Speechless escrita por Vick_Vampire, Jubs Novaes


Capítulo 6
5. Descoberta e Humilhada


Notas iniciais do capítulo

Me perdoem a demora, pessoal!
Tive uma semana cheia, mas está aqui!
E desculpem-me se tiver muitos erros, quis postar o mais cedo o possível e as minhas betas estão off
Boa leitura!



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POV Alice:

 

                Quando eu estava correndo para fora do refeitório, eu não era Mary Alice Brandon.

                Não era Mary Alice Brandon porque ela nunca chora.

                Eu estava chorando.

                Não era Mary Alice Brandon porque ela é perfeita.

                Eu não era.

                E, principalmente, não era Mary Alice Brandon porque ela nunca é humilhada pelos amigos e namorado.

                Eu fora.

                Então, em suma, eu não sabia mais quem eu era.

                Eu me sentei nos degraus frios de pedra da entrada da escola, o rosto enterrado nas mãos. Havia uma trilha de lágrimas que descia desde minhas mãos e ia até a minha blusa. Eu não conseguia mais correr graças à dor lacerante que cortava minhas costas.

                Eu pisquei com força, deixando todas as lágrimas escorrerem mais e mais, acompanhadas dos soluços sem som que cortavam minha garganta com violência.

                Me dei conta de que eu não podia mais ficar ali. Apesar do buraco que tomava meu peito por ter sido abandonada por Emmett, eu tinha que tocar minha vida para frente. Não queria inventar qualquer mentira para voltar para casa mais cedo.

                Não. Mentira. Eu queria muito.

                DEMAIS.

                Eu sacudi a cabeça, afastando meus devaneios. Respirei profundamente, secando as últimas lágrimas que escorriam.

                Caminhei para a escola de volta, determinada. Mary Alice Brandon não é humilhada. Mary Alice Brandon NUNCA é humilhada.

                Mas eu fui só me lembrar que eu não era mais ela quando eu entrei no corredor da escola.

                Todos pararam e ficaram em silêncio, me encarando. Eu via os rostos de relance, todos me encarando. Um ou outro se virava para comentar com alguém baixinho:

                -Ela não tinha morrido?

                -Você viu o show que ela deu lá no refeitório?

                -Ha. Que coragem a dela. Rosalie vai acabar com ela assim que pisar na sala de aula.

                E se sucedeu assim, até eu conseguir chegar à sala de física, ignorando o fato de eu não ter o material para a aula.

                Porque eu não ia, mesmo, voltar lá naquele corredor, a não ser para ir embora.

                O professor também ignorou o fato de não haver nenhum material sobre a minha mesa. E foi a maior consideração que eu recebi, já que todo mundo fez questão de se virar para me olhar no fundo da sala, para, mais especificamente, a última carteira da primeira fileira.

                Graças aos céus, Rosalie não tinha aula de física desde sempre.

                Quando as coisas começaram a se aquietar e o professor mandou todo mundo prestar atenção nele, eu coloquei o capuz sobre a minha cabeça, olhando à minha volta.

                Bella estava sentada na primeira carteira da terceira fileira. As mãos dela seguravam delicadamente um lenço branco de linho, com o rosto inchado. Posso jurar para você que, se ela não tivesse cabelos arruivados, eu a confundiria com Blair Waldorf.

                Usava um vestido preto de mangas que ia até o joelho, com um cinto fino na altura da cintura. As mãos estavam cobertas por duas luvas de veludo delicadas, e usava uma tiara preta nos cabelos ondulados. Os sapatos pretos quase sem salto dela eram o último detalhe naquele estilo “luto”dela.

                Eu engoli uma lágrima com muito esforço. Edward.

                Atrás dela estava uma menina que eu não conhecia. Ela tinha os cabelos castanhos lisos presos numa tiara, usava óculos e parecia muito compenetrada em conversar com uma pessoa que estava na carteira atrás da dela.

                E era uma certa pessoa que eu rezava para não ter que ver nunca mais.

                O garoto do cabelo de miojo que era irmão da garota que mais me odiava no mundo.

                Jasper.

                A garota dos óculos percebeu que eu estava olhando, e logo tratei de desviar o olhar. Mesmo tentando me concentrar nas baboseiras que o professor falava, eu podia sentir um par de olhos âmbar me encarar.

