntos desde que Jacob veio para cá. Somos praticamente irmãos.

          — Então.. - interrompeu meu amigo – O que estão fazendo aqui uma hora dessas? Tá muito cedo ainda para estarem com cara de que querem ir embora.

          O bico de Rosalie não desmentia e muito menos convencia alguém do contrário.

          — Chegamos ontem – disse – Estamos cansadas e....

          — Ah, para com isso! - Jacob interrompeu novamente – Vamos dar uma volta?! A cidade é tão movimentada a noite quanto de dia.

          — Sério? - acho que meus olhos brilharam discretamente com aquelas palavras. Era justamente a motivação que eu queria.

          — Bella, eu não sei... Acho que vamos embora. - Alice parecia um tanto desgostosa com a idéia de não ir para o Hotel.

          — Não se preocupem. - disse novamente o mais novo, Seth - Nós acompanhamos vocês duas até o Hotel. Uma sequência de piscadelas maliciosas reinou por entre os dois morenos, recriminados pelo olhar incisivo de Jacob.

          — Então, Jacob...

          — Jake, por favor. - disse sorrindo

          — Você adora interromper as pessoas ou é impressão minha? - apoiando as duas mãos na cintura, fitei-o séria.

          — Uau, desculpe-me mademoiselle, não foi a minha intenção – e fez uma reverência.

          — Então, JAKE... – disse entonando seu nome – O que tem de bom nessa sua cidade que quer me mostrar?

          — Bem, temos várias opções noturnas. Pode escolher. Temos boates, passeios a margem do Lago, Patinação no Gelo... – disse essa última com um sorriso suspeito.

          Eu caio só de ouvir a palavra Gelo, imagina quando é precedida por Patinação. Mas de todas as opções que ele me dera, era a mais interessante.

          — Vamos patinar então...

          — Sério mesmo? – ele segurou uma risada – Tem certeza que não vai se esborrachar no chão igual no Cerro? Aliás, acusar uma possível tentativa de assassinato?

          — Não, não tenho certeza. – expressei um bico de desgosto. Eu não podia reclamar demais, o máximo que ia acontecer era eu cair e, espero, ser segurada novamente.

          — That’s a date*. – piscou.

*expressão americana para “combinado”, date também tem o sentido de encontro.