                Depois de um certo tempo, eu percebi que ele ainda me olhava. Decidi dar uma das minhas encaradas para ver se ele parava.

                Apesar de saber que não tinha mais o poder de meter medo de antes. Agora, só podia ver expressões de pena e sarcasmo quando me olhavam.

                Eu finalmente virei os olhos para ele, e eu saí de órbita por um instante. Por que diabos ele não estava voltando a cabeça para frente, com medo, pena ou sei lá de mim?

                E então ele virou para frente e as carteiras voltaram a reaparecer ao meu lado.

                Eu pisquei com força, sacudindo a cabeça. Deus. O que havia acontecido?

                Voltei à Terra bem a tempo de ouvir o sinal soar.

                Esperei que todos fossem embora da sala e, quando os alunos da próxima aula já estavam começando a chegar, eu me levantei e saí da sala, um pouco cambaleante graças ao meu machucado nas costas.

                Quando eu passei pela porta do refeitório, em direção à próxima sala, memórias avassalaram minha mente.

                Eu fiquei parada, no meio do corredor, só lembrando da dor que eu senti ao ver meu Emmett ali, na mesa cinco, com a piranha-mor. Mal acreditava que doía tanto, mal acreditava que eu o amava tanto. Lembrei de como eu me senti frágil e incapaz de responder aos insultos de Rosalie.

                Eu estava para cair para trás quando eu senti duas mãos me segurarem no mesmo instante.

                Ah, Emmett. Eu sabia que você me amava!

                Eu teria dito isso, se eu pudesse falar.

                Já estava abrindo um sorriso quando me virei para olhar quem me segurara.

                Os meus lábios caíram, formando uma expressão de choque.

                -Alice? Você está bem? –foram as palavras que vieram do cabeça-de-miojo.

                Ele pareceu se preocupar de verdade, apesar de eu duvidar muito, depois de tudo que eu fizera para que ele afundasse nas profundezas do Tártaro.

                Eu dei um salto, tentando me reequilibrar sozinha, mas acabei por quase cair para frente. Novamente, era ele, Jasper, que estava lá para me segurar.

                -Acho que devia parar de esforçar tanto sua coluna. –Ele disse, acenando com a cabeça. Na segunda tentativa, eu consegui firmar meu pé no chão, o mais distante dele o possível. –Parece um machucado feio.

                Eu o fitei.

                -O quê? Não vai agradecer nem nada?

                Mas eu apenas virei de costas e fui andando rapidamente até a aula de História, reprimindo as lágrimas.

                                                                                                                ***        

                Novamente, fiz questão de me sentar na última carteira da primeira fileira.

                A diferença era que, dessa vez, Rosalie estava sentada a apenas algumas carteiras de distância de mim.

                Assim que eu entrei na sala, me lembrei que ela estava na mesma classe que eu. Recoloquei o meu capuz – que tinha caído quando eu tive o flashback perto do refeitório- e fui até a última carteira, agradecendo a Deus por Rosalie não ter chegado ainda.

                E, quando ela chegou, eu afundei um pouco na carteira, fazendo com que minhas costas protestassem.

                Aguenta, Alice. Falei para mim mesma. Se ela não te notar, vai compensar.

                Mas, é claro, Rosalie se lembrava que eu fazia História com ela. E não demorou muito para que seus olhos âmbar cheios de maldade encontrassem com os meus.

                Eu estremeci. Rosalie nunca tinha me parecido má ou algo parecido. Mas, agora... Não, má seria Bella. Rosalie seria sádica. Ou, melhor dizendo, ela é.

                Ela se sentou na segunda carteira da mesma fileira que eu, acompanhada pelo seu novo fiel cachorrinho, Emmett.

                Mordi o lábio, piscando com força. Droga, Alice. Não podia amá-lo menos?

                Para falar a verdade –bom, falar no sentido figurado-, eu não sabia o que era amar direito. Até sentir essa dor avassaladora toda vez que eu olhava para Emmett. E eu só tinha me dado conta disso agora.

                Tarde demais.

                Eu voltei ao presente quando a professora Moringston entrou na sala de aula. Como sempre, usava os óculos grandes, o cabelo preso num coque forte e a postura perfeita que fazia seu corpo raquítico e enrugado parecer mais... Assustador.

                Ah, como eu odiava aquela mulher.

                Me lembrei da semana antes das férias de verão. Todos os calouros –incluindo eu- estávamos recebendo os boletins e planejando as férias quando ela nos pôs –eu, Emmett, Rosalie e Bella- na detenção por –acredite se quiser- responder à um teste oral com um “sei lá”.

                Só que agora eu sabia que ela podia fazer bem mais que começar mal as férias.

                Ela parou no meio da sala, fazendo com que todos os alunos que conversavam silenciassem. Ouvia-se apenas o barulho das mangueiras esguichando na grama, quando ela falou naquela voz fria e carregada de sarcasmo dela.

                -Alunos incompetentes. Como sei que não estão aprendendo nada, e que seus pais vão pagar suas universidades, eu queria ter certeza que vou tê-los aqui no ano que vem, aprendendo as mesmas coisas. –ela sorriu maquiavelicamente. - Fechem seus livros. Agora teremos um teste oral surpresa. –vários alunos suspiraram, resmungando, enquanto se ouvia o baque dos livros e cadernos indo parar debaixo das carteiras. – Um ponto na média a mais caso acertarem, dois a menos caso errarem. Mas temos certeza que a primeira não vai acontecer, não é?

                -Mas, professora, como dois a menos se vai dar apenas um a mais? Isso não é justo. –aquela garota que estava conversando com Jasper, disse.

                -Assim, Srta. Weber. Dois pontos a menos na sua média por questionar-me. –respondeu, se virando para o quadro-negro.

                Eu vi a Weber enrubescer, enquanto fechava o punho com força. Apesar de a MoringMúmia não ter visto, eu a vi erguer o dedo feio com a mesma mão.

                -Alguém tem mais alguma pergunta? –ela se virou novamente. Na lousa, estava escrito “Teste Oral: Toda a matéria estudada”.

                Cerrei os punhos. Não entendia por que o havia feito. Talvez fosse apenas o hábito de ficar brava com a MoringMúmia.

                Ela começou a perguntar quando percebeu o silêncio geral. Perguntava sobre coisas completamente aleatórias, como a Conjuração Mineira –do Brasil-, Napoleão Bonaparte e Guerra Fria. Faltava apenas um quarto dos alunos da classe –a maioria dos outros três quartos tinha errado- quando eu ouvi uma voz mesquinha e fina, que me fez quase explodir.

                -Você não vai perguntar à Alice, professora? –foi Rosalie.

                Eu empalideci quando todos os olhares da sala –que antes estavam concentrados em suas próprias frustrações- se voltaram para mim. Afinal, que tipo de pessoa não gosta de uma fofoca?

                A professora ajeitou a coluna, aderindo uma expressão séria.

                É claro que ela sabia.

                -A Srta. Brandon não está com capacidade de responder, segundo a informação da diretoria. –Ela pausou um pouco, lambendo os lábios. –Trauma, a causa. Se quiser saber, Srta. Hale.

                A Weber estava quase a ponto de reclamar sobre Rosalie não ter perdido pontos quando Jasper colocou sua mão sobre o ombro dela, mexendo os lábios como se dissesse um “não” silencioso. Eu prendi a respiração quando vi, de canto de olho, o sorriso maquiavélico de Rose.

                -Ah, qual é, professora. A senhora está com cara de que está escondendo alguma coisa. –Ela arqueou as sobrancelhas, com os olhos brilhando.

                -Não há nada mais sobre o que comentar, Srta. Comporte-se, caso não queira perder seus pontos. –Eu quase pude ver um traço de aflição nos olhos de MoringMúmia.

                 Foi quando eu percebi o que Rosalie ia fazer.

                E, antes que eu pudesse impedi-la, ela já estava falando.

                -Então vai negar que a Alice é muda, agora?

                Senti meu coração vir à garganta quando todos os olhares se voltaram para mim.

                Todos os rostos mostravam emoções diferentes: Desconfiança, incredulidade, felicidade, supresa, e, principalmente, satisfação.

                Exceto um.

                O cabelo-de-miojo. O único que me olhava com pena.

                Eu mordi o lábio, e olhei para a Moringston, como se tentasse prestar atenção na aula. Mas até ela me olhava satisfeita.

                -Não vai admitir, Alice? –Rosalie falou, num tom maquiavélico. Depois, fez uma cara de “surpresa”, como se lembrasse de algo. –Ah, me desculpe. Você não fala.

                Eu engoli as lágrimas com força. Forte, Alice. Você é forte.

                E mentirosa.

                Mesmo assim, eu me ergui da carteira, fui até Moringston –sentindo todos os olhares na minha nuca- e falei com os lábios que precisava ir ao banheiro. Graças aos céus, ela entendeu e acenou.

                Infelizmente, ela me encarou do mesmo jeito que todos os outros.

                E, infelizmente, eu comecei a chorar antes da hora.

                Eu consegui sair de lá sem derramar uma lágrima sequer, um feitio do qual me orgulho muito. Mas...

                Foi só eu trombar com Emmett no corredor para eu desmoronar.

                Saí do campo de visão dele, correndo na direção do banheiro. Bem, eu supus que estava indo na direção do banheiro, já que minha visão estava totalmente borrada pelas lágrimas.

                As minhas costas pediam arrego, algumas das cicatrizes do meu rosto ardiam e a minha cabeça latejava. Eu me apoiei nas bordas da pia do banheiro, tentando regularizar minha respiração.

                Mas eu não consegui mais quando eu ergui os olhos e me dei com a minha imagem no espelho.

                Não imaginava por que, mas eu podia ver, claramente, algumas das cicatrizes sangrando. Eu levei as mãos ao rosto e coloquei todo meu peso sobre a parede de ladrilho. Fui deslizando lentamente, até cair sentada no chão frio do banheiro.

                Puxei algumas folhas de papel do suporte que estava logo acima de mim. Sequei as cicatrizes que sangravam, mas sem parar de chorar e soluçar sem som.

                Por que ela havia feito aquilo comigo? Depois de tudo que havíamos passado juntas?

                Quer dizer, eu sempre notara que ela gostava muito de Emmett, mas... Não daquele jeito.

                Eu tossi com força, aliviando a bolota que se formava na minha garganta de um jeito incômodo. Mas nada fazia com que aquela imagem de Emmett horrorizado saísse da minha cabeça. Cada vez que eu lembrava, cada vez que eu podia quase tocá-lo, me fazia derrubar mais e mais lágrimas.

                E aquela cena então? E o fato de só o cabelo-de-miojo sentir pena de mim? Quer dizer, quem dera fosse só uma fase.

                Mas parecia mesmo ser para sempre.

                Eu não sei quanto tempo eu fiquei lá, no chão frio do banheiro feminino. Mas eu voltei ao mundo real quando ouvi o sinal soar.

                Me ergui num átimo, desesperada para sair dali. Mas, novamente, cabeça-de-miojo tinha razão.

                Eu não devia forçar tanto a minha coluna.

                Depois de alguns segundos tentando me reequilibrar, eu consegui me firmar no chão. Coloquei o capuz novamente –já que ele parecia querer cair o tempo todo- e segui para o corredor.

                Graças a Deus, eu era só mais uma emo para algumas pessoas.

                Infelizmente, algumas pessoas sabiam que era eu.

                Eu sabia que, por mais que eu quisesse simplesmente passar por cima e ir para a aula, sabia que não podia mais.

                Então, de uma vez por todas, eu andei na direção da saída da escola.

                E eu já estava prestes a entrar no carro do meu irmão –já que o meu tinha ido para o seguro, e o dele era o próximo- quando senti uma mão tocar meu ombro.

                Eu me segurei para não pensar que era Emmett de novo.

                -Alice? –eu pude perceber um traço minúsculo de compaixão na voz de Bella. Eu me virei. Foi quando eu percebi a expressão dela. –Como ousou deixar meu Edward morrer, cachorra?

                Ela me deu um empurrão –eu presumi que ela tivesse nojo das minhas cicatrizes- e saiu rebolando. Eu fiquei só a encarando, chocada. Deuses, até ela?

                Eu suspirei, enxugando uma das lágrimas que tinha escorrido, e entrei no carro do meu irmão.

                Dei a partida, me concentrando em não chorar e bater o carro.

                Se bem que um acidente que me matasse cairia bem agora.

                Alice, pensei. Você prometeu a si mesma que nunca seria emo!

                Era verdade. Mas antes eu amava minha vida.

                Agora...

                E então eu me concentrei na estrada e pisei no freio com toda força.

 

 

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Por Vick_Vampire



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Notas finais do capítulo

E aí? Mereço reviews?
Mais uma vez, me perdoem pela demora!
Beijos congelados!
Vickie